quinta-feira, 30 de junho de 2011

Outra instância psíquica? Será?

Outra instância psíquica? Será? Minha intenção com esse título é mobilizar a reflexão do leitor leigo, e também motivá-lo, como ser humano, a investigar em seu psíquico os movimentos que ocorrem ante o que exponho. Minha expectativa quanto aos profissionais, da área psíquica e afins, é que cruzem dados e analisem com os que já possuem, lembrando que o ser humano é um só, e, o que for verdadeiro sobre ele, pode ser observado sob várias perspectivas.


Tudo começou com grande inquietude, revendo teorias ocidentais e orientais, buscando explicações que justificassem experiências de várias pessoas, inclusive minhas. Há muito pouco tempo tais experiências se tornaram objetos de estudo, e assim mesmo com restrições e descréditos preconceituosos. Há muito tempo as pessoas ousaram se expor e colocar a descoberto a experiência por que passaram sem serem taxadas de loucas, ou se considerarem portadoras de algum distúrbio mental.

Por outro lado, sempre me causou estranheza a variedade de teorias e o antagonismo, propagado ferrenhamente por seus defensores, sobre o ser humano. Tais radicalismos produziam, a meu ver, um reducionismo na visão do mundo psíquico do homem, e grande viés na leitura e interpretação dos dados pragmáticos. Fenômenos observados na prática clínica tinham que ser encaixados nas molduras teóricas preexistentes. O recorte sobre o ser humano tinha que se adaptar a esses enquadres conhecidos e avalizados. Os que nele não cabiam, ou eram modelados, ou eram excluídos e desprezados; mais ainda eram desqualificados, por não estarem dentro dos critérios científicos atuais.

Com a globalização, a era digital, novas tecnologias propiciando acompanhar passo a passo o funcionamento cerebral, surpreendentes descobertas sobre o genoma e a clonagem humana... e eis, nesse milênio, paradigmas e mais paradigmas dando cambalhotas e mais cambalhotas sem conseguirem se erguer ante a evidência do novo, que impõe outros modelos teóricos e busca imperiosa de outra conceituação, para se obter compreensões adequadas sobre os fenômenos observados.

Enfatizo o perigo de tentar abarcar a realidade e tentar trocas dialéticas sobre ela, buscando o uso de conceitos comuns. Infelizmente o mundo conceitual se tornou uma Torre de Babel , onde os signos da palavra passam a ser lidos da mesma forma, mas seu simbolismo e representações adquirem tal diferenciação de significados, que poucos se entendem. Também não se dão ao trabalho de estabelecerem os pontos referenciais de onde partem suas idéias, ou as perspectivas onde se colocam para emitirem seus pontos de vista. importante critério para colocar ordem na dialética dos discursos humanos.

Dando continuidade a minhas pesquisas, buscando comprovar minha hipótese de que a energia psíquica está atrelada á biofísica quântica, me deparo com a possibilidade da existência de uma outra instância psíquica, além do id-ego-superego freudianos.

Tal proposição me coloca em posição mais confortável podendo aproximar tantas mentes pensantes de personalidades geniais que se distanciaram, pois ao não se colocarem dentro da perspectiva do outro, não viam com encaixar seus pontos de vista também baseados em evidências clínicas e pessoais. E, ficava eu a refletir, onde está o sujeito psíquico, qual o lugar ocupado pelo ser humano no meio de tanta divergência. Mais ainda, seguindo minha intuição e me permitindo ser livre e pular de perspectiva a perspectiva, observava sob o referencial de cada um e constatava as evidências práticas, ousando testar suas técnicas operacionais na relação terapêutica, comprovando seus efeitos sobre meus pacientes e sobre mim mesma.

Minha proposta é que existe uma instância psíquica, só observada ao se deslocar o investimento das funções superegóicas. Considero a existência no sistema psíquico de duas vias, por onde circulam a energia, como ocorrem nos sistemas circulatório e respiratório. Penso que Piaget teria prazer em renascer para registrar as características da forma operacional contida nessa inteligência.

Para mim, libido (Freud) e energia psíquica (Jung), fazem parte do mesmo processo energético humano, se diferenciando pelas perspectivas sobre o ser psíquico. Pelo processo de individualização partimos do "não-ser psíquico" para a formação da personalidade, de nossa maneira de ser, e construção do nosso "ser e existir como sujeito", a ser transcendido por uma alquimia interior.

