quarta-feira, 26 de novembro de 2008

A um amigo presente, embora ausente

Estou transcrevendo suas "Considerações sobre a Música".

Seu trabalho está ganhando nova amplitude, pela nova visualização.

Continuam me comovendo a profundidade de suas pesquisas, seu empenho em tornar as informações mais compreensíveis para mim, seu esforço em buscar meios associativos para possibilitar uma leitura mais fácil a uma leiga, sua atenção afetuosa ante a preocupação por uma meticulosidade de detalhes, a clareza de sua escrita envolvente.

Em minhas andanças atuais lá vamos nós, e eu (ipod no ouvido) entoando: um, dois...esquerda, direita...um, dois, três...

Ele conseguiu, sim, responder a muitas dúvidas que eu tinha. Obrigada mais uma vez!
O "capítulo 24" sobre as orquestras está ótimo. Era o que eu queria saber mesmo.
Descobri como visualizar os quadros com a relação dos compositores e o "guia para ouvir melhor cada instrumento" que anexou.

Acabou se transformando numa obra de tal qualidade, que não deveria ser engavetado.

Após revisão, uma introdução de como surgiu e colocação bibliográfica, esse material ordenado, como fez, deveria passar pela avaliação de algum editor. Seu neto iria adorar (já que chegaram juntos) a menção a ele nas primeiras páginas!

Em minha imaginação já o vejo dando "autógrafos", mas a realidade a conduz a que me faça permanecer na fila da torcida para que se aventure em busca da publicação.

Com meu carinho, "amiguinho" especial de uma missão impossível
Aurora Gite

Após longo tempo, um novo contato

No último contato, o parabenizei por seus escritos e o nomeei meu porta-voz. Pontuei o perigo que rondava a Justiça , e estamos vivendo esse caos.

Infelizmente, minha análise mudou de foco, tal o homem incorporou "entidades abstratas" e se tornou insensível ao ser humano. Sendo assim, interpretação de fatos circunstanciais não encontra eco. Não há bom senso social, nesse estado de anomia em que nossa sociedade está envolta atualmente, que possibilite a formulação, e acolhimento pessoais, de juízos autocríticos.

Sabendo da abrangência de seus conhecimentos e sensibilidade, acredito que tenha surgido um novo paradigma sobre o funcionamento mental do ser humano, que pode representar uma grande mudança em sua compreensão. Ele é proposto por Jill Bolte Taylor. Seu livro se intitula "A cientista que curou seu próprio cérebro", editado esse ano pela Ediouro.

Neurocientista, estudiosa de Neuroanatomia, foi acometida por um AVC, com 37 anos de idade. Após 8 anos de grande luta, conseguiu recuperação total. Conseguiu acompanhar, como cientista, o que ocorria dentro de seu cérebro. Com seu relato nos mobiliza a novas reflexões sobre o mecanismo da mente humana, acoplando desde as novas tecnologias até conceitos quânticos. Pelo novo paradigma proposto, nossos dois hemisférios procuram informações de maneiras diferentes, em tempos também diferenciados e ...

Agora é você se interessar em ler e experienciar, já que me parece que , sendo pintor, consegue transitar por eles.

A meu ver, a "maldição dos reis nus" não estará mais apenas no "modelo participativo de gestão" e na "logística processual de uma rede de comunicações informatizadas", com suas reveladoras verdades, comprovadas em velocidades assustadoras. Esse novo paradigma nos fortalece a buscar novos instrumentos de luta nos unindo a Bobbio e Arendt em seus esforços por uma "Ética dos Princípios ou das Virtudes" como "Promessa na Política".

Abraços
Aurora Gite

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Amizade:parentesco de alma?

Amizade:parentesco de alma?

Você topa fazer uma viagem junto comigo ? Vamos ao encontro de uma amizade verdadeira, escapando da pré-fabricada?

