segunda-feira, 27 de abril de 2009

Remédio para o desemprego

Em três dias li o livro "A Filosofia como remédio para o desemprego" , de Jean-Louis Cianni; Rio de Janeiro: BestSeller, 2009.


Fácil de ler e de apreender seu conteúdo, a meu ver muito rico nessa época de crise financeira, de desempregos, de especulações às mais variadas, de construções midiáticas ilusórias, enfim de mudanças impactantes, perdas simbólicas e concretas, que pedem por elaborações internas e reestruturações na identidade pessoal.

O autor cita brevemente idéias de alguns filósofos, que abordam perdas, mortes, luto, vazio, solidão e que partem de reflexões existenciais para o encontro com uma nova identidade. É muito interessante a forma com que ele se utiliza das reflexões dos filósofos e estabelece a ponte com o sofrimento que passou na condição de desempregado.

Descreve todos os passos que trilhou, como desempregado com 49 anos, e todos degraus que foi alcançando em sua ascensão pessoal. Observem como ele bolou um projeto terapêutico para si mesmo e como começou a dar resultados em sua vida. O remédio vale para qualquer um e não tem contra-indicação.

Para quem leu meus blogs anteriores questionem se será mera coincidência o que vão encontrar, e se indaguem se o caminho não é por aí mesmo. Para onde? É ler e descobrir. Depois me enviem um "feedback".

Aurora Gite
( postado às 20:40 horas )

sábado, 25 de abril de 2009

Líderes, ora líderes! Para que?

Tenho me recordado atualmente de uma época que muito me marcou.

Ainda sob o impacto do redirecionamento de minha vida, consegui passar num concurso público. Fiquei sabendo dele por uma colega, num curso de especialização, tive um dia para me inscrever e menos de um mês para me preparar. Não fazia parte de meus planos naquele momento. Como faria com o meu consultório? E meus pacientes?

Só que não deu outra. Passei em dois institutos na área hospitalar. No primeiro após ter sido selecionada na prova escrita e na dinâmica, quando na entrevista souberam que meus pais tinham sido cardíacos, tive o privilégio de ser cumprimentada pela diretora do setor, que me colocou ser esse um fator impeditivo para ser aceita naquele instituto voltado à cardiologia. Eu já conhecia seu trabalho e sua postura de verdadeira líder, a quem teria o maior prazer de me subordinar. Carreguei comigo seu incentivo, manifestação expressa diante de várias pessoas, e seu desejo de boa sorte na profissão.

No segundo instituto, passei pelas três etapas e, pouco tempo depois, vestia meu jaleco branco com um enorme orgulho. Tal foi meu comprometimento, que gostava de brincar que era "como se fosse" um novo casamento. Já no primeiro dia, porém, entrei em contato com a realidade das lideranças "representantes de um poder instituído".

Fui orientada para estar nas dependências da "Divisão" de minha categoria, onde saberia então a Clínica para a qual seria designada a prestar os serviços profissionais, a partir daquela data. Minha pontualidade é "britânica". Sempre me orgulhei disso. Portanto, lá estava eu às nove horas em ponto. Na Secretaria me disseram para esperar no saguão. E lá fiquei eu, consultando o relógio: dez horas...onze horas...meio-dia... uma hora...duas horas...e nada. Nenhum aviso sobre a demora, nenhum respeito ou consideração por minha pessoa, por parte dessa "diretoria" .

Descobri como é fácil muitos diretores, chefias, assessores e privilegiados, nesse tipo de gestão verticalizada, se esconderem impunemente. A confecção da fantasia dos cargos ou funções lhes cabia "como uma luva". Suas proteção e barreira de isolamento eram propiciadas pelos assessores diretos, que se tornavam, convenientemente, seus porta-vozes, na maioria das vezes imbuídos de maior autoritarismo. Podiam transitar sob o spray da invisibilidade, portanto embatíveis ante críticas e pontuações de falhas no desempenho de suas funções. Pude logo notar a insensibilidade ao outro, bem como o poder opressor outorgado por um mero crachá.

