domingo, 5 de maio de 2019

Engenharia robótica e alienação humanóide

Ante circunstâncias atuais e nossa política capenga, como não recordar de Hannah Arendt?

SEGUNDA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 2014

Mais uma vez Hannah Arendt, por que não?

Há algum tempo nosso quadro sociopolítico tem atraído minha atenção, e não é sem espanto que acompanho todo o processo de alienação atual. 

Pessoas preguiçosas em seu 'pensar por si', tendo por referência padrões sociais massificadores, menosprezando o grande desconforto que contamina a si e grande parte dos que estão ao seu redor, se escorando na covardia e não ousando mobilizar a coragem necessária para correr o risco de saindo do lugar de vítimas, enfrentarem e interromperem o 'status quo' desgastante. 

Mudar padrões de submissão vigentes, e se colocar na posição de agente social efetivo de mudanças eficazes, são como quê, as palavras chaves e o processo central da dinâmica, que custa a emergir e encontrar expressão social, visto o vozerio popular, já gritar por socorro para não sucumbir de vez às zonas de conforto da tutela do "poder totalizador" (semelhantes aos das grandes ditaduras, dos regimes fascistas e nazistas- Arendt os descreve bem, inclusive por tê-los vivenciado):

 * o "fenômeno do lulismo", ou da abrangência, a cada dia ganhando mais espaço social, de um "regime totalitário" centralizador dos processos decisórios, controlador do marketing e da difusão de ideias, mais e mais distorcidas, de uma esquerda antes preocupada com o bem coletivo, pois hoje se tornou um movimento partidário que se preocupa mais em unificar diferenças, amordaçar a voz dos discordantes, atropelando a verdadeira política,

* a "robotização humana à mercê das ideologias partidárias", que mais e mais tendem a implodir uma frágil democracia, tentando se equilibrar para fortalecer seu caminhar, visando incluir ampla participação popular nos processos decisórios da nação e resgatar o espaço para que a voz dos cidadãos seja ouvida e respeitada,  

* a "convicção, ou crença, de atuarem com dignidade e posturas éticas partidárias", como é o caso de um dos mensaleiros, que prova viver sem grandes ostentações e demonstra, no seu caso, ausência de desvios de dinheiro visando vantagens pessoais, valia a honra de tudo ter sido feito pelo partido político, 

* ministro do mais alto escalão do judiciário, por perfeccionismo burocrático, com vaidosa pompa e ilustre verborragia na defesa de leis, esvaziadas da verdadeira justiça por não mais condizerem com a realidade social, surdo ao quase maciço clamor público, vota a favor daqueles que comprovadamente lesaram o social; embora atento à certeza de que medidas como embargos, serviriam para manipulações perversas questionáveis de profissionais que, não se omitiam de manobras afrontosas ao próprio Direito e à Justiça, se bem remunerados,

* por aí pode-se discorrer sobre vários fatores que lesam o quadro social com sua impunidade, favoritismo e nepotismo, opressão escravizante pelos altos impostos cobrados dos cidadãos e pouco retorno de benfeitorias sociais, podem ser relacionados evidenciando os motivos da insatisfação popular com um governo, que peca pela má administração do patrimônio público, pela falta de habilidade nas negociações políticas, pela dificuldade de lidar com divergências ideológicas e articular argumentos ideativos sem se utilizar de barganhas e favores ilícitos, por envolverem a falta de transparência e uso indevido do que é público.


Aí me volto a Hannah Arendt (1906-1975), ante minha inquietação e indagações sobre até quando persistirá nossa desumana degradação social, até quando ainda irá ocorrer essa "alienação e descomprometimento social com mudanças", quando emergirá um verdadeiro líder político, que possa resgatar os valores que mantém uma sociedade unida e íntegra moralmente falando? 

As ideias de Arendt ressoam em meus ouvidos: 

* "A Política baseia-se na pluralidade dos homens devendo, portanto, organizar e regular o convívio dos diferentes... Ela surge não no homem, como afirma Aristóteles, mas sim entre os homens."

* "O sentido da Política é a liberdade... A liberdade e a espontaneidade dos diferentes homens são pressupostos necessários para o surgimento de um espaço entre eles, onde só é possível a verdadeira Política...A Política tem uma dignidade própria"

* "A Lei produziu o cidadão, agente de mudanças sociais. Arendt destaca, no entanto, a distância entre a intenção e o discurso, que além da capacidade da retórica, envolve a faculdade de persuasão e o poder de convencimento. O discurso é que faz do homem um ser político. O que os homens fazem, pensam ou experienciam só têm sentido (significado) na medida em que podem ser discutidos entre eles." 