Através dessa transformação na qualidade da energia, ela é direcionada a uma "instância espiritual". Nova via de circulação da energia psíquica buscando o encontro do "Ser Psíquico" com sua autenticidade, liberdade e autonomia de ação, que tende a se dirigir ao "Não-Ser Psíquico", que não consiste em sua negação, mas na afirmação de nossa potência energética original.

A compreensão do "Ser" espiritualizado demanda novo aprendizado sobre sua simbologia (linguagem quântica?) e novos recursos interpretativos. Considero o "processo de individuação", enfatizado por Jung, como base para a "espiritualização", onde podem ser observadas novas capacitações humanas e diferentes operações psíquicas funcionais, voltadas a habilidades específicas como intuir, captar sensações e percepções superiores.

Penso que o processo de espiritualização tem a ver com a canalização da energia psíquica re-catexizada por novos valores: origem do Ser Espiritual Moral, característico da "instância espiritual". Aqui diferencio a moral superegóica da Moral Espiritual.

A primeira, moral superegóica - rédea externa ao "ser" - constituída pelo conjunto de regras e costumes, ditado por fatores externos ao indivíduo, com sua função limitadora do "eu" em sua inserção no social, facilitadora da convivência do indivíduo dentro da comunidade, mas criadora de um "querer", que depende de uma "vontade condicionada" ao livre arbítrio" desse indivíduo, para decidir e optar entre caminhos, que lhe são "oferecidos pelo mundo relacional à sua volta".

A segunda, Moral Espiritual, pertencente ao campo das "Virtudes", que, a meu ver, são valores espirituais advindos de fonte interna - essência do indivíduo - e que se constituem em forças intrínsecas, que o mobilizam a atuar de acordo com esse querer autônomo, essa "Vontade Livre" do espírito (da psique humana), que, por si só, se constitui na "disposição tensional para querer" que motiva o indivíduo a buscar se superar continuamente.

Como estamos diante de uma inteligência que se propaga por vibrações ondulatórias (quânticas?) - sincronias energéticas ou dissonâncias psíquicas - pesquiso, no momento, dados sobre o processo eletrolítico dessa alquimia. A água, por nós ingerida, tem a capacidade de aumentar as sinapses entre os neurônios... quantas hipóteses podemos construir, a partir daí, considerando o bioeletromagnetismo humano?

Aurora Gite

domingo, 19 de junho de 2011

Timidez: Medo ou Orgulho?

Gostei muito desse texto, assinado por Sirley Bittú, então repasso, Não conheço sua autora, mas me atraiu sua forma de descrever e analisar o fenômeno da timidez e sua dinâmica. No final teço algumas considerações sobre o fenômeno dentro de uma nova perspectiva para refletirmos sobre ele.

"O que eu faço com essa minha timidez?

A definição de timidez mais conhecida é a que se refere ao tímido como aquele que tem temor, receoso, acanhado, covarde. Pessoa que tem vergonha, sensitiva, pessoa que com tudo se melindra ou de grande suscetibilidade, aquele que facilmente se ofende. A definição de temor também é descrita em alguns dicionários como ato ou efeito de temer – susto, sentimento de reverencia ou respeito.

Prefiro dizer simplesmente, tímido é aquele que tem medo. Na infância o comportamento em relação ao medo é explicado e entendido pela capacidade da criança em discriminar fantasia de realidade. Ao passo que esta capacidade vai sendo aprimorada em sua relação no mundo, o medo naturalmente vai se adaptando ao que é esperado, ou seja, passa a ser um parâmetro de auto proteção.

As pessoas mais tímidas tendem a supervalorizar os possíveis riscos, assim o novo e o desconhecido torna-se assustador. O tímido está sempre muito preocupado em passar uma boa imagem para as pessoas, torna-se extremamente exigente consigo mesmo, apresentando por isso mais dificuldade de se relacionar, paquerar, namorar, expressar o que sente e o que pensa sobre as coisas.

A inibição geralmente é resultado do medo de falhar e com isso se sentir ridículo e incapaz. A timidez está diretamente relacionada ao amplo sentimento de competência. A nossa auto imagem é a percepção daquilo que acreditamos ser, e, quando ela é negativa, encontramo-nos numa prisão interna que nos leva a distorcer a realidade e por conseqüência nos retraímos.

