domingo, 31 de maio de 2015

A Psicologia Aplicada do Milênio

Interessante observar as configurações dos saberes que vão se delineando ante as transformações sentidas nesse novo milênio.

Disciplinas reducionistas sobre a condição humana estão se abrindo para agregar em seu bojo análises que incluem uma multiplicidade de perspectivas (saudades de Hannah Arendt, mas chegamos lá!).

Profissionais, de diversas áreas sobre a saúde mental, passaram a adotar posturas mais ecléticas, se permitindo usar interpretações compreensivas de várias escolas de pensamento sem tanto priorizar algumas de renome como a Psicanálise (que não deixa de continuar a ter seu valor), sem excluir com a arrogância de alguns pomposos psicanalistas que nada mais precisam conhecer e com a soberba de outros que não se dão ao trabalho de buscar saber o que novas teorias e recursos psicoterápicos podem oferecer ao quadro clínico, observado em seus pacientes (o principal é enquadrá-los nas molduras estruturais freudianas, a partir daí os procedimentos analista-paciente já estavam modulados, restando enquadrar o analista).

Muitos, que se aventuram a trilhar o caminho freudiano do autoconhecimento, permitindo-se inclusive conhecer recursos psicoterapêuticos de escolas divergentes (e esqueciam que seu objeto de estudo era o mesmo ser humano), e evoluir rumo ao processo de individuação junguiano mantendo contato com a função transcendente por Jung descrita com clareza, olharam ao redor e se espantaram com a dificuldade de lidar com os aspectos descobertos dentro de si. Tudo isso sou eu, mas como lidar com tudo isto nessa época de minha vida? O que fazer com quem eu sou?

O contato com muitas dessas vivências angustiantes de pessoas competentes me facultou constatar a falta de um espaço interno, o "holding" (acolhimento) -kleiniano e winnicottiano - aberto após boa internalização psíquica das funções maternas e paternas (nada a ver com a incorporação de figuras da mãe e pai biológicos). O como bem lidar com as descobertas sobre si mesmo pelo processo de autoconhecimento - que se estende pela vida a fora - depende desse espaço de acolhimento interno, condição indispensável para que uma boa autoestima se consolide; para o equilíbrio de pontos fracos e fortes, e para o bem viver uma vida boa que impulsione o processo contínuo da singular evolução de sua psique. E como é preciso nos dias atuais cheios de carência e pressões ter bem vivenciado os papéis de filhos, filhas, pais e mães para girar a contento a roda das gerações!

Acredito que o foco atual caia na adoção de uma Psicologia Aplicada, inclusive como parte de Programas Educacionais (curricular, por que não?) visando a discriminação de funções operacionais psíquicas eficientes na era digital, além do adestramento educacional para se atingir um desempenho adequado a uma inclusão aceitável nos papéis sociais... mas esse é tema para outra postagem.

Só adianto que a harmonia da convivência social vai depender não só de condições para que se estabeleça o respeito efetivo às diferenças entre as pessoas, mas também, e principalmente, do aprendizado e da eficácia da aplicação, na vida de relação, das funções de "automaternagem"(aceitação amorosa e empática) e "autopaternagem" (observância de limites e respeito às leis) -decorrentes da discriminação dos valores espontâneos próprios da essência de cada um, daqueles obrigatórios estabelecidos por regras e ordens morais impostas pelos papéis, muitas vezes conflitantes, que delimitam o lugar de cada um na sociedade, e o padrão a seguir que indica o que cada um deve fazer para se sentir feliz (?).

Eis como penso que venha a se constituir um "atendimento na era digital"- "batepapo terapêutico numa rede social?". Transcrevo com anuência dos envolvidos (uma psicóloga, supervisionada por mim, e sua filha - sérios problemas financeiros familiares) um caso que bem serve como exemplo do que digo acima:

" Terça 16:26 - Ok mãe, agradeço qualquer ajuda dada! E, se não puder mais ajudar, agradeço por tudo que fez tbm kk
  Terça 22:57 - Oi mãe, tudo bem?? Não se assuste por eu não ter ido. Mas agora é o ... que tá resfriado kk... não tem febre... , mas preferi prevenir
  Terça 22:58 - Oi filha, estranhei mesmo... achei q tinha piorado do quadro gripal... amanhã cedo reunião com a escrevente... tô juntando os documentos para levar e imprimindo boletos dos pagamentos de seu pai atrasados na Prefeitura... vendi ações ontem... agora tenho o dinheiro para o 71... o importante é q estou cobrindo tudo... nem acredito! seu pai liberado dos processos iptus da casa... e sua irmã vai ter o teto fixo. Meus netos não vão +ficar pulando de galho em galho, sem ter um teto deles desde bebês... vixe!
  Terça 23:00 - Nossa mãe, muito orgulho de vc
  Terça 23:00 - Nossa filha, eu tb tenho muito orgulho de mim nesse sentido..
  Terça 23:01 - Mas tenho muito orgulho de vc tbm, por pensar nos netos antes de vc própria... fico muito feliz por meus sobrinhos... acho que tenho que buscar minha filha na facu e depois nanar... amanhã ou depois estou por aí... bjsss boa noite com a consciência supertranquila... vc merece... seu travesseiro bem leve, vc vai ver...

