sábado, 23 de fevereiro de 2013

O apagar das luzes dos "Filhos do Divórcio"

Cinzas sobre os estragos dos modelos identificatórios estruturados que moldavam as personalidades que se formavam e os papéis sociais a serem seguidos. Desalento e tédio substituem, neste momento de transição, as labaredas de ódio e perseguição que marcaram antigas gerações. Este é o cenário que enfim podemos observar no século 21.

Acredito que, nesse milênio, os "filhos do divórcio", podem se livrar desse codinome maldito, embora me preocupe com suas referências identificatórias, já que o espelho da antiga tradição familiar foi estilhaçado. Vão ter que lutar por si na reconstrução do humano em si mesmo e no social, se deparando com a fragilidade de sua condição interna e com a vulnerabilidade de ver sua imagem especular fragmentada.

Em meio aos destroços do prévio enquadre da tradição familiar e social, o que se observa é a distorção da imagem do humano. Os "filhos do divórcio" vão ter que erguer seus próprios valores e deixar seus nomes impressos na "calçada da fama", pelo "sucesso na vida que escolherem trilhar" para serem reconhecidos e admirados por si primeiramente e depois pelos outros.

Vão ter que atingir os famosos patamares do "Eu sei que sou, que existo, e que tenho que tornar-me eu" Só o autoconhecimento não basta. É preciso que se tornem agentes das próprias mudanças para qualificarem valorativamente sua existência. Mais ainda, é necessário que se tornem conhecidos não só por si e para si, mas pela atuação como cidadão, inserido no coletivo de forma representativa, o que significa que é preciso também tornarem-se agentes de mudanças visando o bem estar social.

O perigo atual é caírem na tentação de escolherem se tornar um rosto a mais no anonimato do social do milênio globalizado e "internetizado", onde a fama e bajulação podem lhe dar contornos fictícios e transitórios de celebridade; onde o "quem sou eu?" ganha falso status ao depender de endereços de e-mail e do surpreendente séquito sem rosto de seguidores online.

Toque dos clarins anunciam o advento da era da liberdade responsável. Cada ser humano vai poder, se quiser, ser responsável por suas escolhas, assumir e se bancar em suas decisões. Fortalecido pelo autoconhecimento de seus limites, vai ter condições de se defender de ideologias e autoridades invasivas. Vai poder dar um basta à ação do outro de tentar subjugar, mesmo humilhar e tentar inferiorizá-lo, com as diversas formas de agressividade, do grito ameaçador ao dano físico, até a cruel violência psíquica, buscando a submissão culposa por meio de sutis chantagens emocionais.

O estrondoso grito em uníssono dos descendentes, que pertencem a esse milênio, se expande pelas ruas pouco iluminadas do social, ecoando bem dentro das pessoas, até então oprimidas com parte de sua razão desativada em sua capacidade de operar racionalmente com bom senso, e por seu pensar castrado:
- "Estou 'livre para ser livre', para expressar minha liberdade agora!  Meus pais são responsáveis pelas decisões que tomaram... não posso viver a vida deles! Ao grupo social cabe a avaliação da moral existente de acordo com princípios éticos que regem uma sociedade que almeja o status de humana ... não posso viver a vida do coletivo!"

Novo grito mais gutural denotando surpresa:
- "Sou livre! Tô acordando meu pensar agora, e me confrontando com a solidão de minha singularidade. Como fazer para mudar estilos de vida tão arraigados? Ainda não sei e tenho medo, muito medo de pensar por mim e arcar com possíveis erros de minhas decisões inadequadas. Esse é o preço da autonomia para uma vida independente, não é? O desconhecido contém uma gama enorme de riscos, que vai me obrigar a um constante autoavaliar, autocriticar e talvez reconsiderar minhas opções, mas com alegria por me sentir livre e poder atuar de acordo com a minha liberdade! Sou livre!"

Toques de clarins, agora em sons mais altos, toques com mais vigor, puxando mais da respiração mais potente, para expressar a alegria por entoar a contagiante música da liberdade. Cabeças se movimentam. Olhares se direcionam para o céu. Sensação do divino encontro com o compromisso ético? Na busca de contato com  a amplitude cósmica, agradecimento pela liberdade individual? Reconhecimento da responsabilidade sobre o universal, pela humilde sensação de pequenez ante a grandeza de um todo infinito do qual fazem parte?

