quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Se promessa é dívida, então... "Saldando dívidas!"

Com as facilidades de poder sanar dúvidas e ir atrás de informações para aumentar conhecimentos específicos de interesse direto de cada um, esse milênio já delineia o perfil autodidata e empreendedor do profissional que deseja se inserir no mercado de trabalho e ter uma participação ativa também na sociedade em que vive. Não é ficar atrás da demanda da empresa e correr para atingir metas colocadas. Não é ficar satisfeito e estático depois de ter curiosidades desfeitas, pois com isso novos ciclos se abrem para terem seus processos de conhecimentos desvendados. O profissional, desse milênio, constrói seus diferenciais a cada momento.

Um saber adquirido já se torna obsoleto e a meta é inovar, inventar, criar e atingir novos saberes, que possam se integrar e agregar valor ao já conhecido. Esse é o perfil de ser humano que facilmente se insere na nova dinâmica (movimento de forças) do mundo do século XXI. Assim equipado internamente, esse profissional de qualquer área, está aberto a entrada de novos elementos na equipe sem que esses lhe representem ameaça de desequilibrar seu "status", por si só sinônimo de "estar ultrapassado". O foco é sempre a conquista do novo, a ousadia para enfrentar as mudanças e se aventurar aos momentos cíclicos constantes de desorganização (ansiedade) e busca de ordem (serenidade).

Sendo assim, continuo a transcrição do meu capítulo sobre "O profissional do século XXI e o impacto das transformações na equipe multidisciplinar de dor", lembrando que as referências bibliográficas das citações se encontram na postagem anterior:

"...A importância do trabalho em equipe não se encontra mais somente na integração de seus elementos e na sua disponibilidade de atuação direcionada a uma meta comum, mas em um contínuo caminhar desses profissionais, envolto em constantes reciclagens, aperfeiçoamentos, pesquisas e novas descobertas, levando sempre em consideração a melhoria de qualidade de vida do paciente com dor, da instituição para a qual trabalhe e de si mesmo como profissional.

Para os pacientes com dor, a valorização das equipes e de suas interrelações consideradas em um âmbito sistêmico, ou seja, permeadas por influências recíprocas e dinâmicas - envolvendo não só os elementos dessa equipe, mas o mundo das relações entre profissionais, os pacientes e seus cuidadores - possibilita a compreensão dessa experiência relacional que, em muito, auxilia no processo de cura, e pode ser propiciadora do alcance de novos patamares evolutivos para melhor compreensão do que ocorre neste aspecto.

Referindo-se a este aspecto interrelacional, talvez haja, neste momento, uma escuta capacitada a ouvir e captar a importância de algumas teorias da década passada. Fish (1988) assim se expressa: "Os físicos têm usado o termo placebo para referir-se a uma substância na qual os pacientes acreditam haver potência para curá-los em suas enfermidades - uma crença que se justifica - mas, quimicamente, não é passível de comprovação. Pedrinhas de açúcares ocasionalmente produzem curas espetaculares de doenças intratáveis." Realça a fé no processo de cura e a necessidade de terapeuta e cliente acreditarem em um ritual de cura, fator facilitador de adesão ao tratamento. Uma cura eficaz pela fé é um processo que tem lugar entre duas pessoas que acreditam. Sua "Terapia por Placebo" também se constitui em um método terapêutico, baseado em princípios da influência social e no acreditar que existem "forças muito mais amplas, que afetam virtualmente todos os aspectos de nossa existência social".

Lemgruber (1984) já abordava o fenômeno de uma experiência emocional corretiva, advinda da vivência relacional. "O como e o porquê ocorrem as curas em Psicoterapia Breve ou Terapia Focal, a possibilidade de se obter bons resultados com poucas sessões de terapia, e a justificativa de que, muitas vezes, é desnecessário um tratamento a longo prazo, devem ser buscados, não na contraposição de um "insight cognitivo" versus "insight psicanalítico", mas na EEC (Experiência Emocional Corretiva)", cuja base reside na aliança terapêutica. Segundo Lemgruber, ao encararmos o ser humano de uma forma globalizada, como uma "gestalt" (configuração total), verificaremos que a mudança de qualquer parte provocará a modificação do todo.

Hermann (1999), psicanalista, fundador da Teoria dos Campos, enfatiza a importância do campo transferencial na relação paciente-terapeuta, buscando resgatar o verdadeiro método psicanalítico interpretativo do que ocorre nesse jogo de interação. Realça o fato de que uma teoria nunca se sobrepõe ao que vem do paciente. Ela não deve informar como olhar algo, mas o conjunto de ideias, ou modelos referenciais, que a constituem devem surgir da "observação de fenômenos". Coloca a importância de se olhar o paciente como é, buscando a compreensão de seu sintoma ou explicação de sua patologia, postura bem diferente daquela do profissional que busca inserir o paciente em alguma moldura teórica pré-estabelecida... o que já torna questionável a utilização (prática) da própria Psicanálise.

Outro fato importante a ser apontado, através das colocações acima, é a união em torno do "homem", independente das escolas seguidas, e a busca de integração ao redor do "fenômeno observado" sob vários pontos de vista. Acrescentando-se a isso, a junção interdisciplinar e o aspecto corretivo da própria vivência relacional, não há como não reconhecer o mérito dessas equipes prontas a cruzar a passagem do século.

No atendimento direto ao paciente com dor, existem três vértices, em saúde mental, que deveriam ser observados sempre, a meu ver: o agir, o pensar e o sentir. Considerando-se que a dor é universal e que esse sofrimento físico e psíquico ocorre nos indivíduos, independentemente de suas características biopsicossociais, acredito que o importante, a ser relevado, é o propiciar ao paciente se manifestar, expressar sua dor e mudar sua relação com as próprias experiências, ou seja, re-significar sua vida, desfazendo sua linguagem interna do adoecer.

Nesse sentido, a nível psicológico, haverá momentos psicodiagnósticos e terapêuticos onde se torna mister uma "leitura no eixo temporal", que envolve predominantemente aspectos passados, presentes e futuros da vida do paciente, com a devida utilização de técnicas psicológicas e estratégias de determinadas linhas teóricas. Nesse eixo encontram-se  em um extremo, a Psicanálise, voltada para o passado, e no outro, por exemplo, as Terapias da Consciência, voltadas para o futuro.

Em outros contextos, a demanda inicial pode reportar uma "leitura no eixo espacial", necessitando o psicólogo de novas instrumentações para possibilitar que seu paciente possa aliviar ou bloquear situações ambientais, que estejam interferindo em sua vida e em seu quadro de dor. Neste sentido, o exemplo vem com Melanie Klein, pois, embora a terapia kleiniana situe o paciente no aqui e agora da sessão, ela enfatiza espaço e posições específicas de funcionamento mental. Também a Terapia Comportamental Cognitiva faz parte desse eixo, buscando, primordialmente, a quebra de crenças que circundam o espaço dos comportamentos disfuncionais.

Questionamentos existenciais, tão comuns em quadros de dor crônica, remetem o profissional a uma "leitura no eixo transcendental", que nos remete à dimensão espiritual, onde o resgate é do sentido da vida e da importância do viver, que mobiliza o profissional a buscar novos instrumentos técnicos e trabalhar, cada vez mais em sua profundidade, a qualidade das relações internas e externas a nível de equilibrar e alinhar as energias física, psíquica e metafísica. Terapias Fenomenológicas-Existenciais, Logoterapia ou Análise Existencial, Psicologia Analítica (Jung), aqui se enquadrariam, bem como algumas Terapias Alternativas, sem base científica, pelo menos até agora, embora apresentando efeitos positivos bem visíveis na condição psicológica dos pacientes.

Finalizando, todos os esforços de uma equipe multidisciplinar de dor e os recursos empregados por seus membros, dentro de suas respectivas áreas, deveriam visar a integração do ser humano, seu comprometimento com seu processo do adoecer e seu engajamento no tratamento e nas mudanças visando melhor prognóstico e qualidade de vida no mundo relacional. Só ao paciente cabe se prevenir e lidar com o "mal físico passageiro" de forma que não se repita, ou escolher a qualidade da convivência com a "enfermidade crônica" de maneira que ela contribua para enriquecer sua vida, descobrindo seu sentido naquele específico momento existencial de seu viver."

Acrescento agora:
Aos elementos das equipes, enquanto agentes de saúde, cabem o aprendizado de olhar as situações de atendimento sob várias perspectivas, abarcando amplo conhecimento do que as cerca, e se ater ao nível realista ao desempenhar suas funções, cuidando com atenção redobrada para se afastar do binômio idealização-ilusão de onipotência, se abstendo de se engajar em expectativas de "messias, salvador supremo, senhor soberano de um saber, que resolve tudo e em curto espaço de tempo", pois tais posturas só conduzem, como resultado final, a deixar pacientes e equipes desestruturados emocionalmente, frustrados, desapontados, ressentidos, hostis a qualquer tipo de intervenção benéfica a minorizar seu quadro clínico."

E onde estou em minhas pesquisas?
Revendo as biografias do pai da Psicanálise, procurando me inteirar de como surgiram suas ideias. Já registro que Freud sempre buscou integrar suas ideias e suas descobertas em estrutura conceitual, coerente e sistemática, respeitando os critérios da ciência da época; em sua prática clínica não era tão frio e distante. Descreveu e nomeou as forças em pares (ativas e reativas), cuja atuação observou através de seus efeitos nas condições psicológicas dos pacientes. E, uau!, " a natureza intrínseca das forças (psíquicas) não foi investigada"; partiu da observação das forças voltadas à vida (inovação e criação, crescimento e evolução) e à morte (repetição, inação, autodestruição); dos impulsos e defesas; libido e pulsões de morte, Eros e Tânatos...

Continuo buscando me aprofundar nas ideias de pensadores sobre a energia psíquica e sua dinâmica em nossa mente. Agora meu foco está em Merleau-Ponty, fenomenólogo existencialista e em sua  obra "O Visível e o Invisível", na importância que dava à intencionalidade e à facticidade na rede de experiências significativas dos seres humanos. Não sem procurar sua articulação com Espinosa e sua teoria sobre o jogo de forças energéticas na natureza, que ocorre nos encontros entre os seres humanos, dando, inclusive, sentido a seu viver.

Ah! Não fico sem cruzar esses dados com as informações e conhecimentos práticos de Deepak Chopra, médico ayurvedico e terapeuta quântico, que podem ser encontrados em vários vídeos no Canal YouTube. "Ayur" significa "ciência" e "veda" significa "vida", portanto "ayurveda" significa "ciência da vida". Consiste na "Medicina da Cura", futura medicina do milênio, penso eu.

O terapeuta ayurvédico tem o foco na "prevenção de doenças" e no "equilíbrio geral do organismo". Entre suas intervenções estão, entre outras, as práticas energéticas voltadas ao alinhamento da respiração e da meditação, yoga, homeopatia, acupuntura, fitoterapia, terapia floral, massoterapia, reik (não confundir com Reich, dissidente do grupo de seguidores de Freud, que desenvolveu a Teoria das Couraças de Caráter...vale conhecer suas ideias!).

Segundo dados coletados na enciclopédia livre Wikipedia, "Ayurveda é o nome dado ao conhecimento médico desenvolvido na Índia há cerca de 7 mil anos, o que faz dela um dos mais antigos sistemas medicinais da humanidade. Ayurveda significa, em sânscrito, Ciência (veda) da vida (ayur); Continua a ser a medicina oficial na Índia e tem-se difundido por todo o mundo como uma técnica eficaz de medicina tradicional. No Brasil é praticada principalmente por psicólogos e fisioterapeutas, mas está também sendo inserida no sistema público de saúde.