Quarta 23:51 - Mamãe, meu orgulho, minha vida... Acho que vou aproveitar esses dois dias e tentar dar um jeito aqui... volto ao trabalho segunda... saudades de vc love muito... me sinto tão feliz por vc, espero que sinta o mesmo...bjssssss
~~~~depois de 6 horas ~~~~~~~~~~~~~~~~

Quinta (madrugada) - Meu Deus, mãe, hj me pego em muitos questionamentos... tenho 43 anos e de quem é a culpa pelas minhas frustrações? É claro que já bebi um pouco a mais, para poder soltar esse choro que me aperta, que me sufoca... e a pergunta que não cala dentro de mim... de quem é a culpa? Existe uma culpa ou é tudo ilusório? Meu pai, será?... meu pai que tampa o sol com a peneira de seu próprio fracasso e ainda assim tentando ser o mártir da família, como o pai dele, apesar das traições e machismo tentava ser, e minha avó assim o permitia...?
                               - Vc mãe, que sempre protegeu a figura do pai e de repente joga sobre a gente um monte de verdades ocultas, e talvez já sabidas por nós, mas preservada por vc, sabe (por que?) ... pelo marido... meu marido entrou de gaiato no navio kk ... achando que podia suprir a falta de um pai, ou que eu aceitasse as coisas como uma mãe... acho que diante de tudo a culpa menor seja dele, embora seja culpa... e o que dizer das irmãs?... a mais velha, querendo fazer o papel de mãe com a caçula (eu), mas tão perdida como qualquer outra - como alguém pode tentar compreender os outros se nem a si próprio entende ???... -, a segunda como culpar, por que?... se sempre tentou achar seu caminho em toda a história, demonstrando até fisicamente, em hospitais e pronto-socorros, com nenhum diagnóstico plausível, pra tanta carga emocional q depois explodiu... tudo junto, sem saber como reagir... terminando casamento e relacionamentos de uma carga emocional enorme, agora Graças a Deus se encontrando e relaxadamente podendo viver a vida que era pra ter vivido aos 26 anos. E o que falar da terceira ... ???... simplesmente nada... não a conheço realmente... mas talvez seja a mais certa, vivendo longe e preservada de tudo, tudo???? ... sua própria família?... se ela não tiver os apoios dos filhos, é claro que do marido não vai ter... mas sempre nós, irmãs, estaremos lá, pra qualquer coisa... mas e eu...
                              - Mas e eu... com depressão profunda, o marido tenta ajudar, mas nem ele entende o que se passa... uma filha tenta ajudar, até briga... a outra é indiferente, só cobra, quer dizer, não entende... o menor ainda, é melhor nem citar. Meu Deus, o que fazer ??? ... perco toda minha luta até hj, luta interna sozinha, desde os meus 8 anos... entrego os pontos e me decepciono mais uma vez, sabendo que não sou capaz de resolver tudo sozinha?
                               - Admito que bebi um pouco a mais e estou escrevendo um monte de asneiras??? -
                               - E aí mãe? ... ou deixo pra lá, rezo pra Deus me ajudar mais uma vez e acordo como se não houvesse nada errado comigo... Me aconselha mãe, o que eu faço,???... Minha vida parece uma tristeza sem fim - amo meu marido e meus filhos, é claro, mas acho que não me amo, sinto dó de mim, não tenho vontade de levantar da cama, mas sinto vontade de beijar meus filhos e acariciar meus filhos e ficar abraçada a meu marido, mas sei que nenhum deles pode entender minha carência...
                             - Lembro e sinto falta quando, de vez em quando, vc abria a porta pra eu deitar com vc... a segurança era tão boa... mas quando vc não abria e eu dormia no corredor era tão medonho. Meu Deus, mãe, me AJUDE, o que acontece comigo? ... as vezes sou tão forte, as vezes não sou nada... aí vc vai falar precisa de terapia... não, pq simplesmente nunca acreditei em terapeutas, psiquiatras talvez...mas vou me deixar dopar, enquanto tenho 3 filhos pra criar e que dependem muito de mim?
                             - Sabe, mãe, conversei muito com a mais velha ... quando o irmão (agora com 5) fizer 10 anos, talvez eu me interne e se ela não tomar responsabilidades até lá ou precisar de uma tutora kkk... além do pai ser responsável... claro... pq ele ama os 3 filhos acima de tudo, os 3... mas, se ela não criar jeito até lá, mando ele pra madrinha dele... as duas são maiores e ficam cuidando do pai... Nossa, mãe, como estou triste... que engraçado, não é falta de amor... meu marido e meus filhos me amam eu sei... mas não sei o que é isso... vem lá do fundo...
