terça-feira, 30 de junho de 2009

Caloroso retorno de um pai a uma filha?

Andréa me encaminhou este e-mail que recebeu recentemente:

"Para quem é pai/mãe e para aqueles que o serão..."
Há um período em que os pais vão ficando
órfãos dos seus filhos.
É que as crianças crescem independentes de nós,
como árvores tagarelas e pássaros estabanados.
Crescem sem pedir licença à vida.
Crescem com uma estridência alegre,
e, às vezes, com alardeada arrogância.
Mas não crescem todos os dias de igual maneira.
Crescem de repente.
Um dia sentam-se perto de você no terraço
e dizem uma frase com tal maturidade
que você sente que não pode mais trocar as fraldas
daquela criatura.
Onde é que andou crescendo aquela danadinha
que você não percebeu?
Cadê a pazinha de brincar na areia,
as festinhas de aniversários com palhaços
e o primeiro uniforme do maternal?
A criança está crescendo num ritual
de obediência orgânica e desobediência civil...
E você está agora ali, na porta da discoteca,
esperando que ela não apenas cresça, mas apareça!
Ali estão muitos pais ao volante,
esperando que eles saiam esfuziantes
sobre patins e cabelos longos, soltos.
Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas,
lá estão nossos filhos com o uniforme de sua geração:
incômodas mochilas de moda nos ombros.
Ali estamos, com os cabelos esbranquiçados.
Esses são os filhos que conseguimos gerar e amar,
apesar dos golpes dos ventos, das colheitas,
das notícias e da ditadura das horas.
E eles crescem meio amestrados,
observando e aprendendo nossos acertos e erros.
Principalmente com os erros, que esperamos
que não repitam.
Há um período que os pais vão ficando
um pouco órfãos dos próprios filhos.
Não mais os pegaremos nas portas das discotecas
e das festas. Passou o tempo do ballet, do inglês,
da natação e do judô. Saíram do banco de trás
e passaram para o volante de suas próprias vidas.
Deveríamos ter ido mais à cama deles ao anoitecer
para ouvir sua alma respirando conversas
e confidências entre os lençóis da infância,
e os adolescentes cobertores daquele quarto
cheio de adesivos, pôsteres, agendas coloridas
e discos ensurdecedores.
Não os levamos suficientemente ao Playcenter,
ao Schopping,
não lhes demos suficientes hambúrgueres e cocas,
não lhes compramos todos os sorvetes e roupas
que gostaríamos de ter comprado.
Eles cresceram sem que esgotássemos neles
todo o nosso afeto.
No princípio subiam a serra ou íam à casa de praia
entre embrulhos, bolachas, engarrafamentos, natais,
páscoas, piscina e amiguinhos.
Sim, havia as brigas dentro do carro,
a disputa pela janela, os pedidos de chicletes
e cantorias sem fim.
Depois chegou o tempo em que viajar com os pais
começou a ser um esforço, um sofrimento,
pois era impossível deixar a turma
e os primeiros namorados.
Os pais ficaram exilados dos filhos.
Tinham a solidão que sempre desejaram,
mas, de repente, morriam de saudades
daquelas "pestes".
chega o momento em que só nos resta ficar de longe
torcendo e rezando muito
(nessa hora, se a gente tinha desaprendido,
re-aprende a rezar)
Para que eles acertem nas escolhas em busca
de felicidade.
E que a conquistem do modo mais completo possível.
O jeito é esperar:
qualquer hora podem nos dar netos.
O neto é a hora do carinho ocioso e estocado,
não exercido nos próprios filhos
e que não pode morrer conosco.
Por isso os avós são tão desmesurados
e distribuem tão incontrolável carinho.
Os netos são a última oportunidade de re-editar
o nosso afeto.
Por isso é necessário fazer alguma coisa a mais,
antes que eles cresçam.
Aprendemos a ser filhos
depois que somos pais...
"Só aprendemos a ser pais
depois que somos avós..."
(Texto de Affonso Romano de Sant'Anna)