A medicina ayurvédica é conhecida como a mãe da medicina, pois seus princípios e estudos foram a base para, posteriormente, o desenvolvimento da medicina tradicional chinesa, árabe, romana e grega. Houve um intercâmbio de informações com o Japão (Budismo), que tinha a mesma necessidade dos indianos: criar uma medicina barata para atender às suas populações muito pobres e gigantescas; por essa razão existe muito da medicina japonesa nos conceitos de ayurvédica. As duas desenvolveram técnicas muitos eficientes e de baixo custo para o tratamento.

A doença, para a Ayurveda, é muito mais que a manifestação de sintomas desagradáveis ou perigosos à manutenção da vida. A Ayurveda, como ciência integral, considera que a doença inicia-se muito antes de chegar à fase em que ela finalmente pode ser percebida. Assim, pequenos desequilíbrios tendem a aumentar com o passar do tempo, se não forem corrigidos, originando a enfermidade muito antes de podermos percebê-la."

Indico este vídeo de Deepak Chopra "Tu Energia Interior" (Colección Mente Sana #3) completo.
Nesse vídeo encontrei boa parte do conjunto de ideias, que buscava para agregar à minha pesquisa.

Aurora Gite






segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

E quinze anos, ou pouco mais, já se passaram!

"E quinze anos, ou pouco mais, já se passaram!" No entanto, minha impressão é que parece que foi ontem que tudo aconteceu. Ainda recordo quando me convidaram para escrever o capítulo em um livro abordando os desafios no diagnóstico clínico para os profissionais do século XXI e o impacto das transformações na equipe multidisciplinar de dor, por volta de quinze anos atrás, ou pouco mais... Acho importante o confronto com o que se foi e o que se é, como bom critério avaliativo para se abarcar a extensão de nossas mudanças internas, nosso engajamento em sua manutenção, nosso empenho em continuar caminhando em prol de nosso crescimento, nossa lealdade e fidelidade ao compromisso de continuar pela vida com nossa evolução pessoal e profissional.

A decisão não foi fácil na época. O preço foi alto pela opção escolhida, mas valeu a pena investir. Sempre vale a pena quando se investe e se sente orgulho de si mesmo ante posturas tomadas, mesmo que decisões impliquem exclusão do grupo de pares. Esse orgulho, bem como a autoconfiança e a autovalorização dele decorrentes, é um tripé que se carrega vida a fora e que nos dá muita força para atravessar obstáculos sofridos, que envolvem rejeição afetiva e desqualificações profissionais indevidas.

Quanta dúvida então entre bancar minhas ideias, assumindo posturas não tão assimiladas na época por minhas colegas de profissão,ou me acomodar a chavões padronizados, esperados pela maioria das equipes, lugares comuns mais fáceis para seus elementos se situarem. No entanto, já me parecia imprescindível divulgar meus pontos de vista, ante todos os estudos e pesquisas comprovando a experiência emocional corretiva (que eu também observava como capital para um bom prognóstico), vivenciada por pacientes ante a boa qualidade do atendimento e da interação estabelecida com profissionais em diversas áreas, particularmente aos setores ligados à saúde mental.

Eis a "Sinopse":

"Este trabalho tem por objetivo realçar os aspectos positivos das aceleradas transformações pelas quais passa a humanidade. Estamos perante uma nova visão de homem e de mundo. Urge a adoção de nova filosofia de vida, que resgate aspectos éticos e morais. Neste sentido, na área da saúde, o trabalho das equipes interdisciplinares se consolida e direciona suas metas de atendimento visando a qualidade de vida do paciente.
Uma visão humanista e holística do doente, compreendido e respeitado dentro de sua unicidade, e entendido dentro de abordagens sistêmicas e atitudes psicossomáticas, tende a propiciar elementos à uma melhor compreensão da vivência dolorosa."


Pulo para o final do capítulo, citando as "Referências Bibliográficas". Particularmente, gosto de me situar na trilha do autor de textos ou artigos. Essas referências me facultam isso, como melhor entender as articulações e associações contidas no que leio ou estudo. Não deixa de ser um convite para que façam o mesmo! Só não observo aqui as normas oficiais do uso dos destaques com os nomes dos autores em maiúsculo; esteticamente não caíram bem nesse espaço. Por outro lado, o programa do computador não aceitou bem que observasse a distância de 3 letras, espaço formal para o início da segunda linha completando os dados de cada obra citada.

"Referências Bibliográficas"

Dattilio, F.M.& Arthur, F. Estratégias cognitivo-comportamentais para intervenção em crises.    Campinas: Eitorial Psy II, 1995.
Dethlefsen, T. & Dahlke, R. A doença como caminho. São Paulo: Cultrix, 1983.
 Fish, J.M. Placebo Terapia: influências sociais em psicoterapia. Campinas: Papirus, 1988.
Forghieri, Y.C. Psicologia Fenomenológica: fundamentos, métodos e pesquisas. São Paulo:  Pioneira, 1993.
Frankl, V.E. Psicoterapia e sentido da vida: fundamentos da logoterapia e análise existencial. 
 São Paulo: Quadrante, 1989.
Lemgruber, V.B. Psicoterapia Breve: a técnica focal. Porto Alegre: Artes Médicas, 1984.
 Mello Filho, J. Psicossomática Hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 1984.
Sagawa, R.Y. et al: Teoria dos Campos na Psicanálise. São Paulo: Hepsyché, 1999.
Silva, M.A.D. Quem ama não adoece: o papel das emoções na prevenção e cura das doenças. São  Paulo: Best Seller, 1999.


"O profissional do século XXI e o impacto das transformações na equipe multidisciplinar de dor"

"Aborda-se muito o avanço científico e tecnológico, as novas formas de comunicação e diferentes interações, propiciadas pela linguagem computadorizada. A nova era, que se inicia com tantas e aceleradas transformações, ao mesmo tempo que fascina, também amedronta. O quadro social, abrangendo aspectos políticos, econômicos e culturais nos confrontam com catastróficas previsões, inclusive anunciadoras de um fim de mundo. Porém, de uma forma arrojada, poderíamos compreender essa mudança de século como fim de um ciclo realmente, com novas formas de viver e conviver.

A expansão da globalização, a transformação cultural dela decorrente, e o acelerado progresso tecnológico e informativo incentivaram também o surgimento de nova visão de homem. A necessidade de compreensão do ser humano em suas três dimensões: temporal, espacial e transcendental, implica em grandes mudanças, particularmente, no que diz respeito aos profissionais da área da saúde.

Tal fato exclui do mercado de trabalho, profissionais com posturas fechadas e individualistas, mais estáticas e voltadas para uma única direção humana, que adotem teorias como dogmas e se utilizem de técnicas menos abrangentes. O cabedal de informações disponíveis a esses profissionais cobra-lhes um ecletismo de ação, ou seja, a utilização de técnicas de vários grupos teóricos diferentes, tendo em vista o bem estar do doente.

Portanto, nesse período de transição de séculos e grandes mudanças, ideológicas e de comportamento, não se pode deixar de ..."


Espero ter despertado a curiosidade de vocês para o que vem a partir daí...
Coloco na próxima postagem, prometo!
Aurora Gite

sábado, 29 de novembro de 2014

Continuo dizendo que "Tudo valeu a pena!"...

Mais um final de ano que se aproxima! Como não reaver na memória "O que fazer?" e não reacender o afeto por quem o escreveu?

Compartilho as dicas, continuando a dizer, para esse ano também, que "Tudo valeu a pena!".

SEXTA-FEIRA, 27 DE JANEIRO DE 2012

" O que fazer?"

O que fazer?


Para associar mundo moderno com viver bem
Não basta tentar,
Temos que ir muito além.
Há três tipos de pessoas
Que vale a pena conhecer:
O modernista, o campista
E o que sabe bem viver.

O primeiro adora tecnologia.
Para ele, computador
É coisa de magia.
Mas não deixa a cidade grande.
Para ele, viver bem
É nada mais, nada menos
Que fama, poder e dinheiro.

O segundo é o tipo fazendeiro.
Trabalhou a vida inteira
E ganhou muito dinheiro.
Com trinta anos se aposentou.
Uma fazenda comprou
E muito bem se casou.
Qualidade de vida para ele
É ser rico e bem casado,
Ter fazenda e muito gado.
E viver bem relaxado.

O terceiro é bicho estranho.
Mas vale a pena mostrar,
Pois tem muito valor
No que estamos a falar.
Este sabe misturar
Viver bem e na cidade morar
Tem casa na cidade
E outra linda no campo.
Gosta de gastar,
Mas não tem dinheiro no banco.
Trabalha no que acha legal,
Mas o que ganha é muito mau.
Casou-se com quem ama,
Passa o domingo na cama.
Gosta de trabalhar,
Mas odeia o chefe encontrar.
Não sabe se vive bem,
Mas de uma coisa está certo:
É muito nervoso,
Mas é feliz também.

Agora, cabe a ti escolher
Qual dos três você quer ser.
Para quem não sabe o que fazer,
Saiba que minha opinião já fiz:
O que mais quero é ser feliz.

Luis Felipe Cyrillo Danezi
em seus 12 anos de idade
publicado na Revista de sua escola


Vale como lembrete para que os adultos não se esqueçam de seus sonhos e de quem realmente foram e poderão ser.

A dica da vida não é que procuremos nos adaptar às circunstâncias ao nosso redor, administremos nossos medos - como o medo do amor e de ser feliz - ou gerenciemos nosso "eu" em prol do bem viver de acordo com a expectativa de sociedades com normas, valores e preconceitos instituídos antes mesmo de nela existirmos. Não são as circunstâncias responsáveis por quem somos. Nosso "ser no mundo", com qualidade de vida, está atrelado a outras forças internas.

A mensagem que a vida nos envia é para respeitarmos com lealdade a pessoa que, em essência, existe dentro de nós; é confiarmos em nossa liberdade e capacidade para transformarmos o que nos cerca; é termos coragem dentro da simplicidade de buscar que nossa existência se adapte a quem realmente somos; é sermos fiéis a nossos sonhos sem medo de ser feliz.

É podermos olhar para trás e sentirmos profundo orgulho por termos nos permitido lutar por nossos sonhos, buscando suas inserções na realidade, em vez de termos vivido dentro deles, como sonhadores com medo de viver, o que a vida nos encaminha.

E, se a vida nos encaminha, faz parte de um mistério, a ser enfrentado e desvendado.
Qual são os primeiros passos a serem dados?
  • Encontrar e acolher o menino que todos temos dentro de nós.
  • Sair da bolha sonhadora, que mina a esperança de realizações ocorrerem; que eterniza o tempo, mas paralisa nosso andar por ele. E que susto ao vê-lo ter passado tão rápido!
  • Colocar os pés no mundo real, buscando na dignidade pessoal alcançada, a força e o equilíbrio para caminhar.
  • Dar sentido e qualidade a nossa vida, para nos aproximarmos da grandeza do bem viver.
  • Resgatar e agora sim vivenciar os sonhos, não tão esquecidos assim dentro de todos nós.
A partir daí, mãos à obra!
Posicionar sua tela mental, pegar o pincel de sua imaginação e delinear o esboço do que quer para sua vida. A cena onde seu desenho vai ser formatado vai depender da paisagem de seu cotidiano, mas as cores, que darão força à imagem que vai surgir, vão depender de suas escolhas e de sua vontade para decidir sobre quais delas vai querer que façam parte de sua criação, de seu viver a partir de agora.