E eu a me perguntar de onde surgiria o líder pacificador no momento atual, que tenha condições, com a força de seus argumentos, de mobilizar a desalienação popular e agregar a coragem de várias mentes pensantes e autônomas, com cacife para bancar suas individualidades e sua vontade de lutar, tendo por armas a credibilidade de exemplos em seu modo de viver, reforçada por argumentos convincentes e irrefutáveis na pontuação de vantagens, em prol da defesa do Regime Democrático de Direito ? 

Aqui associo (coincidência?) as circunstâncias atuais com o movimento da Revolução Francesa e sua eclosão ante o clímax da insatisfação popular... degradação humana, escassez e fome... lançamento de pães, que não mais saciavam a ânsia do povo, que não mais escondiam seu furor ante a falta de reconhecimento a suas necessidades básicas de sobrevivência, que não mais encobriam o desprezo pelo pouco caso e pela opressão humilhante, pela forma como a realeza menosprezava a condição humana, em seus pilares de sustentação: a liberdade, a igualdade e a fraternidade, que vieram a se constituir em lema da Revolução.


E lá vem Hannah Arendt mais uma vez!

"Entre o Passado e o Futuro" , não é um livro fácil de ser lido, mas nos confronta com algumas verdades dentro de perspectivas pouco comuns.

Arendt chama nossa atenção para o erro da "engenharia das relações humanas" e sua forma ineficiente de lidar com a "administração das questões humanas". Combate a maneira de "tratar o homem como um ser inteiramente natural, cujo processo de vida pode ser manipulado da mesma maneira que todos os outros processos (artificiais).

Aponta o perigo do mundo atômico em seu agir na natureza, onde "não são mais as ações humanas, mas o mútuo relacionamento que pode mudar e muda historicamente"; onde "o geral confere sentido e significação ao particular". Para ela, " processos invisíveis engolfaram todas as coisas tangíveis e todas as entidades individuais visíveis, degradando-as a funções de um processo global... levando ao desencanto do mundo ou alienação do homem". Nesse sentido, "o processo (abstrato) é que torna por si só significativo o que carregue, adquirindo um monopólio de universalidade e significação".

Nessa moderna maneira de pensar, "nada é significativo em si e por si mesmo, nem mesmo a história e a natureza tomadas cada uma como um todo". E eis o homem atual entregue a um agonizante desamparo e profundo desespero.

Ao mesmo tempo, nos confronta com a oposição entre a prática e a teoria; entre a vida sensível e perecível, envolta pelo "erro e ilusão dos olhos corpóreos", e a verdade permanente, imutável e supra-sensível, cuja compreensão é guiada pelos "olhos do espírito, ouvidos do coração e luz interior da razão". Esses opostos "somente tem sentido e significação em sua oposição" e não por si sós.

A articulação de ideias de Arendt, em sua análise histórica e perspectiva filosófica e política, me fascina e me enche de esperança em um futuro melhor para a humanidade.

Assim segue a autora, em suas reflexões: "É como se Platão estivesse dizendo a Homero que não é a vida das almas incorpóreas, mas sim a vida dos corpos que tem lugar em um mundo inferior; comparada com o Céu e o Sol, a Terra é como o Hades; imagens e sombras são os objetos dos sentidos corpóreos, não o ambiente das almas incorpóreas. O verdadeiro e real é, não o mundo em que nos movimentamos e vivemos e do qual temos que partir na morte, mas "as ideias vistas e apreendidas pelos olhos da mente". É como se o mundo interior do Hades houvesse ascendido à superfície da Terra."

Continua traçando um "paralelo entre as imagens da Caverna de Platão, em sua parábola, e o Hades de Homero - os sombrios, irreais e insensíveis movimentos das almas no Hades - que correspondem à ignorância e inconsciência dos corpos na Caverna".

Recorda o Mito da Caverna de Platão, onde a cada reviravolta do homem ocorre a perda de sentido e orientação, onde " os olhos ajustados são ofuscados pela luz que ilumina as ideias, necessitando reajustar-se; e os olhos ajustados (posteriormente) à luz do Sol, devem reajustar-se à obscuridade da Caverna".