                          - Uma vez perguntei a vc se me culpava por não ter sido menino ... vc disse que não, lembra???... mas meu pai disse que ele não, mas vc ficou triste por eu ter sido menina... que engraçado, mãe, me sinto perdida aos 43 anos... me sinto cada vez mais vazia... a medida que meus filhos crescem eu não sei mais quem sou... queria poder engravidar agora, é tão supremo... adorooo... criar uma vida dentro de mim, me faz tão bem... sou tão completa quando estou grávida kkk ... sou até completa com dois de meus filhos, um é tão individualista, como o pai...
                        - É claro que bebi um pouco a mais, se não teria ido dormir e não teria falado nada disso, mas mais cedo ou mais tarde isso ía surgir... Mãe, por favor, quero voltar pro seu colo e dormir na sua cama... não sou ninguém sem vc... se eu pudesse voltar atrás, casaria com o mesmo homem e teria os mesmos filhos, mas mudaria quem eu sou... é isso que eu não entendo... sou tão satisfeita com tudo que tenho... mas infeliz comigo ao mesmo tempo... talvez só esperando a morte pra me dar outra opção de mim...
                       - Mãe fala comigo, já tá na hora de vc acordar... mãe por favor fala comigo... parece quando eu era pequena e pedia pra vc abrir a porta pra eu deita com vc... mãe posso não ter sido menino, mas só vc me dá segurança... mãe abre a porta deixa eu deita com vc... por favor mãe... eu tenho medo... afff o que tá acontecendo? ... mãe, vou ficar qui no corredor, abre a porta pra mim... eu não tenho culpa... mãe acorda, abre a porta pra mim... o corredor é tão frio... mãe quero dormir com vc, não me deixe aqui sozinha... MÃE MÃE SOU ADULTA AGORA, MAS TÃO SOZINHA... mãe mãe, mãe... eu não tenho culpa... mãe desculpe... mãe fala comigo... mãe mãe... por favor... to tão triste... será que se eu fosse um menino vc e meu pai teriam ficado junto? ... mãe fala comigo, mãe to sozinha, pode falar... será que essa culpa interior que levo comigo é isso?... se eu tivesse sido menino vcs não tinham se separado? ... mãe respondeeeeee...
                        - O dia vai clarear, vcs vão acordar... minha bebedeira vai passar... mas tudo que escrevi tá aí... Mãe quero ser filha, me deixe dormir com vc... mãe por favor eu não tenho culpa de ser menina, me acolhe por favor... eu não quero ter responsabilidade... quero ser sua filha... apesar de querer ter um menino... abre a porta mãe deixa eu deitar com vc... sem hr ne compromisso pra acordar... mãe abre a porta... é muito frio aqui... mãe tó sózinha... por favor tá frio... mãe não me deixe aqui no corredor... mamãezinha eu te amo abre a porta... mãe abre a porta por favor... quero ficar com vc... mãe o corredor é frio... abre a porta... mãe acorda... mãe... mãe... "

Resposta 1 dia após, quando foi lida a mensagem pela mãe (psicóloga)

" - Filha... tava caindo na depressão há tempos, mas agora é sério. Acredito que precise da dupla psiquiatra e psicóloga. Sem medicamento não consegue sair dessa crise. De meu lado, como te disse outro dia 'To de braços abertos, mas com tantas limitações... por estar fazendo parte desse seu cenário de dor  e sofrimento, sem poder ser de ajuda efetiva.' Ajuda financeira nada representa nesse quadro depressivo, pois acredito envolver aspectos orgânicos também.

Estou muito preocupada agora, sofrida e grata por ter me permitido acompanhar sua descida depressiva. É de uma dor intensa, fundo do poço mesmo. Só posso reforçar que estou por aqui, reforçando sua proteção nessa descida infernal para dentro de si mesmo, da parte insana dentro de cada um nós. O importante é que se agarre a seu lado saudável e procure, nas pequenas coisas ao seu redor, resgatar do que você é capaz... fortalecer esse lado, se prendendo à realidade externa, não à realidade interna desestruturante, nesse momento depressivo, de sua força.

Estou aqui, filha, estou por perto... pela falta de minha presença não tenha medo... e acredito na sua força interna atuando novamente com a parte química de seu organismo equilibrada por medicamentos apropriados ao quadro depressivo. Estou perto, como estive quando não podia enxergar após o acidente de carro, correndo o risco de permanecer na escuridão da cegueira, se o coágulo não fosse incorporado pelo seu organismo, não se dissolvesse... lembra?

Estou perto... se prenda ao real à sua volta quando vier essa angústia toda...
Sinta o meu amor e aconchego...
Preencha sua mente com minha imagem de mãe, de braços abertos para te acolher e proteger até aliviar a angústia... ela é passageira, mas a dor é infernal... nesses momentos o importante é tirar o foco mental dela, senão como sereia ela nos puxa para sua profundeza e a dor rasga o peito da gente mesmo.

Não contando com remédios para aliviar o quadro, vai ter que fazer esse "parto interno" e resgatar seu lado psíquico saudável do lado sombrio que, no momento depressivo, nos remete ao mar de dúvidas sobre quem somos, com cobranças e acusações nos desqualificando, nos jogando na cara um quadro irreal de menos valia... nada valemos em meio ao fracasso sentido nos picos da depressão... e de nada valem palavras outras otimistas tentando levantar nosso ânimo. Nada nos tira da areia movediça da angústia que consome, a não ser uma aliança com a própria angústia depressiva, buscar estabelecer um diálogo e tentar descobrir e compreender o que tenta nos dizer, onde a pressão atual se acumulou... aí podemos tentar alterar o quadro.

