quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Como a alma humana continua a reclamar?

Cada um tem condições de fazer recortes sobre as circunstâncias que o cercam, lembrando sempre que lhe cabe arcar com a responsabilidade sobre as consequências de possíveis leituras interpretativas sobre os mesmos e que isso implica reaprender a ouvir as queixas de sua alma, ante a percepção do desequilíbrio e desalinhamento de suas energias internas eletroquímicas e "magnetosubatômicas" (ou "vibracionalquântica").

O mesmo cabe à representação de cada data estipulada socialmente, que ganha peso para uma pessoa, conforme a amplitude de significados, que ela possa lhe atribuir. Por exemplo, a meu ver,  uma data a ter comemoração digna, e que deveria ser mais significativa e duradoura, como elo integrador de um casal que se ama, seria o namoro. Relegada ante a correria,ou possível monotonia, da vida cotidiana e menosprezo do cultivo constante da vida a dois, poucos a ela se dedicam e a consideram como "afrodisíaco", a incrementar positivamente a relação do casal.

Outra seria a data comemorativa dos aniversários, como representante da passagem de mais um ano de vida e a possibilidade de poder avaliar a página virada na história de vida pessoal; ao mesmo tempo que faculta ao aniversariante se defrontar com a página em branco, que corresponde à do próximo ano de vida ainda a ser trilhado, página vazia a ser escrita pelo aniversariante... e só por ele. Vale, no entanto, sempre a torcida para que suas escolhas - e são só dele - lhe tragam felicidade. Nesse sentido, cumprimentos deveriam agregar também a "torcida para que escolhas possam trazer alegria para a alma do aniversariante, sem a qual mais um 'níver' não é nada", não passa a ter significado relevante para quem o comemora!

Ao pensar na aquisição de sabedoria do viver em meio à "crise de conflitos vários nos dias atuais", não há como não relembrar dos gregos, em suas reflexões sobre a conquista interior de uma boa vida, em especial Platão. Destaco o Mito da Caverna e justifico a seguir. É visível, no mundo atual, a carência de verdadeiros filósofos e políticos. É evidente para ocultar tal fato, a destruição dos patrimônios culturais, o assassinato de parte da História, a prisão de cidadãos acorrentados por leis obsoletas e protegidos por uma Justiça cega e parcial, opressiva e desumana.

Muitos não ousam se enquadrar na categoria de "filósofos", embora aí se enquadrem pelo "Amor à Verdade" e "Sabedoria no Viver sob as leis da Ética". Ser filósofo se é por natureza, como se é músico ou poeta. "A filosofia é música, que se faz com a alma, na dimensão insonora do invisível", é uma frase que muito me marcou, cuja autoria desconheço. Minhas reflexões, articulando com o pessimismo que cerca nossa visão de mundo e de homem, no momento atual pleno de catástrofes naturais e violência contra a humanidade, me encaminham a aproximar o filósofo do político, do verdadeiro político, responsável pelo bem estar da polis, por bem administrar os interesses do coletivo.

O "ente político" é conquista do conteúdo cultural humano, "fruto da consciência madura"; não nasce político e sim "se faz"; não é espontâneo, é "factível". Ser realmente político é se preocupar com o bem coletivo, e decorre do alcance de processos de autoconhecimento, formação moral e liberdade.

Sendo assim, o filósofo é aquele que consegue se soltar das correntes que o mantinham preso dentro caverna imaginada por Platão. Aquele que liberto, ousasse sair (da letargia e massificação), caminhasse em direção ao feixe de luz ( tomasse consciência da Verdade de sua existência), e com audácia descobrisse que o que observava e julgava como Real dentro da caverna, nada mais era que Ilusão de sombras e sons projetados ( como ocorre no cinema dos dias atuais).

Filósofo é aquele que, com coragem, suportasse a angústia do encontro com a Verdade pelo confronto com o mundo exterior que o desconcertaria, cegaria pela amplitude das luzes, que poderia enlouquecê-lo. A esse dois caminhos restaria, voltar à escravidão e se acomodar novamente às sombras e aos ecos, acalentando a dor angustiante de suas reflexões; ou, por "amor a seus semelhantes", procuraria adaptar seus olhos à luz pura e seus ouvidos aos sons e vozes reais, retornaria à caverna e buscaria explicar aos demais a ilusão em que viviam, procurando que "acordassem para a realidade que existia à sua volta". Para Platão, esse é aquele que, além de filósofo, resolveu ser político pelo bem de seus semelhantes, na luta por uma sociedade de seres, que pudessem libertar suas almas do cativeiro interior, e mais felizes e livres pudessem realizar suas próprias escolhas, alinhando-as à conquista da alegria espontânea de suas almas.