Aurora Gite

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Lemos o mesmo livro? Vamos assistir ao mesmo filme?

Já começou a divulgação do próximo lançamento em fevereiro de 2015 do filme, baseado no livro "Cinquenta Tons de Cinza".

Há algum tempo venho consolidando meu ponto de vista sobre que o que me fascina no ser humano é a diversidade de perspectivas, enorme gama de pontos de vista e opiniões sobre uma mesma temática. Agrego agora que o que me atrai, curiosamente, é acompanhar no vácuo da mente as interações (quânticas) da energia psíquica, pulsando afetos - os mais diversos. Nesse sentido, continuam as investigações e descobertas, da Física Quântica e da Parapsicologia, sobre os fenômenos do teletransporte quântico e da telepatia a nível do deslocamento da energia psíquica entre os seres humanos. Muitas teorias espiritualistas antigas, começam a ganhar uma evidência e compreensão lógica ante os novos focos dessas ciências. Agora é questão de tempo!

Isso me é suficiente? Não.
Cada vez mais não se consegue separar e compreender o indivíduo fora do coletivo; fazer uma leitura das energias (cósmicas?) que cercam os seres humanos sem interligar o "micro ao macrocosmo"; acompanhar o trajeto físico e as repercussões psíquicas das interações prazerosas, tanto no tesão corporal quanto no elo tensional do que chamamos "vida" e "amor", através de meros recortes da realidade. Tudo está em movimento que, por vezes, ganha um dinamismo próprio que amedronta. Tudo está interligado e conectado, de tal forma que nosso equipamento lógico, mesmo intuitivo, não abarca ainda!

Mais ainda, os recursos de nossa imaginação, ou faculdade (aptidão inata) de imaginar,  não são adequadamente usados para nos permitir um bem viver dentro do real entediante, cruel se vivenciado a dois. Podemos sonhar e idealizar, em nada se aproximando de fugas alienatórias e sem desestruturar esquemas de valores, que sustentam nossa fragilidade humana mas que nos fazem viver uma vida a dois insignificante e infeliz. Muitas vezes, somos obrigados a reconhecer nossas limitações concretas e aceitar que relações são parcialmente gratificantes e necessárias a suprir aspectos práticos da vida. Mas não podemos negar que nosso viver ganha novo colorido e nos impulsiona a evoluir como pessoa, se recorrermos ao nosso imaginar criativo e inovador, que nos leva a viagens (quânticas?) atemporais. Existe uma energia (campo do psiquismo?) que pode trazer o passado e antecipar o futuro, entortando a rede circunstancial do presente, como os físicos já estão delineando experimentalmente. O importante é sempre manter a "razão" como "líder mental".

Ter conhecimento da dinâmica que envolve a vida a dois ainda não ganhou a primazia devida na vida de um casal. Poucos se atêm a importância de uma escuta apurada e respeito às necessidades e limites do parceiro buscando encaixes mais harmônicos dentro do convívio conflitivo natural em toda vida de relação. A quebra dessa escuta é, a meu ver, o fator primordial para o distanciamento entre os parceiros e o isolamento e direcionamento para um convívio com a solidão interna, para se proteger de sofrimentos ante futura prenunciada exclusão da união afetiva insatisfatória.

Quando ambos ousam enfrentar seus fantasmas internos, buscar ajuda necessária, ter coragem para procurar mudar em prol de si mesmos, têm chances de crescer como pessoas na vida a dois. Fecham as saídas da sofrida solidão interna, obstáculo intransponível na construção da vida de um casal ao se enclausurarem em seus mundinhos particulares excluindo o parceiro da relação conjugal, ou se aliando, de maneira egoísta, a terceiros, que passam a representar oportunas bengalas. Ambos, carregam vida à fora um vazio existencial que se expressa no tédio e falta de sentido para viver; a esses tanto a trilogia Cinquenta Tons de Cinza, como o filme a ser lançado em fevereiro de 2015 são motivos de desconforto e críticas portanto.

Relembrando considerações que fiz ao término da leitura de trilogia, procurei trazer também o relato de meu estado de espírito afetado, indiscutivelmente, pelo conteúdo da obra. A cada livro lido ia colocando minhas impressões. A postagem sobre "Cinquenta Tons de Cinza" data de setembro de 2012; sobre "Cinquenta Tons Mais Escuros" ocorreu em outubro de 2012; e sobre "Cinquenta Tons de Liberdade" em dezembro de 2012. Sendo assim, como não compartilhar?

19 DE DEZEMBRO DE 2012


Cinquenta Tons de Liberdade

Encerro a leitura da trilogia "Cinquenta Tons" de E.L.James e me ponho a digerir sobre o que ficou dentro de mim.

Começo por três pontos, a meu ver, básicos:

Primeiro, dou ênfase à qualidade da publicação da editora Intrínseca e à escolha das capas, não só pelas imagens, mas pela textura das mesmas.

Segundo, realço o estilo de escrever de James com sua objetividade, frases curtas, indo direto ao que quer transmitir, sem a necessidade que o leitor tenha muitas elucubrações e interrogações do tipo "o que será que o autor quis dizer com isso?". Acredito que, além do conteúdo instigante, essa forma sucinta e direta, tenha atraído tantos leitores "internautas do mundo atual", que se dispuseram a comprar seus livros e a seguir avidamente suas idéias, bem articuladas dentro do que a autora se propôs.

Terceiro, leitores em busca de pornografia, podem ter se deparado com muitas lições de como atuar sexualmente, ante descrições tão detalhadas e ricas sobre a relação sexual entre duas pessoas "afins uma da outra", que se perceberam com uma química semelhante, com seus corpos respondendo a estimulações específicas de forma idêntica - sintonia que aumentou a atração entre eles - e com suas mentes se permitindo  se embalarem no aumento de prazer, pela excitação advinda da atuação da faculdade de imaginar, fervilhante de inovações consensuais impeditivas a que o tédio da mesmice contamine o tesão que  apimenta a relação; digo melhor, que poderia apimentar o tesão de qualquer relação humana nesse sentido.

Agora chego ao que me causou grande surpresa: Quanta coisa sobre o "amor" , para os que se dispuserem a ver +além das meras aparências!

"Data venia" aos que tenham opinião contrária, chamou minha atenção, logo no início da leitura da trilogia, a autora usar a expressão "fazer amor" em vez de fazer sexo. No sexual temos o êxtase do prazer orgástico, explosão de energias através da entrega a uma união de corpos que se abre ao estímulo de áreas eróticas e à excitação pela fricção das mesmas. No "fazer amor" temos a entrega ao prazer de duas almas afins, o "sentir", em breves momentos, o clímax (apogeu) de energias em campo que irradia paz, aconchego, amor.

Refletindo sobre a repercussão e o estouro nas vendas da trilogia "Cinquenta Tons", mais me convenço sobre a pobreza da fantasia no erotismo atual. Ao ler não se sobressaiu o encontro sadomasoquista e a relação de prazer ante dores físicas e/ou psíquicas, mas o consenso e a curtição de um casal no encontro de jogos eróticos, que liberam a sintonia da excitação de suas libidos. Inclusive, quem se dispôs a ler e confrontar a obra com tantas críticas cruéis, deve ter notado que entre o casal existia um código: o uso da palavra "vermelho", indicava o 'Pare!', simbolizando, naquele momento, a interrupção de como chamavam de seu "desafio de limites". Meu foco recaiu na preocupação de um com o bem-estar do outro, na enorme vontade de agradar e preservar, no afetuoso e raro cuidar das respectivas integridades psíquicas.

Notem como a autora articulou suas idéias, sempre mobilizando o interesse para o "quero saber mais" e a curiosidade no "e agora, o que vem?" , dentro de situações banais que poderiam ocorrer com qualquer um, e sob uma abordagem bem passo a passo da relação sequencial das cenas, que levam a seguir seu pensamento e o desenrolar das ações dos protagonistas.

Analisem o "subjugar": não implica em causar sofrimento, mas aumentar o prazer da entrega, após o jogo da resistência e controle das reações imediatistas, impulsivas. Verifiquem a "função da submissão" onde o aumento do tesão vem do tentar se esquivar, sem impedir a ação restritiva do outro, mas encorajando-a. É incrível como os casais menosprezam suas capacidades de imaginar e fantasiar, apimentando a vida sexual, e  se permitem cair no marasmo tedioso da mesmice.

A expressiva vendagem dos livros ("pornografias para mamães?", subtítulo que receberam) e o interesse de tantos jovens, podem sugerir a possibilidade de maior união da "sensualidade" à "sexualidade", ou seja, que a mera satisfação dos instintos sexuais se acopla à grandeza das descobertas dos prazeres sensuais, pela entrega gradual aos estímulos sensoriais: aumento da percepção sobre as sensações físicas. O que me parece um bom sinal para impedir a alienação do mundo da ilusão,  com suas criações em que impera a falácia fantasiosa sobre as sensações reais.

Termino a leitura e me recordo que a autora se permitiu "criar", concretizar suas idéias, sob o som da música clássica, fato que também atraiu minha atenção. Minhas pesquisas sobre os dinamismos energéticos de nossa energia psíquica, os associando a processos bio-quânticos (bio-eletromagnéticos) estavam sendo direcionadas para os efeitos internos da acústica dos sons: de um som lírico e suave (mais atrativo à nossa alma) e sua diferenciação com um rock da pesada ( mais estimulante a movimentos corporais). Começo a ler de Otto Maria Carpeaux, "O Livro de Ouro da História da Música", onde o autor "traça a história da música erudita através de sete séculos.

Ao fechar "Cinquenta Tons de Liberdade" e me por a pensar sobre o trajeto dos personagens, vejo delineado o caminho por onde a autora impulsiona seus personagens a percorrer, que pode ser experienciado por duas pessoas viventes quaisquer. No possibilitar essa identificação também reside parte do sucesso da obra.

Mentalmente faço um retrospecto das articulações das idéias de James, que me levaram a refletir sobre:

* "a arte de amar", ou o respeito pelo cuidar das diferenças individuais e o encontro do prazer no ser diferente do outro e crescer nessa relação, preservando as individualidades;

* "a arte de fantasiar em consenso" como fator enriquecedor da relação;

* "a arte de criar expectativas", ou saber aguçar o prazer da espera de algo imprevisível e fora de controle;

* "a arte da entrega", ou o de se capacitar para o relaxar necessário a que a mesma ocorra com prazer;

* "a arte de confiar", de confiar no próprio taco para manter a relação e na capacidade do outro para lidar com adversidades circunstanciais do cotidiano, ambos preservando a relação para que não se contamine.

Essas reflexões me levam a recordar como algumas pessoas - como os personagens de James - ao se encontrarem circunstancialmente têm algum tipo de conexão energética ativada. É um reconhecimento inexplicável : "Não me pergunte o porquê, mas sinto nele a dignidade do diamante; se algum dia o souber 'solitário' e 'só'. vou estar por perto"; contrapondo a um " Ou ela é muito boa, ou muito..." já permitindo antever suas ansiedades antecipatórias, seus "cinquenta tons" a serem acolhidos.

Aqui já tirei da prateleira os "Diálogos de Platão" : "Banquete" ( com todo seu louvor ao amor) e "Fedro" (que prolonga o Banquete e vai +além) . Li o "Banquete" em 1976. Só de folhear percebo sua importância pessoal, por me permitir observar meu caminhar em relação ao fenômeno amoroso. Mas, de repente, em Fedro, do "mito do carro alado, no qual o cocheiro é a razão e os corcéis, a vontade e a concupiscência", me surge a percepção de que ansiedades antecipatórias em suas roupagens de medos do porvir, não só serão afastadas pela oposição ao que é no presente e pelo reforço ao confiar na própria capacidade de atuar sobre circunstâncias "conforme forem se concretizando no real", mas quando se alçar a categoria do cocheiro: da "razão" para a da "sabedoria".