O ser humano tem uma demanda de amor, necessita ser amado para se desenvolver, precisa sentir-se visto, percebido e aceito. Existem muitos estudos que relatam, que a falta de amor ou o desamor, principalmente nos primeiros anos de vida, interferem no desenvolvimento e na maturidade emocional do ser humano. O nosso sentimento de segurança e de auto confiança se configura ainda nesta fase, através das vivências de afeto e de confirmação pelas quais passamos.

Costumo dizer que nós passamos por dois úteros, um físico e um psicológico. Ambos nos geram para o mundo. O psicológico é formado por nossa matriz social, ou seja por nossa família, pelas pessoas com quem nos relacionamos e com as quais aprendemos e entendemos como devemos nos comportar. A educação é a via desse processo. E através dela aprendemos quem somos, o que somos e como somos. Nossa individualidade vai sendo lapidada pela visão de mundo de nossos pais, suas crenças, seus mitos e suas verdades.

São desses entendimentos que se desenvolve nossa AUTO-ESTIMA. A auto-estima é o resultado do afeto que aprendemos a dar a nós mesmos através do respeito e da aceitação daquilo que pensamos, sentimos e somos.

Através dela conquistamos nossos espaços e percebemo-nos merecedores de felicidade. É o resultado do amor que recebemos, não o amor gratuito mas aquele que ensina a retribuir, que ensina a noção de respeito ao outro e a si mesmo. Na primeira infância necessitamos da aprovação externa, e a reação das pessoas aos nossos atos também constitui fonte formadora da nossa auto-imagem e pode modificar ou influenciar nosso autoconceito que carregaremos durante a vida. Este autoconceito, esta percepção de si, dos próprios potenciais, de limites, e principalmente de seus desejos, estará sendo estimulado durante toda a nossa vida, através das diversas relações que estabelecemos.

Isto significa que a nossa família influencia a forma de nos percebermos, mas não a determina. A maturidade psicológica pode ser medida também pela nossa capacidade de nos auto-alimentarmos emocionalmente, passando então da necessidade de confirmação para apenas o desejo de sermos aceitos.

Isto não significa que somos como argila, moldados apenas pelas experiências externas. Nascemos com características físicas e com algumas psicológicas, herdadas. Trazemos conosco em nosso nascimento um potencial de saúde mas que precisa dessas provisões externas para se desenvolver.

Resumindo, a auto-estima é a capacidade do ser humano de sentir-se bem em relação a si próprio, o bastante para aceitar a rejeição não como uma afronta pessoal, mas como parte inevitável da vida. O indivíduo com auto-estima tem a capacidade de deixar a rejeição para trás e prosseguir. Aqueles que se aceitam agem livremente, permitindo a si mesmos atuar próximo ou no máximo de seu potencial. Expressar-se é contar sobre si, relacionar-se, assumir que se faz parte do mundo.

O TÍMIDO tem sua AUTO-ESTIMA baixa, frágil, ele sempre acha que todos estão olhando para ele, que o mundo roda em torno de sua atuação. Está preocupado em como os outros vão avaliar suas atitudes e comportamentos e com isso não tem coragem de assumir seus próprios desejos.

A timidez torna as pessoas propensas a interpretarem os acontecimentos de uma maneira ameaçadora, com isso sua autonomia torna-se prejudicada, precisando de algo ou alguém para sentir-se seguro e tranqüilo.

Em nossa atuação no mundo trabalhamos sempre em duas áreas a da ilusão (fantasia, crenças) e a da realidade (mundo objetivo). Nossas escolhas e formas de entender e de sermos no mundo nascem destes focos de atenção.

Se temos uma boa noção sobre quem somos e do que somos capazes, ou seja, de nossos potenciais e de nossas possibilidades, atuamos no mundo de forma mais autônoma e segura. O conhecimento de si mesmo, aliado à auto-estima são os fatores determinantes para mudar sua forma de se relacionar com o mundo.

A timidez incomoda cada vez mais. Em nossa sociedade competitiva aquele que não ousa, aquele que teme ser visto, ser percebido ou questionado em suas opiniões, tem mais dificuldade em se relacionar, conquistar seu espaço profissional e com isso alcançar o sucesso esperado pela sociedade e muitas vezes por si próprio.