A História nos evidencia, no momento atual, as regressões na evolução humana, chegando as vias de involução do ser racional que a caracteriza. A História, que políticos buscam assassinar com suas distorções dos fatos reais e suas montagens fictícias, nos faz refletir se o mundo atual justifica o pessimismo. E não é que parece que o tempo parou, ao reler postagens de 2010, de 2009... Novas tecnologias, máquinas do tempo, proximidade de teletransportes, robôs humanóides substituindo verdadeiras funções e emoções do homem neste século 21... para quê? Primeiro torna-se emergente usar com sabedoria nossa capacidade de imaginar, para depois criar e inovar...


Reforço de: O mundo atual justifica o pessimismo?

Muitos justificam seu pessimismo ante o mundo atual, realçando aspectos de nossa sociedade como: a violência e a falta de amor, a corrupção e devida impunidade, a descrença no ser humano robotizado... (A primeira postagem com esse título data de 09.12.09).

Interrompo parte dos discursos negativos e desesperançados, e recorto contextos dessa paisagem para refletir sobre alguns aspectos, como sobre o reconhecimento da lavagem cerebral das pessoas que se permitem viver a vida sob a perspectiva da rede televisiva, imóveis em seus sofás, sentindo emoções -reais para si -ante cruéis noticiários de catástrofes e perversões, várias no leque de assassinatos e estupros, descritos detalhadamente e perversamente.

A meta visada é, acima de tudo,  manter acesa as curiosidades mórbidas e prender a atenção daqueles responsáveis pelo ibope da emissora. Em segundo plano está a preocupação com o bem estar do telespectador. É uma pena que, cada vez mais, aumente a parcela de pessoas que se sente atraída pela espetacularização acima da veracidade dos fatos.

Por que muitos aí permanecem sem emitir nenhuma reação humana de crítica e bom senso, se contaminam e se intoxicam com a morbidez dos noticiários?

Aí vem a queixa: "Este programa está me fazendo mal!" ; "Estava me sentindo bem, agora me sinto aflita e preocupada." ; " Como viver nessa sociedade?" e por aí vão os lamentos.

Mesmo percebendo suas alterações metabólicas, as pessoas não ousam ações mais contundentes como interromper no momento o contato, desligando a televisão. Mais grave ainda, permanecem na inércia, como que hipnotizadas mesmo tendo a percepção de que lhes é passada uma visão imperfeita do quadro social. A bola de neve da sociedade virtual em que vivemos é inflada pelos julgamentos distorcidos decorrentes de interpretações discrepantes do contexto focado.

O grande perigo é que além da inércia mental, responsável pela formação de robôs humanos, e do envenenamento psíquico, por muitos quadros depressivos, os programas televisivos passam a dar sentido as suas vidas.

Mas por que preencher assim o vazio de suas existências e entorpecer sua alma?

Será que a resposta não está no "para que ela não reclame de sua exclusão no viver dessas pessoas"? É da alma que vem nossa alegria de viver, nosso amor pela vida e pelas pessoas, nossa esperança. É dela que vem nossa sensação de liberdade e de felicidade. Atualmente as pessoas preferem amordaçá-la e tampar seus ouvidos a seus apelos. E quantos não evitam ouvir esse lado do seu "querer" inato e autêntico!

Então, como sua alma reclama?

Já sentiu sensações de desconfortos e angústias mais profundas, que surgem do "nada"? Já se viu tomado por quadros sintomáticos de doenças físicas ou psíquicas, sem causas tão aparentes?

Observe o que se passa dentro de você. Sei que não é fácil adotar uma postura introspectiva e ainda se permitir uma autorreflexão sobre o que lhe ocorre; sobre como pode mudar para viver melhor e efetuar as alterações necessárias para isso.

Grande parte da mídia busca maior envolvimento popular através de enfoques apelativos, refletindo uma realidade que parece não ceder lugar para o otimismo e a esperança de um mundo melhor. Essa reclamação é constante nos consultórios e mesmo em conversas do cotidiano das pessoas. Mas por que as pessoas se permitem ser envolvidas, ou melhor, se envolver e fazer parte como atores do espetáculo social? Por que não atuam como agentes sociais de mudança contribuindo para alterar esse quadro desgastante ao ser humano?

Como profissional, eu a ouço mais como um grito de socorro e a observo como uma constatação do desamparo interno do homem, sua fragilidade e insegurança sobre sua capacidade de se bancar em suas mudanças.

