segunda-feira, 23 de março de 2015

Otimizar em Tempos de Crise, atual e eterna dica, pois não é?

Verifiquem se não é uma atual e "eterna" dica!

Esse post abriu minha participação como blogueira em 2008. Parece que foi ontem! Onde o tempo entra nisso?
Posso transpor o conteúdo da postagem e validá-la para os dias de hoje, então se refere ao presente.
E dica para o momento atual de nossa realidade e para momentos futuros de nosso viver ...
Como não é?

Confiram por si mesmos!
Aurora Gite

QUARTA-FEIRA, 15 DE OUTUBRO DE 2008


Otimizando recursos em tempo de crise

Todos nós temos que constituir e conviver com nosso
Fundo Mental Individual (FMI), auditorias, censurascorreções mentais.
Todos nós temos que identificar nosso capital inicial e superávit prímário,
Realizar balanços equilibrados de "perdas" e "ganhos"., e sempre investir.

Todos nós pautamos e referendamos negociações e replanejamentos,
Embasamos operações internas em auto-contratos instáveis e levianos,
Que podem interferir no comprometimento ético e abalar a confiança na auto-liderança;
Ou, sérios e confiáveis, que conduzem à transparência e maior adesão à auto-gestão.

Todos nós temos que despender elevados custos operacionais,
Pagar altos honorários inter-relacionais, e lutar contra egos inflacionários,Muitas vezes, envolvendo "spreads", empréstimos e taxas outras de juros,
Visando a auto-preservação ante adaptações, ou correção de erros cometidos.

Todos nós temos que conviver com um mercado social volátil e imprevisível,
Que necessita de constantes trocas e substituições de metas e ideais,
Na busca do encontro interior com auto-equilíbrio,estabilidadefidelidadecredibilidade,
Com a segurança de uma auto-imagem confiável e a serenidade de uma boa auto-estima.

Todos nós temos que, para atender a uma demanda mercadológica existencial,
visão de futuro voltada para a dignidade pessoal e profissional,
Direcionar nossos investimentos para constantedesenvolvimento e aprimoramento,
Focar metas em busca de nossa curva ascendente evolutiva.

Sucesso ou fracasso dependem da eficácia de fazer as coisas acontecerem,
Da apurada reflexão sobre a importação e exportação dos próprios conhecimentos,
Da mobilização estratégica do capital das idéias e emoções, dos valores éticos e políticos:
Questão essencial e emergencial de gerenciamento, empenho e prontidão nas escolhas.

Porém, só a cada um compete tomar as decisões e aproveitar as oportunidades
Ter coragem de abrir espaço internamente e ser sujeito de suas ações e aplicações,
Assumir o risco de mudar o ultrapassado, criar e inovar, sonhar e acreditar,
Lutar pela excelência na qualidade e otimização dos próprios recursos internos.


Esse é o texto de abertura de meu blog, e já pude delinear a vocês um pouco do meu perfil pessoal. Espero seus comentários sobre seu conteúdo, fonte de motivação e feedback para mim.
Aurora Gite


Ordisi Raluz disse...
Cara Aurora, devo me confessar surpreendido pela envolvente metáfora que, sabiamente - mesmo reconhecendo a dinâmica economica do espírito (como, aliás, bem o elabora Ubaldi em sua obra)- não trouxe os riscos do jogo em bolsa à baila. Mas eu ouso adicionar esse aspecto onde as Incertezas da Vida nos atiram num jogo de apostas sem fim.

Abrs, Ordisi Raluz.

domingo, 22 de março de 2015

Interdições e valorações

Há anos meu foco de interesse voltou-se para a operacionalização das energias decorrentes das funções psíquicas que Freud chamou de "superegóicas", voltadas às interdições (colocação de limites coerentes com a autoproteção da integridade do aparelho psíquico) e valorações (que dizem respeito aos julgamentos de nossa postura interna) morais (certo/errado sob critérios impostos socialmente) e princípios éticos (bem/mal sob critérios autorreferenciais).

