sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Saudade do que poderia ter sido e não foi...

Ao constatarem quem é o autor dos poemas abaixo, não estranhem!
Eles bem representam a opção de um momento vivencial, uma circunstância de vida, uma história existencial, uma lembrança mantida viva, uma fonte de satisfação e orgulho por escolhas feitas.

Algumas vezes me pego refletindo sobre quantas pessoas tiveram na vida um encontrão, do qual resultou uma certeza de que valeria a pena ter investido nessa relação, e dela fugiram? Mesmo ante circunstâncias favoráveis ao redor, na época da ocorrência, se amedrontaram e não confiaram na própria capacidade de construir uma convivência serena, debaixo de uma cumplicidade fiel e leal?

Acredito que muitas conhecem a dor da saudade, do que poderia ter sido e não foi ...
E carregam dentro de si a tristeza da sensação de alguém , que poderia ter sido tão significativo em sua vida, estar tão longe, distante...
E convivem com o paradoxo da alegria de senti-lo tão presente dentro da ausência.

No entanto, poucas carregam no peito o enorme prazer de perceber, e constatar, semelhanças.
Sintonia e sincronia de valores e virtudes, que pouco sobressaem numa sociedade como a atual. O que faz valer a frase popular: "É como encontrar uma agulha num palheiro".

É difícil se enganar ante as evidências de pontos em comum, como o resgate da "dignidade humana"; a luta pelo "ser livre e feliz"; o fascínio pela "verdade e justiça", "amor e solidariedade"; o desejo de contribuir para o "bem estar social".

Esse é o espírito que envolveu a escolha desses poemas sobre o "Amor". Eles bem representam, a meu ver, o maior perigo num envolvimento amoroso:


"Amor é fogo que arde sem se ver"

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence, o vencedor,
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade;
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?"


"Se pena por amar-vos se merece"

Se pena por amar-vos se merece,
Quem dela livre está? Ou quem isento?
Que alma, que razão, que entendimento
Em ver-vos se não rende e obedece?

Que mor glória na vida se oferece
Que ocupar-se em vós o pensamento?
Toda a pena cruel, todo o tormento
Em ver-vos se não sente, mas esquece.

Mas se merece pena quem amando
Contínuo vos está, se vos ofende,
O mundo matareis, que todo é vosso.

Em mim, Senhora, podeis ir começando,
Que claro se conhece e bem se entende
Amar-vos quanto devo e quanto posso.


"Transforma-se o amador na cousa amada"

Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si sómente pode descansar,
Pois consigo tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim co'a alma minha se conforma,

Está no pensamento como ideia;
[E] o vivo e puro amor de que sou feito,
Como matéria simples busca a forma.


O nome de seu autor é: Luís Vaz de Camões


Ah, a dor da saudade do que poderia ter sido e não foi!
Por vezes, o peito aperta e sangue parece brotar do coração ferido.
No entanto, não se pode deixar de reconhecer que, uma saudade assim, não deixa de colorir o aqui e agora de existências humanas voltadas ao encontro da própria integridade e dignidade interior.

Mas, querem saber, hoje em dia duvido, que alguém deixe de lado um amor, mesmo quando o encontrão impactante o pegar desprevenido!

Aurora Gite

sábado, 10 de dezembro de 2011

A maratona dos cientistas

Sempre imaginei os cientistas como aqueles desbravadores, muitos dos quais carregando nas costas o peso das novas descobertas, homens valorosos pela fé em seu acreditar e persistência em continuar investindo na busca da confirmação ou refutação de um saber intuido, hipotetizado por eles e, por vezes, ridicularizados pelos demais.

Fileira de formiguinhas, trazendo às costas o material de sobrevivência de sua espécie, obedecendo ao rítmo de cada uma das formigas, enfileiradas à sua frente, sem atropelos competitivos em seu caminhar persistente e sistemático.

Em meus devaneios, era o que ocorreria entre aqueles que se esgrimiam em seus argumentos defendendo ou criticando, na luta pela construção do mundo das idéias, que seriam aglomeradas em teorias científicas e que passariam a ser aplicadas racionalmente na prática em prol da humanidade. Assim, suas descobertas passariam a fazer parte desse "conjunto de conhecimentos sistematizados relativos a um determinado objeto de estudo" que vem receber o nome de ciência.

A ciência, no entanto, para espanto de muitos (inclusive meu), passou a ganhar "status" de algo concreto corporificado, personificado como entidade dotada de poder sobre o homem. Saiu do campo do abstrato, como tantos outros termos ideativos, e tornou-se - como a religião era antigamente - fonte de referência da verdade.

E se expandiu! A meta principal a ser atingida voltou-se para a obtenção e manutenção de poder. Não foi tão diferente do que ocorreu com a religião, agregada a instituições, onde os religiosos passaram a ter que se curvar ante um conjunto de regras a serem seguidas como estilos de vida, e dogmas a serem obedecidos sem questionar, se quiserem pertencer a categoria. Não mais prevalecia o valor das transformações interiores e da adoção de condutas éticas, mas o pagamento de dízimos e a absolvição por repetição de rezas decoradas. Hoje em dia, tem cientista para tudo. O homem passou a englobar, nesse termo, amplas áreas de conhecimentos vários. Um cientista passou a representar prestígio, fama para alguns, poder autárquico para outros.

Um parêntese, ou um lembrete de atenção, se faz mister. Tal foi o poder que o homem lhe atribuiu que tornou-se corriqueira a justificativa "Faço em nome da ciência!". A permissão para seguir adiante nos experimentos surge, não sei bem com que aval, mas sei que muitos experimentos se tornam até contrários ao bem comum da humanidade. Ops, e sei que as pessoas sabem, sabem reconhecer de onde vem a autorização. É só acompanhar o fio da meada e descobrem seu ponto inicial, mas terão que conviver com a dor da impotência e o confronto com a frustração e a raiva por se aquietar e brecar um agir ético; e isso incomoda tanto, que é melhor não insistir em observar a verdade que jaz oculta.

Quando pensava em ciência me vinha a imagem de uma maratona de cientistas, profissionais importantes na corrida em prol de novos saberes, um passando ao outro a tocha da verdade, com galhardia e orgulho, buscando no final o acender da tora que iluminaria as decisões humanas em prol de uma sociedade mais harmônica e feliz. O vislumbre esperançoso era o de contribuir para a expansão de uma sociedade onde o ser humano ganhasse em dignidade e auto-estima, a convivência usufruisse de mais paz, pelo respeito e tolerância ante as diferenças, e a raça humana mais serenidade, pelo "cuidar por amor" que se expandiria como consequência inevitável desse tipo de interação.

Como machuca se cair na real, podendo transitar no meio científico, principalmente sendo profissional da área da saúde mental. Anos passados fazendo parte, inclusive, de equipes institucionais nas áreas de pesquisa, ensino e assistência... Ops, essa ordem não deveria estar invertida?

Também penso assim, mas não é a realidade, que se pode constatar, ou se desejaria ajuizar, ainda. O que se observa são muitos, mas muitos mesmo, profissionais "de passagem" por instituições de renome, que buscam acumular conhecimentos nesse trânsito institucional e burocrático, se destacando em "especialidades", para aplicarem esse saber em seus consultórios particulares e tornarem seus nomes públicos para garantir aumento em suas contas bancárias, por "reconhecimento devido", conforme o ponto de vista que defendem. Justificativas que reportam a uma reflexão sobre a qualidade de seu ensino superior e à qualificação de seu aprendizado envolvendo o "como se tornar um ser humano".

O resultado dessa diretriz de ensino é bem diferente das máquinas registradoras pensantes, que se acumulam por aí. Calculadoras ambulantes, que visam sempre o aumento de lucros materiais, não abarcando a prazerosa gratificação obtida através dos benefícios morais multiplicados pela irradiação ambiental das atitudes virtuosas. Sua visão imediatista não se assemelha ao olhar do empreendedor da nova era. O termo virtude não está cadastrado, em seu lugar vem a mensagem do "não tem registro" nos arquivos mentais. A janela que surge em sua mente, com seu piscar intermitente indica a necessidade da vivência racional no mundo capitalista, distorcido para um frio acúmulo de riquezas materiais e o colocar sob vigilância e controle o perceptivo mundo sentimental, como se pensamento e sentimento não estivessem atrelados simbióticamente, residindo a chave mestra em seu gerenciamento adequado.

O quadro acima dificulta a administração justa e ética das incompatibilidades entre os meios acadêmicos e os profissionais que se quer lançar no mercado. Grades curriculares engessam a curiosidade espontânea, mola propulsora a ser fortalecida em qualquer cientista.

Os alunos, e os verdadeiros mestres, são enjaulados dentro de grades ideológicas poderosas, que delineiam pouco espaço ao saber em si, direcionando suas metas e avaliações a interesses outros, que não o de sanar, ou beneficiar, a demanda do "paciente social".

Na época atual, atribui-se ao ensino a bóia salvadora do quadro social que hoje vivemos. A má remuneração e má formação dos profissionais docentes são citados como principal fator desse estado de anomia e violência. A realidade, no entanto, se incumbe de espelhar outro cenário, bem diferente do idealizado e divulgado, mas isso é para quem se dispõe a ver, a se confrontar com o que é refletido, com o fenômeno real.

O foco, para despoluir o social, recai então no saneamento da ignorância pela formação de profissionais qualificados. Uma reflexão mais apurada vai constatar o desvio da atenção do que se mantém por trás dos brilhos dos diplomas: o juramento sub-liminar de manter o "status quo" do poder institucional vigente e o aprisonamento do atuar ético dentro dos princípios de liberdade, igualdade e fraternidade. Uma análise mais acurada vai comprovar que ainda vigora, pela falta de fiscalização e impunidade, o QI (quem indicou) para a aceitação e aprovação dos mestres e dos alunos. O peso das "algemas da gratidão" se faz logo presente, pois a relação simbiótica entre os envolvidos com o "tráfico de influência" é fortalecida e vicia - é uma das maiores drogas da corrupção sociopática.

Projetos de ensino e programas didáticos de maior eficácia ? Ótimo, precisamos de inovações, "desde que" sigam as normas já estabelecidas. Mudanças no mundo demandando novas estruturas, novas estratégias de ensino, nova didática? Serão consideradas, "desde que" não alterem as regras já solidificadas. Ensino que pense na formação do aluno de uma maneira global, não somente cognitiva, em qualquer nível de aprendizado, que busque despertar sua autocrítica e que leve ao despertar interior de uma ética humana e ao cuidar do bem público? Só no papel, aliás é preciso mesmo ter um registro visível do empenho por transparência, verdade, justiça, humanização... Quer termo mais pomposo que esse? Agora peça para descreverem em que consiste uma ação de humanizar! E não se assuste com a resposta que vai ouvir.

O som das palavras e os afetos, que emolduram seus significados, pairando no ar já está de bom tamanho para os "ilusionistas educacionais". Todo esse aparato já serve de palco para ótimas encenações, peças criadas com conteúdos temáticos, que o povo curte apreciar. As pessoas têm até curtido serem enganadas! A mentira corrupta, que enfraquece o peso dos valores éticos, passou a ter efeito semelhante ao ópio e se tornou um vício. A vontade de lutar por ideais mais humanizados cada vez mais enfraquece e cede lugar para a inércia de quem se aposenta da vida, se permitindo ficar no papel de mero expectador, excluído como "agente responsável atuante" no que vai acontecer.

Ao se abrirem as cortinas, o cenário bem construído, os atores bem posicionados, o texto midiático bem definido, os óculos 3D distribuídos ao público, e o mundo virtual da ilusão contamina toda a realidade das pessoas que estão no local e dependem das circunstâncias para viver. Após seu término, o entorpecimento do pensar, manipulação bem camuflada contaminando a platéia, perdura por bom tempo, mesmo à distância de sua causação imediata. Tudo bem planejado e arquitetado!

Sendo assim, nem é preciso esperar a calada da noite, para se colocar em pauta, novamente, MP antes rejeitadas, ou tomar outras medidas políticas impopulares, mas geradoras de aumento de renda aos cofres públicos e , aos de algumas pessoas físicas, em especial. E isso sem encontrar grandes resistências em serem aprovadas nesse momento de torpor.

Ah. a arte de iludir! E como existem "cientistas na arte de iludir"! O fenômeno fascina, a paralisia deprime, a resiliência constrange. Aumentos de impostos e de salários, inclusive na proporção de 200 a 300% poderão ser confrontados, e defendidos como gastos de primeira necessidade, por aqueles "escolhidos democraticamente" para gerir a "coisa pública". E a defesa dos interesses do povo?

