sábado, 27 de abril de 2019

Valem novas reflexões sobre o conteúdo desta postagem de 2008

Consciência, criatividade, salto quântico?

Novos rumos, ventos solares e pássaros quânticos...e minha mente borbulhando de idéias, esperando "trocas"!

E lá vou eu, outra vez, me debruçar na "janela visionária" de meu castelo profissional, observar a natureza, os novos paradigmas envolvendo o ser humano, e contar com a aproximação de um físico quântico, na iluminação desse novo alvorecer. tal a proporção das novas descobertas. Dessa vez, me faço acompanhar por Amit Goswami e seu livro "A Janela Visionária" (Cultrix 2006).

Não posso negar o misto de tesão e ansiedade na retomada desse trilhar. Alguns pacientes surgem em minha memória e minha "consciência", lhes dá a condição de presença viva em meu aqui e agora.

Recordo nosso caminhar juntos. Ao me permitirem a entrada em sua mente, buscando a compreensão do funcionamento de seu mundo psíquico e da dinâmica mobilizadora de suas ações, eles também foram incorporados em meu mundo interno e me facultaram muitas auto-descobertas. E assim se ultrapassa a ponte do mundo físico (material) ao psíquico (energético), num constante ir e vir.

Quantas vivências compartilhadas... transferências e contratransferências... energias se misturando e se separando ante insights que ocorriam... quantas mudanças contínuas e descontínuas.

Para quem não sabe, transferência se refere aqui aos sentimentos que o paciente inconscientemente vincula (transfere) ao terapeuta, mas que, na verdade, se originam de relacionamentos anteriores. Contratransferência é o reverso, ou seja, sentimentos irracionais que o terapeuta tem em relação ao paciente. Esses fenômenos inconscientes também fazem parte de nosso dia-a-dia e são muito comuns na vida de relação, ocasionando grandes distorções na realidade dos envolvidos.

Mas lá estava eu surfando, no encontro terapêutico, entre as ondas de possibilidades e probabilidades, contando com minha intuição e criatividade, para ajudar cada paciente em seu encontro com sua consciência auto-referente.

E lá estava eu buscando, através de uma observação consciente e atenção flutuante, provocar o colapso da onda de possibilidades passadas e futuras, trazendo o paciente para seu aqui e agora, integrando-o ao seu propósito criativo de vida, criatividade que lhe é imanente.

E lá estava eu questionando, tanto o efeito temporário de mudanças contínuas ( de causas e efeitos em espaço e tempo definidos), quanto as interpretações que vinculavam os pacientes à cabeça (ao pensar) de seu terapeuta. Não desconsidero a importância do espaço terapêutico e da qualidade do vínculo estabelecido, mas eu almejava a integração da pluralidade de teorias, para que o homem em si emegisse em sua unidade, e fosse compreendido sob vários pontos de vista.

Lembram do papel atribuído ao observador consciente pela física quântica, que ocasiona o afunilamento do espectro das possibilidades, para sua convergência num ato ou objeto único?
Segundo Goswami, toda escolha a partir das possibilidades, vem da intervenção de nossa "consciência" . Sendo assim, ela é que cria a realidade. E eis minha intuição gritando: "É por aí, vai atrás desse conhecimento!"

E lá estava eu enfatizando a vida relacional como experiência emocional corretiva, buscando saber mais sobre a dinâmica energética da rede inter-relacional.

Faço minhas algumas das indagações de Goswami:
Que força imaterial poderia interagir com a matéria?
Como obter essa interação imaterial?
Empatia e aversão...atração e rejeição...campos de energia e de força? Integração do indivíduo com o cosmo?

Tudo me encaminhava para uma leitura energética dentro de uma visão holística ( integrada) de mundo. O ser humano é bem mais que um sintoma. Seu sintoma é um ato criativo para indicar alguma disfunção. E essa, na maioria das vezes traduz seu sofrimento existencial.

Com avidez fui em busca dos conhecimentos da física quântica. Queria mais que o contato entre intelectos. Já reconhecia que a consciência tem um papel decisivo na configuração da realidade. Mas queria a experiência, queria através de uma vivência pessoal comprovar.