Como toda moeda, grande impotência manifesta também traz grande potência encoberta. Eu preferi reconhecer o lado cara, necessários aos papéis que desempenhamos no palco da vida, mas me aproximar da coroa, e nesse lado humano reconhecer minha hierarquia como indivíduo.

Aí é avaliar os custos e os benefícios. A economia da matéria psiquica não difere tanto da matéria visível (vide minha primeira postagem de 2008 "Otimização dos recursos humanos").

Muitas vezes sou considerada idealista ao refutar duramente assertivas que endoçam o desamparo humano e a posição de vítima ante uma sociedade tão inimiga do homem. Será?

Como não, se o aprisiona nas algemas da impotência pela falta de uma defesa social e pessoal eficazes, e meios mais ativos de preservação de seus direitos como cidadãos?

Reconheço que a Justiça ainda está vendada pelos instrumentos burocráticos, que aumentam as distorções da realidade.

Observo que a lentidão de soluções legais, é reforçada pelo desrespeito e descrédito na justiça dos homens, atualmente sem forças para desatar suas mãos de leis e códigos obsoletos e novamente segurar a balança do equilíbrio.

Constato a dificuldade no empenho da manutenção de atuações transparentes, justas e equânimes, em busca da verdade e preservação de uma sociedade humanística.

Reconheço que ainda se privilegia o cuidado de uma máquina social que, há muito tempo, solapou de suas engrenagens a figura humana.

Porém, também reconheço que o mundo é feito por todos nós "seres humanos e pensantes". Mais ainda, que acima do pensar está o sentir humano, ambos atrelados a uma inteligência e a uma consciência, com seus respectivos níveis de entendimento e compreensão.

E não me canso de repetir que cabe a cada um de nós estar em constante vigilância sobre nosso mundo interno, controlar nosso agir, comandar nossas atitudes e pensamentos, tolerar nossos afetos, respeitar nossas emoções e aprender a conviver pacificamente com elas.

Cada vez que desativamos esse controle, deixando-nos envolver pela realidade que nos é imposta, nossa visão é turvada e nossa percepção é distorcida, passamos a lidar com a qualidade negativa de energia que permitimos que nos envolva, e reagimos de acordo com ela.

No entanto, ao entrar em sintonia, buscando equilíbrio e paz interior, passo a considerar com maior atenção meu papel na sociedade, minha liberdade de escolha sobre como atuar dentro dela, minha responsabilidade espalhando amor, união, credibilidade, ou incrementando a discórdia, a rivalidade, a competição... ou cruzando os braços e passivamente contribuir para a manutenção do caos mundial, que já se alastra tão aceleradamente sem barreiras contensivas representativas até o momento.

O ser humano tem o potencial de força, que mobiliza o seu querer, e a autonomia criativa para interromper e superar o processo de desumanização que o cerca.

É alcançar sua liberdade interna e partir ao encontro de se dar um presente feliz. Vale o duplo sentido!

Aurora Gite
14.04.2010
10:55




sábado, 9 de janeiro de 2016

Processo ensino-aprendizagem no milênio

Uma de minhas inquietudes e grande preocupação atual?  

E o que dizer da mudança no ensino?


Há tempos alterações no processo ensino-aprendizagem demonstravam como os métodos didáticos se encontravam obsoletos para atrair a atenção e despertar a curiosidade dos alunos. Foi-se o tempo que docentes entravam em salas de aula protegidos atrás de seu material previamente elaborado com informações já selecionadas - mesmo que bem planejadas - e estratégias de ensino delineadas passo a passo para melhor assimilação dos alunos. Mas informações estanques, segundo sua visão de homem e de mundo, sem aplicabilidade prática para o momento atual do aluno - eram mais um fator que não mobilizava o engajamento do aprendiz no próprio processo de aprendizagem. Informações que, por vezes, se constituíam maçantes para muitos, que não são atraídos pelas perspectivas históricas que culminaram na sociedade atual, mais voltados para resultados práticos em suas vivências cotidianas. Poucos trazem consigo um querer inato, voltado a um aprender contínuo pela vida afora, curiosos com as lições, que a própria vida lhes traz em vivências, que fogem ao seu controle.

Até hoje me questiono o pouco interesse dos últimos Governos, com o planejamento da Educação voltado à época digital, onde não cabem mais as grades curriculares que compõem o ensino em qualquer nível atualmente, muito menos o pouco caso com os que orientam ativamente a qualidade da informação a ser assimilada e incorporada, visando mais a manutenção do "status quo governista" que a integridade da formação da personalidade dos alunos. Essa não só ocorre a nível cognitivo e comportamental, mas ética e espiritual no sentido de despertar a vontade de aprender e o querer evoluir e se aprimorar como indivíduo, depois de tornar-se pessoa com espaço dentro do coletivo, ou do social, onde estão inseridos.