Tô aqui para te dar força e te acompanhar... até a possibilidade de mais um profissional da área da psiquiatria e da psicologia se agregar a nós. Você toma fluoxetina, segundo disse, prescrita pela endócrino, cuja dose você mesma aumentou para dois comprimidos diários... e não aceita psicoterapia. O uso e dosagem desses medicamentos tem que ser controlados em consultas periódicas a um psiquiatra, até estabilizar o quadro. Sendo inadequados pioram o quadro dos pacientes, ainda mais se tiver seu potencial alterado com o uso contínuo e excessivo de álcool.

Poucas pessoas conseguem acompanhar a dinâmica (movimento) da energia psíquica como você faz, e têm facilidade para descrevê-la de forma clara. Após a crise, lendo e refletindo já tem algumas pistas de onde começar a mudar. O álcool só ajuda a tornar tudo nebuloso e amortecido por um tempo... não é o caminho, aliás é o seu pior aliado nesse momento, pois o sofrimento interno passando seus efeitos, fantasmas infantis de culpas que nos assolam e fantasias mobilizadas por ilusões retornam com maior força. Precisa de terapia, filha, para elaborar, incorporar e dissolver tudo isso que machuca ainda dentro de você ... e como, quando da época do acidente de carro... estou por perto e de braços abertos para lhe dar abrigo quando precisar... e estiver disponível internamente para acolher a menininha que você foi, que dormia no frio do corredor... essa é você mesma que pode dar acolhimento agora... é a sua criança interna pedindo colo de sua maternagem interna..."

RE - Resposta da filha ao ler esse retorno da mãe...

"- Oi mãe. Estou triste. Muito triste e nem sei pq, mas ..."
No dia seguinte: "Que engraçado, mãe, hj estou bem, muito bem... aff parece que estou sempre numa montanha russa..."

Prefiro encerrar por aqui por falta de palavras, não saberia o lugar delas... mas acredito em grandes transformações nos aparatos das psicoterapias, vínculos terapêuticos e "settings"... Já podemos constatar, por um lado, quedas de teorias que envolvem o psiquismo e o apressar do apagar do crepúsculo de ídolos fabricados ... e por outro lado, o nascer de novas formas de atendimento (como as online), e esplendorosas auroras compreensivas no campo da psique (alma).
Aurora Gite

P.S.: Andrea faleceu em 12 de julho de 2015, por volta das 9 horas da manhã de um domingo. Marido jogando futebol, seus 3 filhos aboletados em sua cama. Forte dor de cabeça, desmaio, infarto fulminante. Seus filhos apoiaram sua cabeça, enquanto seus sinais vitais estavam definhando.

Como ouvi de sua mãe: "Como não agradecer o tapete vermelho que estenderam para receber a energia de minha filha. Só posso ter gratidão, em 23 de março de 1972, despertaram a centelha que a fez nascer e a colocaram sob meus cuidados. Da mesma forma, em 12 de julho de 2015, interromperam sua vida a meu lado. Sinto muita tristeza, mas muita tranquilidade interna pois demos nosso melhor uma à outra. Vivo persiste a qualidade de nosso vínculo amoroso (sem culpas a resgatar) me dando força pela minha vida à fora."



domingo, 17 de maio de 2015

Não consigo reter o tempo em sua liquidez!

O ontem, o hoje e o amanhã se perdem cada vez mais. Não consigo mais reter o tempo em sua liquidez e velocidade nem em minha memória. As aparências passam a imperar. Parece que foi a pouco que escrevi e postei, mas passaram-se anos, e em alguns casos passou-se ano, espaço temporal que se diluiu sem deixar vestígio. Como a água que se procura conservar na palma da mão, por seu estado líquido, escorrega por entre os dedos e a mão rapidamente se esvazia, sem nenhuma evidência de ter tido prévio contato com ela. O sociólogo Zigmunt Bauman foi muito feliz nessa sua comparação e por quebrar a liquidez ao torná-la como que "patenteada", presente em muitos títulos de seu patrimônio cultural, que continua se renovando apesar de já contar com mais de 83 anos.

O post foi ontem, o conteúdo se mantém no presente, a repostagem lhe dá o caráter de ser lido no futuro do amanhã, talvez... e caímos de "Hannah Arendt mais uma vez, por que não?" (2014), nos braços das ideias de "E lá vem Hannah Arendt mais uma vez!"(2009) ... e a quem se permitir embarcar na carruagem do tempo e se direcionar retrocedendo no tempo cronológico chega a "Um pouco mais de Arendt em Solidão, Vontade e Liberdade".

Vamos nos embrenhar nessa aventura de seguir as eternas pistas deixadas na "linha atemporal do tempo"? O túnel do tempo nos espera, topam? Então venham comigo!