Estrelas, que agora podem ser contempladas no céu, suavizam as expressões das marcas raivosas das mágoas, das amarguras guardadas no coração de uma geração, onde muitos receberam a alcunha de "filhos do divórcio", que tiveram que carregar vida a fora. Aliás, até a frieza burocrática os fazia constantemente lembrar de seu lugar na sociedade, que dizia respeitar e empunhar a bandeira dos direitos iluministas de igualdade, fraternidade e liberdade. Quanta dor pela injustiça incoerente e humilhação irracional! Por mais que buscassem explicações, nenhuma justificativa era acalentada ante a tamanha angústia que assolava o jovem e ferido coração.

Como apagar da memória as humilhações injustas de uma parte da sociedade, arrogante e vaidosa, que investia sobre os indefesos "filhos do divórcio", que até receberam esse codinome discriminatório? Os desumanos membros desse social tinham que procurar se sentir com poder e segurança atuando sobre os outros de forma autoritária, totalitária, ditadorial mesmo. Era a maneira com que forjavam dentro de si a força aparente de seus pseudo-seres humanos acolhedores das necessidades do próximo.

Chicotadas na alma deixaram sulcos profundos espalhados pelo corpo dos "filhos do divórcio", mas foi-se o tempo em que sangravam, banhando gerações futuras. O tempo cicatriza as feridas, mas não as apaga. Mesmo porque o enquadramento social não permite. O que impera ainda são os desenhos das antigas tradições a serem seguidas. Tantos lugares para o repouso de seus corpos físicos, mas nenhum onde conseguissem paz e sossego para repousar sua alma. Muitas pessoas estranhas, com poucos vínculos afetivos mais significativos, se cruzando no mesmo espaço chamado família. Foi-lhes tirado um bem precioso, a sensação de pertença, de fazer parte do grupo, logo substituída pela sensação de estranhamento... aquela não era mais a família idealizada. Como se inventar sem ideais impostos, criados pelo e para a manutenção do social vigente?

Como evitar se contaminar por idéias rancorosas e vingativas, tendo certeza de nada terem feito para sofrer tais castigos de exclusão e categorização especial, que os marcavam como gado e os obrigavam a pertencer a um estranho grupo social inferior, menosprezado e até hostilizado por boa parte do social, acéfalo e capenga, em seu pensar ético e sentir empático?

Como entender que, em nome de Deus, poucos "poderosos", que se outorgavam o status de porta-vozes de uma autoridade abstrata construída, e donos de um poder moralista, ainda se conservavam tão centralizadores na elaboração de leis inquestionáveis, mesmo se comprovando seu efeito nocivo e irracional sobre o ser humano?

Como acatar tudo, sem revolta contra a vigilância opressora sobre a adequação forçada ao seguimento de costumes irracionais e restrições a direitos humanos básicos, camuflados pelo manto fictício de tudo ocorrer para a manutenção da "raça pura religiosa" responsável pela harmonia da convivência social?

Como aceitar portas fechadas em colégios tradicionais ligados a instituições religiosas, mas movidos por preconceitos mesquinhos; ou recusas para a participação em atividades religiosas escolares por serem filhos de pais separados? Os "reis impostos" já estavam nus há décadas, mas o castigo da fogueira ainda operava implacável, e seus súditos sem culpas ou autocensuras continuavam a acender as tochas do fogo discriminador.

Existem resquícios dessas atitudes espalhadas pela sociedade do milênio, porém sem o poder de fogo destruidor da época anterior ao levante do homem como ser livre. O ser livre que se ergue no apagar das luzes dos "filhos do divórcio" busca sua liberdade dentro dos valores internos de seus princípios éticos, não mais sentindo o peso da moral dos costumes sobre suas costas, e a interferência em sua capacidade de decidir o que é melhor para si e para o coletivo..

Relato de recordações de um passado que já foi! É assim que ocorre agora a transmissão entre gerações, quando se permitem dialogar, no aqui e agora do presente. Sua comunicação também sofreu grandes perdas em seu quadro de disponibilidades de interações receptivas a um escutar ao outro e se colocar, confiante e desarmado, buscando trocas humanas afetivas.