Ora o povo (outro termo abstrato, a que cada um atribui a imagem que lhe aprouver), ora o povo... não há de querer ver seus representantes mal vestidos e andando sem ser em carros de primeira linha. O povo não precisa viver de ostentação. Quer um exemplo? É só observar sua identificação virtual com o mundo glamuroso das celebridades. O povo vive através das vidas delas, basta ver a forma como reage ao que ocorre com elas. É criar ídolos que o povo desvia sua atenção para eles, e sossega!

Ora o povo, até a época de novas eleições já esqueceu tudo! Os experimentos científicos dos cientistas da ilusão podem desativar a memória popular. Qual verdadeira lavagem cerebral, ministrando soníferos através de pequenas dosagens de sonhos imprecisos e incertos, de promessas de prazeres duvidosos ou de ameaças, fomentando o medo de represálias, se utilizam desses métodos ilusionistas, com grande potencial de alterar as percepções, semelhante aos fármacos. Aplicados, nas vésperas das eleições, alteram quaisquer circunstâncias desfavoráveis ao poder vigente.

A cegueira que impede a leitura sobre fatos reais, o pouco interesse com o bem estar do povo, o enfraquecimento intencional do poder da livre-expressão popular, a fragilização maipulada da vontade espontânea, o gerenciamento da raiva - que surge pela impotência ante injustiças - devem ser trabalhados e bem disfarçados por um ensino eficiente.

Uma didática eficaz, nesse sentido, visa reforçar esse foco e centralizar a atenção na iluminação psicodélica ofuscante do "palco das ilusões". Os sonhos têm que parecer que se tornaram reais, função da "teatralização midiática". O poder de identificação com o conteúdo da peça, tal como nas novelas, se incumbe de, virtualmente, ocasionar a vivência das circunstâncias, sentidas na imaginação como prazerosas e felizes, e o suportar as reações metabólicas reais, condizentes com esse estado psíquico. Na realidade, porém, essas vivências não se assentam no chão, pedregoso e esburacado, pelo qual os pés do povo transitam, e são lesionados, no mundo real.

O que mais leva esse aglomerado de pessoas, essa multidão; esse grupo de indivíduos que formam uma nação ou vivem numa mesma região; esse conjunto de pessoas da classe menos favorecida, essa plebe - escolha a definição do dicionário com que mais se identifique - o que leva o "povo" da sociedade contemporânea, a optar por estar assim vivendo o momento atual de sua existência ?

Para quem não conhece, indico a leitura do "Mito da Caverna", de Platão. Muitos se enfileiram para adentrar e ocupar seu lugar dentro dela. Deixam-se aprisionar sem resistir... O que os leva a isso?

Aurora Gite

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Uma identidade no meio da atopia e acronia

Primeiro duas indicações se fazem necessárias:

1- http:// www.tvcultura.cmais.com.br/rodaviva/fernando-henrique-cardoso lançando também seu novo livro "A Soma e o Resto: um olhar sobre a vida aos 80 anos".

2- http:// http://www.cpflcultura.com.br/ "Espaço, Tempo e Mundo Virtual" palestra de Marilena Chauí realizada em Campinas em 02.09.2010 e reprisada em 29.11.2011.


Uma entrevista e uma palestra, mobilizando grandes reflexões sobre o mundo atual e sobre nosso papel nesse social virtual.

Confesso que ainda estou muito apreensiva com as atribuições humanas outorgadas a essa nova categoria de seres, com os quais vamos ter que conviver: os robôs. Dessa vez, não me refiro a massa humana robotizada, não! Eu me refiro a essas máquinas, cuja tecnologia formata, cada vez mais, à imagem humana. Acredito que a gravidade desse confronto ainda não foi abarcada.

É grande o poder que o homem entrega para as novas tecnologias em prol do progresso. Inquieta, me questiono a que se refere tal progresso, já que a humanidade perde cada vez mais sua dignidade e autorrespeito, e ganha em desesperança e violência, facilmente observadas em nosso quadro social globalizado.

Os homens, a cada dia, mais se desvalorizam e se sentem impotentes frente à máquina pensante computadorizada, cujo valor de entrecruzar dados e raciocinar globalmente é inegável. O pior, a meu ver, é que todo esse processo se dá de maneira racional e voluntária. O mais surpreendente é que os homens não são forçados a se colocarem dependentes de máquinas para tudo. O mais espantoso é que desaprendem habilidades tão simples que envolvem um prazer tão corriqueiro. O espaço da imaginação criativa cede para a inércia destrutiva da condição humana saudável - física, psíquica e espiritualmente.

Ah! Gandhi e seu tear, em sua sabedoria e abertura de espaço interno para reflexões e cultivo de valores pacíficos de convivência.
Coador de pano e espremedor manual de laranjas para a refeição da manhã? Que mundo é esse se contrapondo ao mínimo esforço de realizar as mesmas tarefas com cafeteiras e espremedores elétricos cujo "único" problema vai advir com a falta de eletricidade? Aliás, se vier a faltar, a maioria da nova geração (e muitos da velha) fica perdida, e apela para a padaria da esquina.

Pensar na vida, se questionar sobre o futuro, se inquietar com conceitos abstratos como justiça, verdade, transparência, honestidade, dignidade, ética, humildade, gratidão? Que valor tem esse blá-blá-blá no mundo atual sem quadros referenciais que possam servir de apoio, que possam se constituir em pilares para um amadurecimento psíquico necessário para assumir os "nãos" na colocação dos limites pessoais, para um fortalecimento interno contra a raiva das frustrações, para um crescimento e valorização individuais que impulsiona ao "basta", para se afastar e lutar por deixar de ser peça de engrenagem nesse social contemporâneo desumanizante e robotizado.

Homens se desumanizam, embotam seu sentir e desativam seu pensar ... robôs se humanizam, "aprendem a ter emoções", a reagir a elas adequadamente, a sorrir, a falar, a abraçar, a pensar, a articular pensamentos buscando soluções inteligentes, a realizar atividades de forma independente. Uau!

Como o exército de homens, atualmente sem valores humanos referenciais, enfraquecidos em sua auto-estima, inferiorizados em suas competências, incapacitados para viver fazendo parte de equipes, irá, algum dia, enfrentar esses monstros, que se agigantam com feições de anjo e estruturas metálicas recobertas - desenhadas para se aproximar mais e mais da imagem humana com qual finalidade a não ser narcísica? - e aos quais a tecnologia instrumenta, atualmente, até para serem violentos na defesa de suas autonomias e autoprogramações para se tornarem mais humanos?

As análises de Chauí a colocaram numa posição de excluída desse social sem a força referencial das tradições, não encontrando espaço ou tempo para manifestar sua identidade já formada e assumida. Suas considerações sobre a atopia e acronia advindas com o mundo virtual, através do qual se constata a dissolução das distâncias relacionais e do embaralhamento do tempo presente-passado e futuro - tudo se resume na proximidade do outro num "agora" virtual - a levam a assumir sua impotência pessoal para se colocar nesse mundo. Coloca sua curiosidade para acompanhar e ver a maneira através da qual a nova geração vai enfrentar o novo mundo que a espera.

Como o ser humano vai despontar a partir desse "agora - não real" ? A que valores condicionará o seu existir? Essa inquietude também me contamina e angustia.

"Não real", pois não se observa a existência dos limites perceptíveis do humano. Portanto, sem as características dos cinco sentidos e até da capacidade intuitiva, que envolvem a percepção humana, a nova geração vai demandar da criação de novos referenciais e novos paradigmas na invenção de uma identidade humana, que a faculte sobreviver no mundo contemporâneo, e nele construir sua história de vida. Em outras palavras, que a possibilite colocar sua essência na forma de seu existir nesse mundo, obtendo uma qualidade de vida satisfatória e prazerosa.

Vale assistir ao vídeo da palestra de Chauí e estar atento a sua citação inicial e devidas considerações sobre a "fenomenologia da percepção", título também da obra do pensador Merlau-Ponty, que tão bem analisou a fenomelogia existencial que envolve o homem e o social.

Por outro lado, Fernando Henrique Cardoso serve de um excelente contraponto a essa posição de expectadora dentro de uma perspectiva passiva , e se coloca como o pensador atuante que, mesmo com seus 80 anos, não abandona a postura empreendedora e busca continuar a construir a história de sua vida com orgulho e dignidade, inclusive numa participação ativa em prol de um social melhor.

Fica vísivel na entrevista (link acima citado) sua função pública e o peso de seu papel como político. Vale rever e analisar como se faz a própria história de vida, e como essa escrita independe até da idade cronológica com suas limitações naturais.

Da postura de Fernando Henrique Cardoso retiro como mensagem: "Não vai ser fácil a inclusão no social virtual. Cabe a cada um abrir seu espaço: não sem antes encontrar a si mesmo na utopia e acronia virtuais". Nesse sentido, dou ênfase às suas colocações sobre o papel das redes sociais em sua vida, já dimensionada em sua plenitude e dignidade.

Vale assistir ao vídeo dessa entrevista. Depois reflita sobre como ela repercutiu dentro de você.

Ah! Não deixe de comparar os dois conteúdos, que se complementam em muitos aspectos. Estou curiosa para saber sua opção de como pretende colocar seu existir, no mundo virtual atual.

Aponto uma luz no final do túnel com:


  • a separação entre espiritualidade e religião, com seu misticismo preconceituoso paralisante e seus dogmas institucionais.


  • a aproximação entre espiritualidade e ciência, referendada pelas constantes descobertas científicas, cada vez mais aceleradas.


Aurora Gite

domingo, 6 de novembro de 2011

Muito além do nosso eu

"Muito além do nosso eu: a nova neurociência que une cérebros e máquinas e como ela pode mudar vidas" é o título do livro de Miguel Nicolelis (São Paulo: Companhia das Letras, 2011).

Fascinante o estilo de Nicolelis. De forma simples, sensível, objetiva, detalhista do tipo passo a passo, acompanho esse neurocientista, através da leitura de seu livro, entrelaçando os dados de seus 25 anos de pesquisa com minha experiência pessoal e a eles me prendo, surpresa e assustada. Minha intuição grita dentro do meu peito: "É por aí, é por aí... estamos chegando lá!"

Ávida por saber mais sobre as descobertas de ponta no campo da neurociência, inclusive pelas assertivas sobre nosso psiquismo atrelado ao orgânico, continuo ao lado de Nicolelis fazendo parte do grupo que ele delicia, não só pelo turismo histórico na área da neurociência desde sua origens, passando pela descrição de experimentos e relato de seus resultados, como por entremear seu caminhar pessoal, rumo ao sucesso que alcançou.

Percebo que estou a seu lado subindo as escadas da FMUSP com enorme orgulho, portando meu jaleco branco, ostentando meu nome bordado no bolso. Percebo que estou a seu lado no movimento das 'Diretas já!', coração explodindo de patriotismo, fazendo parte de sua "teoria distribucionista". Até me vejo no Palestra Itália, tal como ele, torcendo pelo Palmeiras e divulgando esse time do coração. Também o acompanho em sua sensibilidade, ante a analogia de sua busca da 'sinfonia neuronal' empregando a mesma escuta apurada utilizada para a apreensão da beleza de uma música orquestrada.

Continuo a ler Nicolelis, que está tão perto de decifrar os mecanismos de fenômenos como memória, consciência humana. nosso senso de eu e percepção de mundo. "Nossa nova visão sobre o cérebro vai muito além da transmissão entre neurônios, vai ao encontro do 'ponto de vista próprio' do cérebro". (p. 51) Podem acreditar? Devem acreditar!

"Como minha pesquisa nos últimos 25 anos tem demonstrado, palavras por si só não fazem justiça à labuta da mente humana, que invariavelmente tende a ser de uma natureza muito mais probabilística do que qualquer uma das linguagens escritas e faladas usadas por neurocientistas para descrever a forma como nossos pensamentos emanam de um emaranhado de fibras nervosas." (p.131)

E eu, extasiada, juntando dados e dentre eles um se sobressaindo e pulsando contínuamente: atividades elétricas geram campo eletromagnético... atividades elétricas geram campo eletromagnético...Sendo assim, tendo nosso cérebro capacidade de autogerar eletricidade, daí advém um campo magnético ao seu redor. Como coloquei meus interesses em blogs anteriores, só destaco que estou chegando perto de minha hipótese, de que daí provém nosso psiquismo, de que o mundo psíquico que Freud observou faz parte do caleidoscópio de energia psíquica produzido pelo eletromagnetismo humano.