*O pai de Andrea já era avô de 8 netos. Através dela está vindo o 9º.

domingo, 28 de junho de 2009

Reflexões sobre a abrangência de uma supervisão

Reflexões sobre esse tema me propiciaram retornar a um projeto de 1998, voltado a importância de uma supervisão em Psicologia em Hospital Geral, estando esse em processo de mudança, portanto, se constituindo em foco de ameaça e ataque entre os profissionais, nas mais diferentes funções, dentro dessa instituição. Insegurança e medo permeiam as fantasias, desequilibrando a rede de interações humanas e fortalecendo a emergência de conflitos desestruturantes do sistema produtivo.

Hoje em dia, é reconhecido que modificações estruturais numa organização, que visa transparência e boa administração de recursos humanos, sua mais valiosa matéria prima, ocorrem de uma maneira dialética, com trocas e alterações comportamentais (individuais e grupais). Focam a arte de dialogar e negociar, a capacidade de convencer e persuadir - e excluem imposições burocráticas e pressões hierárquicas. Considerando o movimento sistêmico organizacional, essas mudanças operacionais devem ser consideradas como processos funcionais complementares.

Uma organização é um organismo vivo, como o corpo humano, com seus elementos interagindo entre si e com o exterior. Sendo assim, qualquer preocupação logística não pode fugir de diagnósticos sob várias perspectivas e análises em termos integrativos e não exclusivistas.
Qualquer estratégica planejada sob o foco unilateral e manutenção do "status quo" da gerência administrativa, e não inclusão de uma gama representativa de colaboradores nas equipes, a longo prazo não conseguirão manter resultados eficientes e eficazes. A preocupação administrativa com a união desses aspectos atualmente já faz parte de qualquer processo logístico e planejamento estratégico, no entanto, são grandes as resistências para a implantação de projetos sob esse prisma, principalmente quando atinge benefícios pessoais e interesses outros que não os institucionais.

Ainda é pouco conhecida função do psicólogo hospitalar como agente unificador e suas intervenções propiciadoras de alívio de ansiedades, particularmente as oriundas desse período de instabilidade. O espaço de atuação de um psicólogo hospitalar vai além do desempenho de sua função clínica com pacientes, familiares e cuidadores. A rede de relações na instituição hospitalar também demanda por ajuda, devendo a própria organização ser observada e analisada como um grande grupo. As intervenções, nesse sentido, visam o grupo como um todo. Embora cada um atue, embasado numa teoria específica, de acordo com suas leituras e interpretações, suas características pessoais, possibilidades e formas de agir individuais, não se pode deixar de estar disponível para a compreensão holística do contexto hospitalar e para a interpretação da gama de motivações que mobilizam determinadas ações humanas.

Tal reflexão me traz à lembrança que contra fatos não há argumentos e, na época desse projeto, dentre cinquenta e três psicólogos, fui a única a defender a adoção de uma postura eclética em reuniões para definir o perfil do profissional na área hospitalar. Como conseqüência, grandes críticas, não às idéias que propunha, mas discriminação maciça, até assédio moral por desqualificações várias, buscando atingir minha credibilidade profissional e até mesmo pessoal. Tal fato deixava claro para mim o pouco amadurecimento e despreparo para o cargo da maioria das lideranças, e devidas assessorias, para enfrentar o tipo de gestão participativa que estava sendo implantada.

Durante os dezessete anos que atuei nessa Instituição, as cartas de pacientes , encaminhadas a Ouvidoria durante esse período, reconhecendo e agradecendo meu desempenho profissional, é que me serviram de grande incentivo e suporte a esses ataques pessoais anti-éticos e desumanos.

Hoje, o fato de ter bancado minha opinião e sobrevivido a uma perversa exclusão grupal, tornou-se para mim em motivo de orgulho, como ser humano e como profissional, pois é fato comprovado que uma visão abrangente e dinâmica é uma das características que define um empreendedor e inovador, colaborador tão procurado pelas organizações desenvolvimentistas desse novo milênio. Por outro lado, não há nada, dinheiro ou "status", que valha a perda da dignidade, da tranquilidade interna e do respeito próprio.