Como conviver com essa parte da história da humanidade onde a maldade humana teve campo aberto para se expressar e reinar sobre inocentes? Os "filhos do divórcio" sofreram as repercussões pelos atos dos pais que ousaram, por coragem na luta para serem felizes, ou por negligente irresponsabilidade sem prévia avaliação das consequências a seus descendentes, enfrentar o arcabouço das normas religiosas e a masmorra da cultura moralista de uma época não tão gloriosa da história da evolução espiritual do ser humano.

Os traços delineadores do quadro dessa "época maldita" se apagam da tela, dando condições para que nova pintura ganhe espaço, novo desenho social possa surgir. É o que coube a essa geração dos "filhos do divórcio", que tiveram que conviver com o divórcio, não só dos pais mas de todas as tradições que poderiam lhes dar estabilidade e segurança para construírem sua identidade, uma maneira de ser autêntica e única, não mais extensão dos valores familiares. Muitos valores não constituem forças para suas vidas, foram assumidos por eles sem questionar se teriam efetiva validade para si.

Com o apagar das luzes sobre si, perderam a visão sobre os referenciais externos e foram jogados ao confronto com o "nada", com o vazio interno que teriam que preencher com um viver pleno de sentido, que sintam que valha a pena ser vivido por eles. São livres para criarem e conquistarem seus momentos felizes na vida; se reinventarem a cada minuto, sempre abertos a novas experiências.

Resta saber qual será o espaço que os filhos dessa geração vão ocupar no social que os cerca, sem os rótulos que os aprisionou; e como, se pudessem optar, gostariam de se tornar conhecidos e passarem para a História.

Particularmente, eu gostaria que o desejo da maioria fosse se tornar conhecida como a geração, exemplo de superação, em que cada um de seus filhos se tornou "herói para si mesmo", ao se tornar o "construtor de sua própria história de vida".

Que tal, acatam a minha sugestão ?

Aurora Gite


sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

O que fazer com as novas descobertas sobre o ser humano?

Começo essa postagem resgatando minhas idéias expostas em:

*  "Outra instância psíquica? Será?" (postagem de junho/2011) e

*  "Ufa, até que enfim!Valeu o esforço!" (postagem de janeiro/2012).

Vou me permitir plagiar a última frase de Taylor em sua palestra via Youtube: "Esta é uma idéia que vale a pena espalhar!".

Através de meu twitter, podem entrar direto nesses vídeos:

www.twitter.com/ThompsonLM


Transcrevo a síntese da constatação de Taylor, após se recuperar de um grave AVC (acidente vascular cerebral), acompanhando passo a passo como neuroanatomista suas alterações cerebrais e orgânicas e se voltando a divulgar, através de suas palestras, o que "cientificamente" pode concluir:

 "Somos a força da vida no Universo, dotados de destreza manual e 'duas mentes cognitivas'. E temos o poder de escolher, a cada momento, quem e como queremos ser no mundo.
Aqui, agora, eu posso ir à consciência do 'hemisfério direito', onde 'nós somos', 'eu sou' a força dos 50 trilhões de belas moléculas genéticas que me dão forma. 'Eu sou uma com tudo o que existe'... Nós 'somos seres de energia, conectados uns aos outros' pela consciência de nossos hemisférios direitos, consciência de que somos uma família de humanos.
Ou eu posso escolher ir à consciência do meu 'hemisfério esquerdo', onde me torno um 'indivíduo adulto'. Um 'sólido', separado do fluxo de energia em torno de mim, separado de vocês. Essa é a parte de meu cérebro que eu perdi na manhã de meu derrame...
Demorei 8 anos...mas minha recuperação foi total".

Uau! Que mudanças nas áreas psíquicas e técnicas psicoterapêuticas; e que alterações teóricas, a meu ver necessárias (particularmente nas teorias reducionistas), no campo da Psicologia, Psicanálise, Psiquiatria!

Minha experiência pessoal me levou um pouco além de Taylor, o que me fez vivenciar alterações conscienciais biomagnéticas, que acredito estejam relacionadas aos saltos quânticos descritos por Fonseca. Eu as descrevo nas postagens citadas acima, por isso opto por não ser redundante e cito, a seguir, alguns profissionais cujos trabalhos de pesquisa, me parece, merecerem ser seguidos.