E lá estava eu não atrás do silêncio, mas do diálogo. Não buscava monólogos e atitudes separatistas. Meu coração me integrava na relação (eu-outro se transformando em "uno"). Não me bastava minha capacidade racional ou facilidade no cruzamento de dados. E o diálogo interno no contato com o paciente se aquietou, e se estendeu para a vida pessoal de relação.

A palavra "diálogo" deriva de "dia" ( palavra grega que significa "por meio de") e de "logos" que significa palavra) e vai além da comunicação por meio de palavras, envolve uma troca de sentido entre os que se comunicam, outra dimensão do psíquico humano.

E é aqui que tudo se complica. Querem ver?
Eis um fato que poderia ocorrer no cotidiano de qualquer um.

Lá estava eu numa sala de espera, quando uma mulher se aproximou e começou a se queixar da relação com o marido, onde não havia diálogo, embora muita tentativa da parte dela para que ele ocorresse. E ela continuou, ao me perceber como ouvinte atenta: " Imagine que hoje pela manhã, ele pediu a minha opinião sobre se devia ir ou não no casamento de um parente. Logo retruquei, que agora é que ele queria saber o que eu achava? Por que não me consultou quando o parente ligou há dois dias? E ficou em silêncio, veja só! Nem continuou a conversa. Ele não sustenta um diálogo."

Que diálogo? Existiu uma comunicação, um fluxo de sentido entre eles?
Em que clima transcorreu o contato? Existiu um campo energético entre eles que propiciasse um vínculo aconchegante a uma cumplicidade na comunicação?

Ele chega e se aproxima, de peito aberto a coloca na relação. Ela "pisa na bola, dentro de seu egocentrismo", o exclui da relação. E ainda reclama da atitude defensiva dele e de seu afastamento.

Haja "Física Quântica" para iluminar nossa rede de convivências, ou como muitos a consideram, de conveniências!
Aurora Gite

Lembram de Drumond " Tinha uma pedra no meio do caminho, no meio do caminho tinha uma pedra". Pois é ao reler esse texto me veio: "E lá vou eu, buscando, surfando, questionando, enfatizando... e no buscar, surfar, questionar, enfatizar ... lá estava eu (Consciência)".

Em tempo:
As constatações de Jill Bolte Taylor, expressas em seu livro "A cientista que curou seu próprio cérebro", são muito importantes. Novas perspectivas se abrem ante a nova comprovação científica das funções dos dois hemisférios cerebrais.
No entanto, coloco mais um patamar, que acredito advir da desativação das funções do hemisfério esquerdo e predomínio total operacional do hemisfério direito.
A sensação foi de uma mola elevando, não o meu corpo, mas a minha mente (salto quântico?). O impulso de propulsão não foi voluntário. Uma conexão foi estabelecida. O outro polo é que direcionava esse movimento interno. A percepção do real não desapareceu, mas perdeu o foco. Eu sabia onde estava, mas intuitivamente, não pela via perceptível que nos é conhecida. Tempo e espaço se diluem. Fui tomada por uma sensação de prazer intenso, calor e claridade, paz e harmonia, quietude e suavidade, plenitude e infinito - sensações de uma amplitude diferente da que captamos através dos sentidos que nos são conhecidos. Experiência indescritível. Nossa compreensão não abarca com palavras. De repente, a imagem de minhas filhas, precisava voltar (intervenção do hemisfério esquerdo). E o brusco rompimento da conexão.
O que me restou? As sensações paradoxais de uma perda feliz e de uma saudade alegre, e a constatação de muita força interna ( sensação de um recarregar de pilhas). Anos e anos se passaram, e essas sensações persistem.
Por que comigo? Porque estava num momento existencial, que correspondia ao cume da parte superior da ampulheta. Lembram da postagem anterior "Quer receber um presente meu?"
Por que só ocorreu uma vez? O caminho está na postagem acima e a dificuldade de se manter íntegra para o estabelecimento da conexão também. Agora é correlacionar na história quem conseguiu atingir esse estágio.
Após 30 anos, só agora estou chegando mais próximo de entender o que ocorreu. De duas coisas tenho certeza: a humanidade entrou em "nova era", e que se preparem os "físicos quânticos"!

