domingo, 5 de maio de 2019

Engenharia robótica e alienação humanóide

Ante circunstâncias atuais e nossa política capenga, como não recordar de Hannah Arendt?

SEGUNDA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 2014

Mais uma vez Hannah Arendt, por que não?

Há algum tempo nosso quadro sociopolítico tem atraído minha atenção, e não é sem espanto que acompanho todo o processo de alienação atual. 

Pessoas preguiçosas em seu 'pensar por si', tendo por referência padrões sociais massificadores, menosprezando o grande desconforto que contamina a si e grande parte dos que estão ao seu redor, se escorando na covardia e não ousando mobilizar a coragem necessária para correr o risco de saindo do lugar de vítimas, enfrentarem e interromperem o 'status quo' desgastante. 

Mudar padrões de submissão vigentes, e se colocar na posição de agente social efetivo de mudanças eficazes, são como quê, as palavras chaves e o processo central da dinâmica, que custa a emergir e encontrar expressão social, visto o vozerio popular, já gritar por socorro para não sucumbir de vez às zonas de conforto da tutela do "poder totalizador" (semelhantes aos das grandes ditaduras, dos regimes fascistas e nazistas- Arendt os descreve bem, inclusive por tê-los vivenciado):

 * o "fenômeno do lulismo", ou da abrangência, a cada dia ganhando mais espaço social, de um "regime totalitário" centralizador dos processos decisórios, controlador do marketing e da difusão de ideias, mais e mais distorcidas, de uma esquerda antes preocupada com o bem coletivo, pois hoje se tornou um movimento partidário que se preocupa mais em unificar diferenças, amordaçar a voz dos discordantes, atropelando a verdadeira política,

* a "robotização humana à mercê das ideologias partidárias", que mais e mais tendem a implodir uma frágil democracia, tentando se equilibrar para fortalecer seu caminhar, visando incluir ampla participação popular nos processos decisórios da nação e resgatar o espaço para que a voz dos cidadãos seja ouvida e respeitada,  

* a "convicção, ou crença, de atuarem com dignidade e posturas éticas partidárias", como é o caso de um dos mensaleiros, que prova viver sem grandes ostentações e demonstra, no seu caso, ausência de desvios de dinheiro visando vantagens pessoais, valia a honra de tudo ter sido feito pelo partido político, 

* ministro do mais alto escalão do judiciário, por perfeccionismo burocrático, com vaidosa pompa e ilustre verborragia na defesa de leis, esvaziadas da verdadeira justiça por não mais condizerem com a realidade social, surdo ao quase maciço clamor público, vota a favor daqueles que comprovadamente lesaram o social; embora atento à certeza de que medidas como embargos, serviriam para manipulações perversas questionáveis de profissionais que, não se omitiam de manobras afrontosas ao próprio Direito e à Justiça, se bem remunerados,

* por aí pode-se discorrer sobre vários fatores que lesam o quadro social com sua impunidade, favoritismo e nepotismo, opressão escravizante pelos altos impostos cobrados dos cidadãos e pouco retorno de benfeitorias sociais, podem ser relacionados evidenciando os motivos da insatisfação popular com um governo, que peca pela má administração do patrimônio público, pela falta de habilidade nas negociações políticas, pela dificuldade de lidar com divergências ideológicas e articular argumentos ideativos sem se utilizar de barganhas e favores ilícitos, por envolverem a falta de transparência e uso indevido do que é público.


Aí me volto a Hannah Arendt (1906-1975), ante minha inquietação e indagações sobre até quando persistirá nossa desumana degradação social, até quando ainda irá ocorrer essa "alienação e descomprometimento social com mudanças", quando emergirá um verdadeiro líder político, que possa resgatar os valores que mantém uma sociedade unida e íntegra moralmente falando? 

As ideias de Arendt ressoam em meus ouvidos: 

* "A Política baseia-se na pluralidade dos homens devendo, portanto, organizar e regular o convívio dos diferentes... Ela surge não no homem, como afirma Aristóteles, mas sim entre os homens."

* "O sentido da Política é a liberdade... A liberdade e a espontaneidade dos diferentes homens são pressupostos necessários para o surgimento de um espaço entre eles, onde só é possível a verdadeira Política...A Política tem uma dignidade própria"

* "A Lei produziu o cidadão, agente de mudanças sociais. Arendt destaca, no entanto, a distância entre a intenção e o discurso, que além da capacidade da retórica, envolve a faculdade de persuasão e o poder de convencimento. O discurso é que faz do homem um ser político. O que os homens fazem, pensam ou experienciam só têm sentido (significado) na medida em que podem ser discutidos entre eles." 