Procuro juntar agora as experiências de profissionais relevantes cujos vídeos - de todos os mencionados nessa postagem - encontram-se disponíveis no Canal Youtube, a quem se interessar em confrontar as hipóteses e relatos de suas vivências pessoais concretas. O campo das neurociências tem se expandido muito, principalmente após a evolução da tecnologia imagética, como é o caso do aprimoramento de aparelhos como RMF (Ressonância Magnética Funcional). O quadro de seus representantes tem se ampliado constantemente. O conhecimento que chega logo se vê ultrapassado por novas descobertas, provocando novas cambalhotas em paradigmas compreensivos fechados sobre o ser humano.

Destaco alguns profissionais do milênio e pincelo algumas de suas informações impactantes. Vale a pena seguir as articulações de suas idéias, e de outros pesquisadores afins, ainda mais com a facilidade da obtenção, via internet, de informações de ponta e da repercussão globalizada da prática dos novos conhecimentos.

* Dra. Jill Bolte Taylor, como ela mesma se considera, intelectual, cientista, neuroanatomista.
Autora de "A Cientista que curou seu próprio cérebro" São Paulo: Ediouro, 2008. Neste livro ela relata como cientista suas descobertas impactantes sobre o funcionamento dos dois hemiférios cerebrais, que, segundo Taylor, pensam de forma diferente, processam informações de forma diversa como duas personalidades distintas.

* Dr.Sérgio Felipe de Oliveira, site direto via internet, médico pesquisador, fundador da Universidade de Ciências do Espírito (Uniespírito) ministrando aulas na FMUSP e palestras via Youtube. Destaco seu trabalho sobre a dissecação da glândula pineal e o encontro de cristais. Há tempos me interesso sobre o papel funcional em nossa energia orgânica do "carbono" e dos "cristais" e sua área de atuação.

* Dr. Miguel Nicolelis, médico e pesquisador, com atual e relevante papel e empenho em aplicar suas descobertas a uma nova forma de educar a nova geração. Vale acompanhar a continuidade de seu trabalho, agora, me parece, com patrocínio governamental. Destaco suas pesquisas com "a força do pensamento movendo membros robóticos" e sua hipótese futurista sobre uma comunicação em nova versão da internet (a "brainet") sem necessidade de digitar ou pronunciar uma única palavra, "só mobilizando a força do pensar".
Autor de "Muito Além do Nosso Eu". São Paulo:Companhia das Letras, 2011. Leitura complexa, voltada mais a especialistas das áreas psíquicas, da neurociências e da computação, pela densidade das informações.

* Físico Laércio Fonseca, professor de Física Quântica que nos possibilita o contato com suas teorias sobre os níveis de consciência e os saltos quânticos, através de suas aulas sobre "Espiritualidade e Ciência", vídeos disponíveis no Canal Youtube. Tive oportunidade de ampliar minha compreensão sobre minhas próprias experiências após acompanhar seu ensino gradual, dentro de uma postura paciente em seu 'ba-a-bá' nos abrindo a curiosidade e o interesse pelo praticidade do mundo quântico aos nossos sistemas psíquicos.

E agora, o que fazer com as novas descobertas "no milênio" sobre o ser humano?

"Eu continuo buscando" comprovações sobre minhas hipóteses:
* o inconsciente, fenômeno observado por Freud, equivale a expressão de nosso sistema quântico.
* o mundo psíquico faz parte da Física Quântica
* a leitura e interpretação biopsicomagnética dos códigos linguísticos e simbólicos e dos efeitos dos fenômenos psíquicos ganham outra magnitude.

Aurora Gite




segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Os Amigos Virtuais e o Social

Parece que a poeira levantada pelo "tsunami" de tal proporção que assolou as passagens do século 20 para o século 21, começa a baixar. Pouco a pouco se consegue observar e avaliar os danos acarretados por tantas e tantas mudanças que, como ondas sucessivas e simultâneas, deixavam para trás ruínas das tradições e paradigmas sobre o ser humano.