quarta-feira, 24 de abril de 2019

Salto Quântico equivale ao "insight freudiano"

Minhas reflexões atuais se voltam às ideias de Amit Goswami contidas em seu livro Consciência Quântica (São Paulo: Aleph, 2018), do qual transcrevo o trecho abaixo:

"... dados experimentais mostraram existir uma forma de distinguir experimentalmente o domínio da potencialidade (...do inconsciente freudiano?...) no qual os objetos são ondas de possibilidade, e o domínio da experiência manifestada, no qual os objetos são partículas. O físico francês Alan Aspect e seus colaboradores  criaram um experimento que provou ter esse domínio da potencialidade uma característica única que o define: as comunicações havidas nele não exigem nenhum sinal, nenhuma mediação. As implicações dessa descoberta são espantosas. Se a comunicação pode se dar sem mediação e de forma instantânea nesse domínio, decorre daí que o próprio domínio é uma coisa só. É um contínuo de coisas interconectadas.

Aqui estamos nos comunicando por meio de palavras, escrevi algumas palavras e agora você as lê usando sinais no espaço e no tempo. Mas também poderíamos estar nos comunicando pelo domínio da potencialidade. Se formulo um pensamento, mas não o expresso verbalmente ou por escrito,  esse pensamento pode se espalhar pelo domínio da potencialidade e chegar até você. Instantaneamente. É isso que acontece quando somos inspirados pelas palavras de um escritor ou pelas imagens de um artista que criou um novo pensamento ou sentimento. As palavras ditas ou escritas, ou as imagens, atuam como um gatilho que aciona uma conexão não local que resulta em algo totalmente diferente.

No zen budismo, encontramos alguns enigmas como este: Qual é o som de uma única mão batendo palmas? Tal enigma encerra a ideia de que as coisas nascem da potencialidade. Qualquer pensamento é uma potencialidade com muitos significados antes de se tornar um pensamento manifestado com um único significado. E nessa potencialidade, a onda de possibilidade desse pensamento tem muitas facetas. A conversão da potencialidade em experiência manifestada transforma um pensamento ou objeto polifacetado num pensamento ou objeto monofacetado - converte uma onda em partícula.

Muitos pensam que a consciência existe porque somos seres humanos. Segundo a explicação quântica, no entanto, a consciência já existe no domínio da potencialidade, estejam os seres humanos nele ou não. Com efeito, esse é o ponto central. Lembre-se, porém, de que esse domínio se manifesta. Então vemos que a manifestação da consciência como autopercepção-consciente acontece ao mesmo tempo que pensamentos ou objetos são convertidos de ondas em partículas.

Nesse domínio da potencialidade não existe forma. A forma se manifesta de um modo específico quando uma possibilidade é escolhida e colapsada em experiência concreta - realidade manifestada. Assim, se soubéssemos como manifestar uma forma específica de um modo específico no domínio do espaço-tempo - como uma realidade tridimensional -, seríamos capazes de resolver problemas e de manifestar aquilo que quiséssemos nessa realidade. Mas isso exigiria que pudéssemos sentir ou perceber sensorialmente toda possibilidade correta no domínio da potencialidade.

E às vezes tudo o que temos é um sentimento. Podemos ter uma intuição daquilo que está no domínio da potencialidade e que queremos manifestar, mas o domínio da potencialidade tem muitas possibilidades. Logo, temos a oportunidade de processar todas essas diversas possibilidades e suas combinações simultaneamente - toda uma gestalt -  a fim de obter uma resposta para o problema à nossa frente.