Vamos lá, segurem minha mão! Empresto meus olhos para que sirvam como lanterna para iluminar o caminho do "pensar"; minha mente para articularem as relações entre os conteúdos lidos; minha razão para refletirem sobre a importância atual dos temas abordados; meu espírito crítico e minha permanente curiosidade para aguçarem a vontade de vocês de quererem "saber mais e participarem da vida pública como cidadãos"; minha otimista e incômoda esperança de poder presenciar a transformação coletiva visando um mundo melhor, com convivência grupal mais pacífica e com "mais amor entre nós, os humanos"!

Aurora Gite

De 17 de maio de 2015 a 17 de março de 2014...a 2009 e a...(?)

Mais uma vez Hannah Arendt, por que não?

Há algum tempo nosso quadro sociopolítico tem atraído minha atenção, e não é sem espanto que acompanho todo o processo de alienação atual. 

Pessoas preguiçosas em seu 'pensar por si', tendo por referência e menosprezando o grande desconforto que contamina a si e grande parte dos que estão ao seu redor, se escorando na covardia não ousando mobilizar a coragem necessária para correr o risco de saindo do lugar de vítimas, enfrentarem e interromperem o 'status quo' desgastante. 

Mudar padrões de submissão vigentes, e se colocar na posição de agente social efetivo de mudanças eficazes, são como quê, as palavras chaves e o processo central da dinâmica, que custa a emergir e encontrar expressão social, visto o vozerio popular, já gritar por socorro para não sucumbir de vez às zonas de conforto da tutela do "poder totalizador" (semelhantes aos das grandes ditaduras, dos regimes fascistas e nazistas- Arendt os descreve bem, inclusive por tê-los vivenciado):

 * o "fenômeno do lulismo", ou da abrangência, a cada dia ganhando mais espaço social, de um "regime totalitário" centralizador dos processos decisórios, controlador do marketing e da difusão de ideias, mais e mais distorcidas, de uma esquerda antes preocupada com o bem coletivo, pois hoje se tornou um movimento partidário que se preocupa mais em unificar diferenças, amordaçar a voz dos discordantes, atropelando a verdadeira política,

* a "robotização humana à mercê das ideologias partidárias", que mais e mais tendem a implodir uma frágil democracia, tentando se equilibrar para fortalecer seu caminhar, visando incluir ampla participação popular nos processos decisórios da nação e resgatar o espaço para que a voz dos cidadãos seja ouvida e respeitada,  

* a "convicção, ou crença, de atuarem com dignidade e posturas éticopartidárias", como é o caso de um dos mensaleiros, que prova viver sem grandes ostentações e demonstra, no seu caso, ausência de desvios de dinheiro visando vantagens pessoais, valia a honra de tudo ter sido feito pelo partido político, 

* ministro do mais alto escalão do judiciário, por perfeccionismo burocrático, com vaidosa pompa e ilustre verborragia na defesa de leis, esvaziadas da verdadeira justiça por não mais condizerem com a realidade social, surdo ao quase maciço clamor público, vota a favor daqueles que comprovadamente lesaram o social; embora atento à certeza de que medidas como embargos, serviriam para manipulações perversas questionáveis de profissionais que, não se omitiam de manobras afrontosas ao próprio Direito e à Justiça, se bem remunerados,

* por aí pode-se discorrer sobre vários fatores que lesam o quadro social com sua impunidade, favoritismo e nepotismo, opressão escravizante pelos altos impostos cobrados dos cidadãos e pouco retorno de benfeitorias sociais, podem ser relacionados evidenciando os motivos da insatisfação popular com um governo, que peca pela má administração do patrimônio público, pela falta de habilidade nas negociações políticas, pela dificuldade de lidar com divergências ideológicas e articular argumentos ideativos sem se utilizar de barganhas e favores ilícitos, por envolverem a falta de transparência e uso indevido do que é público.

Aí me volto a Hannah Arendt (1906-1975), ante minha inquietação e indagações sobre até quando persistirá nossa desumana degradação social, até quando ainda irá ocorrer essa "alienação e descomprometimento social com mudanças", quando emergirá um verdadeiro líder político, que possa resgatar os valores que mantém uma sociedade unida e íntegra moralmente falando? 

As ideias de Arendt ressoam em meus ouvidos: 

* "A Política baseia-se na pluralidade dos homens devendo, portanto, organizar e regular o convívio dos diferentes... Ela surge não no homem, como afirma Aristóteles, mas sim entre os homens."

* "O sentido da Política é a liberdade... A liberdade e a espontaneidade dos diferentes homens são pressupostos necessários para o surgimento de um espaço entre eles, onde só é possível a verdadeira Política...A Política tem uma dignidade própria"

* "A Lei produziu o cidadão, agente de mudanças sociais. Arendt destaca, no entanto, a distância entre a intenção e o discurso, que além da capacidade da retórica, envolve a faculdade de persuasão e o poder de convencimento. O discurso é que faz do homem um ser político. O que os homens fazem, pensam ou experienciam só têm sentido (significado) na medida em que podem ser discutidos entre eles." 

