terça-feira, 25 de novembro de 2014

Lemos o mesmo livro? Vamos assistir ao mesmo filme?

Já começou a divulgação do próximo lançamento em fevereiro de 2015 do filme, baseado no livro "Cinquenta Tons de Cinza".

Há algum tempo venho consolidando meu ponto de vista sobre que o que me fascina no ser humano é a diversidade de perspectivas, enorme gama de pontos de vista e opiniões sobre uma mesma temática. Agrego agora que o que me atrai, curiosamente, é acompanhar no vácuo da mente as interações (quânticas) da energia psíquica, pulsando afetos - os mais diversos. Nesse sentido, continuam as investigações e descobertas, da Física Quântica e da Parapsicologia, sobre os fenômenos do teletransporte quântico e da telepatia a nível do deslocamento da energia psíquica entre os seres humanos. Muitas teorias espiritualistas antigas, começam a ganhar uma evidência e compreensão lógica ante os novos focos dessas ciências. Agora é questão de tempo!

Isso me é suficiente? Não.
Cada vez mais não se consegue separar e compreender o indivíduo fora do coletivo; fazer uma leitura das energias (cósmicas?) que cercam os seres humanos sem interligar o "micro ao macrocosmo"; acompanhar o trajeto físico e as repercussões psíquicas das interações prazerosas, tanto no tesão corporal quanto no elo tensional do que chamamos "vida" e "amor", através de meros recortes da realidade. Tudo está em movimento que, por vezes, ganha um dinamismo próprio que amedronta. Tudo está interligado e conectado, de tal forma que nosso equipamento lógico, mesmo intuitivo, não abarca ainda!

Mais ainda, os recursos de nossa imaginação, ou faculdade (aptidão inata) de imaginar,  não são adequadamente usados para nos permitir um bem viver dentro do real entediante, cruel se vivenciado a dois. Podemos sonhar e idealizar, em nada se aproximando de fugas alienatórias e sem desestruturar esquemas de valores, que sustentam nossa fragilidade humana mas que nos fazem viver uma vida a dois insignificante e infeliz. Muitas vezes, somos obrigados a reconhecer nossas limitações concretas e aceitar que relações são parcialmente gratificantes e necessárias a suprir aspectos práticos da vida. Mas não podemos negar que nosso viver ganha novo colorido e nos impulsiona a evoluir como pessoa, se recorrermos ao nosso imaginar criativo e inovador, que nos leva a viagens (quânticas?) atemporais. Existe uma energia (campo do psiquismo?) que pode trazer o passado e antecipar o futuro, entortando a rede circunstancial do presente, como os físicos já estão delineando experimentalmente. O importante é sempre manter a "razão" como "líder mental".

Ter conhecimento da dinâmica que envolve a vida a dois ainda não ganhou a primazia devida na vida de um casal. Poucos se atêm a importância de uma escuta apurada e respeito às necessidades e limites do parceiro buscando encaixes mais harmônicos dentro do convívio conflitivo natural em toda vida de relação. A quebra dessa escuta é, a meu ver, o fator primordial para o distanciamento entre os parceiros e o isolamento e direcionamento para um convívio com a solidão interna, para se proteger de sofrimentos ante futura prenunciada exclusão da união afetiva insatisfatória.

Quando ambos ousam enfrentar seus fantasmas internos, buscar ajuda necessária, ter coragem para procurar mudar em prol de si mesmos, têm chances de crescer como pessoas na vida a dois. Fecham as saídas da sofrida solidão interna, obstáculo intransponível na construção da vida de um casal ao se enclausurarem em seus mundinhos particulares excluindo o parceiro da relação conjugal, ou se aliando, de maneira egoísta, a terceiros, que passam a representar oportunas bengalas. Ambos, carregam vida à fora um vazio existencial que se expressa no tédio e falta de sentido para viver; a esses tanto a trilogia Cinquenta Tons de Cinza, como o filme a ser lançado em fevereiro de 2015 são motivos de desconforto e críticas portanto.