É aí que o zen e a física quântica convergem como abordagem da mente humana. Tanto o pensamento zen quanto o pensamento quântico baseiam-se em permitir dois níveis de pensamento. Em contraste, o pensamento num mundo newtoniano ocorre apenas em um nível. Nesse mundo de um nível, que só existe no espaço e no tempo manifestados, há apenas aquilo que chamamos de pensamento consciente. O pensamento consciente permite-nos analisar  diversas respostas possíveis, mas só podemos levar em conta um aspecto de cada vez, uma faceta de cada vez. Quando permitimos que o processamento dos pensamentos ocorra não só no domínio do espaço-tempo, mas também no domínio da potencialidade, o pensamento convergente consegue processar muitas facetas ao mesmo tempo. O domínio do espaço-tempo é bom para gerar uma série de respostas divergentes; chamamos a isso pensamento divergente . Mas para se chegar a uma solução, é mais eficiente o processamento simultâneo de várias possibilidades no domínio da potencialidade, seguido pela escolha - pensamento convergente.

Bem, o processamento de pensamentos é muito diferente no domínio da potencialidade. No espço-tempo, estamos conscientes; no domínio da potencialidade, estamos inconscientes. Só depois de diversos episódios de processamento inconscientes, é que o pensamento convergente se manifesta na forma de uma solução - um salto quântico." ( páginas74-76).

Acredito que um salto quântico equivale ao "insight freudiano", como já abordei em postagens anteriores, que suscitaram as observações que trouxeram à tona as hipóteses de minhas pesquisas: Freud foi o pioneiro a observar o movimento da energia quântica dentro de nós e o primeiro a manipular as energias desse mundo das partículas subatômicas.


sábado, 20 de abril de 2019

Elos antiéticos de poder na Instituição hospitalar

Não há como enfrentar e quebrar o elo de poder entre falta de transparência, algemas de gratidão e rede antiética de intrigas, dentro de uma instituição, ainda mais sendo hospitalar.

Mais de 10 anos se passaram, mas ainda me recordo com mínimos detalhes de nossa coordenadora do grupo de seleção de supervisoras de aprimorandas, candidatas a se aperfeiçoarem como psicólogas hospitalar, entrar na sala de reunião e "avisar" que a diretora de nossa Divisão de Psicologia lhe comunicara que a candidata "x", por ser filha de uma enfermeira que ocupava alto posto na hierarquia da instituição, "deveria ser incluída na lista das aprovadas". Não esqueço de como incrédulas nos olhamos e tentamos esboçar nosso desconforto. Só ouvimos: "É fato decidido!"

Foi meu primeiro contato com gestões autocráticas e totalitárias, que me horrorizavam quando abordadas por Hannah Arendt em seus livros e que me pareciam tão distantes de mim. Percebi como este estilo de gestão podem afastar colaboradores de buscarem se incluir com participações mais ativas , inclusive no que se refere a apresentação e realização de projetos institucionais. Incrédula, já tinha tido conhecimento do mau uso dos mesmos por chefias: ora engavetados, ora apresentados como se fossem das mesmas que recebiam os reconhecimentos diretamente... Prezo muito as ideias que coloco em meus projetos, para permitir que sejam assim vilipendiadas.

Senti não poder concretizar alguns deles, como o Seminário tipo painel, apresentado por um "jogral científico" onde representantes de várias escolas teóricas analisassem o mesmo "case" sob suas perspectivas. Infelizmente das pouco mais de 50 psicólogas lotadas na Divisão, nesta época, e selecionadas por concurso, a maioria era de psicanalistas; havia uma junguiana que defendia a psicologia analítica, outra que fazia uma leitura cognitiva comportamental, e outra cujo foco seguia a psicossomática de Pierre Marty, e eu que me colocava dentro de uma linha eclética, colocando o paciente e o histórico de seus sintomas como meu centro de atenção, e não a teoria freudiana em que deveria enquadrá-lo. Foi muito duro, como profissional, ouvir a recusa de colegas psicólogos - que se denominavam psicanalistas, manifestando sua soberba arrogante - ante meu pedido para discutirmos um caso, alegando não entenderem minha forma de atuar. Excluída de um lado, já na época senti-me acolhida pela Psicologia Fenomenológica após assistir à palestra de Yolanda Cintrão Forghieri, de quem indico o livro "Psicologia Fenomenológica:  fundamentos, método e pesquisas" - no meu livro acalento com carinho sua dedicatória :"À Lúcia Maria para ampliar seus conhecimentos nesta área. Com carinho, Yolanda."