Relembra esse mito onde em uma primeira reviravolta os habitantes da caverna, presos por grilhões que os obrigavam a ver somente a tela à sua frente, com as sombras e imagens projetadas, quando deles se libertam e se voltam para o fundo da caverna se deparam com um fogo artificial que ilumina as coisas dentro da caverna tais como realmente são. A segunda reviravolta está atrelada à saída de caverna para o céu límpido, onde as ideias aparecem como as verdadeiras e eternas essências das coisas na caverna, iluminadas pelo Sol, a ideia das ideias, que possibilita ao homem ver e às ideias brilhar. A terceira decorre da necessidade de volver à caverna, de deixar o reino das essências eternas e novamente se mover no reinos das coisas perecíveis e homens mortais.

Assim para Hannah Arendt, os homens socializados decidiram jamais deixar a "caverna" dos assuntos humanos quotidianos, se permitindo a atitude de "espanto face ao que é como é".

Eis porque defendo o espaço para que os "unicórnios" (princípios virtuosos éticos) se aproximem e possam se agrupar fortalecendo nossos campos mentais, iluminando a riqueza ética do mundo psíquico dos seres humanos, propiciando interações harmônicas e respeito às diferenças individuais, metas públicas voltadas ao bem estar coletivo, convivências políticas mais serenas, onde reine o bom senso e a diplomacia nas negociações que envolvam questões sociais conflitantes.

Eis porque entrego a vocês como presente uma ampulheta (vide blogs anteriores), outra forma simbólica de representar o tempo na atitude interna da transcendência humana implícita na caverna, sua saída e posterior entrada buscando propiciar que os demais possam se libertar da condição de escravos e, por livre arbítrio, possam vir a constituir - ao abandonar a sua alienação dentro de um mundo fictício, frágil e superficial por ser tão artificial - uma "sociedade realmente humanizada".

Aurora Gite
* (2009 ou 2014...recorram à carruagem do tempo e observem como as ideias de Arendt fazem parte da paisagem que pudemos, e podemos, contemplar através de suas análises sociopolíticas, que envolvem a condição humana)

Nova Instância Psíquica

QUINTA-FEIRA, 30 DE JUNHO DE 2011

Outra instância psíquica? Será?

Outra instância psíquica? Será? Minha intenção com esse título é mobilizar a reflexão do leitor leigo, e também motivá-lo, como ser humano, a investigar em seu psíquico os movimentos que ocorrem ante o que exponho. Minha expectativa quanto aos profissionais, da área psíquica e afins, é que cruzem dados e analisem com os que já possuem, lembrando que o ser humano é um só, e, o que for verdadeiro sobre ele, pode ser observado sob várias perspectivas.


Tudo começou com grande inquietude, revendo teorias ocidentais e orientais, buscando explicações que justificassem experiências de várias pessoas, inclusive minhas. Há muito pouco tempo tais experiências se tornaram objetos de estudo, e assim mesmo com restrições e descréditos preconceituosos. Há muito tempo as pessoas ousaram se expor e colocar a descoberto a experiência por que passaram sem serem taxadas de loucas, ou se considerarem portadoras de algum distúrbio mental.

Por outro lado, sempre me causou estranheza a variedade de teorias e o antagonismo, propagado ferrenhamente por seus defensores, sobre o ser humano. Tais radicalismos produziam, a meu ver, um reducionismo na visão do mundo psíquico do homem, e grande viés na leitura e interpretação dos dados pragmáticos. Fenômenos observados na prática clínica tinham que ser encaixados nas molduras teóricas preexistentes. O recorte sobre o ser humano tinha que se adaptar a esses enquadres conhecidos e avalizados. Os que nele não cabiam, ou eram modelados, ou eram excluídos e desprezados; mais ainda eram desqualificados, por não estarem dentro dos critérios científicos atuais.

Com a globalização, a era digital, novas tecnologias propiciando acompanhar passo a passo o funcionamento cerebral, surpreendentes descobertas sobre o genoma e a clonagem humana... e eis, nesse milênio, paradigmas e mais paradigmas dando cambalhotas e mais cambalhotas sem conseguirem se erguer ante a evidência do novo, que impõe outros modelos teóricos e busca imperiosa de outra conceituação, para se obter compreensões adequadas sobre os fenômenos observados.