Reflexões sobre desafios impostos pelas circunstâncias sociais e sequências subjetivas de dilemas inevitáveis, levam a buscar compreender onde se encontra a "força ética das escolhas". que direcionam cada decisão, que mobiliza ao agir. Penso ser papel das funções superegóicas aplacar a ansiedade das impressões captadas sensorialmente não contidas pela razão, levando amparo, aconchego e bem estar sereno, também características da condição humana, quando essas funções são auto-gerenciadas adequadamente.

Que cada um siga sua dinâmica interna e investigue dentro de si, a evidência e veracidade do que há tempos observo no convívio humano. Estados internos que impliquem em julgamentos morais e autocríticas, que conduzam a fenômenos psíquicos, entre os quais destaco a "culpa" e a "vergonha", envolvem uma precária autoadministração superegóica, que passa a ser ineficiente e ineficaz, ante dilemas morais que assolem um indivíduo e lhe causem angustiantes sofrimentos psíquicos, quando muito remorsos pela vida afora por erros cometidos em passado distante, muitos gerados por culpas indevidas, injustas se analisadas com isenção pela razão isenta de autocrítica.

Penso que, nesse milênio, se faz indispensável o aprimoramento da escuta compreensiva sobre linguajar "sem palavras" da faculdade de "intuir", e do captar significativo das impressões cunhadas pelas energias sensitivas. Captar a energia sensitiva, a meu ver, envolve o estar disponível a ser tocado ou afetado por outro tipo mais profundo de energia sensorial, além dos cinco sentidos tão conhecidos até agora; implica a capacidade de apreender vibrações sensoriais diferentes e aprender a separar as que representem forças psíquicas (para acumulá-las em fundos mentais individuais) das que suguem, dispersem energia até consumi-las totalmente, enfraquecendo o mundo psíquico de quem não conter esse movimento destruidor.

Estudos atuais comprovam a existência de estados alterados de consciência, possibilitando outras leituras sobre fenômenos psíquicos como hipnose e auto-hipnose, estados meditativos (alfa e beta), campos oníricos e interpretação dos sonhos que neles se encenam, devaneios que nos levam a um distanciamento do que ocorre no momento presente real, assim como é o caso dos delírios e das descargas orgásticas rápidas e relaxantes, não sendo superficiais ou não existindo efetiva entrega corporal e/ou afetiva ao parceiro e à relação em questão.

É incrível o poder que nosso "imaginar" tem de nos "impressionar"! A leitura do livro "Cinquenta Tons" pode levar a vôos sensoriais além do filme. Vale conferirem e investigarem o que mobiliza dentro de cada um assistir a esse filme. Acredito que os recortes do diretor e os atores em sua interpretação, retratem bem a "sincronicidade química" do enredo. No entanto, convido a assistirem, ou re-assistirem e compararem com o filme de anos atrás "9 Semanas e Meia de Amor" 1. Tem a sequência 2, que, a meu ver não chega aos pés do 1. Pelo Google chegam ao 1.

Sugiro sempre os filmes legendados, pela maior autenticidade das sensações, acompanhadas através do som original. Em ambos os filmes, pode-se observar o desafio na colocação de limites para preservar a dignidade da condição humana e da interação afetiva. Em ambos, pode-se notar vivências infantis resultando no não saber amar, no medo de amar e receio de ser amado, fantasias provocadoras de desencontros inevitáveis, encontros interceptados pelo predomínio da busca da ruptura do amálgama de qualquer elo afetivo. Os dois tem suas sequências em outros filmes, mas em um pode-se constatar o predomínio da superação, integração e relação amorosa amadurecida, enquanto no outro observa-se o declínio da sincronia química ante a não entrega à relação amorosa, que envolve respeito e cuidar, e, inclusive, pela indisponibilidade a ser amado.