Isso vale como desabafo e aqueles que me perguntam o que ocorreu nesses anos, respondo que eu optei por me aposentar, para me livrar das pressões e assédios, e muitos cujos feitos foram citados acima, não sobreviveram dentro da instituição, ou do cargo que exerciam: não se enquadravam mais ao perfil de profissional dessa qualidade transparente de gestão.

Acredito que o obstáculo mais difícil , no momento, está na adaptação às normas institucionais dessa gestão participativa, que envolve maior engajamento individual e quebra de regras burocráticas irracionais, maior capacidade criativa, iniciativa, autocrítica e autonomia responsável.

Nesse sentido, um grande desafio na elaboração de um modelo de supervisão para um psicólogo hospitalar, que possa servir de modelo de referência, pode residir na divergência teórica e na necessidade da busca dos conceitos básicos comuns a esses profissionais, que lidam com o ser humano mais fragilizado pela condição hospitalar.

O linguajar psicanalítico restringe a comunicação e afasta a área médica. Muitas informações em reuniões multidisciplinares ficam prejudicadas em seu entendimento sobre a melhor forma de ajuda no aqui e agora do paciente. Por outro lado, só traria mérito a qualquer Divisão de Psicologia se os dirigentes pudessem fazer uma leitura psicanalítica da organização sistêmica aplicada em seu grupo específico. Muitos ficariam assustados com o resultado dessa análise e devida interpretação dentro dessa linha teórica. O que fazer quando no final de um processo seletivo vem a ordem: " A. passou, mas não se classificou; por ordem da direção, vai ter que ser aprovada, e sem contestação. É filha de diretora do setor ..." . Ou "O pai de fulana é médico, seus horários são flexíveis, bem como todos que fazem parte da diretoria, assessores e chefias." "Seu projeto está ótimo. Como coordenadora da equipe, vou apresentá-lo na próxima reunião de chefias." E aí, o que fariam?

Respondo aqui também a outro questionamento constante, que me fazem. Nesse período de transição social, analisando o grupo institucional, é fácil diagnosticar a patolologia sociopata ou psicopata por sua sintomatologia. A perversão é expressa na falta de auto-crítica e bom-senso; na ausência de limites e de auto-controle de impulsos; não observância de regras e preservação do coletivo; frieza ou faltas de vínculos afetivos onde predominam a indiferença e desinteresse pela pessoa do outro; sem auto-culpas, com violentas reações pessoais vingativas, do tipo "olho por olho, dente por dente". Daí decorrem: "Me aguarde para ver do que sou capaz!";"Ele me paga!", ou então "Ele é que se vire, vou tratar é de cuidar do meu"; diferente da submissão ao esquema do "Vejo tudo, mas preciso do emprego". Não é mais um "não saber lidar" com o impulso agressivo. Envolve uma dose de prazer ante a desdita alheia, até a manipulação perversa para a destruição da integridade psíquica e até física do outro, a "puxada de tapete " ou o controle que envolve coações e submissões humilhantes e desrespeitosas à pessoa do outro.

Quando me pedem para apontar a forma de enfrentar essa doença social, respondo com o exemplo trazido por um supervisor: - Durante um grupo de supervisão de profissionais graduados na área médica e afins, um residente, não obedecendo a um dos limites contratuais estabelecidos a priori, resolve atender seu celular interrompendo a sessão supervisiva, pois as atenções se voltaram para ele. Após breves respostas, desliga o celular e diz ao supervisor que, quando tocar o dele, ele poderá atender tal qual o fizera. E tem como resposta: "Eu? Não. Não sou eu que vou me rebaixar a você. Se quiser continuar no grupo, cresça profissionalmente e suba ao meu nível ético como ser humano, que preza o respeito entre as pessoas."

Um mapeamento de funções está sempre atrelado à investigação da expectativa do desempenho desse profissional dentro do quadro organizacional, com suas políticas e diretrizes específicas.
O que fazer quando essas mudanças culturais organizacionais envolvem resgates filosóficos e éticos, ensombrecidos por anos de operacionalização mecanicista?