Enfatizo o perigo de tentar abarcar a realidade e tentar trocas dialéticas sobre ela, buscando o uso de conceitos comuns. Infelizmente o mundo conceitual se tornou uma Torre de Babel , onde os signos da palavra passam a ser lidos da mesma forma, mas seu simbolismo e representações adquirem tal diferenciação de significados, que poucos se entendem. Também não se dão ao trabalho de estabelecerem os pontos referenciais de onde partem suas idéias, ou as perspectivas onde se colocam para emitirem seus pontos de vista. importante critério para colocar ordem na dialética dos discursos humanos.

Dando continuidade a minhas pesquisas, buscando comprovar minha hipótese de que a energia psíquica está atrelada á biofísica quântica, me deparo com a possibilidade da existência de uma outra instância psíquica, além do id-ego-superego freudianos.

Tal proposição me coloca em posição mais confortável podendo aproximar tantas mentes pensantes de personalidades geniais que se distanciaram, pois ao não se colocarem dentro da perspectiva do outro, não viam com encaixar seus pontos de vista também baseados em evidências clínicas e pessoais. E, ficava eu a refletir, onde está o sujeito psíquico, qual o lugar ocupado pelo ser humano no meio de tanta divergência. Mais ainda, seguindo minha intuição e me permitindo ser livre e pular de perspectiva a perspectiva, observava sob o referencial de cada um e constatava as evidências práticas, ousando testar suas técnicas operacionais na relação terapêutica, comprovando seus efeitos sobre meus pacientes e sobre mim mesma.

Minha proposta é que existe uma instância psíquica, só observada ao se deslocar o investimento das funções superegóicas. Considero a existência no sistema psíquico de duas vias, por onde circulam a energia, como ocorrem nos sistemas circulatório e respiratório. Penso que Piaget teria prazer em renascer para registrar as características da forma operacional contida nessa inteligência.

Para mim, libido (Freud) e energia psíquica (Jung), fazem parte do mesmo processo energético humano, se diferenciando pelas perspectivas sobre o ser psíquico. Pelo processo de individualização partimos do "não-ser psíquico" para a formação da personalidade, de nossa maneira de ser, e construção do nosso "ser e existir como sujeito", a ser transcendido por uma alquimia interior.

Através dessa transformação na qualidade da energia, ela é direcionada a uma "instância espiritual". Nova via de circulação da energia psíquica buscando o encontro do "Ser Psíquico" com sua autenticidade, liberdade e autonomia de ação, que tende a se dirigir ao "Não-Ser Psíquico", que não consiste em sua negação, mas na afirmação de nossa potência energética original.

A compreensão do "Ser" espiritualizado demanda novo aprendizado sobre sua simbologia (linguagem quântica?) e novos recursos interpretativos. Considero o "processo de individuação", enfatizado por Jung, como base para a "espiritualização", onde podem ser observadas novas capacitações humanas e diferentes operações psíquicas funcionais, voltadas a habilidades específicas como intuir, captar sensações e percepções superiores.

Penso que o processo de espiritualização tem a ver com a canalização da energia psíquica re-catexizada por novos valores: origem do Ser Espiritual Moral, característico da "instância espiritual". Aqui diferencio a moral superegóica da Moral Espiritual.

A primeira, moral superegóica - rédea externa ao "ser" - constituída pelo conjunto de regras e costumes, ditado por fatores externos ao indivíduo, com sua função limitadora do "eu" em sua inserção no social, facilitadora da convivência do indivíduo dentro da comunidade, mas criadora de um "querer", que depende de uma "vontade condicionada" ao livre arbítrio" desse indivíduo, para decidir e optar entre caminhos, que lhe são "oferecidos pelo mundo relacional à sua volta".

A segunda, Moral Espiritual, pertencente ao campo das "Virtudes", que, a meu ver, são valores espirituais advindos de fonte interna - essência do indivíduo - e que se constituem em forças intrínsecas, que o mobilizam a atuar de acordo com esse querer autônomo, essa "Vontade Livre" do espírito (da psique humana), que, por si só, se constitui na "disposição tensional para querer" que motiva o indivíduo a buscar se superar continuamente.

Como estamos diante de uma inteligência que se propaga por vibrações ondulatórias (quânticas?) - sincronias energéticas ou dissonâncias psíquicas - pesquiso, no momento, dados sobre o processo eletrolítico dessa alquimia. A água, por nós ingerida, tem a capacidade de aumentar as sinapses entre os neurônios... quantas hipóteses podemos construir, a partir daí, considerando o bioeletromagnetismo humano?