E caímos na eterna inquietude do "Conheço quem sou; sei que existo... mas o que é que vou fazer com isso? Como me engajar no mercado de trabalho que inclui padrões e exclui os divergentes, mesmo sabendo que deles advém as inovações? Como suportar as pressões e a solidão pela falta de inclusão social se não obedecer a disciplina submissa imposta para a manutenção do "status quo" vigente, da classe social dominante, dos que estão no Poder (segundo a análise marxista ainda com seu peso no sistema capitalista)? Como tolerar passivamente atitudes perversas de roubos do capital intelectual, por parte de autoridades, que se atribuem a autoria de projetos e pesquisas, e acumulam os lucros dos reconhecimentos pessoais?

Acredito que uma das grandes mudanças no milênio é o prenúncio da queda do regime e da mentalidade capitalistas. O capital monetário, o acúmulo do lucro financeiro, a exaustiva vida competitiva e a concorrência desleal cedem cada vez mais seu espaço para o capital humano e os valores pessoais, voltados para o corporativismo, lealdade e fidelidade, baseados na cooperação solidária humanista de vínculos sociais fortalecidos pelo poder da união e pela força do amor social, que têm por metas ideais de igualdade, fraternidade e liberdade.

Palavras abstratas que se perdem ao léu, depois de serem pronunciadas? Será?
Será que é isso o que se observa na prática?
Concordo com Augusto de Franco (vídeo no Youtube: Viver em Rede, Viver da Rede) que o que mudou foi a natureza da sociedade, não só alguns aspectos envolvendo as relações sociais e de produção; o que alterou foi a configuração social, que ultrapassou o paradigma centralizado, deixando para trás, cada vez mais o descentralizado e se volta para o modelo distributivo de interações sociais priorizando as individualidades; o que acelerou a uma velocidade difícil de acompanhar graças às redes sociais, foi o fluxo da interconectividade e interatividade que trouxeram consigo nova visão de tempo e espaço sem limites definidos a partir de agora: vários mundos percebidos ao mesmo tempo, através da globalização; várias interações ocorrendo em tempo real, com a urgência do presente se impondo ao passado em suas recordações e ao futuro em suas expectativas; comunicações não-locais e em tempo presente - será que nos aproximam da Física Quântica?

Como deixar de lado minha hipótese de que Sigmund Freud, em sua genialidade, foi o primeiro a observar as interações subatômicas, as operações do mundo quântico dentro de nós, e as registrou sob os conceitos de energia instintiva e de aparelho psíquico? Como deixar de lado, ante tantas descobertas imagéticas, a leitura biomagnética e o reconhecimento do campo eletromagnético, percebido por Carl Jung em sua teoria da comunicação transpessoal, registro da sincronicidade, mundo vibracional de energias além do ego?

Alunos autodidatas, buscando na Internet os conhecimentos que mais lhe atraírem acuriosidade? Aprendizes atrás das informações que possam ampliar seus campos de atuação? Futuros profissionais disponíveis a se capacitar e a se aprimorar a cada descoberta inovadora, sabendo que reside nessa postura sua abertura de espaço no mercado de trabalho? A transformação do peso monetário para se conseguir boa formação, cai por terra com a comunicação digital globalizada onde mestres distantes se aproximam via internet, onde ensinos à distância entram no mercado competitivo e muitos professores se dispõem a valorizar as escolhas profissionais e sua missão de ensinar: ousam se expor saindo da frieza do lucro salarial (dentro da mais-valia marxista) e isolamento pessoal da relação ensino-aprendizagem dentro sistema capitalista, e caindo na valoração do calor da relação humana impessoal e desinteresseira, e da distante proximidade aconchegante do ensino atrás das telas digitais, dentro de sistemas, "comprovadamente", humanistas.

Sem sombra de dúvida, mudou o caleidoscópio das configurações dos papéis sociais e dos agentes diretos responsáveis por transformações sociais mais efetivas. Palavra de ordem é eficiência, é produzir resultados, mas também é alterar o tripé de sustentabilidade do "saber-fazer-acontecer" para o quarteto básico de uma pirâmide que garanta com segurança sua elevação ao pico da individuação, qual seja, o"querer-saber-fazer-acontecer". A invenção autêntica e criatividade inovadora encontram-se sob a égide desse tipo de engajamento pessoal, comprometimento efetivo com mudanças pessoais, inclusive, onde o "tornar-se pessoa" leva em consideração as "orientações rogerianas" (Carl Rogers),  só que voltadas para si mesmo, de"aceitação incondicional" de quem se é com pontos fortes e fracos, "congruência" ao defender os próprios valores éticos e potenciais inatos, e"empatia" consigo para desenvolver uma atenção compreensiva, escutar-se e respeitar-se. Palavra de ordem é um compromisso honesto e leal consigo mesmo, com seus valores morais e éticos pessoais acima dos valores sociais impostos pela sociedade em que cada um vive.