Após nos contemplar com algumas evidências científicas envolvendo a interação entre 'membros fantasmas' e a sensação real de dor, proveniente desses membros inexistentes; e de nos facultar conhecer atuais estudos experimentais, buscando o entendimento dos mecanismos fisiológicos que envolvem as sensações extracorpóreas, Nicolelis assim se posiciona: "A ilusão da mão de borracha e as abordagens laboratoriais capazes de induzir uma experiência extracorpórea indicam que o cérebro esculpe ativamente nosso senso de eu e o embala como um corpo físico." (p.126)

"Em cada um de nós esse órgão está trabalhando continuamente, numa rotina frenética de assimilação de tudo aquilo que nos rodeia, com o intuito de modelar nossa autoimagem corpórea com base num incessante fluxo de informação. Assim, ele não só exibe a capacidade de ser o mais sofisticado construtor de ferramentas parido pelo processo de evolução natural, como também expressa o mais voraz dos apetites por incorporar os objetos que são o fruto de nosso inconfundível e incomparável desejo de criar." (p.127)

Prossegue Nicolelis: "Levando essas idéias ao limite, os achados dão crédito à noção de que, à medida que aprendemos a utilizar uma interface cérebro-máquina - ( membros robóticos movidos com a força do pensamento, inclusive à distâncias inimagináveis até agora; dispositivos intracranianos eliminando os efeitos de doenças como já ocorre com o Mal de Parkinson, vestes especiais tornando possível aos paraplégicos voltar a caminhar...) - na qual o cérebro interage diretamente com ferramentas artificiais localizadas perto ou a distância do corpo biológico, o sistema nervoso central incorpora esses artefatos como parte de nós. Para algumas pessoas, a potencial fusão futura entre cérebros e máquinas pode soar aterrorizante, e mesmo servir como prenúncio do fim da humanidade como a conhecemos. Eu não poderia mais discordar dessa avaliação." (p.128)

Aconselho aqui a levantarem os dados biográficos de Miguel Nicolelis, abarcarem sua honestidade pessoal e credibilidade científica, para o situarem em nossa contemporaneidade. Querem mais? Ele ainda aventa a proximidade de uma nova versão da Internet - a 'brainet' - sem a necessidade de digitar ou pronunciar uma única palavra. Podem imaginar isso tão perto?

As informações chegam como um 'tsunami' em cima dos paradigmas científicos sobre o ser humano. Quanta destruição de idéias hipotéticas, teorias construídas, doutrinas e dogmas científicos enraizados! Quanta inovação arquitetônica para erguer o novo mundo da ciência que vem por aí!

Os conhecimentos atropelam a mente dos pesquisadores e ocasionam estragos em "saberes", como efeitos de um 'tornado' no ambiente físico.

Descobertas da neurociência passam a ter o mesmo efeito de um 'furacão' nas construções teóricas: tudo revirado! É se agarrar às novas evidências científicas e "crer para ver" já vendo.

De minha parte, estou tentando "respirar realidade" para encontrar fôlego, e sobreviver mentalmente, em meio a tudo que vem por aí, até ter maior compreensão sobre a extensão desses avanços tecnológicos e das novas perspectivas, e suas implicações sobre o ser humano e a humanidade contemporânea. Mas que 'tá um sufoco' está!

Valeu muito Nicolelis, que sua fé e coragem sirvam de exemplo, assim como sua humildade, paciência e determinação nesses 25 anos de pesquisa.

Tão perto agora de observar e explicar o intuir do encontro do "além eu" com a "metafísica do ser" (sem misticismos ou ocultismos com caráter de mistérios e manipulações outras) que até assusta, pois nos remete ao desconhecido e a novas apreensões sobre o mundo, esforço para novas transvalorações e abertura para nova perspectiva sobre "quem somos nós".

É a visão de um admirável mundo novo, onde não seremos tão robôs como tudo indicava. Agora é com vocês se interessarem, se mobilizarem a se conhecer e investigar o que falam a seu respeito por aí!

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Cada vez mais...

Cada vez mais... estranho título, mas ao lerem vão perceber. Pensei em mudar várias vezes. Talvez por "Dois espertos não se bicam", ou "Dois lobos em peles de cordeiro", ou "Dois juntos somam um centenário de vida mal vivida". Pensei também em "O que ocorre ao redor se constitui num aprendizado para não se envolver" ou ainda "A vida continua, cada vez mais, distribuindo "pauladas", enquanto não se entender sua mensagem".

Ao ser humano cabe um só rumo em seu viver, independente de raça, credo, cultura e por aí vai... Essa lista de categorizações diferenciando os homens em sua existência é longa e bem serve para o lançar no eterno labirinto das explicações por divergências sociais, ou das justificativas por dificuldades na convivência pacífica das interações humanas, até pela falta de agilidade no autocontrole das forças pulsionais e afetivas, que agem na área psíquica e comandam as ações pessoais.

Acho importante esclarecer que aqui me refiro aos impulsos e à administração de como as emoções nos afetam, não usando o termo afeto, como mais popularmente é conhecido, como sinônimo de afeição, carinho. Não vou complicar muito tentando a terminologia de volatilidade de energia psíquica nesse momento, mas é possível se perceber como os ambientes ficam carregados, pesados ante a proximidade de algumas pessoas, e mais leves e rarefeitos ante outras.

Enquanto o homem não buscar sua emancipação pessoal, sua autolegislação, sua transvaloração das forças internas ou de seus valores, e consequente superação da condição humana atual, vai continuar "dando a cara a tapa", inclusive na convivência com os que dele se aproximam, por ignorância, maldade astuciosa ou inocência parasitória.

Não é bem assim? Então reavaliem a vida de quem identificam caber nessa moldura, só espero que não seja você, pois o caminho tendo a angústia como parceira ainda é longo, até ocorrer a percepção de que cada um é responsável pelo que lhe acontece, quer por idealizações excessivas que o fazem alterar dados reais levando ao insucesso das decisões tomadas, quer por não colocarem limites ou administrarem adequadamente a forma como são afetados pelas coisas da vida que o atingem internamente. Ou se está no comando, ou não!

A vida não aceita que se fique em cima do muro, atribuindo culpas ao mundo pelo que lhe acontece. E muito menos está disponível a queixas. Portanto que não venham as lamúrias, atribuindo o que lhe ocorre ao destino, ao acaso, a forças ocultas invejosas, ao mau olhado que lhe direcionam, ao abandono de Deus, ao mau caráter do outro, a sua falta de sorte... Por aí se estendem as queixas longas e longas, que são despejadas no "pinico" do ouvido do próximo, seja ele quem for.

Cobrar da vida é um tiro no pé. Não há volta a um tipo de dependência uterina. Aliás é esse corte que tem que ocorrer para que seu aparelho psíquico passe a funcionar e você comece a pensar por você. Só o uso dessas operações mentais é que vai lhe facultar conquistar o amadurecimento psíquico e se reconhecer único em seu sentir, pensar, intuir..., em se observar livre e responsável por suas ações individuais dentro do mundo coletivo. Sendo assim cobranças e barganhas com a vida, buscar elos passivos de dependência em que não seja preciso o esforço de pensar, equivale a um bebê que se recusa a sugar o seio e morre físicamente por inanição. Psíquicamente é o mesmo processo. É abandonar a bandeira do "Quem dá mais para cuidar de minha vida?"

Não empate seu tempo de vida nessa parada. Só vai perder forças. Um dos segredos é direcionar sua mente para outros planejamentos de vida baseados em seus recursos próprios atuais, ou nos que possa com esforço adquirir. Opa, sem ter como critério a comparação com os outros, como são e você gostaria de ser, ou pelo que têm e você gostaria de ter! Ops, sem usar pessoas como trampolins ou bengalas, na conquista de seu viver, muito menos os envolvendo em comprometimentos afetivos e acordos formais matrimoniais!

Não se escapa não, nem adianta tentar! É, cada vez mais, se disponibilizar ao confronto com a solidão prazerosa do encontro consigo mesmo, com a liberdade de "ser" e buscar "tornar-se" na igualdade das diferenças e "existir", dentro de uma fraternidade com os outros, abrindo espaço através de uma luta diária por convivências pacíficas. É o se olhar no espelho e sentir admiração e orgulho de onde se chegou e se chega após mais um dia vivido.

Não é fácil se permitir observar sua imagem refletida no espelho do olhar do outro a cada instante. Curiosa essa forma da vida nos fazer enxergar que passamos a ser, a existir e tornar-nos "eu" através do contato e da convivência com o outro ou com o mundo que nos cerca. Quer chamá-lo de coletivo, sociedade ou de humanidade? Tudo bem, desde que não se deixe seduzir pela tentação de conceitos dúbios e superficiais.

Aliás esse artifício é cada vez mais usado pela mídia contemporânea para integrar massas com o codinome de social. É fácil abandonar o esforço de pensar por si, da reflexão crítica, em prol do sentimento de pertencer ao grupo. Porém, nem sempre você consegue se preservar como sujeito de sua ação e vontade, nesse tipo de inserção. Essa inclusão não está voltada à vida de seu verdadeiro eu (essência) então a satisfação pessoal é transitória. O arauto interno do tédio e da insatisfação logo vai estar a postos para se fazer ouvir em seu apelo de vida, não simplesmente de sobrevivência em vida.

Sendo assim a partir da próxima parada, é perceber se não é o seu momento de se inserir na vida. Ela oferece as oportunidades para quem pode, quer e se esforça por, ao percebê-las, não as deixar passar, ou o que é pior, não deixar que outros a aproveitem na ilusão dependente de que irão cuidar de você. A vida é sua, foi entregue para você para cuidar dela, e não para que outro cuide por você e a você reste a falta de sentido.

O vazio do não ser, é representado pelo mal estar de ser manipulado como fantoche, ou pelo desconforto ante a apatia, ao deixar de lado sua unicidade, para fazer parte de rebanhos de fiéis escravos robotizados e entorpecidos por lideranças que assumem sua vida e se responsabilizam por seu bem estar.

Vamos tentar mais uma vez bani-los? É puxar, de dentro do peito, um surdo e poderoso grito de xô desânimo, xô depressão, xô pessimismo, xô amargura, xô tédio, insatisfação e irritação generalizadas... A vida não se posiciona contra ninguém. As pessoas é que mal direcionam suas escolhas. Assim não há tomada de decisão, que dê certo mesmo. A curto e médio prazo é cabeçada na certa. E haja angústia, desempenhando seu papel de arauto, de que a vida existe e está sendo abandonada ou negligenciada por você, cada vez mais.

Ah! Santo de casa não faz milagres, nem acender velas, nem buscar ajuda em crenças religiosas. ou algo do gênero. Não é por aí, não! É ir ao encontro da fé, da confiança em si mesma, da crença em sua capacidade e ir testando até acertar no caminho que mais a satisfaça pela proximidade com a autorrealização, que irá lhe trazer mais serenidade. Experimente dar o máximo de si ao que faz por prazer. Sinta a diferença dentro de você. Só você pode sentir esse seu "eu". que merece sua atenção e cuidado, ainda mais no mundo contemporâneo!

Esse mundo novo nos trouxe muita instrumentação pela mudança até na forma de raciocinar, cruzando dados comuns a todos, na velocidade da rede da internet. E quantas dicas e formas alternativas de produção apareceram desde então. Mas falta o principal, esse é individual e intransferível, o "querer", a vontade de viver, ocupar seu lugar na vida e conquistar a alegria do prazer em viver.

Aproveitando a "tecnologia touch" globalizada, onde por um leve toque destaco do real, e trago a uma realidade virtual, um exemplo, que cabe a muitos, com facilidade tal que, se não for checado, o que é real e o que é ficção se mesclam, e as reações, que daí resultam, tendem a ser, cada vez mais, deproporcionais. Como se isso não bastasse, recentes elos de comunicação , passam assim a, cada vez mais, fazer parte do caos da Torre de Babel já existente, agora agravado pela ausência de conceitos para definir novos fenômenos emergentes, que se atropelam pela forte significação vivencial e pela falta de nomeação, que comprometem sua expressão.

No centro de minhas divagações surgem outras imagens, que se sobrepõem a minhas idéias, sinal de que se associaram por um elo comum. Agora é buscar este ponto de ligação. Esse exercício mental me é familiar. Então vamos lá!

Por volta de 50 anos cada um, dois profissionais com dificuldade para inserção no mercado, com a mesma linha de atuação e marcação de espaço na vida, se encontram. Planos lindos de parcerias, sonhos com cenários prontos e atuações lucrativas, ilusões que encobrem a realidade e afastam fatos e evidências, únicos dados que possibilitam à razão humana, escolhas e tomada de decisões mais acertadas. Depois de efetivarem alguns passos referentes a locais de trabalho pelo lado de um, deslocamentos de equipamentos cirúrgicos por parte de outros se dão conta das dificuldades financeiras. Seus planos estavam embasados no dinheiro de terceiros, desconsiderando possíveis desinteresses dos mesmos ou não disponibilidades até de familiares.

Embora me remeta ao objetivo inicial, o que vem agora passou a fazer parte de outro contexto. Então é usar a famosa frase: "Mas essa já é uma outra história..." a fazer parte de um outro blog a caminho... esse é o movimento da vida atual. Nada de estagnação, fazer sempre a fila andar...