E eu a me perguntar de onde surgiria o líder pacificador no momento atual, que tenha condições, com a força de seus argumentos, de mobilizar a desalienação popular e agregar a coragem de várias mentes pensantes e autônomas, com cacife para bancar suas individualidades e sua vontade de lutar, tendo por armas a credibilidade de exemplos em seu modo de viver, reforçada por argumentos convincentes e irrefutáveis na pontuação de vantagens, em prol da defesa do Regime Democrático de Direito ? 

Aqui associo (coincidência?) as circunstâncias atuais com o movimento da Revolução Francesa e sua eclosão ante o clímax da insatisfação popular... degradação humana, escassez e fome... lançamento de pães, que não mais saciavam a ânsia do povo, que não mais escondiam seu furor ante a falta de reconhecimento a suas necessidades básicas de sobrevivência, que não mais encobriam o desprezo pelo pouco caso e pela opressão humilhante, pela forma como a realeza menosprezava a condição humana, em seus pilares de sustentação: a liberdade, a igualdade e a fraternidade, que vieram a se constituir em lema da Revolução.


E lá vem Hannah Arendt mais uma vez!

"Entre o Passado e o Futuro" , não é um livro fácil de ser lido, mas nos confronta com algumas verdades dentro de perspectivas pouco comuns.

Arendt chama nossa atenção para o erro da "engenharia das relações humanas" e sua forma ineficiente de lidar com a "administração das questões humanas". Combate a maneira de "tratar o homem como um ser inteiramente natural, cujo processo de vida pode ser manipulado da mesma maneira que todos os outros processos (artificiais).

Aponta o perigo do mundo atômico em seu agir na natureza, onde "não são mais as ações humanas, mas o mútuo relacionamento que pode mudar e muda historicamente"; onde "o geral confere sentido e significação ao particular". Para ela, " processos invisíveis engolfaram todas as coisas tangíveis e todas as entidades individuais visíveis, degradando-as a funções de um processo global... levando ao desencanto do mundo ou alienação do homem". Nesse sentido, "o processo (abstrato) é que torna por si só significativo o que carregue, adquirindo um monopólio de universalidade e significação".

Nessa moderna maneira de pensar, "nada é significativo em si e por si mesmo, nem mesmo a história e a natureza tomadas cada uma como um todo". E eis o homem atual entregue a um agonizante desamparo e profundo desespero.

Ao mesmo tempo, nos confronta com a oposição entre a prática e a teoria; entre a vida sensível e perecível, envolta pelo "erro e ilusão dos olhos corpóreos", e a verdade permanente, imutável e supra-sensível, cuja compreensão é guiada pelos "olhos do espírito, ouvidos do coração e luz interior da razão". Esses opostos "somente tem sentido e significação em sua oposição" e não por si sós.

A articulação de ideias de Arendt, em sua análise histórica e perspectiva filosófica e política, me fascina e me enche de esperança em um futuro melhor para a humanidade.

Assim segue a autora, em suas reflexões: "É como se Platão estivesse dizendo a Homero que não é a vida das almas incorpóreas, mas sim a vida dos corpos que tem lugar em um mundo inferior; comparada com o Céu e o Sol, a Terra é como o Hades; imagens e sombras são os objetos dos sentidos corpóreos, não o ambiente das almas incorpóreas. O verdadeiro e real é, não o mundo em que nos movimentamos e vivemos e do qual temos que partir na morte, mas "as ideias vistas e apreendidas pelos olhos da mente". É como se o mundo interior do Hades houvesse ascendido à superfície da Terra."

Continua traçando um "paralelo entre as imagens da Caverna de Platão, em sua parábola, e o Hades de Homero - os sombrios, irreais e insensíveis movimentos das almas no Hades - que correspondem à ignorância e inconsciência dos corpos na Caverna".

Recorda o Mito da Caverna de Platão, onde a cada reviravolta do homem ocorre a perda de sentido e orientação, onde " os olhos ajustados são ofuscados pela luz que ilumina as ideias, necessitando reajustar-se; e os olhos ajustados (posteriormente) à luz do Sol, devem reajustar-se à obscuridade da Caverna".