A ênfase no valor profissional e humano, como fator preponderante no desenvolvimento e produtividade de uma instituição, é recente. O reconhecimento da importância de seu papel ainda não conseguiu sobrepujar o peso burocrático de regras funcionais e normas pré-estabelecidas, bem como a rigidez administrativa em sua hierarquia verticalizada e coercitiva.

É dupla a função da supervisão psicológica hospitalar, formativa e informativa. Podemos considerar como fazendo parte do ato de supervisionar as seguintes ações:
* propiciar ao supervisionando uma aplicação prática de teorias, que se supõe assimiladas em sua formação acadêmica;
* abrir espaço físico para uma aprendizagem prática;
* favorecer sua integração dentro de equipes multidisciplinares;
* orientar leituras pertinentes a atuações específicas, possibilitando a correlação e interação da teoria com a prática;
* supervisionar as atuações do estagiário no setor.

A supervisão, nesse sentido, deve contribuir para que o estagiário possa:
* amplificar sua capacidade de observação, independente da teoria professada;
* desenvolver um tipo de ação específica, uma escuta adequada ao paciente e à própria equipe;
* adquirir maior agilidade na percepção dos aspectos transferenciais e contra-transferencias que permeiam toda relação humana;
* melhor lidar com as inseguranças e angústias oriundas da atuação a nível hospitalar, onde a doença, a dor, o sofrimento, as deformações e a morte são fatores ansiógenos constantes.

Aqui já ocorre algo mais que o confronto com uma ética supervisiva, que envolve o respeito a divergências teóricas e a necessidade de obtenção de clareza e objetividade nos critérios referenciais para auxiliar a formação do psicólogo, que decide por essa área hospitalar de atuação.

O que mobilizou o estagiário para essa escolha vocacional?

Não deveria existir uma ética profissional atrelada a qualquer escolha vocacional e a mesma ser devidamente avaliada nos processos seletivos de um aprimoramento hospitalar?

Existem características éticas essenciais ao profissional psicólogo, que envolve sua decisão de atuar, em função do contexto hospitalar em que busca se inserir. Na prática tudo é tão diferente, e são muitas as variáveis que podem derrubar a ética humanista dentro de um sistema organizacional, ainda mais quando envolve uma área como a da saúde. O questionamento passa a recair não só na identidade profissional, mas em sua postura como ser humano.

Uma coisa é "saber-se" um psicólogo, outra coisa é "tornar-se um psicólogo hospitalar"- a diferença é muito grande. Acresce o fato de que a má postura do profissional pode desvalorizar a própria Psicologia e enfraquecer sua área de atuação.

Muitos "psicólogos psicanalíticos" preferem omitir sua primeira formação como psicólogos. Daqui decorrem dois grandes riscos: especialização em Psicanálise está aberta a pessoas de cursos superiores, das mais variadas profissões, que podem fazer parte do contexto hospitalar ou não; e consequentemente, pode ocorrer a invasão de outros profissionais, atuando em áreas restritas dos psicólogos, como a aplicação de testes e análises das devidas avaliações, ou mesmo em terapias breves, e tudo em prol das pesquisas (?).

Outro fato comprovado é a má formação acadêmica atual dos profissionais, que afetam a atuação dos profissionais que buscam essa área delicada e que exige controle adequado da própria saúde mental. Não se pode atribuir à supervisão a função de suprir essa carência. É o estagiário que deve se posicionar como autodidata e sanar essas lacunas. Não é fácil estimular a iniciativa, autônoma e responsável, ante tal grau de dependência e imaturidade de muitos recém formados.
No aproveitamento do período de estágio, um grande obstáculo está na expectativa e idealização do papel e dos limites de um supervisor. Muitas vezes, esse é colocado erroneamente, no lugar daquele que detém um saber absoluto, e o certo e o errado é buscado. Muitos estagiários, por aspectos intrínsecos de sua personalidade, adotam uma postura passiva, se impedindo de se instrumentalizar para desenvolver o próprio potencial, esperam encontrar modelos prontos, que possam ser copiados, esquecendo que os seres humanos são dinâmicos e interagem de acordo com sua unicidade e contexto relacional.