Os mitos dispersos pela obra de Platão me fascinam. Talvez ouse estabelecer um código secreto, para quando se possa, ou se queira, acolher a privacidade de uma relação a dois, e falar "me too" (eu também).

Aurora Gite



sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Quando o texto tá difícil de entender...

"O texto tá difícil de entender, pode me ajudar a compreender o que eles estão transmitindo?"

Eis o tipo de ajuda que, provavelmente, tenho condições de contribuir. Ainda mais envolvendo Norberto Bobbio (1909-2004), Immanuel Kant (1724-1804), seus interesses primordiais em ética e política, onde as possibilidades de me acrescentar algo são enormes!

Agora é buscar nos comunicarmos adequadamente, para que possamos comungar ou compartilhar nossas ideias com as desses filósofos. Penso até que poderiam ser considerados co-autores do texto, por suas citações lhes facultarem uma participação relevante dentro do conteúdo do mesmo. Minhas pretensões passam longe de ensinar, passar informações, mas buscar essa comunhão de pensamentos entre leitores e escritores, que somos. É essa relação que me fascina!

Ante a gratificação de mão dupla, não há como recusar o pedido de ajuda informal. Dessa vez, a rede social facebook foi o recurso que serviu ao nosso intercâmbio. Lá comecei eu a responder sobre o texto encaminhado via e-mail e previamente lido. Como acredito que possa auxiliar outros, resolvi passar para essa postagem, com a dupla intenção de também poder resgatar para ler, quantas vezes tivesse vontade, sem ter que contar opcionalmente com alguma falha da memória, distorção que me faria ir atrás de outras fontes.

"Quando o texto tá difícil de entender, leia um parágrafo e tire uma palavra-chave, ou poucas palavras que representem 'para você' o que o autor quis transmitir. Assim, pouco a pouco, vá juntando as ideias principais do autor e acompanhe a trama de seus pensamentos. Quando leio, faço de conta que o autor está falando para mim. É assim que acompanho as articulações de ideias dele sobre o tema, buscando me engajar em seus escritos como leitora participativa, sempre curiosa com "E o que vem depois?" e sempre buscando preencher lacunas, porventura incompreensíveis, que possam distorcer o conteúdo que ele procura comunicar, como se fosse um interlocutor presente. Quando vem por metáforas, ou está mais oculto, na sequência sempre emerge uma associação que o torna mais explícito.

É uma outra curtição essa forma de se envolver como leitor... tente para ver! No início causa estranheza, pois precisa conter a ansiedade de abarcar tudo, de forma mais fácil e mais imediata. Mas vai valer curtir o tesão da aproximação, lenta e gradual, e da eclosão iminente do prazer de um insight compreensivo.

Por exemplo, no primeiro parágrafo, Bobbio (filósofo-político italiano considerado com "identidade neokantiana") pontua que "para elucidar o mundo contemporâneo, o pensamento iluminista é primordial".

No segundo parágrafo, Bobbio cita que, para Kant (filósofo alemão, cujas ideias muito o influenciaram), o Iluminismo "representa a  saída do homem da minoridade para a maioridade", conceitos que para ele refletem posturas de vida e escolhas existenciais. Superar a minoridade significa atingir uma liberdade interna para tomar decisões; responsabilidade de refletir sobre elas e as avaliar racionalmente e criticamente; e se bancar ao se comprometer com suas escolhas e consequências de prováveis resultados de suas opções. Assim surge o cidadão, inserido no coletivo, não mais dependente do referencial dos outros para ter voz ativa no social, mas que emerge como figura centrada em si mesma, opinando e votando sobre a forma de governo ou poder, que deve governar ou administrar o bem público.

Esmiuçando as ideias da primeira folha... são essas que coloquei acima. Agora vou para a segunda folha, tendo em mente que a ideia principal até agora foi a "importância da superação de menoridade pela maioridade". Por que? Porque na minoridade se é dependente do pensar dos outros. Na maioridade, já se alcançou a liberdade de pensar por si mesmo, tendo desenvolvido uma razão crítica pública, que possibilita avaliações mais realistas sobre o que ocorre dentro de si e ao redor de si, no mundo exterior.

Abro um parentese: Usando minha maioridade "eu penso que" a chave de tudo no mundo está em reconhecermos como somos afetados, ou nos permitimos afetar pelas circunstâncias internas ou externas.

Agora volto ao texto sobre Bobbio para seguir as ideias desse filósofo-político, curiosa para ver aonde ele quer me levar... No início da segunda folha, já vi que vai diferenciar governo democrático do governo autocrático. Dou uma paradinha e olho novamente o título desse texto "A Identidade Neokantiana de Norberto Bobbio: a ética-moral da paz e da guerra liberal-democrata", de autoria de Marcelo Lira Silva.

Já começo a articular! Liberdade (respeito com diferenças) articulo com Democracia ( convivência pacífica com divergências), com ética-moral da paz (maneiras de ser mais harmônicas e integradoras), com guerra liberal-democratas (com conflitos a serem superados buscando a união da maioria, do coletivo... ops, união não é fusão; fusão vem a dar em "massa padronizada" e não indivíduos agregados ao redor de um bem comum.

O texto sobre Bobbio e Kant não é de leitura compreensiva fácil mesmo, até pela complexidade temática. Sendo assim é preciso ir entendendo por partes. Primeiro resgatei quem foi Bobbio e  me interessei em saber como e onde Kant entrou em sua linha de pensamento ao analisar o quadro socio-político mundial.

Na página... você tem que Bobbio "evoca a razão política, assim como os princípios ético-moral kantianos, como formas resolutivas da paz e da guerra entre os Estados nacionais dos séculos XX e XXI". Segundo Bobbio, o caráter anárquico das relações internacionais de hoje, decorre da "ausência de um poder comum, "supranacional", que viesse regular e garantir o cumprimento dos pactos entre as nações".

Ops! Associei  a importância de um "poder comum supranacional" com as ideias do sociólogo Zigmunt Bauman e anotei um lembrete para revê-las após "dissecar" esse texto. Vários vídeos de Bauman se encontram disponíveis no Canal YouTube.

Volto a Bobbio, para quem "as relações internacionais repousam em um sistema de equilíbrio de poder", não podendo ser esquecidos os poderes invisíveis, ocultos. "Em termos kantianos, os Estados-nação contemporâneos não alcançaram a maioridade no nível das relações internacionais, onde o poder é, e só pode ser exercido através do uso público da razão".

Pausa para eu te lembrar que Kant privilegiava o alcance da autonomia, independência e liberdade internas para tomar decisões racionais, conscientes e responsáveis. Destacava a falta de coragem, a preguiça e indolência características da menoridade, afirmando que só saindo dessa postura interna e existencial de um individualismo mais egoísta, passivo e egocêntrico, seria possível - como indivíduo - pensar no coletivo e - como cidadão - atuar, tendo por foco o Bem Comum.

Volto ao texto: "Todo homem tem a possibilidade de diferenciar-se dos outros seguindo sua própria lei intrínseca (ou seja, sua natureza inata, seus valores, seu caráter) sua própria liberdade, e, portanto, pode ser avaliado de modo correspondente à sua diferenciação. Continua Bobbio, "A Justiça está na igual possibilidade de cada um usar sua liberdade... na igualdade para o uso do "livre exercício de expressar a própria personalidade" - no "como administrar vontades e interesses pessoais com todos os pactos sociais necessários, feitos na co-existência com outros indivíduos, no jogo de diferenças dentro da polis".

Vale destacar que " A Política (a gestão da coisa pública), entretanto, é permeada por conflitos irreconciliáveis, cabendo às partes resolver os conflitos através de uma pactuação, na qual a Constituição aparece como mediador de conflitos"...O contrato social de Kant depende dos indivíduos reconhecerem seus limites pessoais e estabelecerem normas universais, que sirvam para todos na vida pública. As regras ético-morais kantianas implicam no cumprimento de deveres e obrigações, certos tipos de coações práticas impostas ao homem por leis criadas por ele mesmo.

E aí é que começam os problemas! Continua Bobbio: "Se for verdade que o homem é um valor em si (que tem o que Kant chama de dignidade ontológica a respeitar)", que faz valer a sua vontade como se fosse uma legislação universal (ao usar racionalmente seu pensar voltado ao público), torna-se necessário saber "quem tem o poder e está autorizado (legitimado) a usá-lo em uma sociedade utilitarista como a atual. A igualdade (isonomia) e liberdade formal (decidir dentro das normas), garantidos pelos regimes democráticos contemporâneos, convertem-se em "desigualdade social", na medida em que, "quem está autorizado a transformar em legislação universal a sua vontade, são os que detém o poder econômico."

Sendo assim passa a imperar o confronto de interesses e vontades distintos, característico da sociedade utilitarista burguesa liberal, que a distancia da "ética kantiana, que compreende o homem como um valor em si, portanto, uma dignidade que não admite o estabelecimento de um preço".

Tô curiosa para ver a sugestão de Bobbio,  baseada no Projeto de Kant, que propunha o estabelecimento de uma "confederação de Estados", que desse vida e corpo político a uma "comunidade internacional", garantindo uma "paz perpétua".

De antemão, já adianto, como bem colocado no texto abordado, Bobbio aponta duas vias para conseguir isso que chama de "saúde da Democracia": a "ampliação dos Estados Democráticos"  e a "Democratização do Sistema Internacional" em seu conjunto. Essas vias deveriam caminhar de maneira "interdependente, conexas e inter-relacionadas: uma passaria a ser garantidora do complemento e constituição da outra".

Observe que interessante, para impedir invasões mútuas, a proposta é de um processo de "pactuaçôes": "primeiro um pacto negativo, de não-agressão; depois um pacto positivo de acordo mútuo e regras comuns a serem seguidas; e como último pacto, "acima das partes", o fazer respeitar os pactos, mesmo pela força da espada, se necessário. Bobbio defende uma "guerra justa", pois, a seu ver, essa guerra justa não é um momento contrário à política, mas é ela própria "o momento político resolutivo de conflitos".

Agora articulo eu!  Para que os pactos sejam respeitados é preciso que os homens saibam usar com inteligência seu lado racional, pensar com bom senso e ter diplomacia no agir com ponderação nas negociações da vida de relações internas de um país, ou nas que dizem respeito a suas relações externas, dentro da perspectiva internacional,  envolvendo outras nações com culturas sociopolíticas e economia tão diferentes...Esse é um grande desafio para o momento atual com tanta violência e desconsideração de pactos legais em diversas áreas.

Sendo assim também me aproximo esperançosa de Kant e resgato a Filosofia Iluminista que "parte da razão, como elemento essencial para o progresso da modernidade". Por que não seguirmos com Bobbio, neokantiano como caracterizado no texto, e endossarmos sua linha de pensamento para a saúde da Democracia no confronto com os desafios desumanos, desabonadores e vilipendiadores dos direitos humanos já no século 20, adentrando o novo milênio? Para ele, "A democratização das relações entre os Estados nacionais, portanto, constitui-se em baluarte (bandeira) da democracia. A Democracia assume assim um 'caráter civilizador'."

Não é tão fácil se implantar essa forma de governo, mesmo se reconhecendo a falência da maioria das gestões governamentais atuantes, haja visto o estado caótico globalizado. Não há nação que escape de crises diversas, sem vislumbre imediato de luz no final dos túneis e sem disponibilidade para efetivos pactos sociais mais abrangentes.