Aos professores, catedráticos teóricos mas pouco preparados e ineficientes na passagem para o pragmatismo eclético, esse sim, a meu ver, o mobilizador efetivo de questionamentos internos e motivador da coragem para ousar causar mudanças sociais, ou seja, na forma de se colocar perante a sociedade. Cabe a eles, em qualquer nível de docência, conviver nesse milênio, com a angústia de "não saber tudo", com a alegria ao perceber a mão dupla de aprendizagem que implica uma relação engajada entre aluno-professor, e ao constatar que o aprender humano envolve um aprimoramento contínuo pela existência.

O cadeado do baú de repressões, proibições e autopunições superegóicas, culpas autodestruidoras, profecias autorrealizadoras de ir contra o próprio potencial em prol de desejos outros,  se rompeu nesse milênio. A meta é "ensinar e ensinar-se a ser feliz como indivíduo". O objetivo é buscar ser livre, reconhecendo seu poder para escolher entre as várias possibilidades que surgem ao seu redor, e se responsabilizar por suas tomadas de decisões, sabendo que uma das grandezas do bem viver é o conjunto formado pela flexibilidade, pela reversibilidade, liberdade e serenidade para alterar as ações humanas. 

Como não reler "A Arte de Amar" de Erich Fromm?

O "amor" nunca vai poder entrar na categoria de "só isso"... ao enquadrá-lo dentro dos fenômenos que permeiam as relações humanas.

Relação terapêutica - ou uma experiência emocional corretiva - onde se expressa o fenômeno da transferência transpessoal é "amor". Esse conceito abstrato representa o fenômeno energético, amálgama de ligação vincular, observado como motor propulsor ou força para mobilizar a ocorrência de mudanças internas; para que quem ame se volte a buscar atingir seu melhor, contribuindo para que o outro na relação cresça; para procurar se capacitar para o cuidar respeitoso do outro ao bem administrar as diferenças; para se habilitar a gerenciar com afeto, paciência e tolerância, as conexões e interações que unem as pessoas, visando legitimar, na parte que lhe cabe, a harmonia nas convivências humanas.

Não seria o encaixe perfeito para situarmos a relação ensino-aprendizagem desse milênio?
Lúcia Thompson




quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Perigos na montagem dos currículos atuais, como não?

Preocupada com a formação da nova geração não só ante tantas inovações tecnológicas que a cercam, mas com o aprimoramento de professores, acresço agora a inquietação com a alteração de grades curriculares. Não é possível imaginar que permaneçam estanques a um passado com conhecimentos que, na prática se tornaram obsoletos, pois o mundo atual nos remete a aplicações diretas das informações assimiladas.

O ensinar e a forma de educar as crianças de hoje, para conviver com as transformações ocorridas no milênio, implicam grande dificuldade na montagem curricular. Não se pode deixar de lado que também são filhos da internet e da globalização.É preciso considerar a gama de informações que lhes chegam por essas vias e a amplitude de seus interesses. Considero importante a "construção do perfil do ser humano e do profissional que o milênio demanda", antes da aventura de buscar moldar nossas crianças, para que se enquadrem dentro do ensino enjaulado por grades curriculares que visam interesses, por vezes, escusos! Como aprimorar professores, sem esse perfil, se ambos estão entrelaçados e são inseparáveis?

É necessário a conscientização de que o senso de justiça da geração atual em formação, e a avaliação crítica sobre si mesmo e sobre o que a cerca, estão mesclados pelos valores das redes sociais a que suas crianças estão atreladas. Os "selfies" trazem consigo várias interpretações, além da mera superficialidade narcísica. O milênio demanda de empreendedorismo, auto-iniciativa que produza resultados eficientes e eficazes, visão de futuro onde a criatividade comande inovações desenvolvimentistas... sem esquecer a História que fez com que nossa civilização aqui chegasse, sem olvidar o ensinamento dos sábios pensadores gregos com seus valores e virtudes que representam as forças do ser humano em seu trilhar dentro do convívio social inclusive.