Ainda sob o impacto das reflexões sobre esses filmes, penso na nova geração que perdeu contato com o "olhar da ternura". Quem experienciou essa vivência que testemunhe! Compartilho, para que não se perca no tempo e na velocidade das transformações da qualidade dessas vivências amorosas.

DOMINGO, 7 DE AGOSTO DE 2011


Gerações perdem o "olhar da ternura"?

Outro dia folheando a revista Psique me deparo com uma crônica de Rubem Alves, que logo me despertou o interesse. Como sempre faço, procurei saber quem era: escritor, educador e psicanalista. Depois busquei ler outras crônicas do autor, para verificar se o impacto se repetia em mim como leitora. Senti o mesmo prazer, o mesmo gozo ante a observação de uma sincronicidade de idéias. Senti meu coração alegre, ao me ver comovida por uma sensação de felicidade, ante a constatação de sua grandiosa simplicidade poética, sua facilidade de expressá-la e sua coragem de se expor.

Esses são os encontrões significativos da vida. Sincronicidade de idéias e vivências aproximando duas pessoas fisicamente distantes e estranhas. Duas mentes que se entrelaçam no mundo abstrato e invisível do pensamento, na metamorfose do momento pelo dinamismo da energia emitida por um escritor e captada por um leitor, aberto à leitura e assimilação da mensagem expressa em palavras. Ops! Não sou uma mera leitora, busco o mundo de significações atrás desses símbolos gráficos e estabelecer uma vinculação afetiva, com quem escreve, pelo sentido oculto pelas representações.

A primeira crônica que li desse autor me fez escrever colocar em "tweet" sua ideia:
"A troca de vivências com significados semelhantes é um dos fatores que traz proximidade e aconchego nas interações humanas".

Alves abordava a errônea expectativa que avós e pais depositam em ser compreendidos, esquecendo que novas gerações farão recortes, leituras e interpretações diferentes das deles. Por mais que recebam educação familiar semelhante, o desenvolvimento de seu potencial inato depende das interações com os grupos sociais e das aprendizagens históricas advindas da cultura e época vivida.

Ah, mal-estar da civilização! Quanta barreira, enjaulando a espontaneidade e autenticidade!
Ah, atual avanço tecnológico e rapidez na velocidade das informações, afastando ainda mais as gerações e dificultando a inserção de pais e avós no mundo digital e robotizado dos jovens!
Ah, como está cada vez mais difícil o encontro da sensibilidade do poeta, da coragem do herói para saber se expressar e ser reconhecido, correndo o risco de ousar se expor num mundo que lhe é adverso, como império da racionalidade padronizada de "logísticas estrategistas"!

E, de repente, surge um desconhecido em suas crônicas, que nos diz ao ouvido como num sussurro, assim preferimos escutar suas palavras, para que o vento não as leve no mundo descartável de hoje:

"Vou falar mal do telefone celular. Faz tempo, comprei um, daqueles pesadões, hoje elefantes se comparados aos mais modernos, pequenos beija-flores que se seguram delicadamente com o indicador e o polegar. Sinto-me humilhado pela comparação. (...) O meu, neste momento em que escrevo, não sei onde está. Também não adianta. Está sempre desligado. Acho que não quero ser encontrado. Psicanalista, tenho o costume de ficar interpretando os objetos. (...) O simples ato de atender ao pequeno aparelho pode ser, na visão psicanalista, a expressão que a pessoa faz do seu próprio poder"... muitas se colocando desrespeitosamente "no centro de sua bolha narcísica" ao atender e conversar em meio a palestras, por exemplo.

Os valores e limites racionais entre as gerações estão cada vez mais caóticos. Está cada vez mais difícil de se encontrar um sentido humano na linguagem expressa pelo social atual, com o aumento da violência e a banalização da vida, com o mérito atribuído à competitividade não digna e à submissão destrutiva do outro para abrir um espaço nessa "selva de pedra".