A memória é como uma caixa de Pandora, as recordações vão jorrando e conforme vão emergindo agregam mais e mais associações. Lembro que, inúmeras vezes, exercendo minhas atividades clínicas dentro do Complexo Hospitalar, tive que amadurecer profissionalmente e me apegar ao fato de reconhecer meu valor e assim poder me bancar neste sentido. Sentia pena de afins, que permitiam ser humilhadas e submetidas a regras de pessoas que se encontravam em cargos de hierarquia superior, se outorgando poderes além de suas atribuições. Não raro, meus pares chegavam e me questionavam que ouviam impotentes estas chefias, brandindo seus crachás: " Vai fazer, sem questionar, porque estou mandando!"

De minha parte, só podia agradecer, em momentos de solidão entre meus pares, ter procurado meu autoconhecimento e ter buscado evoluir e amadurecer como profissional, para me bancar. Com isso dentro de mim, brandia a bandeira de meu orgulho por minha difícil jornada preservando meus valores éticos e a transparência em meu caminhar dentro da realidade enfrentada, encarado sem ilusões, que escondiam possíveis frustrações e me impediam de observar a verdade do que ocorria ao meu redor.






domingo, 14 de abril de 2019

Tentativa de assassinar a História outra vez?

Como não rever esta postagem?

SEXTA-FEIRA, 27 DE FEVEREIRO DE 2009

Será mesmo que vamos assassinar a "História"?

Quando inaugurei este blog, fiz questão de colocar inicialmente dois textos meus, que serviram como capítulos de livros, enfatizando a necessidade de alterações nas visões e dimensões de homem e de mundo, e a busca de instrumentos nas áreas da Psicologia e Física, Ética e Direito para um novo equilíbrio global, individual e coletivo.

Entendo que da pluralidade e conectividade de "micro-histórias", obtenhamos o desenho da dinamica existencial que configura a "macro-História".

As micro-histórias dependem da inserção das individualidades na complexidade dos relacionamentos humanos, seus jogos de convivência, suas lutas por espaço e poder, suas tomadas de decisão embasadas em intencionalidades e imprevisibilidades.

E é dessa intríncada rede de relações pessoais que se esboça a História da Humanidade. Suas sinalizações são importantes de serem levadas em consideração ao se observar a "vida em reverso".

Sendo assim procuro aspectos de minha história pessoal que pudessem se encaixar na sociedade que gostaria de ver construída nesse novo milênio.

Nesse sentido, não posso deixar de pontuar que, quase quinze anos, atendendo pacientes dentro da área clínica, a nível hospitalar, me trouxeram grande conhecimento e melhor adestramento no uso de ferramentas para lidar com o lado psicológico do ser humano, sem enquadrá-lo em molduras teóricas, mas procurando uma compreensão de sua dinâmica dentro do contexto histórico em que se envolvia. Porém, três anos antes de me aposentar, a meu pedido, atuei, sempre desempenhando minha função, dentro do campo organizacional, e esse período me possibilitou a aquisição de uma sabedoria ímpar .

A colocação de um grande complexo hospitalar no "divã", a observação e análise da rede de interações estabelecidas, os jogos pelo poder, o mau uso da autoridade conferida pelo cargo ocupado, o contato com o lado perverso do ser humano ao reagir a ameaças de possíveis alterações em seu "status quo", a constatação da enorme fragilidade das lideranças, escravas da burocracia e do fortalecimento pessoal ilusório, falseado por constantes manipulações desumanas e preconceituosas, desnudaram para mim : uma categoria que se esconde atrás da aparência assistencialista, a razão da deficiência na qualidade do ensino dos profissionais da área, e das egoísticas atuações em pesquisas, voltadas mais a interesses pessoais, do que ao bem empresarial e o coletivo.