Relembra esse mito onde em uma primeira reviravolta os habitantes da caverna, presos por grilhões que os obrigavam a ver somente a tela à sua frente, com as sombras e imagens projetadas, quando deles se libertam e se voltam para o fundo da caverna se deparam com um fogo artificial que ilumina as coisas dentro da caverna tais como realmente são. A segunda reviravolta está atrelada à saída de caverna para o céu límpido, onde as ideias aparecem como as verdadeiras e eternas essências das coisas na caverna, iluminadas pelo Sol, a ideia das ideias, que possibilita ao homem ver e às ideias brilhar. A terceira decorre da necessidade de volver à caverna, de deixar o reino das essências eternas e novamente se mover no reinos das coisas perecíveis e homens mortais.

Assim para Hannah Arendt, os homens socializados decidiram jamais deixar a "caverna" dos assuntos humanos quotidianos, se permitindo a atitude de "espanto face ao que é como é".

Eis porque defendo o espaço para que os "unicórnios" (princípios virtuosos éticos) se aproximem e possam se agrupar fortalecendo nossos campos mentais, iluminando a riqueza ética do mundo psíquico dos seres humanos, propiciando interações harmônicas e respeito às diferenças individuais, metas públicas voltadas ao bem estar coletivo, convivências políticas mais serenas, onde reine o bom senso e a diplomacia nas negociações que envolvam questões sociais conflitantes.

Eis porque entrego a vocês como presente uma ampulheta (vide blogs anteriores), outra forma simbólica de representar o tempo na atitude interna da transcendência humana implícita na caverna, sua saída e posterior entrada buscando propiciar que os demais possam se libertar da condição de escravos e, por livre arbítrio, possam vir a constituir - ao abandonar a sua alienação dentro de um mundo fictício, frágil e superficial por ser tão artificial - uma "sociedade realmente humanizada".

Aurora Gite
* (2009 ou 2014...recorram à carruagem do tempo e observem como as ideias de Arendt fazem parte da paisagem que pudemos, e podemos, contemplar através de suas análises sociopolíticas, que envolvem a condição humana)

Nova Instância Psíquica

QUINTA-FEIRA, 30 DE JUNHO DE 2011

Outra instância psíquica? Será?

Outra instância psíquica? Será? Minha intenção com esse título é mobilizar a reflexão do leitor leigo, e também motivá-lo, como ser humano, a investigar em seu psíquico os movimentos que ocorrem ante o que exponho. Minha expectativa quanto aos profissionais, da área psíquica e afins, é que cruzem dados e analisem com os que já possuem, lembrando que o ser humano é um só, e, o que for verdadeiro sobre ele, pode ser observado sob várias perspectivas.


Tudo começou com grande inquietude, revendo teorias ocidentais e orientais, buscando explicações que justificassem experiências de várias pessoas, inclusive minhas. Há muito pouco tempo tais experiências se tornaram objetos de estudo, e assim mesmo com restrições e descréditos preconceituosos. Há muito tempo as pessoas ousaram se expor e colocar a descoberto a experiência por que passaram sem serem taxadas de loucas, ou se considerarem portadoras de algum distúrbio mental.

Por outro lado, sempre me causou estranheza a variedade de teorias e o antagonismo, propagado ferrenhamente por seus defensores, sobre o ser humano. Tais radicalismos produziam, a meu ver, um reducionismo na visão do mundo psíquico do homem, e grande viés na leitura e interpretação dos dados pragmáticos. Fenômenos observados na prática clínica tinham que ser encaixados nas molduras teóricas preexistentes. O recorte sobre o ser humano tinha que se adaptar a esses enquadres conhecidos e avalizados. Os que nele não cabiam, ou eram modelados, ou eram excluídos e desprezados; mais ainda eram desqualificados, por não estarem dentro dos critérios científicos atuais.

Com a globalização, a era digital, novas tecnologias propiciando acompanhar passo a passo o funcionamento cerebral, surpreendentes descobertas sobre o genoma e a clonagem humana... e eis, nesse milênio, paradigmas e mais paradigmas dando cambalhotas e mais cambalhotas sem conseguirem se erguer ante a evidência do novo, que impõe outros modelos teóricos e busca imperiosa de outra conceituação, para se obter compreensões adequadas sobre os fenômenos observados.