O que vem à sua mente ao pensar em amizade? A idéia de uma cumplicidade fiel e leal? Então essa conversa começou bem, pois partimos do mesmo referencial. Também entendo que confiabilidade e segurança, fidelidade e lealdade, são qualidades essenciais, para que esse tipo de vínculo se alicerce. Quem é fiel, é firme, constante, perseverante. Quem é leal, é franco, sincero, digno, honesto.

Estamos de acordo, não é? Então, podemos seguir adiante? Podemos nos dar as mãos e caminhar juntos?

A amizade é uma relação a dois sempre, senão vira um fenômeno virtual, onde se busca suprir carências e necessidades através das projeções depositadas no outro, que se torna mero objeto de extensão da própria pessoa.

Concordamos aqui também? Ótimo, porque todo fenômeno inter-relacional demanda de uma clareza contratual entre as partes envolvidas. Dessa colocação de limites é que depende a sua sobrevivência ante a violência destrutiva do mundo cão atual, a ausência de cortesia e delicadeza entre as pessoas, a expansão e frieza dos vínculos sado-masoquistas - onde um sente satisfação interna ante a insegurança e dor física ou psíquica do outro . Pense na inveja para exemplificar tudo isso em seu cotidiano.

São os limites acordados nesse contrato que aplacam, ainda, o vazio e dor da saudade, sinal de que o outro adquiriu importância em nossa vida afetiva.

Que tal sairmos do racional e nos embrenharmos, um pouco mais, rumo ao nosso "sentir" ? Vem comigo então!

Na amizade não existe uma aliança implícita, um duplo cuidar e zelar pelo bem-estar do outro, uma troca de generosidades e gentilezas, uma sensação prazerosa ante a observação da felicidade do amigo? Não é um tipo de "pacto de sangue" ante o tesão químico sentido? Não é uma "irmandade de alma" pela pureza do sentimento e assexualidade física?

Você já notou que ela é um exemplo vivo da relatividade do tempo e espaço ? Não é a presença física direta que a mantém. Após anos de afastamento, no reencontro dois amigos se sentem no mesmo ponto do passado interrompido. O tempo cronológico parece ter parado. A sensação de união retorna do nada, mas emerge com plena força. O contentamento vem por si.

A alegria ao ouvir o tom da voz do amigo, e o prazer da troca de olhares, por si só já expressam o afeto. Não há necessidade de toque ou aproximação física mais direta. A satisfação vem da cumplicidade de almas. Não há cobranças expressas. Não há deveres e obrigação impostos. Ocorre o respeito e aceitação pelo que o outro "é", e a compreensão que deu o melhor de si naquele momento de sua existência, naquela circunstância que cercou a relação. Às vezes nem é o que esperamos, mas o que ele pode dar.

Você percebe a grandiosidade dessa disponibilidade entre amigos? O contrato não se rompe tão facilmente; não se abala pela mesquinhez e agruras situacionais do cotidiano descartável.

O amigo nos surge como um conjunto harmônico, onde é difícil separar as partes do todo. Tudo é ritmado no compasso da amizade mesmo ante desacordes de opinião ou crises individuais existenciais. Não é aí que surge o "ombro amigo" que nos acolhe, e com sua tolerância à nossa condição humana, nos impulsiona a superar os obstáculos, e melhor selecionar e afinar os instrumentos para, novamente, entrarmos em sintonia melódica com a vida?

É a lealdade na amizade que carregamos como melodia em nosso íntimo. Sua vibração persiste por longo e longo tempo. Seu entoar contamina nossa disposição interna e nos pegamos rindo à toa, saboreando na memória a dança de duas almas. É ela o maestro, que regula a pausa, o silêncio, o compasso de espera para o posicionamento adequado de dois amigos, e que busca, pontuando o tempo certo, mobilizá-los a acertar em suas entradas e harmonizar seus passos no relacionamento.

Um brinde a uma amizade, parte de uma missão impossível.
Aurora Gite
(primeira postagem em 06.11.2008)

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Você quer receber um presente meu?