Não é que a mentalidade de funcionária pública se instalava! O que tinha eu, pensava então, com o desperdício de tempo e da utilização inadequada dos serviços que poderia estar prestando? Por que deveria me incomodar, se minha hora já estava sendo coberta por um salário? Produzindo ou não estaria sendo paga. Receberia, estando lá ou não, se soubesse bem encobrir o fato, ou fizesse uma barganha para que minha falta de assinatura na lista de presença ficasse imperceptível no dia. Com a mudança para cartões eletrônicos houve a substituição para os horários flexíveis e as famosas "horas em haver" para grupos de pessoas selecionadas.

Foi quando tive a primeira aprendizagem de contenção da sensação desagradável do funcionário público, que sabe que tanto tem a contribuir e se sente frustrado ante a necessidade de resignação, e busca dominar sua impotência ante a marcante discriminação de favores e privilégios. Dentro de mim acenava a descrença em toda a estrutura administrativa, que se fortaleceu ao ouvir a voz da "diretora" soando, e entender o conteúdo de suas palavras : " Bem, vamos ver para onde vamos escalar a "menina"(?).

Pude perceber outra voz, dentro de mim, que tentava gritar: " Ei! E o meu compromisso, meu entusiasmo, minha vontade e iniciativa, como ficam?". "Ei! O preconceito é seu. A dificuldade de lidar com a meia idade é sua. Tenho só pouco mais de quarenta anos!". Com maior força, agarrava eu minha autovalorização profissional e minha auto-estima pessoal, tentando protegê-las desse tipo de liderança.

Aprendi a segunda lição: a credibilidade da liderança é que determina a disposição das pessoas se envolverem com tesão no que fazem, sendo leais a seu líder.

Instituições, entes abstratos, ficam atrás desses líderes, já que eles falam por elas. Tentei pesquisar depois o que mantinha as pessoas nesse complexo hospitalar, tido como modelo nas áreas assistenciais, de ensino e pesquisa. O salário era baixo e o desgaste burocrático enorme. Na época, constatei a presença de dois elos mantenedores. Num extremo, a ajuda ao "próximo necessitado", porém ao burlar regras burocráticas insanas, também era obtido um tipo de "status" e de poder. Os eternos "eu sou" e "eu posso", demarcadores de um falso espaço no mundo interno e de um lugar ilusório no social. No outro extremo, estava a conquista da fama ante pesquisas individuais efetuadas, valendo aqui a mera inclusão do nome em grupos de pesquisadores, ou o reconhecimento obtido pela inserção do nome da instituição nos currículos. Deixo o juízo avaliativo para vocês.

Com o tempo percebi o séquito de empregados irresponsáveis, indiferentes e até mal-intencionados. Passei a observar suas posturas e escutar seus queixumes: "Se der para fazer tudo bem,não vou me matar. É desmarcar pacientes!"; " Pacientes foram marcados no mesmo horário da reunião da Divisão? Que esperem, pois do setor vem uma sanção ante o não comparecimento à reunião!"; "Meio-dia? Vou aproveitar, sair para almoçar e depois passar no Banco. Retorno por volto de quatro horas. Digam aos pacientes que podem dar uma volta e tomar um lanche"; " Vou pesquisar para mim, para minha pós, para assuntos de meu interesse particular, e depois me mando daqui."

Cada vez mais sentia algo dentro de mim dando cambalhota e cobrando a adoção de uma postura diferente. Aí veio minha terceira lição: "Aprender a exercer a própria liderança" e a minha era uma liderança ética. Eu a segui durante minha vida. Paguei preços altos. Tive até que conviver com rupturas de relacionamentos importantes. Senti o que é "estar morta em vida", pela fácil substituição em algumas relações amigáveis e mesmo familiares. Mas sempre me mantive de cabeça erguida. Não seria agora, que iria vestir as máscaras "do cinismo, da frivolidade, das manipulações perversas, dos consentimentos e silêncios cúmplices". Queria lutar pela minha dignidade. E assim o fiz.

