sábado, 26 de setembro de 2015

O que esperar da nova geração?

Penso que a maior lição que aprendi da vida é que não adianta querermos interferir no "trajeto do destino", pensando no bem alheio, ou próprio. Confesso minha preocupação até aqui pela geração que adentra e se cria no novo milênio, envolta, em sua maior parte, por extensa cerca do arame farpado da "indiferença".

É um erro tentar sobrepor, em nossas análises, recortes estanques de heranças de tradições congeladas em um tempo passado, e circunstâncias emergentes nos tempos atuais, com "presença dinâmica no real". Como não se compadecer ante seres humanos se acotovelando e se comprimindo por espaço em trens e ônibus na busca de refúgios para si e familiares? Como não se assustar ante a visão da perversa conduta de "humanos robotizados": guardas, fiéis cumpridores de ordens, e repórter dando rasteiras também impedindo o ir e vir de pessoas que buscam abrigo em outros países?

Como não se agarrar a lampejos de esperança de que a "dignidade de ser humano" passe a ser enfatizada em decorrência do mundo digital globalizado? Atrocidades passadas em tempo real e distribuídas em vários lugares ao mesmo tempo, obrigando a questionar atuais "sistemas sócio-econômico-políticos". "E a base econômica que vai determinar como vai funcionar a superestrutura (instituições políticas, jurídicas e ideológicas), não o disse Marx (vale rever as ideias de Karl Marx)?

O perigo para a divisão de classes, no sistema capitalista, reside em que os indivíduos da classe dominada tomem consciência do que lhes ocorre. A base econômica mundial, a meu ver, começou a ruir há algum tempo levando consigo toda a gama de conceitos como divisão de classes, ideologia do capital e mais valia, lucros e excedentes acumulados... hoje cada vez mais distantes de concentrarem o bem estar social.

Atualmente, quem duvida da raça emergente: geração autodidata digital, formada por individualistas, em nada egoístas em seus compartilhamentos e defesa de direitos do que consideram pertencentes ao humano em cada um de nós; insurgentes contra exclusões, como o provam suas constantes inclusões no coletivo global?

Raça emergente do mundo digital, que reconhece o poder da meritocracia, a força da distribuição igualitária de oportunidades e a importância, para a evolução do ser humano, do "fazer por tornar a vida digna" de se viver.

Mundos idealizados, embasados por fantasias, muito distam do momento vivencial de cada pessoa. Isto vale para quaisquer interações humanas, sejam até parcerias conjugais e parentais. Muitos ousam mistificar a transparência dos vínculos afetivos, ou procuram se enganar quanto à realidade dos elos que os ligam a determinadas situações e pessoas, pré-demarcadas pelo enquadre em papéis e funções sociais.

Mesclar vivências e fugir das aprendizagens necessárias para a evolução como ser humano, só tende a "mobilizar do destino" repetições de eventos semelhantes, em contraponto ao que se delineia ante uma leitura acertado do que o destino nos reserva.

Ao incorporarmos as "lições do destino", percebemos nossa liberdade para escolhas conscientes, e nossa responsabilidade pela qualidade de "nosso viver o presente". Não é o que a nova geração reflete, ao convocar passeatas, movimentos de rua em prol da justiça e do resgate do orgulho de ser brasileiro, nesse período onde a corrupção devasta qualquer ação patriota em prol da dignidade do Brasil?

Não há culpas sobre desencontros ou erros, ou exigências de perfeição e sucesso. Tudo "é como é", desde que alinhado a quem realmente somos em essência. E se assim não for basta "deletarmos" de nosso convívio "amigos pela internet", nova terminologia cuja compreensão urge de ser alçada pelos componentes das gerações anteriores... ou logo serão ele os "deletados".

O importante é ter como mantra: "Sempre somos, ou nos tornamos, capazes de bem conviver com nosso destino!" Seja ele qual for, será sempre bem vindo com sua imprevisibilidade anônima e suas incertezas angustiantes sobre os caminhos apontados a serem trilhados.