Tudo é dinâmico nesse processo de se autoconhecer, contínuo e rápido, parte de viver o momento atual com sua multiplicidade de informações, que buscam seu poder ao galgarem o posto de novos conhecimentos. As idéias, afetos e relações, como num tsunami, se atropelam e são engalfinhados por ondas enormes. Cenários se misturam demandando esforço para sua recomposição e readaptações às novas sequências de desenhos circunstanciais.

Uau! O perigo é se deixar envolver na velocidade do "tornado", cuja força e intempestividade arrasta todo conhecimento a que se chega. O antídoto é estar atento para não se permitir cair na cegueira do centro do furacão, que se tornou o "mundo do saber" atual. É aqui que a vida e o sujeito podem ser separados e lançados num abismo a se perder de vista.

A convivência com perdas e com a imprevisibilidade se torna um aprendizado constante. Para que tal não ocorra, é preciso muita firmeza, coragem, honestidade consigo mesmo e, cada vez mais, muita... muita... muita esperança de que advenham momentos mais confortantes após esse vendaval. Ufa, que sufoco!

domingo, 25 de setembro de 2011

Uma paciente especial

Não acreditava que iria vê-la novamente. E lá estava ela, com suas ruguinhas a mais e seu cabelo mais grisalho, contrastando com o brilho terno e infantil, que ainda emanava através de seu olhar, e o sorriso encantador, que continuava a me cativar. Cada vez que me fazia sentir sua presença, ou a impunha diretamente, meu peito se enchia de alegria, pois sabia que muito me valeria esse contato. De cada encontro, virtual ou concreto, o rastro que me ficava era de aprendizado e crescimento. E lá estava eu a elucubrar qual seria meu lucro virtual dessa vez! Ainda não tinha me apercebido de que a procura era por minha pessoa, por quem eu sou!

Sua primeira frase: "Nossa, quanto tempo! Mas parece que foi ontem que me aproximei procurando ajuda." Também assim me sentia. Ante algumas pessoas, não necessariamente pacientes significativas, não é o tempo cronológico que impera. Talvez algum dia ainda possamos compreender melhor esse fenômeno, e descobrir a força que une algumas pessoas por empatia, por sintonia, por sincronia, por sinergia ou outros "sin", que envolvem a sinceridade de uma entrega verdadeira e o singelo afeto, que brota de dentro do peito e não de nosso racional. A percepção da dignidade do caráter do outro emana de outro nível de aproximação interpessoal, de um elo intuitivo que reforça a singularidade do vínculo e nos espanta a ponto de questionarmos: "Será que ela existe assim como estou intuindo? É melhor considerar e estar atenta: ou é muito boa, ou é muito ruim!"

Lembrava, com clareza que me assustava, detalhes que contara sobre sua história de vida, e de sua fragilidade contrastando com uma força interna, fato que me causava enorme admiração e espanto por ainda conservar sua integridade psíquica. A vida lhe confrontara com tantas rejeições; hoje me parece que para fazê-la enfrentar sua vulnerabilidade e insegurança rumo ao, que mais prezava, ser livre e feliz. Brincava sobre a forma que gostaria de ser lembrada: "Aquela que conseguiu que seu "ser livre e feliz" emergisse de dentro de si, e lutasse em prol de uma sociedade com mais "justiça e dignidade", com uma Justiça que pudesse ostentar a Verdade ao espelhar sua transparência legal e humana".

E lá vinha ela a me provocar... "E aí, minha permissão já teve, ainda não colocou no papel minha história e como o fenômeno transferencial contaminou nossa relação paciente/terapeuta?" Parece que nossas histórias de vida não foram tão diferentes no que nos trouxeram de sofrimento pela solidão e isolamento afetivo a que nos remeteram, e pelas ambivalências afetivas, pois embora muitas relações superprotetoras, as mesmas mais nos afogaram com seu amor que nos remeteram a uma liberdade de "ser", nos jogando na masmorra camuflada de atenções e cuidados, que reforçavam nossa dependência, nossa insegurança e nossa inferioridade. Como crescer sem cortar esses vínculos dentro de nós e nos tornarmos independentes?"

Nessa altura já desconfortável, mudava minha posição em minha cadeira de terapeuta. "Quem ela pensa que é?" Vi que meu emocional respondia direto às suas colocações e que aspectos contratransferenciais se faziam presentes. Acionando meu racional, podia constatar o quanto de veracidade existia em suas palavras. De repente, lembrei de um sonho que ela me colocara várias vezes quando em terapia onde se via atravessando uma ponte, sentia minha presença a seu lado, mas podia me observar físicamente lá na frente, no término da travessia. Talvez devesse ter trabalhado mais essas representações, conforme elas foram se apresentando, talvez...

Fato concreto: como terapeutas, nem sempre temos condições de abarcar o todo contextual ao redor dos pacientes e de prever suas reações frente a suas vidas cotidianas; muito menos ações de familiares, que modificam totalmente o rumo de vida dos pacientes, e lhes imputam derivar as mesmas de conselhos do próprio terapeuta... nova carga pesada, muito pesada, segundo a paciente já havia me colocado há alguns anos atrás. Na prática, foi obrigada a carregá-la perante filhos, familiares e amigos. Mas conviver com injustiça e rejeição se constituía para ela em lugar comum. Sobreviveu! Como colocava: "Vou desabar quando tiver que conviver com um amor sincero em suas afinidades, lealdades e cumplicidades."

E aqui me via, buscando me proteger internamente de mim mesma, pois sua aproximação me remetia a vários questionamentos sobre minha própria vida, opções ante várias alternativas e o convívio com decisões tomadas pela insegurança e medo... Não posso escapar do confronto com o "talvez obsessivo" , que me acompanhou a vida toda e me impediu de correr riscos e me impeliu a buscar controles racionais, jaulas protetoras imaginárias.

Hoje tenho plena consciência que não podemos tornar o desconhecido controlável, não podemos amordaçar e vendar o destino colocando nossa segurança a toda prova, aliás... o maior risco está em não aprendermos a conviver conosco mesmo, a respeitar e admirar quem realmente somos, sabendo que podemos alterar ou controlar nossos aspectos internos que desgostamos; em desistirmos de ser "heróis" perante nós mesmos, pois a tarefa acima envolve honestidade, coragem e humanidade direcionadas a nós mesmos.

Gosto de contemplar meu ser livre e feliz, digno moralmente, sabendo que a cada minuto tenho que enfrentar vários dragões sociais e de meu mundo interno, para preservá-lo. Tenho também como certo, aliás minha única certeza, minha intenção de soltá-lo, reconhecendo que é capaz de enfrentar essas feras, às quais nossa imaginação atribui dimensões gigantescas. Não mais preciso mantê-lo na masmorra interna onde o enclausurava, nem isolá-lo em seu "existir no mundo" e em seu "ser do mundo".

Agora, lá vou eu, desarmada, receptiva e confiante, buscar o significado desse novo contato para nós duas, pessoas humanas, não mais paciente e terapeuta.

Aurora Gite
25/09/201 postado às 14:20h

domingo, 14 de agosto de 2011

Resgate do "espaço do sujeito" na organização

As gestões participativas, com seu discurso de transparência, organograma hierárquico horizontal e programas de formação de lideranças, mudou a forma de interações na empresa. A demanda atual clama por novas leituras e interpretações do capital humano.

Projetos programáticos, planejamentos estratégicos e logísticas operacionais passam a ter por meta : impedir a queda das produções interativas, o despencar das ações humanas no bloco das bolsas das equipes, e o enfraquecimento de seus pesos atitudinais e valores morais.

Crises de estabilidade advém das mudanças estruturais ocasionadas pela alteração do tradicional eixo de hierarquia vertical (chefias/subordinados) para o eixo horizontal das gestões participativas (lideranças/colaboradores) e das equipes formando times. Convém ter sempre presente que qualquer mudança estrutural no trabalho representa uma ameaça real, risco de demissão ou remanejamento de funções e locais; e, também, perigos fantasiosos, ampliados por desvalias e inseguranças pessoais, gerando muitas fofocas e uma rede de intrigas. Essas futricas danosas, que a má fé e o mau caráter se incumbem de espalhar, em mãos de "perversos, narcisístas e maquiavélicos", travam o fluxo de informação e ocasionam a distorção na comunicação e na percepção da realidade.

Comunicação truncada, falta de coerência intencional nas mensagens, embotamento afetivo, ansiedades persecutórias, sensação constante de ameaça à integridade do prestígio funcional, posturas vingativas e "puxadas de tapete" baseadas em fantasias subjetivas, reações agressivas e impulsivas sem medir consequências morais: eis o início da descapitalização do patrimônio humano na empresa, e da maquiavélica manipulação "psicotizante" . Distanciado dos princípios racionais da realidade e próximo dos delírios (alterações nos juízos) e das alucinações (alterações nas percepções), o "sujeito" dentro de cada pessoa, independente de seu lugar no organograma institucional, perde seu espaço.

Ante a realidade, cindida e embaralhada, muitos para a própria sobrevivência psíquica e preservação no quadro organizacional, passam a desconsiderar dados racionais e sequências de fatos reais. É o apego a sua razão e valorização pessoal interna, que podem mantê-los com o pé na realidade da situação vivida. É alto o custo para se preservar íntegro, conviver pacíficamente e sobreviver psíquicamente num ambiente onde predominam mensagens ambivalentes do tipo "Faça o que eu mando, mas não o que faço"; "Estou indo, já passei meu cartão (na entrada ou na saída, ou em ambas), mas você não me viu!"; "Não alterei o horário de 9:00h, mas mande a mensagem que a reunião de diretoria passou para o período da tarde, pois, como assessora, não quero a presença dele".

Não se pode ocultar que grande dificuldade, quanto a limites na empresa, reside na ignorância sobre a competências de ações do próprio cargo, falta de conhecimento que interfere na seleção de profissionais. Engenheiros montam "desenhos operacionais" voltados a padronizações e robotizações, priorizando a validação produtiva para a empresa (seu patrão) e obedecendo suas diretrizes. Considerar o espaço de sujeitos é com recursos humanos? Esquecem que organizações dependem dos fenômenos sistêmicos e demandam uma visão holística para sua compreensão como um todo de partes interdependentes em constante dialéticas, trocas que podem alterar substancialmente a produtividade da empresa e a fidelidade da clientela, se suas influências negativas não forem detectadas precocemente. Por exemplo, um mau atendimento de um porteiro pode afetar emocionalmente um cliente, influenciando seu modo de interagir com o ascensorista, se estendendo a recepcionista... e nessa sequência interferindo até na escuta aberta em reuniões e importantes tomadas de decisões.

No esquema de autoridade vertical, a meritocracia é de quem impõe suas ordens e obriga seguidores a obedecer. Quer maior fator desmotivador para uma colaboração voluntária ? Na transparência da gestão participativa, o mérito recai sobre a competência do colaborador em determinada função e para isso tem que haver a preservação de seu espaço como "sujeito", abertura para sua individualidade criativa e inovadora, reconhecimento real e gratificante do seu desempenho na solução do problema empresarial.

Como atuar então?
Investir diretamente contra chefia, ou por meio de queixas formais?
Vai cair na avaliação de inadequação e rebeldia a figuras que representem autoridade; sem programas de treinamento poderá passar a remanejamento ou afastamento direto da empresa.

Como fazer para resgatar éticamente o "espaço do sujeito" na organização?

Ante esse quadro situacional e motivacional eis dois mapeamentos que podem servir se procura também esse resgate. Em ambos pode-se observar a coleta de sugestões e a implicação do sujeito resgatando sua história dentro da empresa e seu cuidar da empresa que o acolhe.

Vou transcrever sem a formatação estética e espaços que tal mapeamento demandaria. Em ambos espaços, na parte superior da folha, para os dados referentes a: data, serviço, setor, cargo, tempo de serviço, sexo, idade, estado civil, escolaridade, religião.

* Questões para um MAPEAMENTO SITUACIONAL

1- Cite 3 (três) características pessoais importantes para o funcionário que ocupa este cargo e 3 (três) que atrapalhariam seu bom desempenho.

2- Apresente 2 (duas) sugestões, ou mais, possíveis de serem implantadas nesse momento, que poderiam facilitar o serviço de quem exerce esse cargo. Justifique.

3- Segundo você, o que poderia dificultar sua implantação, no momento atual?

4- Defina com uma palavra o que "um trabalho" representa para você.

5- Cite uma imagem que represente o "seu trabalho atual" e justifique a escolha.


**Questões para um MAPEAMENTO MOTIVACIONAL


I -"Eu trabalho nesta empresa porque..."
( Marque os pontos mais importantes do motivo de trabalhar nesta empresa. Escolha até no máximo 5 (cinco) alternativas, numerando por ordem de importância.)