Bobbio ainda tenta sintetizar o quadro político, nos permitindo quimeras esperançosas: "Um Estado Democrático (decisões coletivas, debate livre, votações, direitos de associações e greve, manifestações pacíficas, reconhecimento de liberdade de expressão e de uma imprensa livre e responsável pela ordem social, preservação dos direitos civis, reconhecimento de normas legais de acordo com os "Direitos Humanos Sociais e Políticos dos Cidadãos"...só ocorreria se "todos" os "Estados contemporâneos constituídos" fossem republicanos, formando uma "comunidade democrática", que não colocasse em risco a ordem social liberal, que garantisse os direitos e ordem democrática liberal-burguesa."

A questão que fica, e também me inquieta, é:  " Como conseguir isso numa sociedade pluralista e policêntrica como a contemporânea, já que só pode haver uma convivência pacífica entre maioria e minoria, através da constituição, primeiro de uma 'sociedade civil' depois de uma 'comunidade política' que a garanta através do 'contrato', valendo-se do monopólio da força se necessário, como Bobbio é categórico ao afirmar, para que os pactos sociais democráticos sejam cumpridos ética e legalmente ?"

Gostei desse texto de Marcelo Lira Silva, intitulado " A Identidade Neokantiana de Norberto Bobbio: A Ética Moral da Paz e da Guerra Liberal-Democrata", datado de 2008!
 (www.marilia.unesp.br/aurora)

Agora é refletir sobre essas ideias para assimilar o que esses pensadores buscam transmitir, e até "ousar articular com o momento atual" que estamos vivendo, por que não?

Aurora Gite

P.S.: Vou atrás das "entrevistas de Zigmunt Bauman, divulgadas pelo Canal Youtube". Tenho certeza que o ouvi comentar sobre a "formação de um Poder Supranacional", até tomando como base a nova linguagem globalizada.  Não deixa de ser a pontuação de uma "possibilidade de combater o estado de anomia dos Estados-nação da pós-modernidade"!

Achei a entrevista: "La critica como llamado al cambio"!
Vale assistir em http://www.youtube.com/watch?v=X4YGdqgCWd8
ou http://www.youtube.com/watch?v=X4YGdqgCWd8&feature=youtu.be

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Psicologia Descomplicada

Nos dias de hoje, acredito ser importante se aprofundar um pouco mais em abordagens terapêuticas alternativas que buscam descomplicar o cuidar do ser humano, que busca maior equilíbrio interno na conquista de um bem estar, com maior amplitude no mundo considerado pós-moderno.

De pronto indico uma visita ao blog que tem por nome "psicologiadescomplicada": http://psicologiadescomplicada.blogspot.com.br/2011/03/caricias-e-emocoes.html

A meu ver, uma das perspectivas psicodinâmicas a serem conhecidas, tem por foco o método da Análise Transacional (Eric Berne, 1958)

Confiram se não faculta maior entendimento e abordagem compreensiva mais abrangente e descomplicadora, para auxiliar qualquer ser humano a romper barreiras que dificultem sua vontade de mudar.

Penso que não há como negar a necessidade de se motivar como indivíduo empreendedor, próativo e autodidata, a encarar a necessidade de se aventurar a um processo de mudar, quando muito se não é para apaziguar conflitos internos angustiantes, importante para acompanhar mais serenamente as aceleradas transformações dos dias atuais. O impacto do "novo mundo", particularmente nesse período de transição que estamos vivendo nesse momento, pode remeter o ser humano, não tão bem centrado em si mesmo, perdido e desbussolado - como bem diz Jorge Forbes e outros - a profundas depressões e a graves drogadicções.

Análise Transicional (A.T.) é um estudo psicodinâmico. Berne foca em sua análise, principalmente os estados de ego, as transações, a posição existencial e o roteiro de vida dos indivíduos. Para ele, oser humano tem necessidade de "carícias", unidade básica de sobrevivência psíquica, como tem de alimento para a sobrevida física. "Carícias são estímulos sociais dirigidos de um ser vivo a outro".

A.T.estuda e analisa a troca de estímulos e respostas em "transações" entre indivíduos em suas "fomes" (carências) e interesses (motivações).

Berne sofreu influência das ideias de Claude Steiner, autor de "Os Papéis que Vivemos na Vida" e do conto "Uma História de Amor" que computo como instrumento excelente a ser usado em dinâmicas de grupo com foco em integração humana e solidariedade, inclusive em organizações estudantis ou empresariais. Em seu conto, Steiner, com sabedoria e ternura, clarifica suas ideias sobre carícias e aborda o uso que fazemos de nossos "sacos de carinhos quentes". Destaca que "aceitar carícias negativas é como beber água poluída".

Ambos propõem a importância de se ampliar a percepção dos "jogos de poder interpessoal e dos scripts de vida"; da "alfabetização emocional", que vem a ser "um aprender a sentir". E não é o que mais precisamos nos dias de hoje ao resgatar o humano dentro de cada um de nós?

Não vale a pena conhecer como escolhemos nossos "scripts de vida"? A lembrança de como se deu dentro de nós a opção para sermos como somos, não nos ajuda a entender porque nos é tão difícil mudar?

Convém enfatizar que Steiner "discutiu sua teoria pela primeira vez em seu livro 'Games Alcoholics Play', onde abrangeu um único papel que é o dos alcoólatras". No livro "Papéis que Vivemos na Vida" amplia a discussão sobre os "papéis de vida trágica"... "como e por que pessoas que vivem de acordo com esse papel terminam seus dias e, ainda, como diagnosticar esses papéis". O autor vai mais além ao discutir os "papéis de vida banais"...como são escritos por nós, como são vividos por nós, indivíduos sem amor, com redução da capacidade de prazer e sem realizações gratificantes na vida.

Steiner não se limita só a "analisar e discutir uma abordagem terapêutica para os três papéis banais básicos: Depressão, Loucura e Falta de Alegria". Passa a explicar também "como as pessoas podem se libertar de seus papéis e viverem uma vida livre e autônoma", ou seja, como o ser humano, que quer realmente mudar, pode se descomplicar internamente e se inserir, efetivamente, em seu processo de mudar.

Ao se aproximarem de suas ideias, pensem se não seria fascinante já ir articulando-as com as emoções impactantes provocadas pela aceitação e incorporações das novas regras de convivência pessoal e social!

Acredito que já seria um grande passo para devidas assimilações mais harmônicas dentro de nós, e para que o processo de adaptação a esse mundo novo (previsível por Nostradamus?) ocorra de forma mais serena.

Não é fácil aprender a conviver com a incerteza e com a insegurança, com a busca de sossego e de firmeza no trilhar ante o eco contínuo, constante, em gradação sonante sempre em volume crescente : "Mudar...mudar...mudar...mudar..." , que mobiliza o locomoção humana a partir do milênio: "Mudar...mudar...mudar...mudar..." .Não tem mais volta, e não se consegue fazer calar dentro de nós!

domingo, 2 de novembro de 2014

"Divergente", o filme!

Acabei de assistir ao filme "Divergente" (lançamento 2014). Acredito que vá caracterizar a nova época que vivemos, onde passam a imperar visões ecléticas, que agregam várias perspectivas e diversos pontos de vista; ações mais ponderadas e inteligentes, com preservação da autonomia e liberdade; uma amplitude irrestrita da inteligência, e com isso, a prontidão do encontro de soluções para quaisquer problemas - desistência e medo de desafios serão considerados fraqueza humana, em contraponto com superação e audácia nas tentativas de ultrapassá-los.

"Divergente" vale a pena ser visto. Produz profundas reflexões em um vasto campo de perspectivas. Retrata um mundo onde as pessoas são divididas em facções, buscando um viver coletivo com mais harmonia... mas... vejam o que ocorre, e para onde o enredo nos encaminha!

A escolha pessoal de pertencer a uma determinada facção é irreversível. Por si só já exclui a possibilidade de, ante a vontade de desistir de pertencer a esse grupo, ser incluído em alguma outra facção. Sendo assim a pessoa passa à categoria dos banidos, diferentes rejeitados, não pertencentes a nenhuma facção socialmente aceita.

Critérios seletivos e ordens para avaliação, quando de treinos desenvolvimentistas, podem ser alterados a bel prazer imediatista e imprevisível dos líderes. Quem ousar quebrar o poder supremo, sofre severas penalidades, pagando até com a própria vida. Não há autonomia e liberdade para sair ileso de contestações tidas como rebeldias, e muito menos de questionamentos, buscando justificações, tidos como afronta à liderança vigente.

No mundo dividido em distintas facções, os valores diferenciais para uns, tais como honestidade, amizade, generosidade, coragem, audácia... se tornam fonte de ódios, invejas, manipulações destruidoras até ataques mortais, para outros.

Em meio às facções surgem os "divergentes", com capacitações superiores, difíceis de serem superadas pelos colegas e, por isso, motivo de grande ameaça aos representantes dessas ordens inquestionáveis, previamente constituídas.

Os "divergentes" só querem espaço para ser quem são. Não se encontram ao pertencer só à facção da "abnegação", ou só na da "erudição", o mesmo se dando só na da "audácia"..."Só quero saber e ser quem eu sou, e só quero poder ser eu mesmo quando for descobrindo isso por mim!" "Tenho em mim um pouco do tudo!". Realmente a angústia e a solidão de ser um divergente são enormes, e isso é bem expresso no filme.

A meu ver, essa é a luta a ser travada no milênio. O diretor bem encaminhou a sequência das cenas do filme, tendo êxito nos recortes que mostram a fuga dos enquadramentos sociais e a busca pelo espaço singular do ser humano em sua unicidade.

Nesse "filme de ação, ficção científica e suspense norte americano", ele não se furta de representar a plenitude amorosa no encontro de pessoas, que se reconhecem com suas raras características de superação, se descobrem mesmo ante as tentativas de camuflar sua integridade e seus medos, visando suas sobrevivências em meio ao coletivo massificador predeterminado. Nesse espaço dado ao humano, demasiadamente humano, contrastando com o mundo árido de afetos não padronizados, também são destacados os efeitos das tentativas do uso irracional e abusivo do poder sobre a raça humana, controle parcial e total de sua vontade e sua inteligência.

E lá me pus eu a refletir e a divagar sobre as reações provocadas dentro de mim ao assistir a esse filme.

Não será talvez, o "Divergente", mais um alerta contra a mídia e o jogo de vigilância em um "público que está sendo adestrado" a confundir o mundo virtual com o mundo real; "treinado" a se tornar incapaz de usar sua inteligência para reconhecer em sua razão um poder transformador; "condicionado" para evitar ser um agente social mobilizador de mudanças, resposta que não ocorreria ante a percepção do aliciamento e submissão existencial a poderes abstratos, corruptores da liberdade e autonomia, direitos a serem preservados por méritos pessoais de cada indivíduo, em quaisquer grupos a que pertençam?

Não trará esse filme mais uma mensagem de S.O.S. contra o excesso de deturpação da proteção aconchegante, mais uma cortina para esconder a ocultação da invasão de privacidade em um "público que está sendo acostumado a conviver, cotidiana e naturalmente", com a ilusão de uma participação concreta na vida artificial montada nos reality shows e sites interativos?

Não buscará, o "Divergente", ativar a coragem para combater os medos, conquistar a consciência do potencial humano em cada ser vivente e se imbuir de audácia, para correr riscos e quebrar a cegueira humana advinda do século passado?