As transformações, em um mundo estruturado e organizado de tal forma para passar a sensação de permanência e segurança, foram tão devastadoras e irreversíveis que entre seus destroços só se observa a perda das identidades e dos referenciais válidos até então; e se vivencia o escapar pelas mãos da solidez do passado, ante a liquidez da mutabilidade incessante e velocidade acelerada do que ocorre no presente. O relativo tempo presente é onde tudo é considerado ultrapassado em um "piscar de olhos" e obriga o ser humano a adotar uma identidade camaleônica, com graves problemas para a imagem psíquica, que necessita parâmetros mais estáveis.

Ante o desbussolamento, desnorteamento de rumos a serem tomados, o ser humano já impotente,  acomodado em estado depressivo diante de tamanhas perdas, que envolviam a queda de seu papel de herói, cai em desalentado estado de espírito, perdido diante de atroz destino cujos padrões e modelos desabaram.

Poeira assentando, emerge a dignidade do ser humano do século 21, após sua passagem pelas etapas:
* da raiva (primeiro impulso a seu frustrante despreparo não querendo aceitar, até negando o que já ocorreu),
* da areia movediça do questionamento dos porquês de tudo ter acontecido dessa forma, e busca de análises sobre o que poderia ter sido feito para que tivesse sido diferente (ações que em nada contribuem para soluções efetivas),
* da impotente aceitação (avaliação de tantas limitações e erros nas escolhas) e da premente resignação ante a constatação da necessidade de ter que se inventar a partir de agora  (posturas que impedem o afundar no pântano egocêntrico da depressão),
* da mobilização de forças internas e criação de valores humanos que vão motivar e direcionar sua busca por caminhos alternativos para a construção de novos paradigmas sociais, com a inserção na sociedade do "humano do século 21".

Hoje a sociedade, como um todo, contempla passivamente o perigo iminente da humanização manufaturada de robôs. Cada vez mais ela conquista seu espaço funcional dentro da nova organização social institucionalizada. Esse quadro, a meu ver, tem que ter prioridade na atenção e formatação oficial de leis limitando essas atuações; ainda, no momento, sem referências reguladoras para uso em um social mais amplo.

De repente, em meio a essas reflexões, coloco-me sob nova perspectiva, respondendo a um "miguinho virtual". Transcrevo a resposta inicial e a "Re: Re: DRVs" ...a seguir:

Re : " Eu me referia a fantasia que irá vestir "em seu blog" nesse carnaval: rica de paetês e brilho, ou aparentando sua bela nudez encoberta por pintura artística.
  Aceito suas desculpas pelos dias sem contato, mas o legal do mundo virtual é nos aproximarmos das pessoas nos momentos em que estivermos a fim e nos permitirmos nos afastar quando nossa vontade e nossas atividades não abrirem espaço para elas.
  A questão não é de rejeição a pessoas, mas envolve o espaço dentro de nós. Esse espaço não se contrai ante  vínculos de cumplicidade e lealdade. Existindo também o cuidar da qualidade da relação online, só tende a se expandir pela capacidade humana de memorizar e imaginar.

 Um contato sem a "neura" das obrigações e culpas, a meu ver, equivale à conquista da liberdade para a manifestação da "leveza do ser livre no ir e vir do voar virtual".
  No mundo virtual, ao se sentir o peso de cobranças tá na hora de "discutir a relação" Ops! DRV, discutir relação virtual? É discutir consigo mesmo primeiro e talvez fique só nisso!!!
  É isso aí, "miguinho virtual": adentramos no mundo das DRs Virtuais. Putz, eis um tema que gostaria de ler em seu blog!
 Até mais, abç
 lm "


Aqui abro um espaço para esclarecer o que entendo por cuidar da relação dentro do mundo virtual.
Enfatizo que o cuidar de uma relação virtual envolve a adoção de algumas posturas como:

* a receptividade na escuta ao outro: seja em sua expressão verbal em meio a sonorização ruidosa distorcida, ou através do digitar silencioso - onde a expectativa da espera pode ser aliviada por alguma música que se coloque como fundo, tornando o tempo de espera ao digitar do outro mais aconchegante;

* o respeito à vontade do parceiro virtual: de querer ouvir ou não o que se deseja colocar "naquele momento", tendo sempre em vista que o outro não é recipiente para despejo de nossas queixas e auto-lamúrias;