( ) 1- Tenho chancer de crescer na empresa.
( ) 2- Tenho estabilidade no emprego.
( ) 3- Por falta de opções.
( ) 4- Tenho muitos amigos aqui.
( ) 5- O ambiente físico do trabalho é bom.
( ) 6- O ambiente humano do trabalho é bom.
( ) 7- O trabalho que faço é interessante.
( ) 8- O salário é bom.
( ) 9- Os benefícios são bons.
( )10-Tenho liberdade para apresentar sugestões.
( )11-Gosto do que faço.
( )12-Porque me dá prestígio.
( )13-Porque seria difícil conseguir um emprego melhor.
( )14-Porque o mercado não está favorável a mudanças.
( )15-Por outro motivo. Qual?

II- Sem ser aumento de salário, cite 3 benefícios importantes para você.

Vai se surpreender com os dados que vai obter!

Sobre essa base poderão ser construídos programas mais eficazes e mobilizadores da motivação dos colaboradores dentro de uma gestão participativa. Agora é mãos a obra e enquadrar a investigação do capital humano de sua empresa nesse esquema, priorizando os aspectos específicos, que caracterizam sua organização: perfil, valores e missão, política interna e externa.


Boa sorte em seu empenho por essa conquista em prol de um social mais humano! Aurora Gite

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Fábulas? Ora fábulas...

Muitos se perguntariam o que são fábulas? Para que servem essas pequenas estórias?
Procurando nos dicionários vão encontrar: "curtas narrativas que nos brindam com lições morais".
Pesquisem agora "La Fontaine", esquecido pelo tempo ou afastado na memória de muitos, conheçam suas fábulas, que dão vozes aos animais e nos trazem tantos ensinamentos, muitos de grande ajuda em dinâmicas de grupo.

Eis uma de suas fábulas, qualquer semelhança com chefias manipuladoras e autoritárias, ávidas de poder e prestígio, é mera coincidência. As metáforas, que contém, possibilitam tratar pacíficamente temas delicados para muitas organizações particulares ou institucionais. Essas expressões figurativas, que permitem substituição por analogias, podem ser recurso de grande valor. Para exemplificar, lembram da frase "forte como um leão"? Na fábula abaixo, volto a enfatizar, será mera coincidência quaisquer comparações com a postura ditatorial de muitos diretores de grupo, que me permito não chamar de líderes de equipes? Analogias... ora analogias!


"A novilha, a cabra, a ovelha e o leão"

Três animais muito pacatos - a novilha, a cabra e a ovelha - fizeram certa sociedade com um feroz leão, o rei daquela floresta.
Pelo acordo feito entre os quatro animais, quaisquer lucros ou prejuízos de um deles deveriam ser partilhados pela sociedade.
Logo depois de celebrado o trato, a armadilha da cabra conseguiu apanhar um veado, e o animal imediatamente mandou chamar seus sócios.
Todos apresentaram-se, e o leão, deixando aparecer suas afiadas garras, disse: - "Somos quatro a partilhar a presa".
Era uma afirmação desnecessária, mas o rei fez questão de fazê-la para demonstrar que ele presidiria a partilha.
Esquartejando rapidamente o veado, com sua longa prática, o leão tomou a primeira parte para si e disse:
- "Não há dúvida de que o primeiro bocado é meu, porque me chamo leão e sou o rei da floresta. E creio também que nada poderão dizer contra a decisão de pertencer também a mim o segundo pedaço, pois é pelo direito do mais forte. Exijo também o terceiro, porque todos sabem ser eu o mais valente. E aquele que tocar na quarta porção será dilacerado por meus dentes."

Quem não se confrontou, no organograma hierárquico, com o balançar de um crachá marcando território? Quem não se deparou, impotente, com projetos de equipe sendo esquartejados e partes sendo divididas em benefício de chefias, que tomam posse do projeto e da equipe, e assumem a autoria pelo poder que o cargo e o mau caráter lhe outorgam? E quem não ousou se rebelar e se viu dilacerado profissional e pessoalmente? Estão de prontidão, para dar o bote, o assédio moral, a calúnia e o baú com estoque de represálias, que dilaceram inescrupulosamente a posição, e até a moral, dos indivíduos perante a equipe e a empresa.

Leis... ora leis! Evidências são evidências, plantadas ou forjadas: ora...ora... é melhor deixar como está e agir com inteligente logística estratégica "não ir contra, mas obedecer as ordens, de quem está no poder"! Nem pensar em questionar quem é o dono da organização e fazer valer seus direitos, mesmo porque danos morais são difíceis de se provar. E a justiça de nossos tribunais precisa de fatos, de provas legais, que constem das leis transcritas, elaboradas por homens da nossa sociedade. Não votou nos vereadores, deputados e senadores? Eles são os políticos que cuidam da "coisa pública", ou deveriam cuidar.
Transparências nas ações políticas... ora... ora... tá lá no papel e nos discursos por votos!
Transparências em gestões participativas... ora transparências!

E tem mais, para abrir qualquer ação jurídica é preciso dinheiro... advogado sai caro, sabia? E se a negociação não der lucro, vem o famoso: "Aconselho a deixar tudo como está!" e o sábio vaticínio (profecia) "Vai ter mais aborrecimentos, pode acreditar!"
Justiça... ora Justiça!
Verdade... ora Verdade em sociedades, humanísticas e democratas, de mentirinha!

E a pergunta que não quer calar: " O que fazer?"
A resposta vem da esperança que brota do peito, querendo explodir: "Tem que haver um jeito, tem que ter algo a se fazer, para não ser enterrado vivo e sucumbir renascendo como mera peça dessa engrenagem social deteriorada".


domingo, 7 de agosto de 2011

Gerações perdem o "olhar da ternura"?

Outro dia folheando a revista Psique me deparo com uma crônica de Rubem Alves, que logo me despertou o interesse. Como sempre faço, procurei saber quem era: escritor, educador e psicanalista. Depois busquei ler outras crônicas do autor, para verificar se o impacto se repetia em mim como leitora. Senti o mesmo prazer, o mesmo gozo ante a observação de uma sincronicidade de idéias. Senti meu coração alegre, ao me ver comovida por uma sensação de felicidade, ante a constatação de sua grandiosa simplicidade poética, sua facilidade de expressá-la e sua coragem de se expor.

Esses são os encontrões significativos da vida. Sincronicidade de idéias e vivências aproximando duas pessoas físicamente distantes e estranhas. Duas mentes que se entrelaçam no mundo abstrato e invisível do pensamento, na metamorfose do momento pelo dinamismo da energia emitida por um escritor e captada por um leitor, aberto à leitura e assimilação da mensagem expressa em palavras. Ops! Não sou uma mera leitora, busco o mundo de significações atrás desses símbolos gráficos e estabelecer uma vinculação afetiva, com quem escreve, pelo sentido oculto pelas representações.

A primeira crônica que li desse autor me fez escrever esse tweet:
"A troca de vivências com significados semelhantes é um dos fatores que traz proximidade e aconchego nas interações humanas".

Alves abordava a errônea expectativa que avós e pais depositam em ser compreendidos, esquecendo que novas gerações farão recortes, leituras e interpretações diferentes das deles. Por mais que recebam educação familiar semelhante, o desenvolvimento de seu potencial inato depende das interações com os grupos sociais e das aprendizagens históricas advindas da cultura e época vivida.

Ah, mal-estar da civilização! Quanta barreira, enjaulando a espontaneidade e autenticidade!
Ah, atual avanço tecnológico e rapidez na velocidade das informações, afastando ainda mais as gerações e dificultando a inserção de pais e avós no mundo digital e robotizado dos jovens!
Ah, como está cada vez mais difícil o encontro da sensibilidade do poeta, da coragem do herói para saber se expressar e ser reconhecido, correndo o risco de ousar se expor num mundo que lhe é adverso, como império da racionalidade padronizada de "logísticas estrategistas"!

E, de repente, surge um desconhecido em suas crônicas, que nos diz ao ouvido como num sussurro, assim preferimos escutar suas palavras, para que o vento não as leve no mundo descartável de hoje:

"Vou falar mal do telefone celular. Faz tempo, comprei um, daqueles pesadões, hoje elefantes se comparados aos mais modernos, pequenos beija-flores que se seguram delicadamente com o indicador e o polegar. Sinto-me humilhado pela comparação. (...) O meu, neste momento em que escrevo, não sei onde está. Também não adianta. Está sempre desligado. Acho que não quero ser encontrado. Psicanalista, tenho o costume de ficar interpretando os objetos. (...) O simples ato de atender ao pequeno aparelho pode ser, na visão psicanalista, a expressão que a pessoa faz do seu próprio poder"... muitas se colocando desrespeitosamente "no centro de sua bolha narcísica" ao atender e conversar em meio a palestras, por exemplo.

Os valores e limites racionais entre as gerações estão cada vez mais caóticos. Está cada vez mais difícil de se encontrar um sentido humano na linguagem expressa pelo social atual, com o aumento da violência e a banalização da vida, com o mérito atribuído à competitividade não digna e à submissão destrutiva do outro para abrir um espaço nessa "selva de pedra".

E, de repente, um psicanalista que se diz sensível, a ler fascinado metáforas, que envolvem ternura e "tanta alegria, tanta saudade, uma eternidade inteira num grão de areia", as transformando em crônicas:

"O amor dos dois surgira na adolescência.(...) Aconteceu com a jovem o que seus pais sugeriram: ela se casou. E ele também se casou (...) Quando ele tinha 76 anos ficou viúvo. Quando ela tinha 76 anos e ele 79, ela ficou viúva.(...) Ela não resistiu. Foi à sua procura. Encontraram-se. Resolveram se casar. Os filhos protestaram. Os filhos, todos os filhos, não suportam a ideia de que os velhos também amem. (...) Viveram um ano de amor intenso que provocou metamorfoses: ele se descobriu poeta, começou a escrever poesia."

Acham estranho ou bizarro? Talvez esse juízo surja nos que Alves chama de "analfabetos no olhar". Ele relembra Nietzsche que dizia que a "primeira tarefa da educação é ensinar a ver". Na crônica "A Arte de Viajar" escreve: "Quem sabe ver está sempre viajando, mesmo que não saía de casa. (...) Não é necessário escolher o destino certo, desde que se saiba apreciar o momento."

É se permitir sentir a "pureza singular da ternura" que, segundo Alves, flerta entre as dores do amor e a ardência sexual da paixão. O amor começa quando colocamos uma metáfora poética no rosto do amado ( da mulher amada)... quando observamos olhos, que nos fitam e dizem: "Como é bom que você existe..." Não há tédio, ou egoísmo depressivo, que resista a esse chamado, se não houver clausura voluntária no egocentrismo.

Cito outra crônica de Rubem Alves intitulada "A Ternura". Que pena que essa geração de interações digitais, marcadas pela distância interpessoal e mascarada pelo biombo da tela de um computador, nem saiba o que é cativar.

Termino com a resposta de Rubem Alves sobre o que é cativar, que cita uma de minhas obras favoritas "O Pequeno Príncipe" de Saint Exupéry ( e, para quem não leu ainda, indico A Arte de Amar, de Erich Fromm):

A raposa pediu que o Pequeno Príncipe a cativasse.
"- O que é cativar?" perguntou o Pequeno Príncipe.
" - Cativar é assim", explicou a raposa. "Eu me assento lá longe e você se assenta aqui. Eu olho para você e você olha para mim. No dia seguinte nos assentamos mais perto. Eu olho para você e você olha para mim. Até que nos assentamos juntos. Se você me cativar eu pensarei em você, conhecerei o ruído dos seus passos e sairei da minha toca quando você chegar..."
Aconteceu então que o Pequeno Príncipe cativou a raposa. O tempo passou e chegou um dia em que ele disse à raposa:
"- Preciso ir..."
A raposa disse: " - Vou chorar..."
" - Não é culpa minha. Eu não queria cativar você. E agora você vai chorar... O que é que ganhou com isso?"
" - Ganhei os campos de trigo", disse a raposa.
Antes os campos de trigo não comoviam a raposa. Agora, como são dourados como os cabelos do Pequeno Príncipe ganharam um significado.
"- ... quando o vento bater nos campos de trigo eu me lembrarei de você e sorrirei".
O rosto do Pequeno Príncipe estava gravado no trigal. Mas isso só o apaixonado vê." (...)

E assim encerra Alves: "É o olhar do apaixonado que torna o outro belo. Porque não vemos o que vemos; vemos o que somos. Uma mulher é bela quando nos vemos belos ao olhar nos seus olhos."