Aurora Gite

sábado, 27 de abril de 2019

Valem novas reflexões sobre o conteúdo desta postagem de 2008

Consciência, criatividade, salto quântico?

Novos rumos, ventos solares e pássaros quânticos...e minha mente borbulhando de idéias, esperando "trocas"!

E lá vou eu, outra vez, me debruçar na "janela visionária" de meu castelo profissional, observar a natureza, os novos paradigmas envolvendo o ser humano, e contar com a aproximação de um físico quântico, na iluminação desse novo alvorecer. tal a proporção das novas descobertas. Dessa vez, me faço acompanhar por Amit Goswami e seu livro "A Janela Visionária" (Cultrix 2006).

Não posso negar o misto de tesão e ansiedade na retomada desse trilhar. Alguns pacientes surgem em minha memória e minha "consciência", lhes dá a condição de presença viva em meu aqui e agora.

Recordo nosso caminhar juntos. Ao me permitirem a entrada em sua mente, buscando a compreensão do funcionamento de seu mundo psíquico e da dinâmica mobilizadora de suas ações, eles também foram incorporados em meu mundo interno e me facultaram muitas auto-descobertas. E assim se ultrapassa a ponte do mundo físico (material) ao psíquico (energético), num constante ir e vir.

Quantas vivências compartilhadas... transferências e contratransferências... energias se misturando e se separando ante insights que ocorriam... quantas mudanças contínuas e descontínuas.

Para quem não sabe, transferência se refere aqui aos sentimentos que o paciente inconscientemente vincula (transfere) ao terapeuta, mas que, na verdade, se originam de relacionamentos anteriores. Contratransferência é o reverso, ou seja, sentimentos irracionais que o terapeuta tem em relação ao paciente. Esses fenômenos inconscientes também fazem parte de nosso dia-a-dia e são muito comuns na vida de relação, ocasionando grandes distorções na realidade dos envolvidos.

Mas lá estava eu surfando, no encontro terapêutico, entre as ondas de possibilidades e probabilidades, contando com minha intuição e criatividade, para ajudar cada paciente em seu encontro com sua consciência auto-referente.

E lá estava eu buscando, através de uma observação consciente e atenção flutuante, provocar o colapso da onda de possibilidades passadas e futuras, trazendo o paciente para seu aqui e agora, integrando-o ao seu propósito criativo de vida, criatividade que lhe é imanente.

E lá estava eu questionando, tanto o efeito temporário de mudanças contínuas ( de causas e efeitos em espaço e tempo definidos), quanto as interpretações que vinculavam os pacientes à cabeça (ao pensar) de seu terapeuta. Não desconsidero a importância do espaço terapêutico e da qualidade do vínculo estabelecido, mas eu almejava a integração da pluralidade de teorias, para que o homem em si emegisse em sua unidade, e fosse compreendido sob vários pontos de vista.

Lembram do papel atribuído ao observador consciente pela física quântica, que ocasiona o afunilamento do espectro das possibilidades, para sua convergência num ato ou objeto único?
Segundo Goswami, toda escolha a partir das possibilidades, vem da intervenção de nossa "consciência" . Sendo assim, ela é que cria a realidade. E eis minha intuição gritando: "É por aí, vai atrás desse conhecimento!"

E lá estava eu enfatizando a vida relacional como experiência emocional corretiva, buscando saber mais sobre a dinâmica energética da rede inter-relacional.

Faço minhas algumas das indagações de Goswami:
Que força imaterial poderia interagir com a matéria?
Como obter essa interação imaterial?
Empatia e aversão...atração e rejeição...campos de energia e de força? Integração do indivíduo com o cosmo?

Tudo me encaminhava para uma leitura energética dentro de uma visão holística ( integrada) de mundo. O ser humano é bem mais que um sintoma. Seu sintoma é um ato criativo para indicar alguma disfunção. E essa, na maioria das vezes traduz seu sofrimento existencial.

Com avidez fui em busca dos conhecimentos da física quântica. Queria mais que o contato entre intelectos. Já reconhecia que a consciência tem um papel decisivo na configuração da realidade. Mas queria a experiência, queria através de uma vivência pessoal comprovar.

E lá estava eu não atrás do silêncio, mas do diálogo. Não buscava monólogos e atitudes separatistas. Meu coração me integrava na relação (eu-outro se transformando em "uno"). Não me bastava minha capacidade racional ou facilidade no cruzamento de dados. E o diálogo interno no contato com o paciente se aquietou, e se estendeu para a vida pessoal de relação.