Esse "desapego afetivo" do que é obsoleto, transitório e disfuncional para a realidade em que vivem, a nova geração digital tem aprendido muito bem, penso eu. O que parece a você? Tente traçar um perfil da nova geração, para não se assustar com o impacto, que poderá ainda lhe causar!

Aurora Gite

P.S.: Vale para os dias atuais, para ajudar a refletir sobre "Quanto tempo tenho?" assistir ao filme "O Capital" disponível no youtube
https://www.youtu.be/xL8hXYGg8mA via@YouTube

domingo, 6 de setembro de 2015

"Como usar o movimento do pêndulo mental?"

Desde que comecei a articular as descobertas do mundo quântico com o psiquismo humano, tornou-se mais fácil constatar a importância do alinhamento bioeletroquímico com o mundo das sensações bioquânticomagnéticas e para onde me direcionavam tal conexão interna.

Qualquer um que direcione sua observação a esses fenômenos que ocorrem em seu mundo interno e sigam atentamente a movimentação da energia que os envolve, qualificando as sensações que o invade, podem acompanhar seu conforto ou desconforto, prazer ou desprazer, sensação interna de satisfação-aconchego-paz-plenitude ou de insatisfação-conflito-irritação-tédio-vazio... e por aí vai. Cada um que tente qualificar e quantificar o patamar que pode lhe indicar o parâmetro de seu "ser livre" e "ser feliz": o "núcleo de dignidade" de seu ser autêntico, de quem é realmente.

Com esse movimento interno revela-se outra grandeza de valores psíquicos além do ego/superego freudianos. Emergem valores internos da profundeza autêntica do ser humano, diferenciados dos valores impostos por outras pessoas ou pela sociedade que o cerca, que mais se aproximariam das descrições junguianas dos fenômenos intuitivos e  energias psíquicas transpessoais decorrentes do que chamou funções transcendentes.

A meu ver, são forças além dos princípios racionais intelectivos que regem as operações egóicas e superegóicas. Constituem-se em forças potenciais imanentes, códigos de valores intrínsecos, que brotam dentro do espontâneo e verdadeiro ser humano por trás das máscaras sociais. Não é tão simples bancar sua expressão na sociedade atual, com suas normas e regras voltadas para as padronizações dos indivíduos, assim mais fáceis de vigilância e controle. O preço, na maioria das vezes, é alto, quando se vai contra maioria não pensante que aprisiona sua sensibilidade, singular e única. Mas torna-se compensador no final, para os que conseguem assumir sua subjetividade e unicidade, e se orgulhar de sua individualidade e sociabilidade, preservando sua forma, autêntica e livre de ser, em seu viver!

Novamente indico o livro "De Pessoa para Pessoa: o Problema do Ser Humano, uma Nova Tendência na Psicologia, de Carl Rogers - Barry Stevens e colaboradores. São Paulo, Pioneira, 1976. Li em 1978. Reli agora em setembro de 2015. Mas, seu original data de 1967. E isto me fascina, pois espelha como só fazemos uma leitura compreensiva do que os outros buscam transmitir em seus livros quando passa a existir em nós uma campo propício para assimilar as ideias do autor; só aí percebemos nosso caminhar evolutivo como ser humano.

Rogers, nesse livro, propõe um "programa educacional" voltado ao ensinar a "aprender a ser livre". Psicoterapeuta, conhecido por sua técnica de "Terapia Centrada no Cliente", buscou em sua proposta sobrepor as lições aprendidas nas relações psicoterapêuticas com o processo ensino-aprendizagem e procurou aplicá-las ao campo da educação. "No clima psicológico especial da relação terapêutica, esses indivíduos atingem uma liberdade interior espontânea, existencial e criadora."(p.76)

Segundo Rogers (1976, p.64)): 'Hoje, existem enormes pressões - culturais e políticas - para o conformismo, a docilidade e a rigidez. Exigem-se a obstinação e a instrução apenas do intelecto para a eficiência científica. Queremos inventividade para desenvolver "máquinas" melhores, mas a criatividade em sentido mais amplo tende a ser suspeita. A emoções pessoais: a livre escolha e a individualidade têm pouco ou nenhum lugar na sala de aula." Questiona como alunos podem se salvar e sobreviver às modelagens dentro de uma cultura civilizada, que não nos deve parecer um problema tão distante dos dias atuais, não é?