Com tristeza constatamos que, cada vez mais, essa geração perde essa grandeza do encontro da ternura e da beleza desse olhar terno, que nos contagia e ajuda a pacificar nossos conflitos e domesticar nossas intolerâncias.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Algumas Indicações

Acredito que quem quiser acompanhar o milênio não se pode furtar de mergulhar nos avanços que se sucedem em vários campos; nem deixar de se inteirar dos meios de comunicação e de aprender a nova linguagem informatizada; e muito menos apreender a importância da extensão das interações, que se formam para além do querido Tejo.

Passo também por aqui, algumas indicações:

Sigo também http://twitter.com/ThompsonLM

Em http://visao3x4 vão encontrar muitos temas interessantes e atualizados.

Em http://visao3x4.blogspot.com/p/videos-interessantes.html indico algumas palestras como:

* Dra Jill Bolte Taylor, cujo livro indiquei em 2008. Sua palestra sobre suas descobertas, do que ocorria com seu cérebro durante seu derrame cerebral, é fascinante! Como neuroanatomista e cientista relatou, passo a passo, toda essa experiência, em seu livro, e divulga por meio de palestras. Os novos conhecimentos funcionais cerebrais quebram paradigmas na área médica.

* Recomendaria que pareassem suas descobertas com os ensinamentos de Krishnamurti cujos vídeos de palestras estão disponíveis em http://www.youtube.com/watch . É só digitar o nome dele no campo "pesquisar" e escolher por qual palestra gostariam de começar a conhecê-lo. Constatem as semelhanças! Ocidente e Oriente se dando as mãos finalmente quando o objeto de estudo é o ser humano? Até que enfim...

* Também em http://visao3x4 vão poder assistir palestra do psiquiatra Sérgio Felipe de Oliveira intitulada: "Glândula Pineal - novos conceitos e avanços nas pesquisas". Constatem como modelos padrões da Medicina Tradicional vão caindo por terra, e os da Medicina Vibracional vão sendo cada vez mais reconhecidos, bem como os ensinamentos espíritas, que já vinham ganhando outra compreensão com o advento da Física Quântica e os avanços das pesquisas relacionadas à paranormalidade.

* "Levantar questões e tentar respondê-las: é a curiosidade que mobiliza o avanço científico" e "A humildade é característica essencial da ciência, expressa na aceitação de que não tem resposta para tudo": são algumas das afirmações do Físico Marcelo Gleiser em entrevista em http://visao3x4 no setor de Cosmologia Energética. Vale revê-lo também em curtos programas televisivos, gravados em alguns vídeos, apresentados dentro desse site.

* Achei muito interessante a apresentação da dimensão quântica, por meio do recurso desenho animado. Simpática a figura do Dr.Quantum! Acho importante enfatizar que abaixo dos vídeos aparecem outros a ele relacionados. É só seguir a própria curiosidade e interesse, e ir avançando nas autopesquisas.

* Citei diversas vezes Dr. Deepak Chopra através de seus vários livros. Agora nesse site, vão poder assistir às suas palestras, demonstrando a substituição da evolução darwiniana pela "evolução metabiológica" neste milênio. "Imagens criadas produzem os mesmos neurotransmissores e hormônios que a experiência real". Aborda a bioquímica responsável pela "energia pensamento" e nova forma de encarar o processo imunológico e a cura de doenças. Suas palestras se situam no campo de trabalho com os chacras (centros energéticos do ser humano).

* Não posso deixar de recomendar "Muito além de nosso eu", último livro do neurocientista Miguel Nicolelis. A sinopse do livro pode ser encontrada na Internet, para quem se interessar em saber mais sobre o autor e a temática abordada. Eu também me questiono sobre os robôs industriais, nanoferramentas e vestimentas, avanços nas técnicas eletrônicas e magnéticas, que possibilitam paraplégicos a se movimentar através de sua força mental... nova visão de cérebro ou novas indústrias que vão comandar a saúde vital do ser humano com novos lobbies se formando?

Faço um empréstimo a Reich : "Não sou político e não sou versada em política, mas sou um cientista socialmente consciente.. reivindico o direito de dizer", retirando sua idéia principal, a meu ver: sou uma cientista socialmente consciente... reivindico o direito de dizer, divulgar e batalhar em prol de uma nova era, onde o ser humano possa ser mais livre e feliz. O cuidado é não criarmos o "Admirável Mundo Novo" de Huxley, ou a sociedade descrita por Orwell em seu "1984".

Aurora Gite
postado 13/7/2011 às 06:32h

sábado, 2 de julho de 2011

Um quebra-cabeça de idéias


Acredito que a maioria de nós já passou pela experiência de montar, ou de apreciar alguém montando, um quebra-cabeça.


Para quem sentiu o prazer e a ousadia do desafio; teve a paciência e tolerância à frustração advinda de ter que desmontar cenas inteiras, pelo encaixe inadequado de uma só peça; teve o gosto, pelo desfocar de sua atenção visando a montagem do quebra-cabeça, de se afastar de suas preocupações e disciplinar suas ansiedades; mais ainda, procurou colocar suave música de fundo, propiciando maior tranquilidade interna... é uma experiência que pode se transformar em grande aprendizado interior.


Para quem aprendeu a gostar desse passatempo, o número de peças não vai interferir nesse prazer. Que venham cem ou duzentas peças, quinhentas ou mil... mais aumenta o tesão ao espalhá-las sobre uma mesa, ao desvirá-las e quem sabe, logo ao acaso, descobrir um encaixe perfeito entre algumas delas.


Existem passos a serem percorridos facilitadores da montagem. Ponto de partida: procurar peças com cantos retos e começar a emoldurar, a cercar o que irá se delineando aos poucos. Depois o agrupamento por categorias afins, para facilitar, pela possibilidade de associação entre figuras ou tonalidades de cores, a formação de imagens parciais, blocos a serem agregados a esse primeiro enquadre. A partir daí, é se entregar ao embalo do tempo e da ferrenha vontade, que irão mobilizar seu esforço e persistência, para entre tentativas e erros, com garra, dar continuidade a essa atividade.

Alguns gostam de se confrontar logo de cara com o resultado final, outros então colocam a seu lado o desenho que o contém, e vão acompanhando através dele sua construção, em muito facilitando esse trabalho. Não se pode deixar de considerar os mais corajosos e confiantes em disciplinar emoções decepcionantes ou incentivadoras, que se aventuram a montar enormes quebra-cabeças, sem saber onde será possível chegar e, como não lhe foi facultada a observação da figura da montagem final, nem a contagem do número de peças, o fascínio do desafio a enfrentar é sua motivação prazerosa essencial.


Tal fato muda a postura dos que ocupam a posição de observadores e até se envolvem, como palpiteiros, em alguns acertos oportunos. Alguns se aproximam curiosos, compartilhando a quietude inquietante da busca e o encontro gratificante da peça certa, na expectativa do que irá ocorrer após o delineamento de uma das imagens. Nesse sentido, cada imagem passa a ser a ser agregada ao fundo gestáltico, que forma o todo do quebra-cabeça, fazendo com que o foco da atenção recaia sobre outra figura que se sobressai ante duas peças encaixadas.

Tem também aquelas pessoas que se posicionam como intrusas e, já de longe, elevando o tom de voz, vão vaticinando o insucesso da empreitada, a não compreensão de sua finalidade, o mau gosto pela atividade, a perda de tempo e... por aí vão, se lançando, da posição referencial egocêntrica e do recorte invasivo da privacidade do outro, ao ataque desrespeitoso à sua subjetividade e liberdade, e ao bem que lhe foi outorgado como pessoa distinta deles, qual seja, o decidir sobre o que é melhor para si. Nem têm noção da aura de desconforto que as envolve, bem diferente do clima aconchegante daquelas que se aproximam e, interagindo respeitosamente, pedem permissão para "estar junto", para "ajudar a montar", ou seja, para compartilhar ativamente da experiência.


Ao me embrenhar numa pesquisa a considero como um quebra-cabeças de idéias.

A imagem que me vem é do aventureiro devidamente paramentado por sua coragem e persistência: mochila como bússola às costas, aconchego corretivo ante o perigo da ilusão; reserva de água visando sua sobrevivência na selva da solidão mental; lanterna egóica à mão, sempre de prontidão, para auxiliá-lo em seu levantar ante tropeços e sofrimentos que levam a dúvidas, muitas dúvidas...que podem se transformar em forças para seu levitar, transcender os desgastes da situação do presente, em prol da serenidade e contentamento por lutar por seus ideais de vida.


Seu espírito já foi trabalhado para conviver com as descrenças iniciais sobre seus achados, com as agruras no trabalho investigativo, com as dificuldades para articular a diversidade de idéias afins, com a angústia da espera pelo encaixe perfeito.

O prazer que brota de dentro de seu peito é expresso por uma grande vontade, que o impele a iluminar novos caminhos, a revirar novas peças conceituais, a buscar outros pontos de vista... todo esse "agir se constitui em força", que se agrega ao tesão das possibilidades do encontro de tesouros, que contenham, como referencial, o brilho do verdadeiro.



Aurora Gite


Postado em 02 de julho de 2011




Observação direcionada a um leitor e ao executivo responsável pela publicação do texto:


Eu me sinto muito desconfortável, por tentar alterar os espaços entre os parágrafos e ao religar o computador encontrar novamente grandes espaços e uma estética caótica no texto.


Pela primeira vez, nessa postagem, tentei escrever o texto no Office (Word), colar e copiar nesse local. Pensei que minhas alterações posteriores fossem respeitadas por blogger.com




Dicas solicitadas:

Vale rever vídeos das palestras da série Meu Mundo Caiu - Discussões e Reflexões sobre aprender a se levantar em http://www.cpflcultura.com.br/

Wisnik foi magistral em "Meu Mundo Caiu, eu que aprenda a levitar" ao abordar a desertificação atual do mundo e do próprio "eu", que vê espelhado seu vazio melancólico a superar (levitar).

José Miguel Wisnik : bit.ly?jLQe6Uvia@addthis

Como na canção de Maysa, "[...] se meu mundo caiu, eu que aprenda a levantar." - Wisnik propõe "eu que aprenda a levitar, a ir mais além, a transcender".



  • Só posso lhe dizer :
    Cada um no seu compasso, alguns encontram prazer na realização de projetos rotineiros de vida, outros superando inquietações filosóficas.

    Vale fazer uma visita a http://www.lojaduetto.com.br/ e conferir as coleções da Ediouro Duetto Editorial.

    Vai se surpreender desde a coleção Mente e Cérebro "Psicoterapias" que retrata e compara "as diferentes práticas clínicas e escolhas", até Mente, Cérebro & Filosofia que busca mostrar os fundamentos para a compreensão contemporânea da psique.

    Depois me encaminhe um retorno de sua avaliação. Fico na expectativa!

    Acredito ser indispensável a um terapeuta, que tem por foco o homem e seu sofrimento, ter a visão ampla dos recursos utilizados nas terapias. Nesse sentido, "Psicoterapias" abre um leque sobre "conceitos, técnicas, enquadres clínicos e objetivos das diferentes formas psicoterapêuticas disponíveis.

Na sessão "Comentários" li com muita atenção e respeito, agradeço e respondo. Fico na expectativa do envio do email mencionado. Procuro respondê-los também.












































quinta-feira, 30 de junho de 2011

Outra instância psíquica? Será?

Outra instância psíquica? Será? Minha intenção com esse título é mobilizar a reflexão do leitor leigo, e também motivá-lo, como ser humano, a investigar em seu psíquico os movimentos que ocorrem ante o que exponho. Minha expectativa quanto aos profissionais, da área psíquica e afins, é que cruzem dados e analisem com os que já possuem, lembrando que o ser humano é um só, e, o que for verdadeiro sobre ele, pode ser observado sob várias perspectivas.


Tudo começou com grande inquietude, revendo teorias ocidentais e orientais, buscando explicações que justificassem experiências de várias pessoas, inclusive minhas. Há muito pouco tempo tais experiências se tornaram objetos de estudo, e assim mesmo com restrições e descréditos preconceituosos. Há muito tempo as pessoas ousaram se expor e colocar a descoberto a experiência por que passaram sem serem taxadas de loucas, ou se considerarem portadoras de algum distúrbio mental.

Por outro lado, sempre me causou estranheza a variedade de teorias e o antagonismo, propagado ferrenhamente por seus defensores, sobre o ser humano. Tais radicalismos produziam, a meu ver, um reducionismo na visão do mundo psíquico do homem, e grande viés na leitura e interpretação dos dados pragmáticos. Fenômenos observados na prática clínica tinham que ser encaixados nas molduras teóricas preexistentes. O recorte sobre o ser humano tinha que se adaptar a esses enquadres conhecidos e avalizados. Os que nele não cabiam, ou eram modelados, ou eram excluídos e desprezados; mais ainda eram desqualificados, por não estarem dentro dos critérios científicos atuais.