A palavra "diálogo" deriva de "dia" ( palavra grega que significa "por meio de") e de "logos" que significa palavra) e vai além da comunicação por meio de palavras, envolve uma troca de sentido entre os que se comunicam, outra dimensão do psíquico humano.

E é aqui que tudo se complica. Querem ver?
Eis um fato que poderia ocorrer no cotidiano de qualquer um.

Lá estava eu numa sala de espera, quando uma mulher se aproximou e começou a se queixar da relação com o marido, onde não havia diálogo, embora muita tentativa da parte dela para que ele ocorresse. E ela continuou, ao me perceber como ouvinte atenta: " Imagine que hoje pela manhã, ele pediu a minha opinião sobre se devia ir ou não no casamento de um parente. Logo retruquei, que agora é que ele queria saber o que eu achava? Por que não me consultou quando o parente ligou há dois dias? E ficou em silêncio, veja só! Nem continuou a conversa. Ele não sustenta um diálogo."

Que diálogo? Existiu uma comunicação, um fluxo de sentido entre eles?
Em que clima transcorreu o contato? Existiu um campo energético entre eles que propiciasse um vínculo aconchegante a uma cumplicidade na comunicação?

Ele chega e se aproxima, de peito aberto a coloca na relação. Ela "pisa na bola, dentro de seu egocentrismo", o exclui da relação. E ainda reclama da atitude defensiva dele e de seu afastamento.

Haja "Física Quântica" para iluminar nossa rede de convivências, ou como muitos a consideram, de conveniências!
Aurora Gite

Lembram de Drumond " Tinha uma pedra no meio do caminho, no meio do caminho tinha uma pedra". Pois é ao reler esse texto me veio: "E lá vou eu, buscando, surfando, questionando, enfatizando... e no buscar, surfar, questionar, enfatizar ... lá estava eu (Consciência)".

Em tempo:
As constatações de Jill Bolte Taylor, expressas em seu livro "A cientista que curou seu próprio cérebro", são muito importantes. Novas perspectivas se abrem ante a nova comprovação científica das funções dos dois hemisférios cerebrais.
No entanto, coloco mais um patamar, que acredito advir da desativação das funções do hemisfério esquerdo e predomínio total operacional do hemisfério direito.
A sensação foi de uma mola elevando, não o meu corpo, mas a minha mente (salto quântico?). O impulso de propulsão não foi voluntário. Uma conexão foi estabelecida. O outro polo é que direcionava esse movimento interno. A percepção do real não desapareceu, mas perdeu o foco. Eu sabia onde estava, mas intuitivamente, não pela via perceptível que nos é conhecida. Tempo e espaço se diluem. Fui tomada por uma sensação de prazer intenso, calor e claridade, paz e harmonia, quietude e suavidade, plenitude e infinito - sensações de uma amplitude diferente da que captamos através dos sentidos que nos são conhecidos. Experiência indescritível. Nossa compreensão não abarca com palavras. De repente, a imagem de minhas filhas, precisava voltar (intervenção do hemisfério esquerdo). E o brusco rompimento da conexão.
O que me restou? As sensações paradoxais de uma perda feliz e de uma saudade alegre, e a constatação de muita força interna ( sensação de um recarregar de pilhas). Anos e anos se passaram, e essas sensações persistem.
Por que comigo? Porque estava num momento existencial, que correspondia ao cume da parte superior da ampulheta. Lembram da postagem anterior "Quer receber um presente meu?"
Por que só ocorreu uma vez? O caminho está na postagem acima e a dificuldade de se manter íntegra para o estabelecimento da conexão também. Agora é correlacionar na história quem conseguiu atingir esse estágio.
Após 30 anos, só agora estou chegando mais próximo de entender o que ocorreu. De duas coisas tenho certeza: a humanidade entrou em "nova era", e que se preparem os "físicos quânticos"!

quarta-feira, 24 de abril de 2019

Salto Quântico equivale ao "insight freudiano"

Minhas reflexões atuais se voltam às ideias de Amit Goswami contidas em seu livro Consciência Quântica (São Paulo: Aleph, 2018), do qual transcrevo o trecho abaixo:

"... dados experimentais mostraram existir uma forma de distinguir experimentalmente o domínio da potencialidade (...do inconsciente freudiano?...) no qual os objetos são ondas de possibilidade, e o domínio da experiência manifestada, no qual os objetos são partículas. O físico francês Alan Aspect e seus colaboradores  criaram um experimento que provou ter esse domínio da potencialidade uma característica única que o define: as comunicações havidas nele não exigem nenhum sinal, nenhuma mediação. As implicações dessa descoberta são espantosas. Se a comunicação pode se dar sem mediação e de forma instantânea nesse domínio, decorre daí que o próprio domínio é uma coisa só. É um contínuo de coisas interconectadas.