A imaturidade emocional do estudante, embora formado, remete a função do supervisor centrada inicialmente no ensino do"aprender a aprender", visando a aplicação dos conhecimentos teóricos na prática clínica; posteriormente ampliada ao ensino do "pensar como psicólogo" para "saber fazer acontecer" e atuar como tal.

Técnicas e métodos mudam, conforme o avanço tecnológico e a quebra de paradigmas que sustentam teorias. A maturidade profissional pode ser observada pela flexibilidade em não buscar enquadrar pacientes em molduras ideológicas disfuncionais ao ser humano em si, mas buscar a teoria que permita observar o fenômeno emocional e melhor ajudar o paciente a equilibrar suas ansiedades. Para tal, sua formação básica deve estar consolidada na auto-confiança, senso crítico e discernimento interno.

Esse encontro, ou reforço, da própria identidade profissional também deve ser propiciado pela supervisão clínica. A inserção valorizada do estagiário em sua função, abrangendo o âmbito científico, se une a motivação para um crescimento pessoal e profissional pós-estágio. Porém
aqui a supervisão hospitalar esbarra em seu ponto nodal: a grande barreira entre regras organizacionais e a responsabilidade de cada psicólogo por seus atos perante um paciente, ou mesmo perante a instituição de saúde voltada a prestar serviços a seres humanos debilitados e submetidos a normas irracionais de atendimento e regras burocráticas que retardam procedimentos terapêuticos. É grande o número de profissionais que se dirigem a outras áreas de atuação posteriormente.

Persiste a grande questão ética, que envolve a formação do ser humano livre e autônomo, com um sistema de valores subjetivos e sociais a serem respeitados, em prol da conquista da própria felicidade individual: "Como preservar a integridade interna, condição humana natural a ser alcançada dentro da vivência grupal, se ocorre a tentativa implacável de bloquear o julgamento valorativo; discriminar atuações individuais em prol de ações padronizadas mais fáceis de controle; hierarquizar ações pessoais interesseiras em detrimento de atitudes selecionadas pelo bom senso e reforçadas por uma capacidade crítica; abafar potenciais criativos e inovadores que não encontram meio de expressão dentro do organograma hierárquico do sistema organizacional?" Como existir uma ética supervisiva nesse quadro institucional que premia posturas perversas de atuação, ou estimula atitudes psicóticas discrepantes com a busca da integridade mental das equipes, mas necessárias à sobrevivência do profissional no sistema e no confronto com a onipotência de muitas autoridades operacionais?

Minha esperança vem de observar que as transformações desse quadro se aceleram ante a invasão arrasadora da cultura digital, com sua interatividade e interconexão imediatista, sua transparência e rapidez na disseminação de novas informações; seu deslocamento do poder de cargos e salários para a sabedoria de incorporação de um conhecimento funcional, sempre passível de reciclagem e novas atualizações, visando o momento presente e aplicações inovadoras voltadas para as sociedades como um todo.

Relembro as idéias de Prestes Motta e Bresser Pereira em seu livro "Introdução à Organização Burocrática": Será que podemos pensar em "utopia" como "projetos revolucionários que apontam o caminho da história" e não mais como "projetos distantes e irrealizáveis" ?
Que tal lhe parece essa idéia? Vamos acreditar, sonhar e concretizar nossos sonhos?
Aurora Gite

sábado, 27 de junho de 2009

Um presente que transformou meu presente.

Desde pequena, com incentivo familiar que se uniu a uma personalidade introspectiva e ávida por "sabedoria", sempre considerei os livros meus grandes amigos. Com o tempo, me aproximei de Bacon confirmando sua afirmação: "Ler é conversar com os sábios". Por isso, considero como presente - " Os 10 Mandamentos do livro" - e , com satisfação, compartilho com vocês.