Torna-se invariavelmente comum, receber em meu consultório pessoas que buscam se livrar desse sofrimento. Desde jovens que não conseguem se expor em sala de aula, apesar de saberem a matéria, ou mesmo não conseguem fazer amizade ou pertencer a um grupo, ou arriscar uma paquera, sentindo-se excluídos e rejeitados.Ou quando adultos, muitas vezes já profissionais, que sentem dificuldade de expressar seus conhecimentos, liderar grupos, agir com autoridade, estabelecer limites. Os tímidos sofrem e perdem oportunidades profissionais, relacionamentos pessoais, vivências, experiências, porque não se lançam no mundo. A sociedade prefere aquele que saiba defender suas idéias e seus pontos de vista. " ( Sirley Bittú)

Vamos nos aproximar de outras características deles e refletir sobre sua dinâmica?

Podemos verificar que sob o véu da timidez se encontra:
* uma pessoa sensitiva até melindrosa;
* insegura, receosa e acanhada, o que a faz supervalorizar possíveis riscos;
* com medo de cometer erros e de sentir-se ridicularizada ou incapaz;
* pessoa dotada de grande suscetibilidade, com tendência a se ofender com facilidade;
* tem dificuldade para se inteirar e refletir depois sobre eventuais críticas a seu respeito;
* tem tendência a se sentir culpada por tudo e carrasca castradora que inibe a si mesmo;
* juíz implacável consigo mesmo, se incapacita ante altas exigências e cobranças de performance;
* sua energia é investida na manutenção da imagem para os outros e evitar rejeições afetivas;
* demonstra pouca capacidade para lidar com agressividade (necessária na colocação de limites);
* tem dificuldade de dizer "não quero", reação adequada imediata a um desconforto;
* tem pouca flexibilidade consigo mesmo para conviver e para tolerar suas próprias falhas;
* apresenta obsessiva preocupação com as atitudes, reações e pensamentos dos outros;
* pessoa que adota como mecanismo de defesa, a própria timidez
* a timidez funciona

Fui interrompida bruscamente por um de nossos imprevisíveis "apagões" e quedas na energia elétrica. Mudou o rumo de minhas idéias e de meu projeto para essa postagem. Acredito ter sido providencial para exemplificar como lido com a vida.

Montei novo projeto em questões de segundos. Gostei dele e o aprovei internamente. Vou remeter o leitor desse blog a mergulhar dentro de si, investigar o fenômeno da timidez ( todos nós já o conhecemos em algum momento de nossas vidas) sob sua perspectiva de ser um mecanismo de defesa.

Lembrete: mecanismos de defesa surgem de operações mentais que nos são inconscientes, visam proteger a integração e harmonia de nosso aparelho psíquico. Contra o que?
Devolvo a pergunta: Se tomasse maior consciência de si, nesse momento, "o que é que" poderia causar a você uma angústia interna (dor psíquica) tão grande, que o ameaçasse com a possibilidade de uma desestruturação psíquica? Pense, estabeleça associações, lembre de situações em que se percebeu tímido, ou tomado por este "estado de acanhamento".

Agora volto ao "fenômeno da timidez": A "serviço do que" está a sua timidez? O que ela impede que venha tona, pois se vier irá lhe trazer desconforto e e desagradável sensação de ansiedade?

Já dei uma porção de pistas, que dão condições para o traçado do "perfil psicológico do tímido". A investigação fica com você agora. Sinta-se como um detetive desvendando seu interior. Isso é válido para muitos fenômenos psíquicos, que observar dentro de você.

Mas, como tudo na vida envolve "vontade" ou "autêntico querer" entrego a você o pacote de suas ilusões e fantasias para suas reflexões sobre elas, e possíveis futuras decisões se for confrontado com a necessidade de mudanças para "ser feliz".

Novo lembrete: a dica não é para acionar sua "vontade" ligada ao seu "livre arbítrio", ao seu "intelecto e cognição abstrata", onde tem que optar entre fatores externos a você. A dica é para tentar entrar em contato com sua "vontade livre" ou sua "liberdade verdadeira como ser humano", ligada ao querer profundo de seu espírito, captado por sua "Razão e cognição intuitiva".

Sei que agora é capaz de melhor lidar com aquilo que o angustia e se aliar à vontade de investir em você rumo ao seu "ser livre e feliz", meta de todo "ser humano". Torço para que tenha coragem e ousadia para esse empreendimento. Não é fácil! Mas depois, a visão do alto, da serena plenitude, faz tudo ter valido a pena!

Aurora Gite