O fechamento de equipes, enclausuradas em si mesmas, debaixo do "em time que está ganhando não se mexe" ,"mudanças desde que...", " é preciso fazer a cabeça de fulano" . Esse tipo de coordenação impede a flexibilidade necessária para trocas e constantes inovações criativas. Um agregar forças, diretriz de uma política em recursos humanos baseada na inclusão e administração das diferenças, depende de posturas abertas, saudáveis , que não se amedrontem ante qualquer desenvolvimento concorrencial, pois confiam em seu potencial.

A patologia organizacional a nível de suas lideranças diretas e indiretas ( assessores) estava visível. Chefias apresentando projetos como seus, erguendo crachás e dizendo:"Faça porque estou mandando!", desenvolvendo políticas de privilégios ( liberação para congressos) e submissões humilhantes? Coordenações de ensino que guardam sigilo do "sumiço" de matriz de apostilas necessárias as aulas, que desviam para outros docentes material ( datashow) requisitado dentro do prazo, obrigando reestruturações imediatas do plano de aula? Falta de ética ante quebra de sigilo de provas e de banco de dados informatizados? Quem não convive ainda com algo semelhante? Tudo agora é questão de tempo . Esses tipos de profissionais não conseguem sobreviver dentro dos novos modelos participativos de gestão.

Um ponto forte que me chamava a atenção residia no orgulho de muitos colaboradores ( e aqui me incluo) ao percorrer os corredores daquela Faculdade, observando a galeria de quadros de profissionais que construíram sua história, ganhando por isso destaque. Isto constrastava com o desejo de outros, ainda na ativa, de apagar registros bibliotecários e destruir dados significativos, banco de memórias de uma época, esquecendo que uma história institucional se conserva viva, enquanto estiver na lembrança dos que a cultivem e transmitam oralmente de geração a geração.

Não entendia bem, na época, os projetos voltados a esses objetivos. Por que e para que serviam? Buscando maior compreensão, tinha por resposta que tudo fazia parte da evolução tecnológica que envolvia a agilidade da informação e a simplificação da burocracia. Porém na prática tais medidas ainda deixavam muito a desejar, e as perdas históricas eram muito significativas.

Um assassinato imediato de vivências históricas reais, buscando enterrar protagonistas, conservados vivos pela dignidade dos valores defendidos?

Um suicídio, a longo prazo, visto que a história vivenciada por anônimos poderia ensombrecer ainda mais o vazio e espelhar a falta de comprometimento organizacional e social de muitos profissionais atuantes?

As experiências devem sempre reforçar o quadro autoreferencial de quem se propõe a ser o construtor de sua própria história de vida. Lembro que mesmo dentro de um ambiente totalmente hostil, preconceituoso e de falsa política inclusiva, consegui sobreviver.

O primeiro contato com uma assessora marcou todo o meu percurso pela área : " Não sei como lidar com você me analisando o tempo todo." A partir daí, toda aliança ou parceria que procurei estabelecer, era interrompida por ela. Gradativamente me foi tirado espaço físico e material de trabalho, minha produção decorria do material que levava de casa. Tive que conviver com constantes distorções de informações, inclusive no que se referia a horários de reuniões com diretores, que ficaram no aguardo de minha presença . Tive que sentir a frieza do ostracismo e a mudança na qualidade de relações decorrentes de maledicências e receio de "enfrentar hierarquias" com o comum "Percebo o que ocorre, mas preciso do emprego, não posso me envolver, nem estar perto ou cumprimentá-la". Não foi fácil permanecer centrada, mesmo para mim que auxilio aos outros nesse sentido.

Consegui manter a cabeça erguida e estar bem comigo mesmo. Produzi a cada mês novo projeto, reforçando meu capital intelectual. Engavetados ou redistribuídos, muitos deturpados e abandonados, ninguém me usurparia esses conhecimentos. O tesão da criação e o processo logístico para a implantação residem "no" e permanecem "com o" autor. Tive o cuidado de reforçar esse lado e quem desenvolvesse meus projetos teria conhecimentos que o tornaria apto ao mérito e a minha admiração como parceira distante.