Os 10 Mandamentos do livro

1- Não me abras por simples curiosidade.

2- Não umedeças as pontas dos dedos para voltar as minhas páginas, não tussa nem espirres sobre elas, nem me pegues com as mãos sujas.

3- Não faças sinal nem anotações em minhas páginas, nem com pena, nem com lápis. Depreciarias o meu valor material.

4- Não me levantes por uma das folhas da capa e, quando me leres, não te apoies em mim com os cotovelos, nem com os braços. Isto me causará dano.

5- Nunca me deixes aberto, nem voltado para baixo, com as folhas de encontro à mesa ou à cadeira.

6- Não coloques entre as minhas folhas, um lápis ou outro objeto qualquer mais espesso que uma folha de papel. Prejudicaria a minha lombada.

7- Se, ao suspenderes a leitura, temes não recordar a página em que a deixaste, não dobre a folha na ponta, como faz muita gente. Usa, como marca, um cartão, um pedacinho de papel ou fitinha, que são sinais inofensivos.

8- Lembra-te de que não devo permanecer em teu poder mais tempo que o necessário, pois solicitam a minha companhia e os meus conselhos outros leitores.

9- Pense que de novo nos poderíamos encontrar e que te envergonharias ao ver-me envelhecido, manchado ou roto.

10- Procura conservar-me limpo e da melhor maneira possível. Em troca, eu te pagarei esses cuidados ajudando-te a ser feliz e proporcionando-te armas na luta pela vida!

Autor desconhecido.
(transcrito como foi enviado)
Agradeço a quem me encaminhou.
Aurora Gite

Recado a um amigo, também amante dos livros :

Não foi em vão sua "Considerações sobre a Música". A nova coleção "Grandes Compositores da Musica Clássica", me facultou completar o que buscava. Ao final do conteúdo sintético da vida e obra de cada autor, os livros-CD trazem um "Guia de Audição exclusivo", para o acompanhamento e aproveitamento ao máximo de cada faixa do CD, "identificando instrumentos e detalhes das músicas".

Esse blog foi escrito sob o som de Bach (5º volume). Aos poucos vou conseguindo melhor identificar a entrada e o instrumento, bem como visualizar seu lugar na orquestra.

Para quem se interessar em conhecer é acessar o site abaixo, que vai pode ouvir trechos das músicas dos 40 CDs da Abril coleção: http://www.grandescompositores.com.br/

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Revirando o baú de Andréa

Andrea em sua adolescência


Ao meu pai

Eu nem me lembro como éramos
você saiu de casa e eu era tão pequenininha,
tão frágil sem entender nada.

Sei que muitas vezes sou injusta contigo,
mas além de pai
eu queria um amigo.

Sei também que fui eu que não deixei isso acontecer
fiz eu e você sofrer,
mas eu te amo e quero o passado esquecer.

Porque perguntas de mim para os outros?
nós não nos falamos
apenas nos olhamos.
Fala comigo,
se não quer ser meu amor,
seja pelo menos meu amigo.




Por que estou tão só?
Por que tanta gente só?
Quantas pessoas por fora estão felizes
Mas por dentro estão tristes.
Quantas pessoas por fora são sinceras
E por dentro mentem até pra si próprias.
Quantas pessoas por fora são bonitas
E por dentro estão tão feias.
Quantas pessoas por fora são adultas
E por dentro são simples crianças.
Quantas pessoas por fora são especiais
E por dentro não passam de pessoas...
Essas pessoas não estão só,
Mas se elas mostrassem o que realmente são,
Estariam como eu

Apenas só...


Só de amor

Eu preciso crescer
aprender a dizer não
mesmo para as coisas que vem do coração,
como o amor e a paixão.

Mas até agora eu só sei dizer sim
para as coisas que são boas e ruins para mim,
algumas que só me fazem sofrer,
pois só de amor eu sei viver.


Esquecer e sofrer

Você vem no meu pensamento
e vai nas ondas do vento.
Só com teu sorriso já me contento
mas te esquecer eu tento.