E eu a me perguntar de onde surgiria o líder pacificador no momento atual, que tenha condições, com a força de seus argumentos, de mobilizar a desalienação popular e agregar a coragem de várias mentes pensantes e autônomas, com cacife para bancar suas individualidades e sua vontade de lutar, tendo por armas a credibilidade de exemplos em seu modo de viver, reforçada por argumentos convincentes e irrefutáveis na pontuação de vantagens, em prol da defesa do Regime Democrático de Direito ? 

Aqui associo (coincidência?) as circunstâncias atuais com o movimento da Revolução Francesa e sua eclosão ante o clímax da insatisfação popular... degradação humana, escassez e fome... lançamento de pães, que não mais saciavam a ânsia do povo, que não mais escondiam seu furor ante a falta de reconhecimento a suas necessidades básicas de sobrevivência, que não mais encobriam o desprezo pelo pouco caso e pela opressão humilhante, pela forma como a realeza menosprezava a condição humana, em seus pilares de sustentação: a liberdade, a igualdade e a fraternidade, que vieram a se constituir em lema da Revolução.

E lá vem Hannah Arendt mais uma vez!

"Entre o Passado e o Futuro" , não é um livro fácil de ser lido, mas nos confronta com algumas verdades dentro de perspectivas pouco comuns.
Arendt chama nossa atenção para o erro da "engenharia das relações humanas" e sua forma ineficiente de lidar com a "administração das questões humanas". Combate a maneira de "tratar o homem como um ser inteiramente natural, cujo processo de vida pode ser manipulado da mesma maneira que todos os outros processos (artificiais).
Aponta o perigo do mundo atômico em seu agir na natureza, onde "não são mais as ações humanas, mas o mútuo relacionamento que pode mudar e muda historicamente"; onde "o geral confere sentido e significação ao particular". Para ela, " processos invisíveis engolfaram todas as coisas tangíveis e todas as entidades individuais visíveis, degradando-as a funções de um processo global... levando ao desencanto do mundo ou alienação do homem". Nesse sentido, "o processo (abstrato) é que torna por si só significativo o que carregue, adquirindo um monopólio de universalidade e significação".
Nessa moderna maneira de pensar, "nada é significativo em si e por si mesmo, nem mesmo a história e a natureza tomadas cada uma como um todo". E eis o homem atual entregue a um agonizante desamparo e profundo desespero.
Ao mesmo tempo, nos confronta com a oposição entre a prática e a teoria; entre a vida sensível e perecível, envolta pelo "erro e ilusão dos olhos corpóreos", e a verdade permanente, imutável e supra-sensível, cuja compreensão é guiada pelos "olhos do espírito, ouvidos do coração e luz interior da razão". Esses opostos "somente tem sentido e significação em sua oposição" e não por si sós.
A articulação de ideias de Arendt, em sua análise histórica e perspectiva filosófica e política, me fascina e me enche de esperança em um futuro melhor para a humanidade.
Assim segue a autora, em suas reflexões: "É como se Platão estivesse dizendo a Homero que não é a vida das almas incorpóreas, mas sim a vida dos corpos que tem lugar em um mundo inferior; comparada com o Céu e o Sol, a Terra é como o Hades; imagens e sombras são os objetos dos sentidos corpóreos, não o ambiente das almas incorpóreas. O verdadeiro e real é, não o mundo em que nos movimentamos e vivemos e do qual temos que partir na morte, mas "as ideias vistas e apreendidas pelos olhos da mente". É como se o mundo interior do Hades houvesse ascendido à superfície da Terra."
Continua traçando um "paralelo entre as imagens da Caverna de Platão, em sua parábola, e o Hades de Homero - os sombrios, irreais e insensíveis movimentos das almas no Hades - que correspondem à ignorância e inconsciência dos corpos na Caverna".
Recorda o Mito da Caverna de Platão, onde a cada reviravolta do homem ocorre a perda de sentido e orientação, onde " os olhos ajustados são ofuscados pela luz que ilumina as ideias, necessitando reajustar-se; e os olhos ajustados (posteriormente) à luz do Sol, devem reajustar-se à obscuridade da Caverna".
Relembra esse mito onde em uma primeira reviravolta os habitantes da caverna, presos por grilhões que os obrigavam a ver somente a tela à sua frente, com as sombras e imagens projetadas, quando deles se libertam e se voltam para o fundo da caverna se deparam com um fogo artificial que ilumina as coisas dentro da caverna tais como realmente são. A segunda reviravolta está atrelada à saída de caverna para o céu límpido, onde as ideias aparecem como as verdadeiras e eternas essências das coisas na caverna, iluminadas pelo Sol, a ideia das ideias, que possibilita ao homem ver e às ideias brilhar. A terceira decorre da necessidade de volver à caverna, de deixar o reino das essências eternas e novamente se mover no reinos das coisas perecíveis e homens mortais.
Assim para Hannah Arendt, os homens socializados decidiram jamais deixar a "caverna" dos assuntos humanos quotidianos, se permitindo a atitude de "espanto face ao que é como é".