Ei você! É você aí mesmo que, surpreso olha para trás e para os lados, procurando se certificar se é com você mesmo.
Quer me permitir dar um presente à sua imaginação? Então abra suas mãos em concha para recebê-lo, depois feche em seguida para que não perca o brilho. Você vai poder usufrui-lo em várias ocasiões de sua vida. Garanto que quando envolto pela escuridão, lhe vai servir de lanterna.

Por que esse espanto? O que é isso? É que esse objeto caiu em desuso, não é? Pois você está segurando uma ampulheta. Relógio de areia? Símbolo do tempo? Nascer e morrer? Está chegando perto agora. É um objeto que pode nos conduzir a uma alquimia interna mesmo,a uma transformação química de forças.

Pense na base da primeira pirâmide como seu potencial natural,sendo invadido por tudo que o cercava, quando se deu por "gente" - não "pessoa" ainda. Lembre, de como foi difícil sobreviver, sem saber nadar no mundo e tendo que articular circunstâncias da vida; de quanta água bebeu ao afundar ante tempestades e trovoadas; do medo ante ondas tão altas e revoltas. E a cada mergulho forçado, turbilhão e conflito.

Pouco a pouco, no entanto, você conseguiu se reequilibrar ganhando a força necessária para atingir o cume dessa pirâmide. Que sensação! Que satisfação perceber que de um estado de "não ser" como indivíduo, conseguiu selecionar e acumular valores próprios, e observar seu "ser único" despontando. Mas e agora? O que fazer com isso?
Tanto trabalho para se "individualizar", para depois se descobrir grandioso sendo um grão de areia, tão pequena partícula na imensidão do mundo? Como fazer para se inserir na vida novamente?

Observe mentalmente o objeto em sua mão. Percebe como é feito de duas pirâmides? E que a segunda está invertida sobre a primeira? Então, mãos à obra, seu trabalho não terminou. Se você partiu do "não ser" e chegou a condição de "ser único", vai ter que conquistar a posição de "Ser". Como? Por que caminho?

Se antes a batalha era pelos valores pessoais e intransferíveis, vencendo desejos e fantasias ilusórias transitórias, agora vai ser pela conquista das virtudes. Virtude é força também sabia? Mais forte e estável que os valores existenciais que você conquistou. Só que, como o sentido de parábolas ou mitos, não é decodificado por muitos. Sua voz não é audível a todos. Os sentidos físicos não a apreendem. Você quer ver? Serenidade é uma virtude; observe o efeito dentro de você. Quer que lhe diga outras? Moderação, coragem, firmeza, prudência, honestidade e lealdade, temperança, equilíbrio, generosidade, decência, simplicidade; ousadia e audácia bem empregadas também o são. Talvez você já possa arrolar algumas agora. Quer tentar?

Se antes, após sobreviver aos "tsunamis" da vida, pode contar com a agilidade de garbosos cavalos, agora vai ter que buscar um "unicórnio". Não sabe nem o que é? Sabe, mas não acredita? Que pena! É um animal mitológico, que tem a forma de um cavalo, geralmente branco, com um único chifre em espiral - talismã de poder soberano. Representa a ascendência espiritual humana. Sua compreensão não cabe à razão lógica. Sua imagem vem associada a pureza e retidão de espírito, honestidade e liberdade, paz e coragem, esperança e amor.
Ele é raro hoje em dia, porque, para que esse encontro ocorra, temos que contar com a sensibilidade intuitiva do coração e a maioria das pessoas dela se afastou.Ele pertence a outra dimensão do ser humano. Ele é o responsável pelo sentido de sua vida. É símbolo do "poder da alma", guardião da riqueza por toda alquimia conseguida.

Não creia nisso só porque digo,não! Experimente em você. Conte com sua imaginação para isso. Ela pode levá-lo para o abismo do tédio, do vazio do nada, abaixo da base inferior da ampulheta, mas também pode levá-lo à plenitude e alegria ao atingir sua base superior.

Agora é se permitir aprender a usar esse presente. Algum dia vai me agradecer e contar como lhe foi útil. Pelo menos, assim espero!
Aurora Gite