Não procurará esse filme mostrar a "falsidade do pensar que" o encontro consigo mesmo - com a pessoa que realmente se é, em meio a medos e fracassos, autorrealizações e sucessos - está atrelado ao pertencimento a "numeroso grupo de amigos": "anônimos desconhecidos idealizados em elos fictícios" como sinceros e eternos?

Não tentará clarificar o esquecimento de si mesmo e a repercussão desse abandono no mundo interno do  homem que adentrou o milênio, para que se torne consciente do processo de involução, em que foi lançado, ao cair nas armadilhas que encobrem:
- seu "real contato distante e por vezes mascarado com anônimos", assim mantidos para bem representar a ficção vivida no "palco da redes sociais";
- seu "envolvimento transitório, superficial e passageiro, com os outros atores, facilmente modificado por um aceitar ou deletar, por vezes impulsivos"; -
- sua  "falta de demanda de um desejo e ausência de preocupação com afetos profundos", com estabelecimento de vínculos leais e fiéis a um "ser humano especial", raro patamar alcançado por poucos que possibilitam que um outro se torne mais significativo e compartilhe de sua intimidade;
- sua "tediosa acomodação", que esconde o fato de que o autêntico afeto entre humanos vem sendo amordaçado e sobrepujado pelo grau de "espetacularização nos sites interativos", a nível da tensão mobilizada através de mensagens ocas e vazias, ou mesmo das imagens disformes, maquiadas habilmente para impressionar grandes platéias;
- o papel dos cenários montados para impressionar e deslumbrar os incautos que, por não pensar por si, se deixam levar por esses conteúdos artificiais?
Quantos têm presente o contato com a verdade dentro de si e com o que ocorre ao seu redor; e quantos buscam com ela interagir, descobrindo seu autêntico lugar nesse mundo real?

Associo "Divergente" a outros filmes de ficção, que já pontuavam muitas das transformações que a sociedade vive hoje e pode viver amanhã. Cito "Minority Report", "O Pagamento", "Inteligência Artificial" (A.I.), Blade Runner... entre outros.

Na vida real, cada vez mais, cérebros e órgãos passam a ser monitorados após a implantação de chips; iris dos olhos são escaneadas e dados coletados são cadastrados; aceleradamente se amplia o uso da biometria; recursos da técnica de visualização virtual facilitam distorcer e alterar as lembranças da memória...Observamos a criação de andróides humanos, e a robotização do homem, a despersonalização afetiva do humano com sua aproximação da banalização do mal e da cruel violência consentida.

Há tempo alerto para os perigos  - que os filmes mencionados acima já avisam -  do corpo humano estar passando a substituir um "token", ante identificações eletrônicas e introdução de chips. Chips em veículos facilitam localização em caso de roubo, sequestro, fuga indevida. Pode resultar num bom recurso em intercorrências policiais. "Sorria, você está sendo filmado": sensores e tecnologias monitorando o "espaçopúblicourbano" podem indicar mais do que vigilância preventiva, pode representar uma forma de controle social. E está formada a confusão entre controle, monitoramento e vigilância informais. E se o cadastramento cair em mãos erradas de pessoas de má fé inescrupulosas?

É interessante observar o diálogo, nos regimes totalitários, entre as "sociedades de controle" (Deleuze) e as "disciplinar-repressoras" (Foucault). Vale a pena sobrepor esses filmes de ficção e muitas teorias do gênero, descritivas ou especulativas, e verificar suas aplicações na compreensão do que ocorre nas sociedades atuais, onde os valores humanos são tão vilipendiados e os direitos sociais tão violentados.

Por que tanto ódio da "divergente raça humana"? - É a pergunta que não quer calar dentro de mim".

Aurora Gite




domingo, 19 de outubro de 2014

Reengenharia na psique humana?

O mundo está um caos, destruidor de toda organização ordenada? Cada vez mais penso que aí está a oportunidade para partirmos para uma reengenharia na psique humana, novo design mental e emocional mais operacional, inovações logísticas e estratégias mais proativas, voltadas para obter a excelência de qualidade no viver o momento presente, respeitando os limites e o ritmo singular de cada indivíduo, e um cuidar mais eficiente do fluxo de nossa energia mental.

Urge melhorar o investimento da energia psíquica para formatação de novas políticas inteligentes, que administrem, mais satisfatoriamente, também a convivência entre as pessoas, entre as sociedades distintas e os povos tão diferentes na raça e na cultura, para que se quebre cada vez mais o desrespeito expresso pelo combate feroz às diferenças rejeitadas por fanáticos preconceituosos, e a violência gratuita moral e física pelos ataques discriminatórios a indefesos seres humanos, quaisquer que sejam.

Por que enfatizo a arte de observar e investigar a energia psíquica como motor propulsor do "mudar" em direção a um "aumento da potência de agir", que traga "mais alegria interna"?

Por que destaco a importância de nos habilitarmos para melhor observar e investigar nosso querer ou vontade de agir?

Por que coloco, na categoria de arte, nossa faculdade de observar; e no campo do "cuidar por amor " ao se permitir investigar as expressões de potência de nosso autêntico querer, manifestação genuína do que chamamos de alma?

Por que coloco que, ante a velocidade das transformações sociais (culturais e tecnológicas), está na hora de colocarmos um xeque-mate na nossa vontade, se, realmente, nosso intuito é de mudança interna?

Confiram aí minhas ideias, tendo sempre em mente que o caminhar para mudar é único e intransferível:

A difícil arte de observar e investigar a energia psíquica

Notícias correntes em nosso cotidiano: "O mundo está um caos destruidor de toda organização ordenada, seja no social, na política, na economia, na vida de relação". Ninguém se entende para estabelecer uma ordem, não digo institucionalizada, mas no próprio psiquismo, invadido por problemas, conflitos, dilemas.

A cada dilema que se soluciona, novos conflitos surgem, substituem os antigos "camaleônicamente". Não ocorrem mudanças internas efetivas, mas alterações nas aparências dos problemas, que com novo colorido, novo disfarce, persistem imperando dentro do mundo psíquico, influenciando, nossas ações e reações sem que nos demos conta.

Conflitos se sobrepõem na arquitetura barroca montada mentalmente, com seus rococós de truques e artimanhas psicológicas, para nos afastar dos sofrimentos psíquicos que acarretam. Dilemas e indecisões inquietantes, gerados em várias áreas do existir humano, se encaixam dentro da estrutura psíquica que lhes dá suporte momentâneo e lhes serve para alívio transitório das angústias.

Penso que nas defasagens em nossa engenharia logística e sensível reside a falha para se obter soluções efetivas, o ponto fraco que impede qualquer ação efetiva de mudar, se contrapondo às intenções que cada um se impõe de, realmente, se transformar.

O ser humano perdeu muito de sua grandiosidade ao deixar de valorizar sua razão e bom senso ético, e a desconfiar de sua força interna, minorizando a amplitude de suas capacidades de observar e de investigar. Sendo assim, como descobrir, dentro de si, o que necessita ser mudado para um bem viver, com justiça, temperança e serenidade? Como vislumbrar aonde quer chegar para trilhar com sucesso o caminho, visando atingir tal objetivo?

No momento atual é visível a necessidade de uma "reengenharia na psique humana".
 Como primeiro passo, é mister se permitir observar e diagnosticar como os caminhos no psiquismo estão bloqueados, ou melhor esburacados; como os mecanismos preservadores da integração e liberdade de ir e vir do ser psíquico estão desengrenados; como as funções psíquicas estão inoperantes para lidar com as pressões do mundo atual sobre nós, e com nossas auto-exigências e autocobranças cada vez mais agressivas e imediatistas.

Urge o investimento de energia psíquica para formatação de novas políticas inteligentes.
Com os meios e instrumentos psicológicos, que observamos ao nosso dispor, não temos mais recursos para combater os jogos de poder desse início de milênio. Vivenciamos "manipulações indevidas cunhadas por má fé e interesses pessoais", que buscam distorcer nosso imaginar, distanciado do referencial de nossa própria razão. Experienciamos, como "fantoches robotizados ao desarticular nosso pensar por si mesmo", os efeitos dessas articulações perversas. Observamos o maciço incentivo a um auto-iludir, mas não fugimos, na maioria das vezes, dos "tentáculos da mídia globalizada e comunicação via web", embora reconheçamos seu "poder de camuflar realidades".

Enfraquecidos pilares de bom senso social são ainda mais abalados pela autodestruição constante de referenciais seguros e coerentes, pela promoção da cegueira e impossibilidade interna para observar sem grandes ansiedades, e investigar o papel o que nos é relevante e primordial. Poucos conseguem discernir como "motor central para mudar, o sentir um prazer genuíno, alegria interna ante a conquista de inovações dignificantes a si mesmo, como ser humano íntegro".  Poucos conseguem observar o enorme abismo dessa "condição nietzscheniana de superação constante sobre-humana" , que não remete ao tédio de uma preguiça ociosa nem ao prazer irreal fictício do transitório hipnotismo virtual.

A maioria dos seres humanos acorda por breves instantes e toma consciência do que ocorre ao seu redor, mas sem forças, tendo perdido o foco humanitário em suas observações e em seu papel - como parte do todo social e agente ativo das mudanças que devem ocorrer para que o cenário mundial se altere - , cai novamente na "inércia tediosa da sonolência recorrente dos impotentes sem ânimo".

Nesse milênio, a novidade envelhece e é substituída num piscar de olhos. O cochilar dos desesperançados pode ter um custo inesperado quando - e "se acordarem" - aturdidos vão observar que farão parte da classe social dos excluídos do mercado de trabalho e do próprio mundo virtual, que já delineou sua demanda imediata por um novo e diferenciado perfil social.

Que os alarmes gritantes - mais ruidosos com a ampliação acústica, propiciada pelo alarido agressivo da propagação estridente de novas e novas descobertas, contínuos e irreversíveis avanços tecnológicos - chamem a atenção para a necessidade de reajustamentos no mundo psíquico para que nossa razão assuma novamente seu posto de liderança dentro desse espaço interno, sendo reconhecida sua autoridade para gerenciar nosso pensar, bem como sua meritocracia para liderar a contento nossos impulsos e desejos.

O silêncio acomodativo para muitas pessoas dá lugar a uma enxurrada ruidosa de perguntas inquietantes a quaisquer seres humanos, que evitam observar que estão com seu pensar soterrado: ante a fragilidade de seus aparelhos psíquicos, a vulnerabilidade dos seus corpos e a impotência na vontade de agirem para mudar esse quadro dentro de si mesmos.

Pontuo algumas dessas perguntas:
Por que minha estrutura psicológica não está dando conta de gerenciar a angústia que me assola, e meu corpo em suas alterações metabólicas lhe dá suporte?
Qual é o peso de minhas representações mentais, muitas das quais nada mais significam para mim, não se constituem como fontes de satisfação, mas que se aglomeram em imagens que ainda conservo, mesmo sabendo serem gangrenas fatais dentro de um saudável mundo psíquico?
O que me impede de mudar, de me tornar agente ativo das transformações em meu existir, visando meu bem viver, com escolhas e tomadas de decisões responsáveis, únicas e intransferíveis?
Por que é tão difícil fortalecer minha vontade, como a de muitos outros seres humanos, para que coloquem incisivamente um "basta" a si mesmos, interrompendo não só possíveis introjeções do veneno do terrorismo advindo da violência social que se alastra, mas também do auto-terrorismo pela voracidade nefasta da vasta gama de drogadicções, e dos comportamentos reconhecidamente autodestrutivos, que acabam atingindo todos ao redor não só o responsável por sua autodestruição?