Eis porque defendo o espaço para que os "unicórnios" (princípios virtuosos éticos) se aproximem e possam se agrupar fortalecendo nossos campos mentais, iluminando a riqueza ética do mundo psíquico dos seres humanos, propiciando interações harmônicas e respeito às diferenças individuais, metas públicas voltadas ao bem estar coletivo, convivências políticas mais serenas, onde reine o bom senso e a diplomacia nas negociações que envolvam questões sociais conflitantes.

Eis porque entrego a vocês como presente uma ampulheta (vide blogs anteriores), outra forma simbólica de representar o tempo na atitude interna da transcendência humana implícita na caverna, sua saída e posterior entrada buscando propiciar que os demais possam se libertar da condição de escravos e, por livre arbítrio, possam vir a constituir - ao abandonar a sua alienação dentro de um mundo fictício, frágil e superficial por ser tão artificial - uma "sociedade realmente humanizada".
Aurora Gite
* (2009 ou 2014...recorram à carruagem do tempo e observem como as ideias de Arendt fazem parte da paisagem que pudemos, e podemos, contemplar através de suas análises sociopolíticas, que envolvem a condição humana)

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Absurdo dos Absurdos!

Lá estava eu, tentando refletir e digerir a inalação tóxica pela distorção dos afetos conectados inadequadamente pelo poder midiático e seu marketing consumista sobre o "Dia das Mães", enaltecendo papéis sociais com a discriminação injusta e exclusão ingrata a quem foge do enquadramento padronizado...

Lá estava eu, buscando equilibrar inquietações com recordações infantis angustiantes e lembranças inquietantes pela falta de uma boa maternagem...tentava contrabalançar essa lacuna pessoal  comemorando o fato de ter conseguido dar "a volta por cima" e passar a pertencer ao grupo que, com orgulho, internalizou a verdadeira função maternagem e o holding (colo?) materno propício a um processo de "formação de um ser humano independente". Muitas vezes essa função não é desempenhada por mães biológicas, incapacitadas por graves problemas psicológicos que interferem em sua própria vontade impulsiva e seu querer fragmentado e condicional, mas por cuidadores que desempenhem essa função. Vale visitar o site www.centrowinnicott.com.br e ter contato com a pedagogia do "educar para crescer"

Acredito ser primordial para o desenvolvimento da "autoestima do ser em formação", a incorporação pessoal do "fator automaternagem", que, segundo penso, é o que vai assegurar, a cada um de nós, um centro autorreferencial que permitirá a construção de um ser humano seguro, leal e fiel a si mesmo, e vai lhe propiciar conviver a contento com seus fracassos e sucessos, com que o processo de autoconhecimento sempre nos confrontam.

É a função de automaternagem que dá as bases para trilhar um processo de autoconhecimento menos sofrido, sabendo que vai poder se bancar ante a consciência dos erros e acertos e continuar se respeitando e a seus valores éticos inatos: suas autorrealizações emergem nas horas de desespero e decepção consigo mesmo por "não ter conseguido ser como havia idealizado" e simplesmente pode ser "quem realmente é", sincero e honesto em sua espontânea autenticidade.

Segundo Winnicott, "O holding é o somatório de aconchego, percepção, proteção e alegria fornecidos pela mãe". Começa como algo vital, como o oxigênio e a alimentação, e se dilui conforme o bebê cresce. " A relação com a mãe leva o bebê a administrar a própria espontaneidade e as expectativas externas,  ele vai acumulando experiências nas quais é sempre o sujeito, e o "self" que se forma pode então ser considerado "verdadeiro".  Porém o "self construído em torno da vontade alheia" é o que Winnicott chama de "falso" e que priva o indivíduo de liberdade e de criatividade.

Não é fácil educar para o futuro e para o mundo, muito menos ensinar as virtudes apolíticas, citadas pelo filósofo Norberto Bobbio (Elogio da Serenidade) como a serenidade, a honestidade e a coragem  para se inserir no mal estar da civilização, sem se contaminar por regras sociais impostas e contaminar a própria autenticidade.

Lá estava eu... quando alguém, que me é significativo, me traz a informação que reputei como "absurdo dos absurdos": no primeiro ano de sua Faculdade de Pedagogia, particular e bem paga, as duas disciplinas que seriam ministradas à distância seriam Filosofia e Psicologia.

Não há como não se impactar com essa notícia e conclamar desde o próprio Ministro da Educação atual, o filósofo Renato Janine Ribeiro, a outros ex-ministros como o da França, filósofo especialista em educação, Luc Ferry que em seus livros sempre une os ensinamentos dos gregos ao pragmatismo filosófico de uma boa vida, à conquista de um bem viver uma vida com qualidade tendo passado pelo processo de autoconhecimento para se discriminar dos pensamentos e condutas padronizados da massa popular, do rebanho dos não pensantes.