Rogers  procurou ampliar a qualidade da relação terapeuta-cliente para a de professor-aluno. No livro descreve os elementos fundamentais para uma boa intervenção (congruência e autenticidade do terapeuta ser o que é, empatia com o cliente sem misturar seus problemas com os seus, aceitação incondicional e confiança na capacidade humana para se autodesenvolver) visando a liberação das camadas sociais que o revestiram, a integração do mundo interno do cliente verdadeiro e o acoplamento com seu potencial de ser livre e feliz. Uma aprendizagem voltada ao ensino para ser livre, o sucesso do processo visa, segundo ele, liberar a "iniciativa responsável, a criatividade e a liberdade interior". O maior obstáculo reside na "cultura contemporânea que, quase nunca, deseja que as pessoas sejam livres, apesar de muitas afirmações ideológicas em contrário."(p.77) Ops, tá descrevendo a sociedade do início do milênio em que vivemos?

Já nessa época, Rogers defendia uma "dinâmica voltada para uma educação moderna", onde o núcleo essencial do processo ensino-aprendizagem seria o "aprender a ser livre". O trabalho a ser realizado seria voltado ao ensino centralizado no aluno, com finalidades específicas voltadas a essa meta: "... nos interessamos pelo desenvolvimento da pessoa que tenha iniciativa, originalidade e responsabilidade." (p.76). Não é o espírito empreendedor, pró-ativo e inovador, que esse milênio demanda?

Uma forma de educar cujos objetivos foram por ele assim delineados, conforme transcrevo abaixo da página 66, do livro acima citado: " O objetivo... é ajudar os estudantes para que:
* se tornem indivíduos capazes de ter ações espontâneas e sejam responsáveis por essas ações;
* sejam capazes de escolha inteligente e auto-orientação;
* sejam capazes de aprendizagem crítica, de avaliar as contribuições dadas por outros;
* que adquiram conhecimentos importantes para a solução de problemas;
* que, o que é ainda mais importante, sejam capazes de adaptação flexível e inteligente a novas situações problemáticas;
* que interiorizem uma forma adaptativa de enfrentar os problemas, empregando livre e criativamente toda a experiência adequada;
* que sejam capazes de cooperar efetivamente com outros nessas diferentes atividades;
* que trabalhem, não para a aprovação de outros, mas em função de suas intenções socializadas."

Agora vou acionar o pêndulo do tempo e indicar a entrevista do neurocientista Miguel Nicolelis (54 anos) para Roberto D'Ávila (Globo News), nesse mês de setembro de 2015. Disponível no Canal Youtube. Vale assistir! Quem não se recorda do chute efetuado por um exoesqueleto acoplado a um paraplégico, que utilizou a interface computacional cérebro-máquina, o poder da mente, para ativar censores que controlavam seus movimentos dos membros inferiores.

Nicolelis nos tranquiliza, no entanto, afirmando que não há porque ter receio do mundo robotizado, cujo aprimoramento avança velozmente, como tudo nesse mundo da conectividade globalizada e interatividade em tempo real: "Estamos além da capacidade dos robôs... somos organismos, produtos aleatórios com linguagem mental; não somos organismos reduzidos a planos de construção. a um algoritmo computacional... O cérebro está sempre mudando rapidamente e se adaptando ao que nós oferecemos a ele... Nossas pesquisas se voltam a descobrir como os neurônios conversam entre si por sinais eletroquímicos e, entrando em atividades ou interações entre si, geram comandos."

Continuo com as palavras de Nicolelis, autor de vários livros: " Sou muito otimista em meus 54 anos. O que me emociona é presenciar a superação do ser humano, seu uso do cérebro para o Bem (não mais para a destruição); é ver seu desejo ou ato de crescer ...

Para mim, " a Ciência é mais uma manifestação artística do cérebro humano e os cientistas são mentes criativas, que se recusaram a pensar como a maioria."