E, de repente, um psicanalista que se diz sensível, a ler fascinado metáforas, que envolvem ternura e "tanta alegria, tanta saudade, uma eternidade inteira num grão de areia", as transformando em crônicas:

"O amor dos dois surgira na adolescência.(...) Aconteceu com a jovem o que seus pais sugeriram: ela se casou. E ele também se casou (...) Quando ele tinha 76 anos ficou viúvo. Quando ela tinha 76 anos e ele 79, ela ficou viúva.(...) Ela não resistiu. Foi à sua procura. Encontraram-se. Resolveram se casar. Os filhos protestaram. Os filhos, todos os filhos, não suportam a ideia de que os velhos também amem. (...) Viveram um ano de amor intenso que provocou metamorfoses: ele se descobriu poeta, começou a escrever poesia."

Acham estranho ou bizarro? Talvez esse juízo surja nos que Alves chama de "analfabetos no olhar". Ele relembra Nietzsche que dizia que a "primeira tarefa da educação é ensinar a ver". Na crônica "A Arte de Viajar" escreve: "Quem sabe ver está sempre viajando, mesmo que não saía de casa. (...) Não é necessário escolher o destino certo, desde que se saiba apreciar o momento."

É se permitir sentir a "pureza singular da ternura" que, segundo Alves, flerta entre as dores do amor e a ardência sexual da paixão. O amor começa quando colocamos uma metáfora poética no rosto do amado ( da mulher amada)... quando observamos olhos, que nos fitam e dizem: "Como é bom que você existe..." Não há tédio, ou egoísmo depressivo, que resista a esse chamado, se não houver clausura voluntária no egocentrismo.

Cito outra crônica de Rubem Alves intitulada "A Ternura". Que pena que essa geração de interações digitais, marcadas pela distância interpessoal e mascarada pelo biombo da tela de um computador, nem saiba o que é cativar.

Termino com a resposta de Rubem Alves sobre o que é cativar, que cita uma de minhas obras favoritas "O Pequeno Príncipe" de Saint Exupéry ( e, para quem não leu ainda, indico A Arte de Amar, de Erich Fromm):

A raposa pediu que o Pequeno Príncipe a cativasse.
"- O que é cativar?" perguntou o Pequeno Príncipe.
" - Cativar é assim", explicou a raposa. "Eu me assento lá longe e você se assenta aqui. Eu olho para você e você olha para mim. No dia seguinte nos assentamos mais perto. Eu olho para você e você olha para mim. Até que nos assentamos juntos. Se você me cativar eu pensarei em você, conhecerei o ruído dos seus passos e sairei da minha toca quando você chegar..."
Aconteceu então que o Pequeno Príncipe cativou a raposa. O tempo passou e chegou um dia em que ele disse à raposa:
"- Preciso ir..."
A raposa disse: " - Vou chorar..."
" - Não é culpa minha. Eu não queria cativar você. E agora você vai chorar... O que é que ganhou com isso?"
" - Ganhei os campos de trigo", disse a raposa.
Antes os campos de trigo não comoviam a raposa. Agora, como são dourados como os cabelos do Pequeno Príncipe ganharam um significado.
"- ... quando o vento bater nos campos de trigo eu me lembrarei de você e sorrirei".
O rosto do Pequeno Príncipe estava gravado no trigal. Mas isso só o apaixonado vê." (...)

E assim encerra Alves: "É o olhar do apaixonado que torna o outro belo. Porque não vemos o que vemos; vemos o que somos. Uma mulher é bela quando nos vemos belos ao olhar nos seus olhos."

Com tristeza constatamos que, cada vez mais, essa geração perde essa grandeza do encontro da ternura e da beleza desse olhar terno, que nos contagia e ajuda a pacificar nossos conflitos e domesticar nossas intolerâncias.
P.S. Deixo registrado que Rubem Alves faleceu meses atrás, em 19 de julho de 2014.

Aurora Gite