* tolerância para conviver com sintomas ansiógenos amedrontadores:  expressões de ansiedades mais fóbicas que reais, pois não existe o olho no olho e a possibilidade do confronto com a realidade circundante;

* paciência ante a divisão de atenção do parceiro virtual: que pode ter que distribuí-la ante a simultaneidade de vários contatos online, lembrando que nem sempre o outro pode ser integrado na rede que se forma ao redor do amigo virtual;

* desapego: demonstrar interesse pela continuidade da amizade online, sempre lembrando que não cabe o cultivo da sensação de posse ou reações de ciúme, pois o amigo virtual tem por origem a complexa família online das redes sociais ...e, por outro lado, não se sabe com certeza quando ocorrerá um novo contato virtual e a vida pode se tornar um "inferno" se alta expectativa condicionar uma espera patológica na frente da tela de um computador;

* autodomínio e controle de impulsidade para evitar ações ansiosas "estabanadas" ou "desajeitadas": se o amigo virtual se desligar para o status transitório offline vale encarar como seu direito a um pedido de tempo;

* contenção de quaisquer impulsos agressivos: que impliquem em sutis ataques como meras ironias até um click precipitado na tecla deletar e posterior sensação de arrependimento e culpa.

* a essas posturas cada um acrescenta aquelas que achar relevante para ocasionar a sensação agradável do "quero mais", "quero permanecer por mais tempo com essa pessoa, encompridando o breve momento online que estamos junto", "quero manter 'essa relação online' com 'esse contato virtual' e não outro".

 A perspectiva que me surpreendeu, e que estou tentando colocar, é que o cuidar da relação virtual está diretamente proporcional ao amadurecimento emocional que envolve o processo de se autocuidar.

O reconhecer a fonte interna das próprias ansiedades e o saber-se capaz de contê-las e gerenciá-las,  administrá-las adequadamente nos momentos online, só tende a fortalecer e elevar a auto-estima quando a interação virtual ocorrer. Como o juízo sobre si é de autovalorização pode-se bancar de forma positiva qualquer relação, sem cair na autopiedade ante possíveis rejeições e afundar na posição de vítima, do "coitado de mim", emitindo mensagens camufladas do tipo "espero que cuidem de mim".

A qualidade do contato virtual não se vincula a visão de uma aparência (que pode não ser verdadeira), não oscila ante presença ou ausência física existindo imagens em vídeos (essas também podem ser falseadas), não se atrela a liquidez consumista do mercado midiático dos valores interesseiros, nem a expectativas não dignificantes a nosso lado +humano...

O vínculo entre amigos virtuais depende mais da qualidade das imagens mobilizadas pelas fantasias propiciadas não só pelo sentido das palavras nas mensagens, como também pelas associações significativas e sensações aconchegantes que possam ocasionar em quem as lê e interpreta.

É uma nova visão de mundo que vai se delineando, menos fria e mecânica e mais voltada ao ser humano racional e sensível, que demanda mudança na perspectiva do "cuidar", ou seja, do "amar". Vale refletir sobre tudo isso e verificar sua aplicabilidade prática na realidade cotidiana, para que ganhe "status de verdade"!

Retorno ao meu "miguinho virtual":
  Re: Re: "A questão, a meu ver, é como conviver com a incerteza de quando será o novo contato virtual e envolve também a insegurança sobre como manter a relação virtual.
  Acredito que a volta a si mesmo e o reconhecimento da impotência individual possam ocasionar o filtro seletivo de autovalores humanos (= forças pessoais).
  O peso da própria angústia pelo desamparo e desconforto nas relações virtuais tem condições, segundo penso, de aumentar a empatia pelo outro dentro do social.
  Hoje minha compreensão do social é algo além das interações "eu/outro com rosto". Após leituras das obras de Zigmunt Bauman e análise das articulações das idéias desse sociólogo polonês indo para seus 90 anos de idade, observo o social como o "eu anônimo sem rosto".
  Os "amigos virtuais", dentro de seus anonimatos e distorções identitárias, têm condições de possibilitar  uma verdadeira empatia pelos "sem rostos do social", pois seu lugar na relação virtual, não está distante da posição desses na sociedade.
  Possível luz no fim do túnel levando ao admirável mundo novo... longe da ficção de Huxley, bem longe em sua estrutura ... agora direcionando o século 21, para um novo 'mundo inventado por humanos'.
  Aguardando nosso próximo contato, sem "neuras",
  Abç
  lm "