"Como defino, hoje, o que é ser um neurocientista?
É ser criança; é ser criança para o resto da vida.
É ter a liberdade de criar.
É aceitar o desafio de se comprometer a criar com liberdade de agir." (Miguel Nicolelis)

Agora volto ao início desta postagem que resolvi intitular " Como usar o movimento do pêndulo mental", esperando que a agitação subatômica (quântica), advinda desse movimento interno, possa ressoar muitas reflexões sob novos prismas, e contribuir para muitas ações inovadoras voltadas para o "criar com liberdade de agir"

Aurora Gite

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Base Organísmica de Orientações de Valor

Incrível como podemos entrar em contato com as ideias de muitos pensadores em suas descrições das vivências terapêuticas com pacientes (ou clientes) e só passamos a assimilá-las quando, internamente, atingimos um patamar (nível de consciência) que possibite releituras compreensivas dos conteúdos de seus livros.

Isso aconteceu essa semana, ao reler "De Pessoa para Pessoa: o problema do ser humano, uma nova tendência na psicologia" de autoria de Carl Rogers- Barry Stevens e colaboradores. São Paulo, Pioneira, 1976.

Tantos anos se passaram? E se lhes disser que o "copyright data de 1967", quais seriam suas reações imediatas?

Eu só respondo que existem ideias atemporais e imortais, de uma proximidade espantosa no presente - considerando os últimos conceitos quânticos da dimensão não-local e do tempo real. Aos que se interessam pelas novas descobertas do mundo quântico, que adentraram o milênio, digo que vale a pena se atualizar nesse sentido.

Barry Stevens já havia se destacado para mim, principalmente por seu livro "Não apresse o rio: ele corre sozinho". Prato cheio para os que buscam explicar conceitos abstratos como "felicidade e serenidade". Vão se surpreender com possíveis mudanças de atitudes perante si mesmo e perante a vida. Stevens descreve também seu contato com a Gestalt e com seu fundador Fritz Perls em muitos workshops.

Li "De Pessoa para Pessoa" em abril de 1978. Gosto de anotar quando começo a ler e a data em que termino minhas leituras, por isso tinha essa data visível na contra-capa. Transcrevo a frase das páginas iniciais com que os autores me mobilizaram a acompanhá-los nas articulações de suas ideias - já em 1967 : " E um relógio parou - e soube o sentido do tempo."

Minha curiosidade logo recaiu no capítulo (p.13) escrito por Carl Rogers (Terapia Centrada no Cliente), onde descreve com pormenores as vivências que observou em seus clientes. O título me chamou a atenção:  "Em Busca de uma Moderna Perspectiva de Valores. O Processo Valorizador na Pessoa Madura".

Minha maior empolgação decorreu ao me inteirar de uma das hipóteses traçadas por Rogers ao analisar o desenvolvimento de alguns clientes em seu processo evolutivo como ser humano, durante a situação terapêutica : " No íntimo do ser humano existe uma base organísmica de um processo organizado de valorização." (p.26). " Nas pessoas que estão caminhando para uma maior abertura de sua vivência, existe um ponto organísmico comum de orientações de valor." (p.27) e mais adiante coloca como "fato extraordinário" que essas tendências não dependem da personalidade, nem da relação com os terapeutas.

Transcrevo as considerações de Rogers (citas à p.28/29), para a honesta avaliação do leitor em sua singularidade, e para a análise de um terapeuta, qualquer que seja a linha teórica em que baseia sua atuação:

"Vou apresentar algumas destas orientações de valor, como as vejo em meus clientes, à medida que caminham para o crescimento pessoal e a maturidade.

* Tendem a afastar-se das aparências. A ostentação, a defesa e a manutenção de aparência tendem a ter um valor negativo.

* Tendem a afastar-se de "deveres". O sentimento de "Eu devia fazer ou ser isto ou aquilo" tem valor negativo. O paciente afasta-se do que "devia ser". não importa quem tenha estabelecido aquele imperativo.

* Tendem a deixar de satisfazer às expectativas dos outros. Agradar aos outros, como um objetivo em si, é um valor negativo.

* Ser verdadeiro é um valor positivo. O cliente tende a procurar ser ele mesmo, com seus sentimentos reais, sendo o que é. Esta parece ser uma preferência muito profunda.