Eu não quero mais sofrer
e, entre sofrer e esquecer,
o melhor é esquecer.

Pois eu sofro,
e só de pensar em sofrer,
mas não é de amor que quero morrer.

Biografias e mais biografias

Não conhecia a Editora Martin Claret e ao saber de sua missão tive vontade dela me aproximar : "Nossa missão é oferecer aos leitores brasileiros uma alternativa de leitura - altamente qualificada e de fácil acesso." Ao fazê-lo descobri a coleção "A obra-prima de cada autor" e me atraiu a sua descrição, humilde ao revelar um grande ideal: "Em formato de bolso, com periodicidade semanal, com alta qualidade gráfica, e a preços acessíveis, esta série de livros vem preencher uma lacuna editorial..." Continua o editor " Pelas nossas pesquisas de campo constatamos que, apesar de crises e turbulências econômicas, o brasileiro atualmente está lendo mais." Termina com o que computo como slogan: "Revolucione-se culturalmente: leia mais para ser mais." Aí me cativou por completo.

Eis-me, como faço habitualmente, consultando os balcões de grandes livrarias, no caso a "Cultura" e me deparo com um livro da Coleção acima citada, "composto e impresso na primavera de 2007" . Gosto de saber quando os livros foram escritos. Vejo na capa uma imagem conhecida e em sua testa impressa a fórmula "E=mc2". Traduzo para alguns: "A energia é igual à massa multiplicada pelo quadrado da velocidade da luz." E agora, já sabem a quem me refiro?

No Prefácio do Editor consta: "Este é um dos livros mais lidos do filósofo e educador Huberto Rohden...A abordagem do livro é filosófica e não apenas científica. Rodhen se preocupou mais em apresentar uma biografia de idéias e em analisar os processos criativos do grande gênio do século XX... principalmente mostrando o paralelismo que existe entre a "visão de mundo" einsteniana e a "Filosofia Univérsica", cujos fundamentos foram construídos quando Rohden estava em Princeton, com Einstein." Vale a pena investigar as outras obras desse autor.

"Einstein: o Enigma do Universo" (1975) me trouxe muito mais do que esperava. Lá me vi caminhando com Rodhen através de um bosque, em Princeton, em companhia de um "homem solitário e taciturno, cabeleira desgrenhada, barba por fazer, sapatos sem meias, todo envolto em um vasto manto cinzento, com olhar longínquo de esfinge em pleno deserto, mas cuja mente habitava nas mais remotas plagas do cosmo, ou no centro invisível dos átomos". Segundo Rohden, Einstein, exímio matemático, era um homem místico-cósmico e ético-humano, embora sendo considerado ateu por teológos dogmáticos. Era um homem religioso, sem professar nenhuma religião, sem se prender a nenhum dogma. Sua mente se harmonizou com a "suprema Realidade do Cosmo, com o invisível UNO que permeia todos os VERSOS visíveis do UNIVERSO."

Você se lembra de meu post intitulado "Quer receber um presente meu"? Seu conteúdo é baseado em vivência pessoal e no acompanhamento do trilhar de muitos pacientes. Compare com essas afirmações de Einstein : " O mundo dos fatos não conduz a nenhum caminho para o mundo dos valores, porque os valores vêm de outra região"... "O valor é uma captação cósmica, é a própria Realidade captada ou conscientizada pelo homem. Esta captação cósmica é uma intuição, inspiração, revelação. O homem não fabrica os valores, mas recebe-os por captação intuitiva - suposto, naturalmente que tenha os canais abertos para a invasão dos valores cósmicos"... Processo da verdadeira mística. "Tenho que subir laboriosamente do VERSO ao UNO, até que o UNO venha ao meu encontro. E depois dominar gloriosamente o Verso pelo poder do Uno."

Rohden aborda que "nos últimos decênios a ciência ultrapassou o campo da simples Física e entrou nas regiões da Metafísica". O ego-intelectual só conhece o primeiro ( base inferior da minha ampulheta), mas o eu-cósmico ( base superior da ampulheta) sabe também do segundo.