Hoje, após anos, minha auto-estima valorizada só tem a agradecer. De tempos em tempos, em alguns momentos de fragilidade, resgato essa visão histórica e isso me ajuda a superá-los mais rapidamente. Acredito ter sido a qualidade dessas vivências, que me possibilitou acompanhar as considerações de Eric Hobsbawm em seu livro " Era dos Extremos" , e retirar delas as respostas que buscava naquela época.

Transcrevo trechos dos relatos desse historiador , algumas de suas análises sobre o século XX, repercussões atingindo o século XXI . Também endosso o apelo de muitos :" Não deixem que retirem da História seu eterno papel unificador"! Acreditando que possa estar sendo falseada por alguns, é se aproximar dos historiadores que buscam cercar seus relatos de evidências focando a transparência de fatos verdadeiros sob várias perspectivas.

Algumas citações do autor, acima mencionado valem muitas reflexões, pois sinalizam o grande perigo do século XXI:

" No fim deste século XX, pode-se ver como pode ser um mundo em que o passado - inclusive o passado no presente - perdeu seu papel... Não sabemos aonde tudo nos leva, ou mesmo aonde deve nos levar... Para onde vai a humanidade? "

"Olhando para trás, vemos a estrada que nos trouxe até aqui. Mas o que nos moldará o futuro?"... Ante a "regressão aos padrões do barbarismo, este século nos ensinou que os seres humanos podem aprender a viver nas condições mais brutalizadas e teoricamente intoleráveis."

" A memória histórica já não está tão viva". É a lacuna entre gerações e o abismo entre seus valores dificultando a vida de relação.

"A destruição do passado - ou melhor, dos mecanismos sociais que vinculam nossa experiência pessoal à das gerações passadas - é um dos fenômenos mais característicos e lúgubres do final do século XX. Quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem. Por isso, os historiadores, cujo ofício é lembrar o que os outros esquecem, tornam-se mais importantes que nunca no fim do segundo milênio. Por esse mesmo motivo, porém, eles tem de ser mais que simples cronistas, memorialistas e compiladores".

Ao abordar a diferença qualitativa no mundo, o autor cita três transformações históricas, que contribuíram para a realidade atual :

1- Quando o século XX começou, a Europa deixava de ser o centro de poder, riqueza, intelecto e "civilização ocidental" e o mundo deixava de ser "eurocêntrico" - ocorrendo grandes mudanças na configuração econômica, intelectual e cultural da época.

2- A construção de uma "aldeia global" , e a aceleração das comunicações e transportes - mobilizando a grande "tensão entre o processo de globalização cada vez mais acelerado e a incapacidade conjunta das instituições públicas e do comportamento coletivo dos seres humanos de se acomodarem a ele".

3- Segundo ele, talvez o mais perturbador: " a desintegração de velhos padrões de relacionamento social humano e, com ela, a quebra dos elos entre gerações, quer dizer entre passado e presente".

O historiador destaca "o predomínio dos valores de um individualismo associal absoluto, a erosão das sociedades e religiões tradicionais, a destruição ou autodestruição das sociedades do socialismo real". Registra a formação da sociedade atual "por um conjunto de indivíduos egocentrados sem outra conexão entre si, em busca apenas da própria satisfação ( o lucro, o prazer, ou seja lá o que for) que estava sempre implícita na teoria capitalista".

O modo de produção capitalista e as relações dele decorrentes podem ter sido responsável por ter moldado esse tipo de indivíduo, porém o ser humano está muito além desses padrões de massa. É encontrar força e coragem para se bancar, se assumir no que tem de melhor, não assassinar também a sua história de vida.

Ela é que lhe serve de parâmetro, auto-referência para acertos e desejo de aprendizagem com erros; élan para novas tomadas de decisão que lhe propiciem efetivo bem-estar, e motivação para sair da cegueira das reais necessidades ante o ofuscar das satisfações criadas. Essas são tão tênues que, com o tempo, se desfazem ante o desmoronamento do cenário de atuação de personagens fictícios, que vivem atrás de máscaras, atuando em histórias criada por outros. Seres humanos reais ousam vivenciar com prazer e auto-admiração suas verdades históricas.