* A auto-orientação é um valor positivo. O cliente descobre um orgulho e uma confiança cada vez maiores ao fazer suas escolhas, orientando a sua vida.

* O eu e os sentimentos pessoais passam a ter valor positivo. A partir de um ponto em que se vê com desprezo e desespero, o cliente chega a se valorizar e a considerar valiosas suas reações.

* Estar num processo é valorizado positivamente. A partir do desejo de um objetivo fixo, os clientes passam a preferir a estimulação de estar num processo em que nascem potencialidades.

* Talvez mais do que tudo, o cliente passa a valorizar uma abertura de todas as suas experiências internas e externas. Estar aberto e sensível a suas reações e sentimentos íntimos, a reações e sentimentos de outros, e às realidades do mundo objetivo - é uma orientação que prefere claramente. Esta abertura torna-se o recurso mais valorizado do paciente.

* A sensibilidade aos outros e a aceitação dos outros é um valor positivo. O cliente passa a apreciar os outros pelo que são, como passou a se apreciar pelo que é.

*Finalmente, relações profundas são valores positivos. Atingir uma relação fechada, íntima, real e totalmente comunicativa com outra pessoa parece satisfazer uma profunda necessidade de cada indivíduo, e é extremamente valorizado.

..."Considero significativo que, se os indivíduos são apreciados como pessoas, os valores que escolhem não se espalham na escala completa de possibilidades. Nesse clima de liberdade, não vejo que uma pessoa passe a valorizar a mentira, o assassinato, o roubo, enquanto outra valoriza a vida de auto-sacrifício e outra só valoriza o dinheiro. Em vez disso, parece haver um fio profundo e subjacente de homogeneidade. Ouso acreditar que, quando o ser humano fica interiormente livre para escolher o que quer que valorize profundamente, tende a valorizar os objetos, experiências e objetivos que permitam sua sobrevivência, seu crescimento e seu desenvolvimento, bem como a sobrevivência e desenvolvimento de outras pessoas. A minha hipótese é que é característica do organismo humano preferir estes objetivos de realização e socialização, quando se expõe a um clima que favorece o crescimento." 

Pouco adiante escreve: " Disse que, aparentemente, perdemos esta capacidade de valorização direta, e passamos a nos comportar segundo formas e valores que nos trarão aprovação, afeição e consideração sociais. Para comprar o amor, renunciamos ao processo de valorização. Como o centro de nossas vidas está agora em outros ficamos amedrontados e inseguros, e precisamos nos apegar rigidamente aos valores que introjetamos." ... "O homem tem em seu íntimo uma base organísmica de valorização. Na medida em que pode estar livremente em contato com este processo de valorização, comportar-se-á de maneiras que permitam sua realização." (p.31)

"Conclui que se tornou possível um novo tipo de universalismo emergente de orientações de valor quando os indivíduos se orientam para a maturidade psicológica ou, mais precisamente, tendem a abrir-se para suas vivências. Esse funcionamento de valor parece provocar a ampliação do eu e dos outros, e estimular o processo evolutivo positivo." (p.32)


Agora penso ser papel de cada um de nós, principalmente profissionais de saúde mental e educadores,  refletir sobre essas observações de Rogers e legitimar, ou não, a veracidade de suas assertivas, as sobrepondo com suas próprias vivências pessoais.

Há anos afirmo a existência de uma instância ética inerente ao ser humano, além do superego freudiano, que ficou imperceptível ao próprio Freud. Rogers reforça essa minha observação em mim mesma e em alguns poucos pacientes  A mim cabe aprofundar minhas investigações. Uau!

Aurora Gite



terça-feira, 1 de setembro de 2015

E o que dizer da mudança no ensino?