Cada vez que me vinha um desanimo, por me ver sem ação frente a um sistema atroz, que não se interessava pela preservação da integridade do ser humano, notava que aumentava o volume de minha voz interna, que já berrava: "Líderes, ora líderes! Para que?". E, com mais força ainda, eu abraçava o líder que ía se fortalecendo dentro de mim.

Produzi grande material envolvendo lideranças éticas. Foram entregues protocolados. Recebi cumprimentos verbais de alguns diretores que acusaram o recebimento do material, e me avisaram que estavam colocando "algumas vírgulas"(?) e... é só o que sei. Líderes, ora líderes! Para que?

Reconheci, e reconheço ainda, o peso inovador, a base ética de meus projetos e minha autoridade e compromisso moral , comigo mesmo e com os demais, para implantá-los a contento. Para alguns era uma visionária. Não seria portadora de um caráter inovador? Outros, embora reconhecendo o valor prático dos projetos, em seu ceticismo com o sistema, me acusavam de esquecer das dificuldades de um "terceiro mundo". E o agregar, e a sintonia de forças de equipes e seu papel na sincronia do sistema organizacional? Outros ainda me apontavam como representante de "Dom Quixote" com seus sonhos utópicos. E o caráter entusiástico de um empreendedor? Para mim eu era uma lutadora, tentando semear ética num campo ainda árido.

Hoje, não mais na instituição, conservo ainda no peito muita esperança. Com grande capacidade de análise e visão de futuro, estava claro para mim que a busca de políticas de transparências no processo logístico e nos resultados , característica de nossa sociedade informatizada, trazia consigo grandes mudanças éticas a médio e longo prazo. Sendo assim, as frágeis e aparentes transformações institucionais não se manteriam e os resultados desmoronariam , como os castelos quixotescos. Evidencias atuais só confirmam isso. O que me dá novo alento é que dessas constatações reais surgem as necessárias mudanças e os verdadeiros líderes que conseguirão implantá-las de forma não só eficiente, mas eficaz.

Ah! Aprendi mais uma lição dentro da organização: "Um indivíduo na tarefa de dirigir um grupo de pessoas é um dirigente, mas nem todo dirigente é um líder, a quem pessoas sentem prazer em seguir e, com a lealdade de um time, ajudam a tocar seus projetos avante, visando a melhoria da equipe e da instituição". Líderes, ora líderes ! Para que?

Aurora Gite
(postado às 22:20 horas)

terça-feira, 21 de abril de 2009

Acolhendo, dentro de mim, um impacto.

Tento sobreviver ao forte aperto no coração ante o impacto do término da leitura do livro "O menino do pijama listrado: uma fábula" de John Boyne - São Paulo, Companhia das Letras,2007.
Por esse livro o autor ganhou alguns prêmios. Chegou a ser transformado em filme em 2008.

Gosto quando um autor consegue me envolver em sua temática e me embala em sua linguagem fácil e fluente. Ao mergulhar na leitura, procuro acompanhar o processo mental criativo do autor nas vivências dos personagens e na rede das tramas, e toda movimentação que ocorre dentro de mim mesma. Até a capa me chama a atenção e essa foi muito feliz, pela graduação de cor e pela textura da capa, a inicial áspera em contraponto com sua extensão final tão macia.

Vou transcrever uma citação retirada do que chamam de "orelha" do livro, pois a sigo rigorosamente:

"É muito difícil descrever a história de O menino do pijama listrado. Normalmente, o texto de orelha traz alguma dica sobre o livro, alguma informação, mas nesse caso acreditamos que isso poderia prejudicar sua leitura, e talvez seja melhor realizá-la sem que você saiba nada sobre a trama".