Num contraponto a essas questões surgem outras perguntas, que acredito, coloquem em xeque-mate nossa vontade:
Por que estou fazendo isso comigo, sabendo que me autodestruo por causa disto?
Mereço fazer isso comigo, sabendo que começo a ferir minha dignidade de ser humano?
* Já não está na hora de meu psiquismo assumir novamente suas funções e desbaratar posturas vitimizantes acomodadas perante a vida, interrompendo respostas psicossomatizantes?
O que fazer para mudar, já que não está funcionando a contento a ordem disciplinadora, metáfora imperativa: "Levantando a cabeça! Levantando a cabeça! Tá na hora... Tá na hora... Marchando rumo à vida 1...2! Marchando rumo à vida 1...2!"

Por que enfatizo a arte de observar e investigar a energia psíquica como motor propulsor do mudar? 

Reparem como nos desequilibramos ao tentarmos nos virar e olhar para as imagens do passado e suas tradições, muitas obsoletas mas determinantes de nossas ações. Observem como o mesmo ocorre ao buscarmos olhar para as imagens do futuro, prevendo ações, planejando ideais inatingíveis, até contrários ao nosso modo de ser, criando expectativas inalcançáveis.

Experienciem como esse movimento cambaleante, para trás e para frente, conduz a uma "mobilização paralisante" de nossa energia psíquica; e se permitam investigar porque a maioria das pessoas se nega a essa constatação, e se recusa a indagar:
"Não somos e não queremos ser esse ser humano inserido nesse social violento, nessa sociedade desorganizada mas "criada por nós"... e por que não nos questionamos e investigamos porque estamos vivendo assim?".

Meu olhar recaiu sobre a primeira ação, premissa básica para a coleta de informações , que desencadeia todas as demais ações humanas: a capacidade de observar.

O que fazer para aprender a "arte de observar"?
Ops! Penso que como toda arte é um "ato de amor". Envolve uma enorme vontade de querer cuidar, ok?
O que fazer ao querer "cuidar do ato de observar"?

Nosso pensar utiliza informações obtidas por um observar dentro de um prisma enviesado por ações  condicionadas direcionando nossa maneira de ser, decorrentes de: formações inadequadas, educação deturpada em seu intento de educar estando mais voltada a metas e predomínio de interesses pessoais voltados à manutenção do "status quo" social; preconceitos em várias áreas que envolvem a relação humana; transtornos de caráter; tradições mortas, propagandas ideológicas, dogmas religiosos fanáticos, politicagens e ilusionismos mercadológicos. Não há como tudo isso não contaminar a pureza da qualidade das auto-observações!

Quais são os requisitos necessários para o observar e o investigar?
Quais seriam os recursos para impedir a invasão dos pensamentos outros, e das imagens por eles criadas, durante o processo de observar e investigar?
O que fazer para colocar limites em nossa ação de pensar, buscando que aquietem os pensamentos perturbadores da ordem necessária para a conservação do foco, durante o processo de observar e investigar?
O que fazer para aguçar nossa vigilância e impedir o acesso das associações livres. que tendem a surgir assim que iniciamos um processo de pensar. e limitar as imagens ideativas de se intrometer no puro observar?
O que fazer para controlar nosso censor interno, que , por hábito, logo busca racionalizar, explicar, descrever, opinar, analisar, examinar, avaliar, comparar, julgar todo material psíquico?
Quais os passos para a aprendizagem da "arte de observar e investigar a energia psíquica"?

É sempre uma instigante jornada de aventuras acompanhar o movimento de nossa energia psíquica, ainda mais investigar a própria arte de observar.

Confiram com os seus, esse registro de alguns passos de ações percebidas como relevantes, durante o processo consciente de observar:

* Limpar as "lentes de nosso observar", de interferências internas e externas, pois podem contribuir para a perda do foco durante o ato de observar.

* "Cuidar do estado de prontidão, atenção e concentração" é necessário para o alcance do "bom foco" para se observar.

* Ter sempre em mente que para "investigar o movimento da energia dentro de nosso psiquismo, a mobilização de forças e a qualidade das energias envolvidas", é importante que estejamos atentos observando não só "o que nos afeta" (por meio de vínculos afetivos estabelecidos), mas também o "como nos deixamos afetar" pelas informações (superficiais ou profundas, assimiladas por nós, incorporadas e transformadas em conhecimentos, depois arquivadas em nossa memória).

Mais que um mero parêntese:
Investiguem como o "tempo" mobiliza o seu psiquismo. 
Não me refiro ao cronológico, ao tempo instituído, invenção humana, criada pelo homem como medida auxiliar para melhor se organizar em suas vida diária. Assim surgiu mas, pouco a pouco, tornou-se a escravidão dos dias de hoje. 

O próprio homem se algemou a esse tempo mecânico, controlado pela passagem dos ponteiros de um relógio, seja através de horas, minutos e segundos, ou pelo tempo aprisionado ilusoriamente seja através de dias, meses e anos, ou mesmo passado, presente e futuro, que fixa nossas emoções às vivências fantasmáticas desses tempos irreais, e nos transporta do presente do aqui e agora para o mundo imagético virtual de nosso psiquismo.

No entanto, reparem como o "tempo é o movimento dos pensamentos" (J.Krishnamurti, vários livros e inúmeros vídeos disponíveis no canal YouTube)  e como o único tempo real a observar é o agora, o instante presente que condensa em si o passado e o futuro.

Sendo assim: Quando se quer mudar realmente o foco deve ser mudar de atitude no "instante presente" e transformar o "agora do viver".  É desconfiar do truque maquiador de nosso pensar, sedutor em seu sussurro para o "amanhã eu penso","semana que vem faço a dieta", "vou me aprimorar para depois mudar", "vou me tornar digno do amor, para me aproximar"... Conhecem essas armadilhas visando o "não mudar", não é?

Observaram como nas ações acima, em todas elas ocorreu o deslocamento e desconsideração de tempo presente?

Uma dica:  para desativar essas armadilhas é experimentar se manter sempre no que é, no "agora do fato", ou fenômeno vivenciado no momento circunstancial real, não virtual.
Podem até chegar a observar que não querem mudar, ou que não lhes é conveniente mudar no agora de seu viver! Porém não se desvalorizem, realçando sua fragilidade ante dificuldades no mudar.

Um aviso: Mudanças em relações afetivas de anos, então, só têm valor de serem concretizadas, se não se conseguir mais preservar a dignidade de um ser humano na vida de relação, pois nesse caso o dilema está na morte do outro, ou no próprio suicídio, buscando preservar uma relação que não existe, e "se existiu " já morreu há algum tempo e está matando a vida de quem se deixa mortificar, sem mudar.

Enfatizo que observar não envolve outras operações de nosso pensar como examinar, analisar, avaliar, comparar, julgar...Estas ações não fazem parte da arte de observar e investigar, que envolve a liberdade de ser e o comprometimento responsável na unicidade do envolvimento pela integração entre o observador e o observado.

Percebam como posturas para análises, explicações, justificativas, descrições nos afastam dos que observamos e nos colocam em posição mais distante, diferenciada, mais como espectador, para poder analisar o que ocorre. Sendo assim é interromper de pronto essa mobilização de energia que busca desviar o foco, ou mesmo a ação de observar.

Investiguem ainda dentro de si mesmos "como" seus conflitos, seus problemas se tornam insolúveis quando existe uma divisão na mente entre nós e os problemas: "Nós somos os problemas!". A distorção inicial é que mantém o conflito: e"Nós não estamos com um problema, nós somos o problema!" Reparem a diferença ao ser permitirem exercer, com honestidade, a arte de observar como se altera a mobilização da energia em seu mundo psíquico. Só observem... e, depois, investiguem as operações que surgiram, sempre mantendo o foco, mesmo que remeta a zonas de desconforto internamente. É ousar e ter coragem mesmo!

No início esse observar e investigar incomoda, é difícil , pois estamos acostumados a ações com metas e finalidades, passíveis de serem controladas e, mentalmente, revertidas ou reforçadas.

Nesse observar consciente proposto, vamos nos permitir estar livres e soltos, mais relaxados vamos aquietando nosso estado mental. No início, nossa mente ainda é bombardeada por pensamentos que surgem impulsivamente, sem se sujeitarem ao controle consciente da razão (associação de ideias, uso da linguagem lógica-racional). Imagens - (recordações da infância como : "Nossa, tô ansiosa de ficar assim... me sinto perdida...  sinto vontade de comer doces... lembro que minha mãe sempre me dava, forma de carinho acho eu...) - podem servir para outro momento nesse processo de autoconhecimento, mas no instante presente, de observar e investigar a mobilização da energia psíquica, devem ser contidas. Qualquer separação colocando o problema no "Não sou eu ...acontece comigo, é meu dilema!" deve logo ser reparada, e a consciência de que "Eu sou o problema!" deve ser resgatada.

Esse é o espaço mental para que soluções outras apareçam na nossa mente, e principalmente para que possamos observar e investigar a manifestação de potência de nossa vontade. Por amor, podemos mobilizar nosso querer profundo para o encontro do silêncio da mente, para a escuta das expressões da intimidade do nosso ser  autêntico (alma ou essência), possibilitar o aconchego e cuidar do acolhimento necessário para conter angústias existenciais (inerentes a todo ser humano na condição de mortal).

Agora é com vocês escolherem a posição em que querem se colocar em seu viver. Herói ou vítima?

(postagem de 24.04.2013)
Aurora Gite


quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Espectador passivo, patinando no velho mundo? Eu não!

Continuo fascinada por aqueles que ousam confiar em suas perspectivas inovadoras, buscam forças internas e a transformam em coragem para expor ao mundo suas ideias, quebrando velhos paradigmas e enfrentando o desconforto das incertezas até que novos patamares seguros sejam atingidos. 

"Novas descobertas demandam nova visão de mundo"! (novembro/2010)

Como não deixar o postura de espectador passivo, patinando no agora estranho velho mundo, se desequilibrando ao tentar se manter estático no acelerado dinamismo com que caminham as Ciências Humanas da Comunicação e da Convivência Ética, sempre transcendendo o defasado momento presente?

É inegável, a quem busca a inserção no social, que se delineia, e a inclusão na sociedade em sua nova configuração inter-relacional, a necessidade de constante aprimoramento intelectual, contínua atualização performática para acompanhar os avanços intimidatórios do mundo eletrônico, crescimento evolutivo interno voltado ao alcance da dignidade como ser humano em sua trajetória de vida no novo milênio, com o respeito a si e ao outro, e a aceitação da diferença como riqueza sinalizadora de possíveis convivências gratificantes e potencializadoras. 

Não há mais como negar que todas as transformações ocorridas já nas primeiras luzes do novo milênio, impõem o nascimento de um novo homem, novo modo de ser confiante de seu intuir e da capacidade de seu potencial de ação, responsável por seu pensar por si, fortalecido para bancar seu agir consciente. Não precisa mais ser tutelado, que decidam por ele, ou pensem o que é melhor para ele, tendo que se ajustar a padrões comportamentais massificadores para se considerar pertencente ao grupo social, sem medo da "rejeição maldosa ou da ironia humilhante de alguns outros". É surpreendente como ocorre a mudança de foco e o consequente prazer genuíno pelo "encontro com quem se é realmente".

Já podem ser observados os limites do novo perfil do humano desse milênio se nos dispusermos a notar sua forma de cuidar de seu corpo, com tudo que implica esse cuidado a nível de alimentação saudável e exercícios físicos - excluindo cada vez mais os vícios, compulsões e sedentarismo.