Há tempos alterações no processo ensino-aprendizagem demonstravam como os métodos didáticos se encontravam obsoletos para atrair a atenção e despertar a curiosidade dos alunos. Foi-se o tempo que docentes entravam em salas de aula protegidos atrás de seu material previamente elaborado com informações já selecionadas - mesmo que bem planejadas - e estratégias de ensino delineadas passo a passo para melhor assimilação dos alunos. Mas informações estanques, segundo sua visão de homem e de mundo, sem aplicabilidade prática para o momento atual do aluno - eram mais um fator que não mobilizava o engajamento do aprendiz no próprio processo de aprendizagem. Informações que, por vezes, se constituíam maçantes para muitos que não são atraídos pelas perspectivas históricas que culminaram na sociedade atual, mais voltados para resultados práticos em suas vivências cotidianas. Poucos trazem consigo um querer inato voltado a um aprender contínuo pela vida afora, curiosos com as lições que a própria vida lhes traz em vivências, que fogem ao seu controle.

Até hoje me questiono o pouco interesse dos últimos Governos, com o planejamento da Educação voltado à época digital, onde não cabem mais as grades curriculares que compõem o ensino em qualquer nível atualmente, muito menos o pouco caso com os que orientam ativamente a qualidade da informação a ser assimilada e incorporada visando mais a manutenção do "status quo governista" que a integridade da formação da personalidade dos alunos. Essa não só ocorre a nível cognitivo e comportamental, mas ética e espiritual no sentido de despertar a vontade de aprender e o querer evoluir e se aprimorar como indivíduo, depois de tornar-se pessoa com espaço dentro do coletivo ou do social onde estão inseridos.

E caímos na eterna inquietude do "Conheço quem sou; sei que existo... mas o que é que vou fazer com isso? Como me engajar no mercado de trabalho que inclui padrões e exclui os divergentes, mesmo sabendo que deles advém as inovações? Como suportar as pressões e a solidão pela falta de inclusão social se não obedecer a disciplina submissa imposta para a manutenção do "status quo" vigente, da classe social dominante, dos que estão no Poder (segundo a análise marxista ainda com seu peso no sistema capitalista)? Como tolerar passivamente atitudes perversas de roubos do capital intelectual, por parte de autoridades, que se atribuem a autoria de projetos e pesquisas, e acumulam os lucros dos reconhecimentos pessoais?

Acredito que uma das grandes mudanças no milênio é o prenúncio da queda do regime e da mentalidade capitalistas. O capital monetário, o acúmulo do lucro financeiro, a exaustiva vida competitiva e a concorrência desleal cedem cada vez mais seu espaço para o capital humano e os valores pessoais, voltados para o corporativismo, lealdade e fidelidade, baseados na cooperação humanista de vínculos sociais fortalecidos pelo poder da união e pela força do amor social, que têm por metas ideais de igualdade, fraternidade e liberdade.

Palavras abstratas que se perdem ao léu, depois de serem pronunciadas? Será?
Será que é isso o que se observa na prática?
Concordo com Augusto de Franco (vídeo no Youtube: Viver em Rede, Viver da Rede) que o que mudou foi a natureza da sociedade, não só alguns aspectos envolvendo as relações sociais e de produção; o que alterou foi a configuração social, que ultrapassou o paradigma centralizado, deixa para trás, cada vez mais o descentralizado e se volta para o modelo distributivo de interações sociais priorizando as individualidades; o que acelerou a uma velocidade difícil de acompanhar graças às redes sociais foi o fluxo da interconectividade e interatividade que trouxeram consigo nova visão de tempo e espaço sem limites definidos a partir de agora: vários mundos percebidos ao mesmo tempo, através da globalização; várias interações em tempo real, a urgência do presente se impondo ao passado em suas recordações e ao futuro em suas expectativas; comunicações não-locais e em tempo presente - será que nos aproximam da Física Quântica?

Como deixar de lado minha hipótese de que Sigmund Freud, em sua genialidade, foi o primeiro a observar as interações subatômicas, as operações do mundo quântico dentro de nós, e as registrou sob os conceitos de energia instintiva e de aparelho psíquico? Como deixar de lado, ante tantas descobertas imagéticas, a leitura biomagnética e o reconhecimento do campo eletromagnético, percebido por Carl Jung em sua teoria da comunicação transpessoal, registro da sincronicidade, mundo vibracional de energias além do ego?