Como tenho que soltar toda essa energia represada, por isso desconfortável, e já é noite para que saia a caminhar, vou colocar as últimas palavras do autor ao encerrar sua obra , como meio substituto encontrado para equilibrá-la mais prazerosamente:

" E assim termina a história de Bruno e sua família. Claro que tudo isso aconteceu há muito tempo e nada parecido poderia acontecer de novo. Não na nossa época." Eis a chamada do autor, para parearmos com os acontecimentos atuais. Só tem a ver, se associarmos situações parecidas em contextos semelhantes!

E para me aliviar mais ainda, deixo registrado este trecho:

"... mas por fim olhou para Maria e percebeu, pela primeira vez, que nunca a havia considerado inteiramente como pessoa, com uma vida e uma história próprias. Afinal, ela jamais fizera outra coisa ( até onde ele sabia) além de ser a criada da família. Ele nem sequer conseguia se lembrar se já a havia visto trajando outras roupas que não o uniforme de empregada. Mas ao pensar no assunto, como fazia agora, era obrigado a admitir que deveria haver mais na vida dela, além de servir a ele e à sua família. Ela devia ter pensamentos na cabeça, assim como ele. Devia haver coisas das quais ela sentia falta, amigos que gostaria de rever, assim como ele. E devia ter chorado toda noite até dormir, como teriam feito meninos bem menores e menos corajosos do que ele. Bruno notou que ela era até bonita, o que provocou nele uma sensação engraçada."

É assim que tento olhar os autores ao ler seus livros. Procuro vê-los como pessoas, com vida e história próprias, com pensamentos na cabeça e com roupagens sociais e vivências semelhantes as minhas. Sendo assim, só tenho a agradecer aos autores que me causam, através de sua manipulação das palavras, um tipo peculiar de impressão e, por isso, me provocam uma gama de sensações. Tal é o tesão e o êxtase, pela relação estabelecida, que mesmo que tenha terminado, suas idéias ainda permanecem, por um tempo, vivas dentro de mim.

Aurora Gite

domingo, 19 de abril de 2009

Tantos endereços e uma só dedicatória

Como psicóloga, uma recomendação (prescrição);
Como amiga, uma indicação (sugestão);
Como mulher, uma triste constatação (confirmação);
Como mãe, um legado de coração (orientação).

Livro a ser lido, e relido,
Mesmo quando eu aqui não mais estiver.
A ser lembrado que, quando terminei de ler,
Fui apanhada pela doce sensação de nem tudo ter sido perdido.

Uma voz gritava em meu peito
Que se expandia de orgulho e autorrespeito:
"Valeu a pena!
Valeu muito a pena!"

Quanto mais amei, mais abri mão...
Grande paradoxo da vida, então.
Para o encontro comigo mesmo se completar,
Quanta coisa a se abandonar!

Iniciados há 35 anos, busca e intento,
A alegria agora veio da constatação
Do resgate de mim mesmo ter sido efetuado a contento.
Expressou a satisfação da autorrealização.

Espero que possa enfrentar
a angústia pelo "vazio de ser só", grande dor psíquica,
bem como ultrapassar
a vivência de vulnerabilidade, expressão de fragilidade psíquica;

E que, com coragem e determinação,
Possa alcançar a plenitude e felicidade,
A sensação de coletividade,
Advindas da aceitação da interior solidão.

É a conquista do " se dispor para si" (construção do "Eu")
E do "se dispor para os outros" (construção do "Nós"), como bem coloca o autor.
E, que eu, onde estiver, possa saudá-la com um: "Bem-vinda" ao nosso grupo!

Ah, qual é o livro presenteado a tantos, que levou essa dedicatória?
"Quem me roubou de mim?", de autoria de Fábio de Melo.

Aurora Gite
Postado às 13:00 horas.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

E agora, José?