Relembrando considerações que fiz ao término da leitura de trilogia, procurei trazer também o relato de meu estado de espírito afetado, indiscutivelmente, pelo conteúdo da obra. A cada livro lido ia colocando minhas impressões. A postagem sobre "Cinquenta Tons de Cinza" data de setembro de 2012; sobre "Cinquenta Tons Mais Escuros" ocorreu em outubro de 2012; e sobre "Cinquenta Tons de Liberdade" em dezembro de 2012. Sendo assim, como não compartilhar?

19 DE DEZEMBRO DE 2012


Cinquenta Tons de Liberdade

Encerro a leitura da trilogia "Cinquenta Tons" de E.L.James e me ponho a digerir sobre o que ficou dentro de mim.

Começo por três pontos, a meu ver, básicos:

Primeiro, dou ênfase à qualidade da publicação da editora Intrínseca e à escolha das capas, não só pelas imagens, mas pela textura das mesmas.

Segundo, realço o estilo de escrever de James com sua objetividade, frases curtas, indo direto ao que quer transmitir, sem a necessidade que o leitor tenha muitas elucubrações e interrogações do tipo "o que será que o autor quis dizer com isso?". Acredito que, além do conteúdo instigante, essa forma sucinta e direta, tenha atraído tantos leitores "internautas do mundo atual", que se dispuseram a comprar seus livros e a seguir avidamente suas idéias, bem articuladas dentro do que a autora se propôs.

Terceiro, leitores em busca de pornografia, podem ter se deparado com muitas lições de como atuar sexualmente, ante descrições tão detalhadas e ricas sobre a relação sexual entre duas pessoas "afins uma da outra", que se perceberam com uma química semelhante, com seus corpos respondendo a estimulações específicas de forma idêntica - sintonia que aumentou a atração entre eles - e com suas mentes se permitindo  se embalarem no aumento de prazer, pela excitação advinda da atuação da faculdade de imaginar, fervilhante de inovações consensuais impeditivas a que o tédio da mesmice contamine o tesão que  apimenta a relação; digo melhor, que poderia apimentar o tesão de qualquer relação humana nesse sentido.

Agora chego ao que me causou grande surpresa: Quanta coisa sobre o "amor" , para os que se dispuserem a ver +além das meras aparências!

"Data venia" aos que tenham opinião contrária, chamou minha atenção, logo no início da leitura da trilogia, a autora usar a expressão "fazer amor" em vez de fazer sexo. No sexual temos o êxtase do prazer orgástico, explosão de energias através da entrega a uma união de corpos que se abre ao estímulo de áreas eróticas e à excitação pela fricção das mesmas. No "fazer amor" temos a entrega ao prazer de duas almas afins, o "sentir", em breves momentos, o clímax (apogeu) de energias em campo que irradia paz, aconchego, amor.

Refletindo sobre a repercussão e o estouro nas vendas da trilogia "Cinquenta Tons", mais me convenço sobre a pobreza da fantasia no erotismo atual. Ao ler não se sobressaiu o encontro sadomasoquista e a relação de prazer ante dores físicas e/ou psíquicas, mas o consenso e a curtição de um casal no encontro de jogos eróticos, que liberam a sintonia da excitação de suas libidos. Inclusive, quem se dispôs a ler e confrontar a obra com tantas críticas cruéis, deve ter notado que entre o casal existia um código: o uso da palavra "vermelho", indicava o 'Pare!', simbolizando, naquele momento, a interrupção de como chamavam de seu "desafio de limites". Meu foco recaiu na preocupação de um com o bem-estar do outro, na enorme vontade de agradar e preservar, no afetuoso e raro cuidar das respectivas integridades psíquicas.

Notem como a autora articulou suas idéias, sempre mobilizando o interesse para o "quero saber mais" e a curiosidade no "e agora, o que vem?" , dentro de situações banais que poderiam ocorrer com qualquer um, e sob uma abordagem bem passo a passo da relação sequencial das cenas, que levam a seguir seu pensamento e o desenrolar das ações dos protagonistas.