Onde estão Gasset e Saramago, Nietzsche e Espinosa, Kant e Platão... e tantos outros para virem argumentar em defesa da Filosofia (Filo=amor, Sofia=sabedoria) e da Dialética (arte de raciocinar e dialogar para os gregos; modo de pensar as contradições da realidade em permanente transformação, dentro de uma concepção mais atual) e do Método Dialético de trocar ideias, de entrar em contentas filosóficas se utilizando de boas reflexões, associações lógicas e argumentações pertinentes. Bom lembrar que toda questão dialética é contraditória (não há certeza, mas dúvidas) e dinâmica (não é estática, mas envolve reflexões transformadoras).

Como não refletir sobre a presença distante da Filosofia e da Psicologia numa Faculdade de Pedagogia ao se pensar que "Educar" é ensinar a pensar, a conter as inquietudes advindas das dúvidas, a conviver com o não saber e ir descobrindo aos poucos o sentido no mistério da vida, se questionar e ser continente à angústia que emerge ante as três famosas perguntas que dão origem à investigação filosófica : Quem sou? De onde vim? Por que estou aqui? - Só por aqui pode-se observar a demanda de ambos os profissionais que ministrariam as aulas das referidas disciplinas estarem perto dos alunos, futuros pedadogos, cuja meta é "ensinar o aluno a crescer, ensinar a administrar potenciais emocionais e intelectuais, e mais ainda a se questionar, a ter visão crítica, a se posicionar no mundo como ser político, verdadeiro cidadão, agente social do bem viver coletivo.

Como não convocar Hannah Arendt para nos ajudar a analisar esse "absurdo dos absurdos", e o próprio Freud para nos auxiliar a seguir os meandros dos que elaboraram tal currículo nessa instituição pedagógica de formação de professores. Uau! E ainda questionam sobre a má formação de docentes espalhados por nossa sociedade contemporânea... e ainda apontam esse fator como responsável pela má qualidade do ensino e aprendizagem! Como formar cidadãos sem despertar nos indivíduos a consciência da necessidade de tomar decisões com lucidez e conscientização crítica, a premência de se expor e encontrar seu lugar no coletivo, participando de atos que influenciem o social ou o bem comum da sociedade? Será que esses personagens históricos que reivindicam seus direitos por méritos pessoais, que digladiam com argumentos sem serem ouvidos por governantes, merecem ser tratados com cacetetes e spray de pimenta nos olhos? Será que essas violentas medidas coercitivas cegarão e limitarão a esses seres esclarecidos, na defesa de suas categorias de docentes? É um orgulho saber, saber fazer, saber fazer acontecer e observar o crescimento dos alunos, sua passagem a cidadãos críticos que tenderão a defender posteriormente com paixão sua própria nação!

Acompanho e compartilho o pensamento de Hannah Arendt, segundo o qual: " A Política trata da convivência entre diferentes...O sentido da Política é a liberdade... A Política tem uma 'dignidade própria'. Essa dignidade reside em que é na Política que experimentamos o prazer de aparecermos singularmente uns para os outros em ações e palavras dentro do âmbito público. Esse conceito impede que tratemos os cidadãos como simples consumidores. Nesse sentido, a Política (é mais que administrar a coisa pública) não é o que garante a nossa liberdade privada, mas é, ela mesma, já uma experiência de liberdade."

Continua Arendt: "A liberdade está na potencialidade do indivíduo de tomar decisões, que tragam consequências para sua vida e especialmente para a vida social... Ninguém pode viver sem tomar decisões. As pessoas que insistem em não tomar decisões por comodismos ou por medo de responsabilidades, ou em acatarem o que os outros decidem por elas, tomam a decisão de permitir que outros tomem seu lugar." Não será esse o real "absurdo dos absurdos"?

Por que a presença da Psicologia (Psique= mente, alma, espírito e logia= estudo) na descoberta e fortalecimento de nossa subjetividade, singularidade como ser humano único?

É só articular com:
* Como nos tornamos indivíduos e gerenciamos nossas forças psíquicas?
* Como passamos pelo processo de conhecer os meandros de nossa energia psíquica, reconhecendo as atividades psíquicas desde as mais simples reações impulsivas ou respostas comportamentais, até as mais complexas ações movidas por intenções que, por vezes, nos são ocultas, embora seus efeitos sejam observáveis?
* Como nos tornamos sociais, respeitando os outros e convivendo com nossas diferenças?
* Como preservamos nossa 'consciência de si', dentro da 'identidade social' conquistada?
* Como apreendemos o mundo que nos cerca, preservando a cultura e os valores da sociedade em que vivemos, ainda mais no momento atual de incerteza e insegurança ante a liquidez também de valores humanos, como bem analisa o sociólogo Zigmunt Bauman em seus vários livros?

A velocidade das transformações e a máquina avassaladora da globalização tendem a formar padronizações de não pensantes digitais e de afetos deletáveis.

*Como não unir os ensinamentos da Filosofia e Psicologia, para amparar a superação pedagógica da mesmice nihilista e tediosa de uma criatividade pasteurizada e oportunista, e de separar as instituições de ensino de perpetuarem o status quo de uma ideologia dominante formadora de rebanhos não pensantes?

Ensinar o conteúdo dessas disciplinas que demandam vivências e experiências pragmáticas, mais que teóricas, não o inclui na categoria do "absurdo dos absurdos"?

Aurora Gite