Nesse sentido, penso que os especialistas responsáveis pelos currículos deveriam incluir na formação desde o ensino fundamental, respeitando a devida didática - e não excluir como parece que é o que vai ocorrer - disciplinas como História, Sociologia, Ética, Direito, Psicologia Aplicada ... Deveriam incluir ensinamentos que não façam nossas crianças se esquecer de sua identidade histórica, nem a de seu país, nem a compreensão do encontro de forças culturais conflituosas, responsáveis pelo mapeamento histórico das nações da época em que vivemos.

Nossa sociedade não é só fruto de nossa genética hoje facilmente manipulada - outra preocupação a ser considerada pois não nos é possível calcular como será a geração que advirá dos clones, dos robôs e tantas outras aberrações... Também não é fruto só da tecnologia digital e de tantos "designs coletivos" que menosprezem os valores familiares e os substituam por padrões de comportamento, e formas de sentir as emoções, impostos por culturas. Com tantas transformações no milênio, não se pode mais desconsiderar o ser humano e sua condição de buscar ser livre e feliz, dentro de sua unicidade implantada no convívio coletivo. E abrir esse espaço no mundo líquido atual, sem ser mercadoria de consumo (como bem diz o sociólogo Zygmunt Bauman em seus 92 anos e sua extensa obra) não é fácil!

Acho que se torna de grande valia, como ponto de partida, para profundas reflexões, o que desenvolvi em "A Maratona dos Cientistas":

A maratona dos cientistas

Sempre imaginei os cientistas como aqueles desbravadores, muitos dos quais carregando nas costas o peso das novas descobertas, homens valorosos pela fé em seu acreditar e persistência em continuar investindo na busca da confirmação ou refutação de um saber intuído, "hipotetisado" por eles e, por vezes, ridicularizados pelos demais.

Fileira de formiguinhas, trazendo às costas o material de sobrevivência de sua espécie, obedecendo ao ritmo de cada uma das formigas, enfileiradas à sua frente, sem atropelos competitivos em seu caminhar persistente e sistemático.

Em meus devaneios, era o que ocorreria entre aqueles que se esgrimiam em seus argumentos defendendo ou criticando, na luta pela construção do mundo das idéias, que seriam aglomeradas em teorias científicas e que passariam a ser aplicadas racionalmente na prática em prol da humanidade. Assim, suas descobertas passariam a fazer parte desse "conjunto de conhecimentos sistematizados relativos a um determinado objeto de estudo" que vem receber o nome de ciência.

A ciência, no entanto, para espanto de muitos (inclusive meu), passou a ganhar "status" de algo concreto corporificado, personificado como entidade dotada de poder sobre o homem. Saiu do campo do abstrato, como tantos outros termos ideativos, e tornou-se - como a religião era antigamente - fonte de referência da verdade.

E se expandiu! A meta principal a ser atingida voltou-se para a obtenção e manutenção de poder. Não foi tão diferente do que ocorreu com a religião, agregada a instituições, onde os religiosos passaram a ter que se curvar ante um conjunto de regras a serem seguidas como estilos de vida, e dogmas a serem obedecidos sem questionar, se quiserem pertencer a categoria. Não mais prevalecia o valor das transformações interiores e da adoção de condutas éticas, mas o pagamento de dízimos e a absolvição por repetição de rezas decoradas. Hoje em dia, tem cientista para tudo. O homem passou a englobar, nesse termo, amplas áreas de conhecimentos vários. Um cientista passou a representar prestígio, fama para alguns, poder autárquico para outros.

Um parêntese, ou um lembrete de atenção, se faz mister. Tal foi o poder que o homem lhe atribuiu que tornou-se corriqueira a justificativa "Faço em nome da ciência!". A permissão para seguir adiante nos experimentos surge, não sei bem com que aval, mas sei que muitos experimentos se tornam até contrários ao bem comum da humanidade. Ops, e sei que as pessoas sabem, sabem reconhecer de onde vem a autorização. É só acompanhar o fio da meada e descobrem seu ponto inicial, mas terão que conviver com a dor da impotência e o confronto com a frustração e a raiva por se aquietar e brecar um agir ético; e isso incomoda tanto, que é melhor não insistir em observar a verdade que jaz oculta.

Quando pensava em ciência me vinha a imagem de uma maratona de cientistas, profissionais importantes na corrida em prol de novos saberes, um passando ao outro a tocha da verdade, com galhardia e orgulho, buscando no final o acender da tora que iluminaria as decisões humanas em prol de uma sociedade mais harmônica e feliz. O vislumbre esperançoso era o de contribuir para a expansão de uma sociedade onde o ser humano ganhasse em dignidade e auto-estima, a convivência usufruisse de mais paz, pelo respeito e tolerância ante as diferenças, e a raça humana mais serenidade, pelo "cuidar por amor" que se expandiria como consequência inevitável desse tipo de interação.