Einstein em muitos trechos se reporta a experiência do Deus Cósmico. "Não creio em um Deus que se preocupe com as nossas necessidades pessoais... Sinto a presença de um Poder Supremo, considerado a alma do Universo por Spinoza, deixado no anonimato por Buda, chamado de Pai por Jesus, denominado de Tao ou Realidade por Tao-Tsé, e por mim de Lei, de Natureza, Deus é Voz da Natureza." Para ele, é a consciência da paternidade única de Deus que produz a Ética da Fraternidade Universal dos homens, a consciência, o espírito de solidariedade universal. Assim a ciência trata apenas dos fatos ( finitos) e cabe a religião (re-ligar) tratar dos valores (infinitos). "A moralidade é fabricação humana- a Ética é uma invasão cósmica da mística... Somente uma plenitude mística transbordante em ética pode prometer melhores dias à humanidade."

Suas certezas não dependiam de provas, porque eram obtidas via intuição de um Universo que para ela consistia em "um sistema lógico de absoluta precisão". Afirma que a intensa concentração mental, a plenitude do silêncio mental, a diuturna focalização no Uno do Universo, isto é, na Causa ou Fonte, pode revelar todo o mundo do Verso, dos Efeitos ou Canais. Segundo ele, a Intuição Cósmica, o puro raciocínio, vai do Uno ao Verso. É priori-dedutivo e não posteriori-indutivo. É conhecida sua frase: " Eu penso 99 vezes, e nada descubro; deixo de pensar e mergulho no silêncio - e eis que a verdade me é revelada."

Segundo Rodhen, Einstein "recorria frequentemente à música - piano e violino -talvez para lançar uma ponte sobre o abismo entre a concentração mental e a intuição cósmica. Matemática, Metafísica e Mística são, no fundo, a mesma coisa e parece que estes 3 MMM necessitam do quarto M da Música, não da música moderna, dispersiva, mas de certas músicas profundamente concentrativas. Einstein preferia Bach, Mozart, Beethoven. São muito interessantes as considerações do autor sobre a deficiência auditiva e a capacidade de ouvir uma música internamente.

Voltando a Einstein eis o exemplo de alguns questionamentos que o intrigaram inicialmente:
"Como trabalha um poeta?"
"Como lhe vem a idéia de um poema?"
"Como é desenvolvida esta idéia?"
Depois passa a associar com os processos criativos, com os fenômenos que ocorrem dentro
de um cientista:
"A mesma coisa se dá com o cientista. O mecanismo do descobrimento não é lógico e intelectual. É uma Iluminação Súbita, quase um êxtase. Em seguida, é certo, a inteligência analisa e a experimentação confirma a Intuição... Além disso, há uma conexão com a Imaginação... É uma visão de dentro ( essência) e não uma invasão de fora (existência) . É entrada em uma dimensão diferente".

Para reflexão sob essas "novas/velhas" perspectivas, realço os trechos relacionados abaixo:

Max Planck (alemão) , Niels Bohr (dinamarquês) e outros da equipe atômica, equipararam a relatividade do Cosmo à do próprio átomo. Segundo Rodhen, para eles, o átomo não é uma partícula definida, mas é uma função indefinida do Cosmo; não é uma partícula material, mas é um processo funcional do Universo. O determinismo, de acordo com eles, é válido para a matéria, mas não para o não-material.

E mais: "Nenhum átomo, nenhuma célula tem ordem extrínseca de se portar assim ou assim; cada um deles é uma entidade autônoma, uma autarquia ou autocracia, cujo governo reside dentro dessa própria entidade."

"A ciência atômica avançou rumo à matemática, metafísica e mística; ultrapassou o Verso e se aproxima do Uno do Universo."

Rohden, Huberto. "Einstein, O Enigma do Universo". Coleção a Obra-Prima de Cada Autor.
São Paulo - SP . Editora Martin Claret, 2007 .

Vale a pena ser lido!
Aurora Gite