O que mais me acalenta, nessa nova era informatizada, é constatar que a rapidez e transparência nas comunicações nos impulsiona a uma postura mais voltada ao confronto com situações verdadeiras, a ações direcionadas a ética e ao combate a uma lentidão na aplicação da justiça. Fiscalizações e confirmações da legitimidade de informações ganharam diferente "status" decorrente do imediatismo das contestações e da ousadia da mídia em suas divulgações.

Três perspectivas e novo alento... três artigos... três vivências diferenciadas... Assim mesmo é muito bom saber que não se está sozinho na luta em prol de uma sociedade com melhor qualidade de vida formada por "cidadãos éticos".

No Estadão, de 15/04/2009, em coluna de seu Espaço Aberto, meu peito encheu-se de orgulho ao ler as declarações do superintendente de um grande complexo hospitalar, do qual cheguei a fazer parte, pontuando seus avanços, "frutos de um importante processo de amadurecimento". Segundo o mesmo metas foram atingidas com excelência, quais sejam o atendimento à população menos favorecida, o ensino universitário e o desenvolvimento de pesquisas científicas. Realça a transformação no campo do conhecimento científico visto que tornaram-se "pesquisas aplicadas tanto no que se refere às inovações no tratamento de doenças, como no aperfeiçoamento de aparelhos e equipamentos". Enfatiza que, passados 65 anos de sua criação, sem descuidar dessas três frentes, acabou sendo desenvolvida nessa gestão outra "marcante característica: a de hospital pioneiro".
Comenta sobre as mudanças estruturais e de gerenciamento visando o acolhimento e respeito aos pacientes e intensificando o trabalho de humanização no atendimento.

Confesso que sempre questionei o emprego do termo "humanização", ainda confuso para muitos e para "muitos" profissionais. Idéias... palavras... mas na prática como bancá-las? Mudanças estruturais realmente ocorreram, mas na hora de operacionalizá-las a contento ...

Em 17.04.2009, a Folha de São Paulo, nos traz a notícia do afastamento "temporário" de um médico neurocirurgião responsável pelo plantão controlador de vagas, do mesmo complexo hospitalar, para que pudesse ser "melhor treinado para sua função". O mesmo havia enviado um ofício ao SAMU e ao Corpo de Bombeiros pedindo "para que pacientes com politraumatismo graves não fossem levados ao hospital por conta da superlotação". Ousou nas justificativas transparentes abordar a difícil situação operacional no tratamento emergencial (Pronto-Socorro) do referido hospital: " dezenas de macas no corredor, falta de vagas na UTI, mesas de cirurgias ocupadas por pacientes por falta de leitos nos quartos e fila de espera para cirurgia de emergência". Esse é o quadro que conheci e é ainda o espelho do que ainda ocorre no país na área da saúde, segundo constantes divulgações midiáticas.

Coincidência seu afastamento ter ocorrido após haver tomado as medidas acima? Melhor treino para que função?

O que ocorreu com esse profissional? Honestidade ética consigo mesmo, lealdade a seu juramento médico, cumplicidade com as metas sob as quais o hospital foi criado, pioneirismo com o compromisso da transparência tão apregoado, ingenuidade na luta por transformações concretas?

Tudo isso eu conheço. Trilhei esse caminho e não aceitei fazer parte dos séquitos dos "reis nus". Mudanças só ocorrem quando, com humildade e tolerância, nos permitimos observar os pontos fortes e também os falhos a nossa volta, para que possamos transformá-los. Só assim nos impedimos de vestir belas e luxuosas roupagens falaciosas propostas muitas vezes por nossas assessorias. No caos ético do mundo atual a primeira transformação tem que vir dos líderes e chefias, para que possam atrair seguidores fiéis e disponíveis a operacionalizar efetivamente as mudanças que propõem.