Como machuca se cair na real, podendo transitar no meio científico, principalmente sendo profissional da área da saúde mental. Anos passados fazendo parte, inclusive, de equipes institucionais nas áreas de pesquisa, ensino e assistência... Ops, essa ordem não deveria estar invertida?

Também penso assim, mas não é a realidade, que se pode constatar, ou se desejaria ajuizar, ainda. O que se observa são muitos, mas muitos mesmo, profissionais "de passagem" por instituições de renome, que buscam acumular conhecimentos nesse trânsito institucional e burocrático, se destacando em "especialidades", para aplicarem esse saber em seus consultórios particulares e tornarem seus nomes públicos para garantir aumento em suas contas bancárias, por "reconhecimento devido", conforme o ponto de vista que defendem. Justificativas que reportam a uma reflexão sobre a qualidade de seu ensino superior e à qualificação de seu aprendizado envolvendo o "como se tornar um ser humano".

O resultado dessa diretriz de ensino é bem diferente das máquinas registradoras pensantes, que se acumulam por aí. Calculadoras ambulantes, que visam sempre o aumento de lucros materiais, não abarcando a prazerosa gratificação obtida através dos benefícios morais multiplicados pela irradiação ambiental das atitudes virtuosas. Sua visão imediatista não se assemelha ao olhar do empreendedor da nova era. O termo virtude não está cadastrado, em seu lugar vem a mensagem do "não tem registro" nos arquivos mentais. A janela que surge em sua mente, com seu piscar intermitente indica a necessidade da vivência racional no mundo capitalista, distorcido para um frio acúmulo de riquezas materiais e o colocar sob vigilância e controle o perceptivo mundo sentimental, como se pensamento e sentimento não estivessem atrelados simbioticamente, residindo a chave mestra em seu gerenciamento adequado.

O quadro acima dificulta a administração justa e ética das incompatibilidades entre os meios acadêmicos e os profissionais que se quer lançar no mercado. Grades curriculares engessam a curiosidade espontânea, mola propulsora a ser fortalecida em qualquer cientista.

Os alunos, e os verdadeiros mestres, são enjaulados dentro de grades ideológicas poderosas, que delineiam pouco espaço ao saber em si, direcionando suas metas e avaliações a interesses outros, que não o de sanar, ou beneficiar, a demanda do "paciente social".

Na época atual, atribui-se ao ensino a boia salvadora do quadro social que hoje vivemos. A má remuneração e má formação dos profissionais docentes são citados como principal fator desse estado de anomia e violência. A realidade, no entanto, se incumbe de espelhar outro cenário, bem diferente do idealizado e divulgado, mas isso é para quem se dispõe a ver, a se confrontar com o que é refletido, com o fenômeno real.

O foco, para despoluir o social, recai então no saneamento da ignorância pela formação de profissionais qualificados. Uma reflexão mais apurada vai constatar o desvio da atenção do que se mantém por trás dos brilhos dos diplomas: o juramento sub-liminar de manter o "status quo" do poder institucional vigente e o aprisionamento do atuar ético dentro dos princípios de liberdade, igualdade e fraternidade. Uma análise mais acurada vai comprovar que ainda vigora, pela falta de fiscalização e impunidade, o QI (quem indicou) para a aceitação e aprovação dos mestres e dos alunos. O peso das "algemas da gratidão" se faz logo presente, pois a relação simbiótica entre os envolvidos com o "tráfico de influência" é fortalecida e vicia - é uma das maiores drogas da corrupção sociopática.

Projetos de ensino e programas didáticos de maior eficácia ? Ótimo, precisamos de inovações, "desde que" sigam as normas já estabelecidas. Mudanças no mundo demandando novas estruturas, novas estratégias de ensino, nova didática? Serão consideradas, "desde que" não alterem as regras já solidificadas. Ensino que pense na formação do aluno de uma maneira global, não somente cognitiva, em qualquer nível de aprendizado, que busque despertar sua autocrítica e que leve ao despertar interior de uma ética humana e ao cuidar do bem público? Só no papel, aliás é preciso mesmo ter um registro visível do empenho por transparência, verdade, justiça, humanização... Quer termo mais pomposo que esse? Agora peça para descreverem em que consiste uma ação de humanizar! E não se assuste com a resposta que vai ouvir.