Enfatizo o perigo de tentar abarcar a realidade e tentar trocas dialéticas sobre ela, buscando o uso de conceitos comuns. Infelizmente o mundo conceitual se tornou uma Torre de Babel , onde os signos da palavra passam a ser lidos da mesma forma, mas seu simbolismo e representações adquirem tal diferenciação de significados, que poucos se entendem. Também não se dão ao trabalho de estabelecerem os pontos referenciais de onde partem suas idéias, ou as perspectivas onde se colocam para emitirem seus pontos de vista. importante critério para colocar ordem na dialética dos discursos humanos.

Dando continuidade a minhas pesquisas, buscando comprovar minha hipótese de que a energia psíquica está atrelada á biofísica quântica, me deparo com a possibilidade da existência de uma outra instância psíquica, além do id-ego-superego freudianos.

Tal proposição me coloca em posição mais confortável podendo aproximar tantas mentes pensantes de personalidades geniais que se distanciaram, pois ao não se colocarem dentro da perspectiva do outro, não viam com encaixar seus pontos de vista também baseados em evidências clínicas e pessoais. E, ficava eu a refletir, onde está o sujeito psíquico, qual o lugar ocupado pelo ser humano no meio de tanta divergência. Mais ainda, seguindo minha intuição e me permitindo ser livre e pular de perspectiva a perspectiva, observava sob o referencial de cada um e constatava as evidências práticas, ousando testar suas técnicas operacionais na relação terapêutica, comprovando seus efeitos sobre meus pacientes e sobre mim mesma.

Minha proposta é que existe uma instância psíquica, só observada ao se deslocar o investimento das funções superegóicas. Considero a existência no sistema psíquico de duas vias, por onde circulam a energia, como ocorrem nos sistemas circulatório e respiratório. Penso que Piaget teria prazer em renascer para registrar as características da forma operacional contida nessa inteligência.

Para mim, libido (Freud) e energia psíquica (Jung), fazem parte do mesmo processo energético humano, se diferenciando pelas perspectivas sobre o ser psíquico. Pelo processo de individualização partimos do "não-ser psíquico" para a formação da personalidade, de nossa maneira de ser, e construção do nosso "ser e existir como sujeito", a ser transcendido por uma alquimia interior.

Através dessa transformação na qualidade da energia, ela é direcionada a uma "instância espiritual". Nova via de circulação da energia psíquica buscando o encontro do "Ser Psíquico" com sua autenticidade, liberdade e autonomia de ação, que tende a se dirigir ao "Não-Ser Psíquico", que não consiste em sua negação, mas na afirmação de nossa potência energética original.

A compreensão do "Ser" espiritualizado demanda novo aprendizado sobre sua simbologia (linguagem quântica?) e novos recursos interpretativos. Considero o "processo de individuação", enfatizado por Jung, como base para a "espiritualização", onde podem ser observadas novas capacitações humanas e diferentes operações psíquicas funcionais, voltadas a habilidades específicas como intuir, captar sensações e percepções superiores.

Penso que o processo de espiritualização tem a ver com a canalização da energia psíquica re-catexizada por novos valores: origem do Ser Espiritual Moral, característico da "instância espiritual". Aqui diferencio a moral superegóica da Moral Espiritual.

A primeira, moral superegóica - rédea externa ao "ser" - constituída pelo conjunto de regras e costumes, ditado por fatores externos ao indivíduo, com sua função limitadora do "eu" em sua inserção no social, facilitadora da convivência do indivíduo dentro da comunidade, mas criadora de um "querer", que depende de uma "vontade condicionada" ao livre arbítrio" desse indivíduo, para decidir e optar entre caminhos, que lhe são "oferecidos pelo mundo relacional à sua volta".

A segunda, Moral Espiritual, pertencente ao campo das "Virtudes", que, a meu ver, são valores espirituais advindos de fonte interna - essência do indivíduo - e que se constituem em forças intrínsecas, que o mobilizam a atuar de acordo com esse querer autônomo, essa "Vontade Livre" do espírito (da psique humana), que, por si só, se constitui na "disposição tensional para querer" que motiva o indivíduo a buscar se superar continuamente.

Como estamos diante de uma inteligência que se propaga por vibrações ondulatórias (quânticas?) - sincronias energéticas ou dissonâncias psíquicas - pesquiso, no momento, dados sobre o processo eletrolítico dessa alquimia. A água, por nós ingerida, tem a capacidade de aumentar as sinapses entre os neurônios... quantas hipóteses podemos construir, a partir daí, considerando o bioeletromagnetismo humano?

Aurora Gite