Analisem o "subjugar": não implica em causar sofrimento, mas aumentar o prazer da entrega, após o jogo da resistência e controle das reações imediatistas, impulsivas. Verifiquem a "função da submissão" onde o aumento do tesão vem do tentar se esquivar, sem impedir a ação restritiva do outro, mas encorajando-a. É incrível como os casais menosprezam suas capacidades de imaginar e fantasiar, apimentando a vida sexual, e  se permitem cair no marasmo tedioso da mesmice.

A expressiva vendagem dos livros ("pornografias para mamães?", subtítulo que receberam) e o interesse de tantos jovens, podem sugerir a possibilidade de maior união da "sensualidade" à "sexualidade", ou seja, que a mera satisfação dos instintos sexuais se acopla à grandeza das descobertas dos prazeres sensuais, pela entrega gradual aos estímulos sensoriais: aumento da percepção sobre as sensações físicas. O que me parece um bom sinal para impedir a alienação do mundo da ilusão,  com suas criações em que impera a falácia fantasiosa sobre as sensações reais.

Termino a leitura e me recordo que a autora se permitiu "criar", concretizar suas idéias, sob o som da música clássica, fato que também atraiu minha atenção. Minhas pesquisas sobre os dinamismos energéticos de nossa energia psíquica, os associando a processos bio-quânticos (bio-eletromagnéticos) estavam sendo direcionadas para os efeitos internos da acústica dos sons: de um som lírico e suave (mais atrativo à nossa alma) e sua diferenciação com um rock da pesada ( mais estimulante a movimentos corporais). Começo a ler de Otto Maria Carpeaux, "O Livro de Ouro da História da Música", onde o autor "traça a história da música erudita através de sete séculos.

Ao fechar "Cinquenta Tons de Liberdade" e me por a pensar sobre o trajeto dos personagens, vejo delineado o caminho por onde a autora impulsiona seus personagens a percorrer, que pode ser experienciado por duas pessoas viventes quaisquer. No possibilitar essa identificação também reside parte do sucesso da obra.

Mentalmente faço um retrospecto das articulações das idéias de James, que me levaram a refletir sobre:

* "a arte de amar", ou o respeito pelo cuidar das diferenças individuais e o encontro do prazer no ser diferente do outro e crescer nessa relação, preservando as individualidades;

* "a arte de fantasiar em consenso" como fator enriquecedor da relação;

* "a arte de criar expectativas", ou saber aguçar o prazer da espera de algo imprevisível e fora de controle;

* "a arte da entrega", ou o de se capacitar para o relaxar necessário a que a mesma ocorra com prazer;

* "a arte de confiar", de confiar no próprio taco para manter a relação e na capacidade do outro para lidar com adversidades circunstanciais do cotidiano, ambos preservando a relação para que não se contamine.

Essas reflexões me levam a recordar como algumas pessoas - como os personagens de James - ao se encontrarem circunstancialmente têm algum tipo de conexão energética ativada. É um reconhecimento inexplicável : "Não me pergunte o porquê, mas sinto nele a dignidade do diamante; se algum dia o souber 'solitário' e 'só'. vou estar por perto"; contrapondo a um " Ou ela é muito boa, ou muito..." já permitindo antever suas ansiedades antecipatórias, seus "cinquenta tons" a serem acolhidos.

Aqui já tirei da prateleira os "Diálogos de Platão" : "Banquete" ( com todo seu louvor ao amor) e "Fedro" (que prolonga o Banquete e vai +além) . Li o "Banquete" em 1976. Só de folhear percebo sua importância pessoal, por me permitir observar meu caminhar em relação ao fenômeno amoroso. Mas, de repente, em Fedro, do "mito do carro alado, no qual o cocheiro é a razão e os corcéis, a vontade e a concupiscência", me surge a percepção de que ansiedades antecipatórias em suas roupagens de medos do porvir, não só serão afastadas pela oposição ao que é no presente e pelo reforço ao confiar na própria capacidade de atuar sobre circunstâncias "conforme forem se concretizando no real", mas quando se alçar a categoria do cocheiro: da "razão" para a da "sabedoria".

Os mitos dispersos pela obra de Platão me fascinam. Talvez ouse estabelecer um código secreto, para quando se possa, ou se queira, acolher a privacidade de uma relação a dois, e falar "me too" (eu também).

Aurora Gite



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