O som das palavras e os afetos, que emolduram seus significados, pairando no ar já está de bom tamanho para os "ilusionistas educacionais". Todo esse aparato já serve de palco para ótimas encenações, peças criadas com conteúdos temáticos, que o povo curte apreciar. As pessoas têm até curtido serem enganadas! A mentira corrupta, que enfraquece o peso dos valores éticos, passou a ter efeito semelhante ao ópio e se tornou um vício. A vontade de lutar por ideais mais humanizados cada vez mais enfraquece e cede lugar para a inércia de quem se aposenta da vida, se permitindo ficar no papel de mero expectador, excluído como "agente responsável atuante" no que vai acontecer.

Ao se abrirem as cortinas, o cenário bem construído, os atores bem posicionados, o texto midiático bem definido, os óculos 3D distribuídos ao público, e o mundo virtual da ilusão contamina toda a realidade das pessoas que estão no local e dependem das circunstâncias para viver. Após seu término, o entorpecimento do pensar, manipulação bem camuflada contaminando a platéia, perdura por bom tempo, mesmo à distância de sua causação imediata. Tudo bem planejado e arquitetado!

Sendo assim, nem é preciso esperar a calada da noite, para se colocar em pauta, novamente, MP antes rejeitadas, ou tomar outras medidas políticas impopulares, mas geradoras de aumento de renda aos cofres públicos e , aos de algumas pessoas físicas, em especial. E isso sem encontrar grandes resistências em serem aprovadas nesse momento de torpor.

Ah. a arte de iludir! E como existem "cientistas na arte de iludir"! O fenômeno fascina, a paralisia deprime, a resiliência constrange. Aumentos de impostos e de salários, inclusive na proporção de 200 a 300% poderão ser confrontados, e defendidos como gastos de primeira necessidade, por aqueles "escolhidos democraticamente" para gerir a "coisa pública". E a defesa dos interesses do povo?

Ora o povo (outro termo abstrato, a que cada um atribui a imagem que lhe aprouver), ora o povo... não há de querer ver seus representantes mal vestidos e andando sem ser em carros de primeira linha. O povo não precisa viver de ostentação. Quer um exemplo? É só observar sua identificação virtual com o mundo "glamouroso" das celebridades. O povo vive através das vidas delas, basta ver a forma como reage ao que ocorre com elas. É criar ídolos que o povo desvia sua atenção para eles, e sossega!

Ora o povo, até a época de novas eleições já esqueceu tudo! Os experimentos científicos dos cientistas da ilusão podem desativar a memória popular. Qual verdadeira lavagem cerebral, ministrando soníferos através de pequenas dosagens de sonhos imprecisos e incertos, de promessas de prazeres duvidosos ou de ameaças, fomentando o medo de represálias, se utilizam desses métodos ilusionistas, com grande potencial de alterar as percepções, semelhante aos fármacos. Aplicados, nas vésperas das eleições, alteram quaisquer circunstâncias desfavoráveis ao poder vigente.

A cegueira que impede a leitura sobre fatos reais, o pouco interesse com o bem estar do povo, o enfraquecimento intencional do poder da livre-expressão popular, a fragilização manipulada da vontade espontânea, o gerenciamento da raiva - que surge pela impotência ante injustiças - devem ser trabalhados e bem disfarçados por um ensino eficiente.

Uma didática eficaz, nesse sentido, visa reforçar esse foco e centralizar a atenção na iluminação psicodélica ofuscante do "palco das ilusões". Os sonhos têm que parecer que se tornaram reais, função da "teatralização midiática". O poder de identificação com o conteúdo da peça, tal como nas novelas, se incumbe de, virtualmente, ocasionar a vivência das circunstâncias, sentidas na imaginação como prazerosas e felizes, e o suportar as reações metabólicas reais, condizentes com esse estado psíquico. Na realidade, porém, essas vivências não se assentam no chão, pedregoso e esburacado, pelo qual os pés do povo transitam, e são lesionados, no mundo real.

O que mais leva esse aglomerado de pessoas, essa multidão; esse grupo de indivíduos que formam uma nação ou vivem numa mesma região; esse conjunto de pessoas da classe menos favorecida, essa plebe - escolha a definição do dicionário com que mais se identifique - o que leva o "povo" da sociedade contemporânea, a optar por estar assim vivendo o momento atual de sua existência ?

Para quem não conhece, indico a leitura do "Mito da Caverna", de Platão. Muitos se enfileiram para adentrar e ocupar seu lugar dentro dela. Deixam-se aprisionar sem resistir... O que os leva a isso?
Lúcia Thompson