Alunos autodidatas, buscando na Internet os conhecimentos que mais lhe atraírem a curiosidade? Aprendizes atrás das informações que possam ampliar seus campos de atuação? Futuros profissionais disponíveis a se capacitar e a se aprimorar a cada descoberta inovadora, sabendo que reside nessa postura sua abertura de espaço no mercado de trabalho? A transformação do peso monetário para se conseguir boa formação, cai por terra com a comunicação digital globalizada onde mestres distantes se aproximam via internet, onde ensinos à distância entram no mercado competitivo e muitos professores se dispõem a valorizar as escolhas profissionais e sua missão de ensinar: ousam se expor saindo da frieza do lucro salarial (dentro da mais-valia marxista) e isolamento pessoal da relação ensino-aprendizagem dentro sistema capitalista, e caindo na valoração do calor da relação humana impessoal e desinteresseira, e da distante proximidade aconchegante do ensino atrás das telas digitais, dentro de sistemas, "comprovadamente", humanistas.

Sem sombra de dúvida, mudou o caleidoscópio das configurações dos papéis sociais e dos agentes diretos responsáveis por transformações sociais mais efetivas. Palavra de ordem é eficiência, é produzir resultados, mas também é alterar o tripé de sustentabilidade do "saber-fazer-acontecer" para o quarteto básico de uma pirâmide que garanta com segurança sua elevação ao pico da individuação, qual seja, o "querer-saber-fazer-acontecer". A invenção autêntica e criatividade inovadora encontram-se sob a égide desse tipo de engajamento pessoal, comprometimento efetivo com mudanças pessoais, inclusive, onde o "tornar-se pessoa" leva em consideração as "orientações rogerianas" (Carl Rogers),  só que voltadas para si mesmo, de "aceitação incondicional" de quem se é com pontos fortes e fracos, "congruência" ao defender os próprios valores éticos e potenciais inatos, e "empatia" consigo para desenvolver uma atenção compreensiva, escutar-se e respeitar-se. Palavra de ordem é um compromisso honesto e leal consigo mesmo, com seus valores morais e éticos pessoais acima dos valores sociais impostos pela sociedade em que cada um vive.

Aos professores, catedráticos teóricos mas pouco preparados e ineficientes na passagem para o pragmatismo eclético, esse sim, a meu ver, o mobilizador efetivo de questionamentos internos e motivador da coragem para ousar causar mudanças sociais, ou seja, na forma de se colocar perante a sociedade. Cabe a eles, em qualquer nível de docência, conviver nesse milênio, com a angústia de "não saber tudo", com a alegria ao perceber a mão dupla de aprendizagem que implica uma relação engajada entre aluno-professor, e ao constatar que o aprender humano envolve um aprimoramento contínuo pela existência.

O cadeado do baú de repressões, proibições e autopunições superegóicas, culpas autodestruidoras, profecias autorrealizadoras de ir contra o próprio potencial em prol de desejos outros,  se rompeu nesse milênio. A meta é "ensinar e ensinar-se a ser feliz como indivíduo". O objetivo é buscar ser livre reconhecendo seu poder para escolher entre as várias possibilidades que surgem ao seu redor, e se responsabilizar por suas tomadas de decisões, sabendo que uma das grandezas do bem viver é a flexibilidade, a reversibilidade, liberdade e serenidade para alterar as ações humanas. 

Como não reler "A Arte de Amar" de Erich Fromm?

O "amor" nunca vai poder entrar na categoria de "só isso"... ao enquadrá-lo dentro dos fenômenos que permeiam as relações humanas.

Relação terapêutica - ou uma experiência emocional corretiva - onde se expressa o fenômeno da transferência transpessoal é "amor". Esse conceito abstrato representa o fenômeno energético, amálgama de ligação vincular, observado como motor propulsor ou força para mobilizar a ocorrência de mudanças internas; para que quem ame se volte a buscar atingir seu melhor contribuindo para que o outro na relação cresça; para procurar se capacitar para o cuidar respeitoso do outro ao bem administrar as diferenças; para se habilitar a gerenciar com afeto, paciência e tolerância, as conexões e interações que unem as pessoas, visando legitimar, na parte que lhe cabe, a harmonia nas convivências humanas.

Não seria o encaixe perfeito para situarmos a relação ensino-aprendizagem desse milênio?
Aurora Gite