Cada vez mais as pessoas se voltam para buscar a integração de um corpo físico saudável ao bem estar do corpo pensante ou psíquico. Considerando a ampliação de um visão holística de mundo, do encontro de um espaço pacífico e harmônico do ser humano, que almeja um mundo interno sereno administrado por sua razão, aconchegado pela alegria espontânea de sua alma, ao contemplar essa nova gerência sobre si mesmo, com firmeza, retidão de caráter, autovalorização e respeito pela pessoa que se tornou após não hesitar em mudar. 

Lembrete: Mudanças efetivas não ocorrem ante a presença e interferência de velhos paradigmas aprisionadores e crenças redutoras da potência para agir. Ser livre e feliz implica ousar desvendar o desconhecido caminho da vida e, a cada dia, nessa trilha de seu viver, inscrever - como agente responsável por suas decisões embasadas nas emoções com o aval da razão - sua própria história pessoal.

Como não mobilizar a recordação de uma trajetória histórica, "real parâmetro referencial" para se comparar um avanço evolutivo pessoal e profissional?   


"Novas descobertas demandam nova visão de mundo!" :
"Potencial é o mesmo que possibilidades não vistas. Ou você vê que algo é possível, ou não vê. Impossível é apenas outro nome para o que não é visto." ... " Não podemos negar o fato de que as formas de vida estão constantemente evoluindo, passando a níveis mais altos de abstração, imaginação, perspicácia, inspiração." (Chopra,Deepak. "O Efeito Sombra", p.84 e p.82)

Considero importante realçar que um conhecimento científico deve ser compartilhado e que pesquisas devem ser embasadas em amostras representativas. Não devem ser manipuladas em prol de resultados imediatos e interesses pessoais. Nesse sentido, a honestidade dialética é que permite o agregar de forças, visando a evolução da ciência. Caminhamos juntos?

Vou tentar me posicionar, para que possa ser entendido meu trajeto pessoal e formação profissional. O início de meus interesses pelo bioeletromagnetismo teve como marco a busca de entender algumas experiências, ocorridas no final da década de 70, do "segundo milênio". Ainda estranho essa colocação.

Dos ensinamentos dos Vedas e do Budismo, passando por Krishnamurti e pela meditação na yoga, por um vértice; Carl Sagan e Fritz Capra, por outro; Fromm e Rogers, Fritz Perls e Stevens, Maslow e Forghieri, em outro; Laing, Horney, Klein, Adler e Jung, fechando outro vértice de uma pirâmide evolutica. Em seu cume, permitindo a passagem para a parte superior dessa figura geométrica e o amplo vislumbrar de novas perspectivas, coloco a Psicologia Transpessoal com seu corpo teórico que sintetiza algumas dessas visões, integrando conhecimentos de escolas psicológicas ocidentais com elementos das tradições esotéricas. dando espaço para a inclusão da dimensão espiritual do ser humano. Em sua proposta holística da consciência, Wilber considera-a una, e por sua multiplicidade de aspectos, defende a idéia da existência de um espectro da consciência, de maneira análoga às radiações eletromagnéticas e seus diversos comprimentos de ondas.

O contato com filósofos e pensadores ocorreu bem antes; dei a mão para Plotino e Platão, Aristóleles e Kant, Schopenhauer e Nietzsche...Sempre os considerei como alimento para minha alma. Em cada um encontrava elementos que me possibilitavam maior autoconhecimento e melhor compreensão do que ocorria com meus pacientes - e, com isso, meios mais efetivos de ajudá-los terapêuticamente.

Vou me permitir fazer um parêntese. Olhando para trás, deixando a mente vagar por recordações longínquas, desde criança minhas inquietudes se voltavam aos "Por que o ser humano não consegue se enxergar, e só vê sua imagem refletida num espelho?"; "Por que ficamos presos no globo pela força da gravidade e se pensarmos no planeta Terra estamos soltos no espaço?"; "Por que nossa mente é povoada de pensamentos e idéias? O que surge antes?" Por aí se vê que minhas interações prazerosas não foram tão fáceis, e trocas de idéias que pudessem aplacar minhas curiosidades e angústias foram raras.

Cada vez mais me distanciava da Psicanálise Freudiana ou de como foi usada por muitos psicanalistas tradicionais, e mais me aproximava da liberdade terapêutica de adotar várias perspectivas, bem como de interações dialéticas socráticas substituindo o divã, a falta de visão e o silêncio das técnicas analíticas. Não gosto de me sentir "engessada" em regras e julgamentos preconceituosos, tendo que me obrigar a segui-los para ser aceita por grupos ou pessoas. Continuo hoje questionando o saber fechado, baseado em interpretações subjetivas e a complexidade de conceitos, que dificultam a leitura psíquica e compreensão de relatos casuísticos, em momentos de discussão interdisciplinar. Aliás, relendo Freud, tenho dúvidas sobre muitas posturas que lhe foram atribuídas por seus seguidores mais fanáticos. Adotei uma postura mais eclética a nível teórico e instrumental, onde o paciente não era engessado em molduras teóricas e como terapeuta, senti-me mais livre ante o uso dessa instrumentação técnica mais diversificada.

Após essas premissas procurando uma frequência comunicativa mais alinhada e afinada, vamos lá, deixar registradas as considerações abaixo.

Continuo minhas pesquisas sobre a relação entre as vias de canalizações de energias sexuais orgásticas e energias psíquicas mais sutis, extrafísicas. Foco, atualmente, o sistema endócrino e os novos estudos sobre a glândula pineal, as descobertas sobre a melatonina e as pesquisas sobre as interações entre elas. Nesse campo experimental vale se inteirar da evolução em Radiologia Médica e na área da Imagiologia, graças a alta tecnologia desenvolvida pela Física. Não vou ser repetitiva sobre o papel desempenhado pelas descobertas da Física Quântica no descortinar desse novo mundo.

Gosto de imaginar o paciente em terapia trilhando os patamares de uma pirâmide. Na base inferior suas angústias, seus conflitos, sua patologias... ou como diz Chopra, sua sombra que necessita ser ultrapassada para alcançar a plenitude da liberdade integradora. Também constato, como ele, que nosso lado sombrio defende as riquezas do inconsciente, e que a plenitude e a cura estão intimamente ligadas. Ainda, podemos apreender muitas técnicas de cura, de uma observação atenta sobre os sistemas do corpo físico e seu funcionamento integrado. O difícil é integrar um self dividido. Desafio que me impulsiona a buscar estímulo na famosa frase: "Mãos à obra!". A observação e comprovação de bom prognóstico, e mesmo cura, em pacientes, que conservam dentro de si a esperança e fortalecem sua fé intuitiva, é um grande incentivo.

Como propiciar o "contato consciente" com a espontaneidade de sua essência e potencial criativo, a não ser por uma reavaliação do que serve ou não dos valores "incorporados sem pensar" familiares e culturais? Como conquistar sua autovalorização pessoal? É um árduo caminho que tem como primeiro passo o seu libertar do que não pertence a sua personalidade; depois o conviver com o desamparo e o vazio internos e com a dor do parto por ele mesmo induzido; a seguir entrar em contato com o seu nascer como pessoa, com a livre expressão de sua potencialidade e da responsabilidade de tornar-se indivíduo e cidadão participativo do social onde está inserido. É fácil se perceber como é importante uma aliança terapêutica baseada em relação de aceitação incondicional, de confiabilidade e fidelidade, que possa vir a se constituir em experiência emocional corretiva.

Volto a imagem da pirâmide e a observação de um novo patamar de canalização de energias internas. A manutenção do ser humano no caminho das virtudes - qualidades morais que lhe são inerentes e que podem se constituir em campo de forças integradoras no mundo psíquico -impulsiona a uma convivência interativa interna e externa, dentro de uma honestidade ética dialética, que culmina num evoluir e se autorrealizar espiritualmente.

As dimensões físicas do agir, pensar e sentir não mais comportam essa qualidade energética.
Ao se chegar a uma compreensão holística de seu papel no mundo dos paradoxos, a serem aceitos e ultrapassados, surge uma unicidade compreensiva que dá um significado diferente ao momento vivido em plenitude, sentido e não julgado, apreendido por uma sabedoria intuitiva, que se une ao bom senso racional e à razão pura kantiana. Vale conferir as correlacões entre esse estado e as descobertas científicas citadas por Eduardo Augusto Lourenço em seu livro "O Ser Consciencial: na busca do auto-conhecimento"(2009).

Essa nova dimensão do ser humano é atingida por um caminhar solitário nesse deserto de desapegos, único e pessoal. Consiste em experiência individual difícil de abarcar por relatos pois ainda é indescritível em palavras. Atualmente, muitas pessoas ousam relatar experiências semelhantes e, ante a proximidade dos conhecimentos advindos através da Física Quântica, algumas hipóteses já podem ser traçadas.

Algumas idéias já coloquei em blogs anteriores. Defendo que a Psicologia é grandeza física do campo do biomagnetismo, e que as interações da energia psíquica fazem parte do mundo das partículas subatômicas, demandando de leitura da Nova Física para adquirir status de ciência, como ambicionava Freud ( aliás deixou esse anseio em seus registros escritos).

Atuais experiências já constatam transmutações de energias captadas por ondas vibratórias (pensamentos) em mensagens fisicoquímicas, unindo eletricidade, magnetismo e neuroquímica. Dica para quem tenha interesse: buscar no Google e se inteirar das pesquisas de Vollrath e Semm; Philip Lansky e seus fármacos; neurocientistas do Instituto de Biofísica da Universidade Federal de São Paulo; estudos em Radiônica; Aguilera, físico-espiritualista... e por aí vai. É montarem seu próprio quebracabeça com a configuração de peças de seu interesse pessoal.

No meu caso, me interessei pelo estado de relaxamento que permitia um campo mental mais aberto e receptivo a ocorrência de um "processo de imantação", semelhante a uma mola (salto quântico?), onde a consciência humana não se desconecta da atividade corporal, mas se vê puxada por uma força, num "religar" que lhe permite atingir um campo com outras grandezas. Sensações de paz e amor/aconchego; luz e calor; ausência de palavras e um silêncio interior comunicativo/um pensar sem palavras; plenitude contemplativa e estado de êxtase/orgasmo espiritual (não físico) único e duradouro. A experiência não se apaga com o passar dos anos.

Confiram os avanços das pesquisas relacionadas ao nosso DNA: descobertas de Fritz-Albert Popp e de Burr; de Gregg Braden; de Vladimir Poponin... entre outras.

Cabem muitas reflexões ao se adotar postura aberta e receptiva a essas novas informações, resignação ante a queda de paradigmas obsoletos e aceitação dos novos conhecimentos advindos da era tecnológica e digital do Terceiro Milênio. Acredito que as profecias de Nostradamus não estavam tão erradas em suas incisivas afirmações de "fim de mundo", linguagem simbólica para expressar transformações, da grandiosidade que estão sendo presenciadas, cuja compreensão não mais cabe dentro da visão de homem e de mundo que predominou até agora.

Ante todas as informações que chegam a uma velocidade assustadora, só se pode entoar o pedido de: "serenidade e paz interior para aceitar o que não pode ser mudado... e sabedoria e coragem para alterar o que tem que ser mudado".

Uma das maiores angústias a enfrentar ante esse mundo desconhecido é a sensação de estranheza que advém. Um dos maiores obstáculos a ser enfrentado é lutar para "se manter inserido no mundo novo como cidadão participativo" e não espectador passivo, patinando no velho que, na realidade, não existe mais, a não ser na memória de cada um.

(Postagem de 16 de novembro de 2010)
Aurora Gite