Assim retorno a pergunta de Eric Hobsbawm: "Mas o que moldará o futuro?" e endosso a sua resposta, a esperança de "um mundo melhor, mais justo e mais viável". Entendo mundo melhor como aquele com mais qualidade de vida, visando bem-estar individual e coletivo.

E por que não lutar pela construção de sociedades com essa história, em vez de procurar assassinar a "História"?

Aurora Gite

quinta-feira, 11 de abril de 2019

Importância do alinhamento existencial

Em 2015 já publicava minhas hipóteses de que a dinâmica psíquica corresponde à energia quântica dentro do ser humano, que a Psicologia está vinculada ao mundo das partículas subatômicas e à Física Quântica, que, a meu ver, Freud foi o primeiro a observar a movimentação quântica, pioneiro a registrar e manipular seus efeitos dentro do que chamou de aparelho psíquico.

Por meu lado, pude observar em meus pacientes e em vivências pessoais, a existência de outra instância psíquica, além das detectadas por Freud, já vislumbrada por Jung ao conceituar a função transcendente, que passei a chamar de "núcleo de dignidade" dentro da psique do ser humano. Este núcleo corresponde, segundo penso, a instância ligada a princípios éticos vinculados à essência humana, só atingido pelo ser humano  após seu alinhamento existencial com os valores morais/éticos que lhe são inatos.

Encontrei no livro "A Janela Visionária: um Guia para a Iluminação por um Físico Quântico", de autoria Dr. Amit Goswami, a descrição desse trajeto que denominou de jornada espiritual. "Goswami revela brilhantemente como a nova ciência comprova aquilo que os místicos sempre souberam, que é a consciência, e não a matéria, a base fundamental do ser."

Observei ser uma condição psíquica além do alcance do processo de individuação junguiana. Para meu espanto, no entanto, vivenciei - além de observar em alguns pacientes -, a existência de outro campo gravitacional que tem a propriedade de imantação do que chamamos mente, a levando a outro estado de consciência. Esses processos psíquicos são detalhados por Ken Wilber em seu livro "O Espectro da Consciência". Para ele, que compara a consciência ao espectro eletromagnético, "a consciência é una e se manifesta por uma multiplicidade de aspectos, de níveis ou de faixas, que correspondem aos diferentes comprimentos de ondas eletromagnéticas". Wilber, com sua visão holística, se interessou pela formação de uma Psicologia Integrativa, mas não se pode esquecer que foi um dos principais teorizadores da Psicologia Transpessoal.

Essas são as hipóteses iniciais de minha pesquisa, que estão me direcionando a aprimorar leituras energéticas das frequências vibracionais, retirando da prateleira livros como "As Ideias de Jung" de Anthony Storr, lido em 1976. Vale articular as ideias de Jung ,Wilber, Goswami, com as de Viktor E. Frankl, autor da Logosofia do qual indico o livro " A Presença Ignorada de Deus". Segundo Frankl, "a análise existencial descobriu, dentro da espiritualidade inconsciente do ser humano, algo como uma religiosidade inconsciente no sentido de um relacionamento inconsciente com Deus, de uma relação com o transcendente que, pelo visto, é imanente no ser humano, embora, muitas vezes, permaneça latente".

Estamos imersos em campos eletromagnéticos e acredito que, internamente, tenhamos sistemas, que interagem com os mesmos a nível vibracional. Penso que, desintegrado o "sistema biopsicoeletroquímico" no instante da morte,  e liberada a "energia do estado biopsicoespiritual" ocorre a conexão com a "memória subatômica e a energia cósmica da vida do Universo". Acredito que, ante a dualidade do modelo quântico de "ser partícula-onda", que a morte, desintegração física de partículas, é a passagem ao estado quântico de ondas, com ascensão da alma ao "mundo cósmico onde impera a energia vibracional".