Com a globalização, a era digital, novas tecnologias propiciando acompanhar passo a passo o funcionamento cerebral, surpreendentes descobertas sobre o genoma e a clonagem humana... e eis, nesse milênio, paradigmas e mais paradigmas dando cambalhotas e mais cambalhotas sem conseguirem se erguer ante a evidência do novo, que impõe outros modelos teóricos e busca imperiosa de outra conceituação, para se obter compreensões adequadas sobre os fenômenos observados.

Enfatizo o perigo de tentar abarcar a realidade e tentar trocas dialéticas sobre ela, buscando o uso de conceitos comuns. Infelizmente o mundo conceitual se tornou uma Torre de Babel , onde os signos da palavra passam a ser lidos da mesma forma, mas seu simbolismo e representações adquirem tal diferenciação de significados, que poucos se entendem. Também não se dão ao trabalho de estabelecerem os pontos referenciais de onde partem suas idéias, ou as perspectivas onde se colocam para emitirem seus pontos de vista. importante critério para colocar ordem na dialética dos discursos humanos.

Dando continuidade a minhas pesquisas, buscando comprovar minha hipótese de que a energia psíquica está atrelada á biofísica quântica, me deparo com a possibilidade da existência de uma outra instância psíquica, além do id-ego-superego freudianos.

Tal proposição me coloca em posição mais confortável podendo aproximar tantas mentes pensantes de personalidades geniais que se distanciaram, pois ao não se colocarem dentro da perspectiva do outro, não viam com encaixar seus pontos de vista também baseados em evidências clínicas e pessoais. E, ficava eu a refletir, onde está o sujeito psíquico, qual o lugar ocupado pelo ser humano no meio de tanta divergência. Mais ainda, seguindo minha intuição e me permitindo ser livre e pular de perspectiva a perspectiva, observava sob o referencial de cada um e constatava as evidências práticas, ousando testar suas técnicas operacionais na relação terapêutica, comprovando seus efeitos sobre meus pacientes e sobre mim mesma.

Minha proposta é que existe uma instância psíquica, só observada ao se deslocar o investimento das funções superegóicas. Considero a existência no sistema psíquico de duas vias, por onde circulam a energia, como ocorrem nos sistemas circulatório e respiratório. Penso que Piaget teria prazer em renascer para registrar as características da forma operacional contida nessa inteligência.

Para mim, libido (Freud) e energia psíquica (Jung), fazem parte do mesmo processo energético humano, se diferenciando pelas perspectivas sobre o ser psíquico. Pelo processo de individualização partimos do "não-ser psíquico" para a formação da personalidade, de nossa maneira de ser, e construção do nosso "ser e existir como sujeito", a ser transcendido por uma alquimia interior.

Através dessa transformação na qualidade da energia, ela é direcionada a uma "instância espiritual". Nova via de circulação da energia psíquica buscando o encontro do "Ser Psíquico" com sua autenticidade, liberdade e autonomia de ação, que tende a se dirigir ao "Não-Ser Psíquico", que não consiste em sua negação, mas na afirmação de nossa potência energética original.

A compreensão do "Ser" espiritualizado demanda novo aprendizado sobre sua simbologia (linguagem quântica?) e novos recursos interpretativos. Considero o "processo de individuação", enfatizado por Jung, como base para a "espiritualização", onde podem ser observadas novas capacitações humanas e diferentes operações psíquicas funcionais, voltadas a habilidades específicas como intuir, captar sensações e percepções superiores.

Penso que o processo de espiritualização tem a ver com a canalização da energia psíquica re-catexizada por novos valores: origem do Ser Espiritual Moral, característico da "instância espiritual". Aqui diferencio a moral superegóica da Moral Espiritual.

A primeira, moral superegóica - rédea externa ao "ser" - constituída pelo conjunto de regras e costumes, ditado por fatores externos ao indivíduo, com sua função limitadora do "eu" em sua inserção no social, facilitadora da convivência do indivíduo dentro da comunidade, mas criadora de um "querer", que depende de uma "vontade condicionada" ao livre arbítrio" desse indivíduo, para decidir e optar entre caminhos, que lhe são "oferecidos pelo mundo relacional à sua volta".

A segunda, Moral Espiritual, pertencente ao campo das "Virtudes", que, a meu ver, são valores espirituais advindos de fonte interna - essência do indivíduo - e que se constituem em forças intrínsecas, que o mobilizam a atuar de acordo com esse querer autônomo, essa "Vontade Livre" do espírito (da psique humana), que, por si só, se constitui na "disposição tensional para querer" que motiva o indivíduo a buscar se superar continuamente.

Como estamos diante de uma inteligência que se propaga por vibrações ondulatórias (quânticas?) - sincronias energéticas ou dissonâncias psíquicas - pesquiso, no momento, dados sobre o processo eletrolítico dessa alquimia. A água, por nós ingerida, tem a capacidade de aumentar as sinapses entre os neurônios... quantas hipóteses podemos construir, a partir daí, considerando o bioeletromagnetismo humano?

Aurora Gite

domingo, 19 de junho de 2011

Timidez: Medo ou Orgulho?

Gostei muito desse texto, assinado por Sirley Bittú, então repasso, Não conheço sua autora, mas me atraiu sua forma de descrever e analisar o fenômeno da timidez e sua dinâmica. No final teço algumas considerações sobre o fenômeno dentro de uma nova perspectiva para refletirmos sobre ele.

"O que eu faço com essa minha timidez?

A definição de timidez mais conhecida é a que se refere ao tímido como aquele que tem temor, receoso, acanhado, covarde. Pessoa que tem vergonha, sensitiva, pessoa que com tudo se melindra ou de grande suscetibilidade, aquele que facilmente se ofende. A definição de temor também é descrita em alguns dicionários como ato ou efeito de temer – susto, sentimento de reverencia ou respeito.

Prefiro dizer simplesmente, tímido é aquele que tem medo. Na infância o comportamento em relação ao medo é explicado e entendido pela capacidade da criança em discriminar fantasia de realidade. Ao passo que esta capacidade vai sendo aprimorada em sua relação no mundo, o medo naturalmente vai se adaptando ao que é esperado, ou seja, passa a ser um parâmetro de auto proteção.

As pessoas mais tímidas tendem a supervalorizar os possíveis riscos, assim o novo e o desconhecido torna-se assustador. O tímido está sempre muito preocupado em passar uma boa imagem para as pessoas, torna-se extremamente exigente consigo mesmo, apresentando por isso mais dificuldade de se relacionar, paquerar, namorar, expressar o que sente e o que pensa sobre as coisas.

A inibição geralmente é resultado do medo de falhar e com isso se sentir ridículo e incapaz. A timidez está diretamente relacionada ao amplo sentimento de competência. A nossa auto imagem é a percepção daquilo que acreditamos ser, e, quando ela é negativa, encontramo-nos numa prisão interna que nos leva a distorcer a realidade e por conseqüência nos retraímos.

O ser humano tem uma demanda de amor, necessita ser amado para se desenvolver, precisa sentir-se visto, percebido e aceito. Existem muitos estudos que relatam, que a falta de amor ou o desamor, principalmente nos primeiros anos de vida, interferem no desenvolvimento e na maturidade emocional do ser humano. O nosso sentimento de segurança e de auto confiança se configura ainda nesta fase, através das vivências de afeto e de confirmação pelas quais passamos.

Costumo dizer que nós passamos por dois úteros, um físico e um psicológico. Ambos nos geram para o mundo. O psicológico é formado por nossa matriz social, ou seja por nossa família, pelas pessoas com quem nos relacionamos e com as quais aprendemos e entendemos como devemos nos comportar. A educação é a via desse processo. E através dela aprendemos quem somos, o que somos e como somos. Nossa individualidade vai sendo lapidada pela visão de mundo de nossos pais, suas crenças, seus mitos e suas verdades.

São desses entendimentos que se desenvolve nossa AUTO-ESTIMA. A auto-estima é o resultado do afeto que aprendemos a dar a nós mesmos através do respeito e da aceitação daquilo que pensamos, sentimos e somos.

Através dela conquistamos nossos espaços e percebemo-nos merecedores de felicidade. É o resultado do amor que recebemos, não o amor gratuito mas aquele que ensina a retribuir, que ensina a noção de respeito ao outro e a si mesmo. Na primeira infância necessitamos da aprovação externa, e a reação das pessoas aos nossos atos também constitui fonte formadora da nossa auto-imagem e pode modificar ou influenciar nosso autoconceito que carregaremos durante a vida. Este autoconceito, esta percepção de si, dos próprios potenciais, de limites, e principalmente de seus desejos, estará sendo estimulado durante toda a nossa vida, através das diversas relações que estabelecemos.

Isto significa que a nossa família influencia a forma de nos percebermos, mas não a determina. A maturidade psicológica pode ser medida também pela nossa capacidade de nos auto-alimentarmos emocionalmente, passando então da necessidade de confirmação para apenas o desejo de sermos aceitos.

Isto não significa que somos como argila, moldados apenas pelas experiências externas. Nascemos com características físicas e com algumas psicológicas, herdadas. Trazemos conosco em nosso nascimento um potencial de saúde mas que precisa dessas provisões externas para se desenvolver.

Resumindo, a auto-estima é a capacidade do ser humano de sentir-se bem em relação a si próprio, o bastante para aceitar a rejeição não como uma afronta pessoal, mas como parte inevitável da vida. O indivíduo com auto-estima tem a capacidade de deixar a rejeição para trás e prosseguir. Aqueles que se aceitam agem livremente, permitindo a si mesmos atuar próximo ou no máximo de seu potencial. Expressar-se é contar sobre si, relacionar-se, assumir que se faz parte do mundo.

O TÍMIDO tem sua AUTO-ESTIMA baixa, frágil, ele sempre acha que todos estão olhando para ele, que o mundo roda em torno de sua atuação. Está preocupado em como os outros vão avaliar suas atitudes e comportamentos e com isso não tem coragem de assumir seus próprios desejos.

A timidez torna as pessoas propensas a interpretarem os acontecimentos de uma maneira ameaçadora, com isso sua autonomia torna-se prejudicada, precisando de algo ou alguém para sentir-se seguro e tranqüilo.

Em nossa atuação no mundo trabalhamos sempre em duas áreas a da ilusão (fantasia, crenças) e a da realidade (mundo objetivo). Nossas escolhas e formas de entender e de sermos no mundo nascem destes focos de atenção.

Se temos uma boa noção sobre quem somos e do que somos capazes, ou seja, de nossos potenciais e de nossas possibilidades, atuamos no mundo de forma mais autônoma e segura. O conhecimento de si mesmo, aliado à auto-estima são os fatores determinantes para mudar sua forma de se relacionar com o mundo.

A timidez incomoda cada vez mais. Em nossa sociedade competitiva aquele que não ousa, aquele que teme ser visto, ser percebido ou questionado em suas opiniões, tem mais dificuldade em se relacionar, conquistar seu espaço profissional e com isso alcançar o sucesso esperado pela sociedade e muitas vezes por si próprio.

Torna-se invariavelmente comum, receber em meu consultório pessoas que buscam se livrar desse sofrimento. Desde jovens que não conseguem se expor em sala de aula, apesar de saberem a matéria, ou mesmo não conseguem fazer amizade ou pertencer a um grupo, ou arriscar uma paquera, sentindo-se excluídos e rejeitados.Ou quando adultos, muitas vezes já profissionais, que sentem dificuldade de expressar seus conhecimentos, liderar grupos, agir com autoridade, estabelecer limites. Os tímidos sofrem e perdem oportunidades profissionais, relacionamentos pessoais, vivências, experiências, porque não se lançam no mundo. A sociedade prefere aquele que saiba defender suas idéias e seus pontos de vista. " ( Sirley Bittú)

Vamos nos aproximar de outras características deles e refletir sobre sua dinâmica?

Podemos verificar que sob o véu da timidez se encontra:
* uma pessoa sensitiva até melindrosa;
* insegura, receosa e acanhada, o que a faz supervalorizar possíveis riscos;
* com medo de cometer erros e de sentir-se ridicularizada ou incapaz;
* pessoa dotada de grande suscetibilidade, com tendência a se ofender com facilidade;
* tem dificuldade para se inteirar e refletir depois sobre eventuais críticas a seu respeito;
* tem tendência a se sentir culpada por tudo e carrasca castradora que inibe a si mesmo;
* juíz implacável consigo mesmo, se incapacita ante altas exigências e cobranças de performance;
* sua energia é investida na manutenção da imagem para os outros e evitar rejeições afetivas;
* demonstra pouca capacidade para lidar com agressividade (necessária na colocação de limites);
* tem dificuldade de dizer "não quero", reação adequada imediata a um desconforto;
* tem pouca flexibilidade consigo mesmo para conviver e para tolerar suas próprias falhas;
* apresenta obsessiva preocupação com as atitudes, reações e pensamentos dos outros;
* pessoa que adota como mecanismo de defesa, a própria timidez
* a timidez funciona

Fui interrompida bruscamente por um de nossos imprevisíveis "apagões" e quedas na energia elétrica. Mudou o rumo de minhas idéias e de meu projeto para essa postagem. Acredito ter sido providencial para exemplificar como lido com a vida.