Agora retorno ao Estadão de 08.04.2009, e ao artigo intitulado "Por uma ética planetária" e com orgulho cito seu autor : Dr. Raul Marino Jr. - professor titular emérito de Neurocirurgia e professor livre-docente de Ética Médica e Bioética da Faculdade de Medicina da USP. Após tecer considerações sobre as ciências da Ética, Moral e Bioética e suas aplicações no campo da Antropologia e Sociologia, da Filosofia e da Psicologia, das Neurociências, das Ciências Políticas, da Teologia...cita as dificuldades de sua inserção prática nas grandes instituições. " Fugindo da burocracia intransponível dos órgãos governamentais, temos procurado universidades e faculdades privadas e outras instituições que disponham espaço para ... discussões de dilemas éticos e morais... parece que a ética e a moral são assuntos muito incômodos e mal vistos no Brasil. Quase todas as universidades as têm retirado de seu currículo, mesmo as de cursos superiores como Medicina, Direito, Engenharia e tantas outras, considerando-as apenas como curiosidades filosóficas ou filantrópicas".

Termino esse blog com as palavras finais de seu artigo: "...ou seremos éticos e morais neste milênio que se inicia, ou não seremos nada! " . E agora, José?

Aurora Gite

quinta-feira, 16 de abril de 2009

"Quem me roubou de mim?"

"Quem me roubou de mim? : o sequestro da subjetividade e o desafio de ser pessoa."


Mal tinha eu acabado de ler "A Cabana" , curtindo ainda as idéias de seu autor (William P.Young) para o enfrentamento de nossos fantasmas e o diferente encontro humanizador com o autêntico ser espiritualizado dentro de nós -nada a ver com rotulações religiosas - quando me cai em mãos o livro de Fábio de Melo, título dessa postagem.

Um pequeno livro de uma grandiosidade imensa. Seu valor comercial ( R$ 19,90) não representa a riqueza que contém. Sua publicação foi em 2008 pela Editora Canção Nova, de São Paulo, que me era desconhecida até então. E, está em sua 50ª edição, acreditem!

Como terapeuta e ser humano que conseguiu sair dos "cativeiros dos que nos idealizam, dos que nos esmagam, dos que nos desconsideram, dos que pensam que nos amam, dos que nos viciam, dos que pensam por nós" e que, mesmo ante essas "formas estranhas e socializadas de escravidão e dependência" , com coragem e esforço conseguiu resgatar sua autenticidade e liberdade, não posso deixar de indicar aos que tentam trilhar esse caminho... ou aqueles que, por curiosidade, queiram se aproximar e resgatar sua subjetividade perdida.

Mais do que minhas considerações, trechos do autor - abertura de alguns capítulos - falam por si só sobre o mundo do autoconhecimento e das relações interpessoais:


" Há pessoas que nos roubam...
Há pessoas que nos devolvem. "


PEDIDO
"Eu não quero que você seja eu
Eu já tenho a mim.
O que quero é que você chegue
Com seu poder de chegar
E de me devolver pra mim.
Que você chegue com seu dom
De também me fazer chegar
Perto de mim...
Pra me fazer ver o que sou e que só você viu.
Pra eu ser capaz de amar também
O que só você amou.
Eu não quero que você seja igual a mim.
Eu já tenho a mim.
Não quero construir uma casa de espelhos
Que multiplique minha imagem por
todos os cantos.
Quero apenas que você me reflita
Melhor do que julgo ser."



" Não me leve de mim.
Leve-me até mim. "


ALGUÉM
"Alguém me levou de mim
Alguém que eu não sei dizer
Alguém me levou daqui.
Alguém, esse nome estranho,
Alguém que eu não vi chegar
Alguém que eu não vi partir
Alguém, que se alguém encontrar,
Recomende que me devolva a mim."
Com a minha torcida para que siga em sua " busca de uma forma de viver que seja favorável ao florescimento de sua subjetividade e ao fortalecimento de sua identidade".
Você deve a você mesmo esse resgate na vida, não importa quantos anos já tenha percorrido submisso e ausente de si mesmo. Aceite o "desafio de ser" e vá ao seu encontro!
Aurora Gite