Aqui estamos nos comunicando por meio de palavras, escrevi algumas palavras e agora você as lê usando sinais no espaço e no tempo. Mas também poderíamos estar nos comunicando pelo domínio da potencialidade. Se formulo um pensamento, mas não o expresso verbalmente ou por escrito,  esse pensamento pode se espalhar pelo domínio da potencialidade e chegar até você. Instantaneamente. É isso que acontece quando somos inspirados pelas palavras de um escritor ou pelas imagens de um artista que criou um novo pensamento ou sentimento. As palavras ditas ou escritas, ou as imagens, atuam como um gatilho que aciona uma conexão não local que resulta em algo totalmente diferente.

No zen budismo, encontramos alguns enigmas como este: Qual é o som de uma única mão batendo palmas? Tal enigma encerra a ideia de que as coisas nascem da potencialidade. Qualquer pensamento é uma potencialidade com muitos significados antes de se tornar um pensamento manifestado com um único significado. E nessa potencialidade, a onda de possibilidade desse pensamento tem muitas facetas. A conversão da potencialidade em experiência manifestada transforma um pensamento ou objeto polifacetado num pensamento ou objeto monofacetado - converte uma onda em partícula.

Muitos pensam que a consciência existe porque somos seres humanos. Segundo a explicação quântica, no entanto, a consciência já existe no domínio da potencialidade, estejam os seres humanos nele ou não. Com efeito, esse é o ponto central. Lembre-se, porém, de que esse domínio se manifesta. Então vemos que a manifestação da consciência como autopercepção-consciente acontece ao mesmo tempo que pensamentos ou objetos são convertidos de ondas em partículas.

Nesse domínio da potencialidade não existe forma. A forma se manifesta de um modo específico quando uma possibilidade é escolhida e colapsada em experiência concreta - realidade manifestada. Assim, se soubéssemos como manifestar uma forma específica de um modo específico no domínio do espaço-tempo - como uma realidade tridimensional -, seríamos capazes de resolver problemas e de manifestar aquilo que quiséssemos nessa realidade. Mas isso exigiria que pudéssemos sentir ou perceber sensorialmente toda possibilidade correta no domínio da potencialidade.

E às vezes tudo o que temos é um sentimento. Podemos ter uma intuição daquilo que está no domínio da potencialidade e que queremos manifestar, mas o domínio da potencialidade tem muitas possibilidades. Logo, temos a oportunidade de processar todas essas diversas possibilidades e suas combinações simultaneamente - toda uma gestalt -  a fim de obter uma resposta para o problema à nossa frente.

É aí que o zen e a física quântica convergem como abordagem da mente humana. Tanto o pensamento zen quanto o pensamento quântico baseiam-se em permitir dois níveis de pensamento. Em contraste, o pensamento num mundo newtoniano ocorre apenas em um nível. Nesse mundo de um nível, que só existe no espaço e no tempo manifestados, há apenas aquilo que chamamos de pensamento consciente. O pensamento consciente permite-nos analisar  diversas respostas possíveis, mas só podemos levar em conta um aspecto de cada vez, uma faceta de cada vez. Quando permitimos que o processamento dos pensamentos ocorra não só no domínio do espaço-tempo, mas também no domínio da potencialidade, o pensamento convergente consegue processar muitas facetas ao mesmo tempo. O domínio do espaço-tempo é bom para gerar uma série de respostas divergentes; chamamos a isso pensamento divergente . Mas para se chegar a uma solução, é mais eficiente o processamento simultâneo de várias possibilidades no domínio da potencialidade, seguido pela escolha - pensamento convergente.

Bem, o processamento de pensamentos é muito diferente no domínio da potencialidade. No espço-tempo, estamos conscientes; no domínio da potencialidade, estamos inconscientes. Só depois de diversos episódios de processamento inconscientes, é que o pensamento convergente se manifesta na forma de uma solução - um salto quântico." ( páginas74-76).