Montei novo projeto em questões de segundos. Gostei dele e o aprovei internamente. Vou remeter o leitor desse blog a mergulhar dentro de si, investigar o fenômeno da timidez ( todos nós já o conhecemos em algum momento de nossas vidas) sob sua perspectiva de ser um mecanismo de defesa.

Lembrete: mecanismos de defesa surgem de operações mentais que nos são inconscientes, visam proteger a integração e harmonia de nosso aparelho psíquico. Contra o que?
Devolvo a pergunta: Se tomasse maior consciência de si, nesse momento, "o que é que" poderia causar a você uma angústia interna (dor psíquica) tão grande, que o ameaçasse com a possibilidade de uma desestruturação psíquica? Pense, estabeleça associações, lembre de situações em que se percebeu tímido, ou tomado por este "estado de acanhamento".

Agora volto ao "fenômeno da timidez": A "serviço do que" está a sua timidez? O que ela impede que venha tona, pois se vier irá lhe trazer desconforto e e desagradável sensação de ansiedade?

Já dei uma porção de pistas, que dão condições para o traçado do "perfil psicológico do tímido". A investigação fica com você agora. Sinta-se como um detetive desvendando seu interior. Isso é válido para muitos fenômenos psíquicos, que observar dentro de você.

Mas, como tudo na vida envolve "vontade" ou "autêntico querer" entrego a você o pacote de suas ilusões e fantasias para suas reflexões sobre elas, e possíveis futuras decisões se for confrontado com a necessidade de mudanças para "ser feliz".

Novo lembrete: a dica não é para acionar sua "vontade" ligada ao seu "livre arbítrio", ao seu "intelecto e cognição abstrata", onde tem que optar entre fatores externos a você. A dica é para tentar entrar em contato com sua "vontade livre" ou sua "liberdade verdadeira como ser humano", ligada ao querer profundo de seu espírito, captado por sua "Razão e cognição intuitiva".

Sei que agora é capaz de melhor lidar com aquilo que o angustia e se aliar à vontade de investir em você rumo ao seu "ser livre e feliz", meta de todo "ser humano". Torço para que tenha coragem e ousadia para esse empreendimento. Não é fácil! Mas depois, a visão do alto, da serena plenitude, faz tudo ter valido a pena!

Aurora Gite

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Participe!

Há muito tempo, venho observando as interações familiares e a dinâmica que envolve a relação entre adultos, adolescentes, crianças, e idosos, tentando imaginar como serão esses agrupamentos nesse milênio de relacionamentos virtuais, robotizados ante a aridez afetiva que se alastra, agora também encoberta pela distância do isolamento voluntário de seres humanos. Exceções tentam enfrentar esse turbilhão, mas parece que adentram um "tornado social" que os engole e os transforma em párias da nova sociedade, por enquanto... Assim espero!

Para exemplificar pego famílias nos dois extremos financeiros:

De um lado os mais abastados que passaram anos encouraçados na ansiedade neurótica de nosso tempo, correndo atrás de melhor administração do tempo, para poder dar conta de todos os seus compromissos; e quebrando a cabeça nos planejamentos e melhores estratégias para permanecerem no mercado competitivo e perverso, conservando seus espaços de liderança. É fácil comprovar onde sua eficiência os levou.

Suas moradias são de dar inveja. Ao nelas adentrar tem-se a impressão de estar em amplos locais cinematográficos não só bem mobiliados, mas com aparelhos eletrônicos de primeira linha. Seus corpos são tratados academicamente sendo seus cartões de visita empresarial. Também reveladores de seu "status social" são os cuidados alimentares. Sua geladeira conserva o desenho de uma logística parcimoniosa, voltada para uma conservação do equilíbrio de seus sistemas orgânicos e harmonia da comunicabilidade entre eles, quase beirando ao excesso. Reconhecem eles que fatores genéticos, ou variáveis do mundo externo totalmente disfuncionais, podem interferir em suas sadias lideranças. Seu quadro de funcionários consegue manter tudo limpo e organizado, o que lhes faculta expressar sua preguiça e comodismo ante um não arrumar camas, ou saídas a trabalho sem horários de retorno em finais de semana. Aí tentam controlar o ambiente e estabelecer limites de aproximação: fumantes não, bebidas controladas incluindo cafézinhos, doces sob vigilância total, manipulação da violência televisiva, exposição na internet em bate-papos ou sites do gênero nem pensar...Enfim, tudo sob controle! O real mascarado e o social peneirado de acordo com suas regras de bem viver.

Tento brincar com suas crianças, sempre bem vestidas e de mãos limpas, que têm atenção familiar e a melhor das intenções, sendo levadas a cursos de natação, tênis, futebol, guitarra, inglês, além das aulas curriculares; a clubes, cinemas e teatros, a percorrer livrarias, e a constantes disputas nos jogos eletrônicos:

Espalho vários carrinhos, miniaturas interessantes em sua perfeição, e são muitas... muitas. Tento usar minha capacidade de imaginar, partir para o reino da fantasia e começar a articular estórias. Primeiro agrupo por cores, tentando atrair os menores; depois parto para estacionamento buscando organizá-los por tamanhos; depois para filas em lava-jato e postos de gasolina tentando avaliar sua capacidade de estabelecer prioridades e lidar com a frustração da espera e seu grau de solidariedade.

Monto a casinha de bonecas, a mobilio e tento também articular estórias aproveitando a família de bonecos até com o cachorrinho fazendo parte. Aproveito a quantidade de bichinhos e construo um jardim zoológico avisando que irão visitá-los após o almoço. Fogão e panelinhas em cima dele faziam antever sua proximidade. Sinto falta das sonhadoras associações que impedem a destruição do reino da fantasia. Sinto falta do aconchego afetuoso capaz de articular vínculos entre os bonecos que interagiam.

E novamente o que aparecia eram o desinteresse e o tédio, que os fazia correr em busca dos Ds da vida, robotizados frente a telinha de um game-boy (nintendo ds). De repente, me chamam para participar. Oba! Lá vou eu... mas para meu espanto, me dão outro Ds explicando que cada um teria o seu e que um poderia interferir no jogo do outro (?). Bem brincaríamos juntos então, até que enfim! Ledo engano, seu prazer infantil estava em correr atrás de meu "mario" lhe dar vários socos, erguê-lo sobre sua cabeça o deixando impotente e jogá-lo dentro de um lago, impedindo sua caminhada. Todo esse processo valia risos e risos, e a sensação de ter-se tornado um vencedor na vida. Uau! Foi a exclamação de meu peito oprimido.

Virei a cabeça ante a percepção de um sussurro sobre outra criança:"Ele não tem dormido bem, sempre ansioso, tem medo de ficar só. Fala de noite, levanta, anda. Para sairmos a empregada tem de dormir no quarto dele, até voltarmos. E quantas vezes não vai para nossa cama, ou vamos dormir com ele. Tudo para ele tem que ser perfeito, ou é um fracasso. É perfeccionista ao extremo! Cumpre regras ao pé da letra. Não se sente bem frustrado, mas não ataca, fica mais quieto..." E por aí foi a conversa. E dentro de mim uma angústia oprimindo o peito:Uau!

Passo a percorrer outro mundo, ao ser contaminada pelo outro extremo financeiro:

"Mistura" quando se tem, senão o "rango" é arroz e feijão; pode faltar fruta, mas não cerveja... e muita pois a casa sempre está com amigos da família. Tudo bagunçado, é trabalho fora mais trabalho para os outros, sem ninguém para ajudar na organização da casa e o tempo de lazer é de ver tv, jogar baralho, tomar cervejinha, fumar adoidado, contar piadas... Crianças? Estão presentes, mas existem e suas necessidades como pessoas são escutadas? "Adoramos crianças, soltas ao redor com suas mãos e bocas sujas lambuzadas de doces, quando se tem ... mas que aprendam o seu lugar e se virem! Primos, amiguinhos da vizinhança, que venham... tendo dividimos. Se puderem trazer algo, ótimo; senão damos um jeito (?)." Cozinha com pratos sujos sobre a mesa e panelas e louças empilhadas na pia. E, para os de casa: "Estão com fome? Tem miojo no armário. Estamos abertos aos DRs (Discutir Relações), desde que..." Traduzo: desde que sigam o que dizem, pelo poder autoritário de pais, que se atribuíram. Uau!

Todo material, usado por uma faxineira, no quartinho dos fundos, esperando dinheiro para contratar uma. Ah, prioridades! Estruturar a vida para quê? Tá dando para pagar as contas. O resto empurramos para frente. Deixar de viver o momento? Estamos com visitas, nosso vizinho do lado! Esquecem que a vida, nesse "jogar para frente" não nos permite escrever nossa história em rascunhos, para depois os recuperarmos para passarmos a limpo. Não nos dá essa oportunidade. Sempre temos que conviver com as consequências de nossas escolhas imediatas, no aqui e agora de nosso presente.

E eu, sentindo a angústia de meu self (essência), no momento,também aprisionado, pela falta de recursos para estabelecer contato real e humano com essas crianças, só podia torcer para que elas conseguissem "sobreviver" em sua individualidade e humanidade. Não vai ser fácil! No entanto, sei que, como seres humanos, não podemos escapar desse "encontro marcado conosco mesmo". Uau!

Para aliviar minha angústia, eis o que me caiu às mãos e suscitou essas reflexões:

"As crianças aprendem aquilo que vivem...

Se uma criança vive criticada, aprende a condenar.
Se uma criança vive com maus tratos, aprende a brigar.
Se uma criança vive humilhada, aprende a se sentir culpada.

Se uma criança é estimulada, aprende a confiar.
Se uma criança é valorizada, aprende a valorizar.
Se uma criança vive no equilíbrio, aprende a ser justa.
Se uma criança vive em segurança, aprende a ter fé.
Se uma criança é bem aceita, aprende a respeitar.
Se uma criança vive na amizade, aprende a ser amiga,
Aprende a encontrar o "amor" no mundo.

A responsabilidade é de todos pelas futuras gerações. Participe!!!"

Adoro movimentar meu mundo interno e meu pensar, minha maior riqueza pois me une a minha essência humana. Através das reflexões, surgem tantas articulações, pensamentos se entrecruzam, minhas idéias brotam. Resolvi aderir à convocação para participar, com essas dicas para todos nós, seres humanos:

"Pus-me assim a refletir:
Todos nós ajudamos a construir o mundo em que nossas crianças vivem
Como preferimos vê-las?
Encouraçadas ou robotizadas como pessoas,
Aprisionadas em si-mesmas,
Ou libertas em sua autenticidade e espontaneidade?
Participemos como cidadãos, cada um a seu modo
Quer seja espalhando nossas reflexões a respeito do que ocorre ao redor delas,
E nossa esperança de contribuírmos para educação de um "ser livre e feliz"!

E os idosos? Não toquei neles, não é?

Acredito que, em meio a discriminações sociais, reais e naturais, tenham muitas aberturas no mundo de relacionamentos virtuais. Os novos recursos interativos podem contrabalançar com suas limitações físicas e aposentadorias ociosas. Muitos podem deixar de ser "mortos-vivos", aproveitar a telinha do computador e programas como a internet, para colocar suas idéias pelo mundo a fora como "cidadãos ressuscitados". Inclusive pela aquisição de nova identidade virtual e liberdade para troca de conhecimentos, podem conquistar novo espaço físico. Deixam a qualidade de dependentes e tornam-se sujeitos responsáveis pela escrita de sua história novamente. Agora que se apossaram de suas vidas suas ações dependem de suas vontades, escolhas e decisões. Podem se considerar incluídos no mundo mais ativamente nesse milênio, optando por viver e descobrir a alegria da vida em sua alma. Eu me orgulho deles!

Muitos, no entanto, estão com seu "querer" tão atolado na areia movediça da depressão, que se afundam, cada vez mais, na categoria de excluídos sofredores. A frágil e temporária bóia medicamentosa não mais os sustenta, só os lança no torpor ilusório, que torna seus corpos passivos e impotentes. Suas cabeças se mantém expostas e seus olhos fixos numa tela de tv ou computador... até que sua idosa fiação interna se enferruge de vez pela intoxicação, que os consome, e que acaba oxidando sua alma de simples "ser sobrevivente". Uau!