A adaptação às novas formas de interações, advindas com as amizades virtuais, já vão acarretando possibilidades para se delinear novo tipo convivência humana, que acredito possa se transformar em menos competitiva e destruidora; mais harmônica e pacífica, culminando no desejo de bem-estar e no confronto com o mal estar da pós modernidade; culminando com o abandono da posição humana de mercadoria de consumo e com a luta diária por uma boa qualidade de vida como "sujeito livre, herói para si ao ser responsável pela criação da história de sua vida".

Acredito não ser utopia, e é grande minha esperança em futuro - não tão longínquo agora - que possamos alcançar, dentro do social, a condição de um ser humano "livre" em sua opção por viver de acordo com valores pessoais que o dignifiquem, e "feliz" ao criar, a cada momento, seus estilos gratificantes de vida, respeitando sua essência em suas escolhas para um bem viver consigo mesmo, sem precisar se enjaular em padrões  massificadores, não mais reconhecendo seu rosto no social.

Aurora Gite

P.S. : Para quem se interessar em conhecer a obra de Zigmunt Bauman, o Youtube traz excelente material em vídeos, inclusive divulgando entrevistas realizadas com o próprio sociólogo.


domingo, 3 de fevereiro de 2013

Humano... Demasiado Humano?

Cada vez mais me convenço que um dos maiores desafios do ser humano no encontro consigo mesmo é enfrentar a tênue linha, que separa seu psíquico saudável do que é chamado loucura.

Quantos não se amedrontam com a percepção da possibilidade de atingirem um estado mental que foge totalmente a seu controle, onde o contato com a realidade é interrompido, ou fragmentado, pelas novas configurações que surgem sob o domínio exclusivo do mundo subjetivo do pensar (alucinações, delírios).

O pensar humano - torna-se um "peso demasiado humano" -  para pessoas que apresentam frágeis estruturas psíquicas, ainda sem terem encontrado seu eixo referencial central (*quem sou eu?) para se bancarem na vida, ou sem terem conseguido se libertar da gama de variáveis que as tornam dependentes, sem autonomia própria (*onde é o meu lugar para expandir meu "potencial humano" como indivíduo; *como tornar-me dono de meu espaço no social como cidadão?).

Não é fácil, ante o nosso quadro socioeconômico atual, se reestruturar sem ajuda de profissionais especializados. Muitos profissionais da área de saúde mental, preocupados com a deterioração dos vínculos familiares que não mais se constituem em forças de apoio na formação de personalidades mais estruturadas para enfrentar as adversidades da vida, buscam inovar em seus atendimentos. De forma criativa e sem custos, procuram ampliar seus atendimentos a grupos sociais mais carentes não só financeiramente, mas no que se refere a seus recursos internos para lidar com suas angústias existenciais. No entanto, profissionais, conscientes do valor e responsabilidade social de seus serviços, são em pequena parcela, e alta é a demanda da população carente desse apoio psicológico.

Por outro lado, há muitos pacientes que, após anos de terapia, buscando saída para seus questionamentos existenciais e para seu sofrimento psíquico, não encontram ressonância de profissionais, ante indagações como: "E agora, que passei a me conhecer melhor, o que faço com tudo isso?", "Fui remetida aos meandros de minha infância, vivenciei ali emoções que paralisavam algumas de minhas ações; agora observo deteriorações de muitos relacionamentos ao redor ante meu isolamento do social, como reconstruo tudo isso?"; "O mundo ao meu redor não parou de girar enquanto busquei me conhecer e procurei me encontrar com quem realmente sou, como conviver com fracassos e perdas, alguns dos quais não motivei e me vejo impotente para lidar?".

Terapeutas reducionistas não dão conta dessas respostas, visto seu objetivo ser o de possibilitar, aos que os procuram, melhor lidar com suas angústias através da aquisição do autoconhecimento, alterações cognitivas no sistema de crenças, ou mudanças comportamentais de caráter transitório.