Acredito que um salto quântico equivale ao "insight freudiano", como já abordei em postagens anteriores, que suscitaram as observações que trouxeram à tona as hipóteses de minhas pesquisas: Freud foi o pioneiro a observar o movimento da energia quântica dentro de nós e o primeiro a manipular as energias desse mundo das partículas subatômicas.


sábado, 20 de abril de 2019

Elos antiéticos de poder na Instituição hospitalar

Não há como enfrentar e quebrar o elo de poder entre falta de transparência, algemas de gratidão e rede antiética de intrigas, dentro de uma instituição, ainda mais sendo hospitalar.

Mais de 10 anos se passaram, mas ainda me recordo com mínimos detalhes de nossa coordenadora do grupo de seleção de supervisoras de aprimorandas, candidatas a se aperfeiçoarem como psicólogas hospitalar, entrar na sala de reunião e "avisar" que a diretora de nossa Divisão de Psicologia lhe comunicara que a candidata "x", por ser filha de uma enfermeira que ocupava alto posto na hierarquia da instituição, "deveria ser incluída na lista das aprovadas". Não esqueço de como incrédulas nos olhamos e tentamos esboçar nosso desconforto. Só ouvimos: "É fato decidido!"

Foi meu primeiro contato com gestões autocráticas e totalitárias, que me horrorizavam quando abordadas por Hannah Arendt em seus livros e que me pareciam tão distantes de mim. Percebi como este estilo de gestão podem afastar colaboradores de buscarem se incluir com participações mais ativas , inclusive no que se refere a apresentação e realização de projetos institucionais. Incrédula, já tinha tido conhecimento do mau uso dos mesmos por chefias: ora engavetados, ora apresentados como se fossem das mesmas que recebiam os reconhecimentos diretamente... Prezo muito as ideias que coloco em meus projetos, para permitir que sejam assim vilipendiadas.

Senti não poder concretizar alguns deles, como o Seminário tipo painel, apresentado por um "jogral científico" onde representantes de várias escolas teóricas analisassem o mesmo "case" sob suas perspectivas. Infelizmente das pouco mais de 50 psicólogas lotadas na Divisão, nesta época, e selecionadas por concurso, a maioria era de psicanalistas; havia uma junguiana que defendia a psicologia analítica, outra que fazia uma leitura cognitiva comportamental, e outra cujo foco seguia a psicossomática de Pierre Marty, e eu que me colocava dentro de uma linha eclética, colocando o paciente e o histórico de seus sintomas como meu centro de atenção, e não a teoria freudiana em que deveria enquadrá-lo. Foi muito duro, como profissional, ouvir a recusa de colegas psicólogos - que se denominavam psicanalistas, manifestando sua soberba arrogante - ante meu pedido para discutirmos um caso, alegando não entenderem minha forma de atuar. Excluída de um lado, já na época senti-me acolhida pela Psicologia Fenomenológica após assistir à palestra de Yolanda Cintrão Forghieri, de quem indico o livro "Psicologia Fenomenológica:  fundamentos, método e pesquisas" - no meu livro acalento com carinho sua dedicatória :"À Lúcia Maria para ampliar seus conhecimentos nesta área. Com carinho, Yolanda."

A memória é como uma caixa de Pandora, as recordações vão jorrando e conforme vão emergindo agregam mais e mais associações. Lembro que, inúmeras vezes, exercendo minhas atividades clínicas dentro do Complexo Hospitalar, tive que amadurecer profissionalmente e me apegar ao fato de reconhecer meu valor e assim poder me bancar neste sentido. Sentia pena de afins, que permitiam ser humilhadas e submetidas a regras de pessoas que se encontravam em cargos de hierarquia superior, se outorgando poderes além de suas atribuições. Não raro, meus pares chegavam e me questionavam que ouviam impotentes estas chefias, brandindo seus crachás: " Vai fazer, sem questionar, porque estou mandando!"

De minha parte, só podia agradecer, em momentos de solidão entre meus pares, ter procurado meu autoconhecimento e ter buscado evoluir e amadurecer como profissional, para me bancar. Com isso dentro de mim, brandia a bandeira de meu orgulho por minha difícil jornada preservando meus valores éticos e a transparência em meu caminhar dentro da realidade enfrentada, encarado sem ilusões, que escondiam possíveis frustrações e me impediam de observar a verdade do que ocorria ao meu redor.