Como bem colocou uma paciente, de forma caricatural, após todo esse processo psicoterapêutico vem os famosos chavões que equivalem a um: "Toma que o filho é seu!", "O processo de bem se posicionar em seu existir é com você!", "Como encontrar seu espaço para tornar-se você após saber quem você é, depende de você agora!", "Podemos continuar com as sessões, visando a busca de seu autoconhecimento, que se constitui em esforço contínuo do ser humano, é só marcarmos novos horários!" E continuou ela "Só que as sessões não cabiam mais em meu orçamento, o que podia eu fazer?"

Reflexões após o contato com esta paciente me levaram a rever esses dois vídeos do youtube, colocados, no dia de hoje, em meu twitter:

*** http://www.twitter.com/thompsonlm

1- "Humano, Demasiado Humano" : documentário sobre Nietzsche. Aspectos de sua vida nos permitem refletir sobre a influência de nossos familiares na formação de nossa maneira de ser (nossa personalidade), da época em que vivemos, da cultura moldando nosso caráter, das pessoas com quem fomos criados que propiciam adaptações, das circunstâncias acidentais ao nosso redor que contribuíram para sermos o que somos... sem relegar o valor das opções a nível de imposições de vida, unidas às escolhas livres que o "humano" nos faculta.

2- "Humano, Demasiado Humano" : documentário sobre Heidegger e suas escolhas pessoais, colocadas na linha do tempo de sua vida propiciando boa visualização sobre as repercussões da coerência de nossas ações com nossos ideais, e consequências quando tal não ocorre. Ainda  nos possibilita observar como somos livres na opção por escolhas, certas ou erradas, e responsáveis na construção de nossa história... somos livre até para buscar caminhos alternativos não persistindo no erro, ao perceber que a escolha foi inadequada e não nos trouxe a satisfação esperada.

Ambos reconheciam-se como potências humanas poderosas, inflexíveis na certeza de suas capacitações, e passíveis de se deixarem envolver em suas posturas insanas. Pode-se observar o perigo de alçar vôos além do humano e aquém do transcender a condição humana mundana comum, não respeitando suas fragilidades psíquicas, dificuldades no estabelecimento de limites reais e na aceitação da convivência com suas limitações pessoais (suas dependências do referencial e necessidade do reconhecimento dos outros). Ambos, cada qual a seu modo, são envolvidos pelo "Nazismo" e seus partidários na busca de agregar adeptos em sua seletividade de "raças puras" ou de "potências intelectuais" que as representassem.

Ambos alertavam para as vidas inautênticas e enfraquecidas, padronizadas e submetidas a direcionamentos outros que retiram seu "poder humano" de serem donas de si . Um dando destaque ao veneno inoculado pelos "ídolos fabricados" e falso deus inventado pelo cristianismo, que retiram do homem sua vontade de poder e capacidade de raciocinar por si. Outro destacando a manipulação da existência das pessoas, até no consumo, para um maior controle do "pensar"; o existir e o pensar são estudados e cultivados por ele na terceira fase de sua vida.

Em ambos pode-se observar o papel familiar da religião institucionalizada, e seus afastamentos pessoais da tradição e rituais católicocristãos. Os dois tiveram a percepção do aprisionamento da "liberdade de ser" e "perda da autenticidade do humano" dentro das doutrinas criadas por grupos restritos, cuja autoridade para tal foi por eles questionada e refutada.

Ambos vivenciaram o "caminhar solitário" e a "necessidade da solidão e silêncio interno", longe do burburinho atordoante das vozes superficiais do social padronizado,  para o confronto de cada ser humano com sua liberdade de agir e sua responsabilidade, pessoal e intransferível, no comando do processo para atingir o "além do humano".

Esse é o estado interno que abrange o "tornar-se" um ser humano dentro do social, o "transcender a condição humana mundana", o "criar valores internos", o "transcender os valores morais impostos culturalmente".

Acarreta satisfação prazerosa, harmonia e serenidade aqueles que conseguem controlar seu mundo psíquico e preservá-lo das tentações dos delírios e alucinações (não advindos por mecanismos bioquímicos, que demandam medicamentos para seu controle).

Aurora Gite

Obs:
Meu twitter:  http://www.twitter.com/ThompsonLM
lucia.thompson@uol.com.br