sexta-feira, 28 de junho de 2013

Vamos pensar juntos sobre a mobilização de junho de 2013 - (1)


Penso que o impacto da "mobilização social" ocorrida no Brasil, em junho de 2013, iniciada por estudantes e que tomou enorme vulto, como movimento de massa, depois da adesão de vários setores da população, provocou mudanças irreversíveis nas sociedades desse milênio. Um efeito cascata já se faz sentir em outros países.

Fenômeno resultante da convocação via Internet, sem uma única liderança centralizadora, se espalhou rapidamente pelos Estados que compõem nosso país. E nos confronta com o agregar da Internet à imprensa e aos diversos veículos de comunicação, aumentando a força de expressão e coesão do conhecido "Quarto Poder".

Por todos os cantos se podia ouvir o grito exultante do "despertar" de uma nação, clamando por se fazer ouvir por entre a diversidade de ações que espelhavam o uníssono da insatisfação e o brado, fraco no início, de "Eu sou brasileiro!". Aos três poderes instituídos: Executivo, Legislativo, Judiciário restou a busca de tentar compreender, elaborar medidas de contenção, encontrar atos ilícitos enquadrados como violência à soberania da Constituição.

Governantes de todos os poderes se reunindo, tentando encontrar medidas apaziguadoras, via retórica vazia dos discursos ou via contenção física e violenta da polícia - que desnudou sua agressividade cotidiana perversa em nada próxima de sua função protetora da população e espelhou a falta de segurança social que se alastrava por anos pelo país.

E as reivindicações explodiam! Em setores imprescindíveis para a civilidade de um país como o Brasil, o protesto tornou público, e em proporção globalizada e instantânea, o descuido e a carência nas áreas de Saneamento Básico, Saúde, Educação, Segurança ... Mais ainda quebrou o ideal virtual propagado pelo área de marketing do governo atual, ou seja,  de imagem de país maravilhoso, onde tudo corre bem, tudo dentro da estabilidade na economia, da sustentabilidade na administração pública com gastos controlados (?)...

Minou a publicidade voltada a convivências com "paz e amor" e medidas de justiça social pela distribuição de renda, que escondiam grande distorção de informações, "agora" desmistificadas. Belos nomes de programas sociais embutiam longos empréstimos a serem pagos pela gama dos desempregados que já se avolumava outra vez, mas era acobertada pelas pesquisas que realçavam aspectos mais positivos ou fictícios. Na prática a "massa, conduzida como manada", se deparou, nos últimos tempos, com a realidade de seu endividamento e inadimplência, decorrentes da abertura e incentivo ao consumo irracional.

O povo passou a sentir as feridas em sua própria carne, pois se viu inserido dentro do caldeirão de saques, roubos, assassinatos de pessoas com suas vidas banalizadas, interrompidas simplesmente porque não tinham dinheiro para dar aos ladrões agora de vidas, não mais de bens materiais. Nova categoria de "homicídios perversos" se institucionaliza. O pânico toma conta da sociedade, por temor da morte, até de desconhecidos, por balas perdidas de traficantes, ou mesmo de policiais. A bola de neve de um estado de "anomia" se instalava nesses últimos anos ante o não cumprimento efetivo das leis existentes, ante a ausência de ética nas regras de conduta, ante a quebra das regras até burocráticas para uma convivência pacífica entre as pessoas. E o governo voltado a outros interesses (?) permanecia insensível a perceber o grau de ebulição da chaleira das emoções populares, fechado a escutar as demandas da massa sofrida de seres humanos que deveria proteger.

Agora com as medidas ontem anunciadas, necessárias ao combate do monstro inflacionário e convivência forçada com aumento de impostos para tentar contê-lo, sem ter mais de onde tirar de seus parcos ganhos diários, sabendo que é também para arcar com os gastos excessivos do governo, desvios de verbas ante interesses particulares da classe política, com a pouca eficiência para lidar com o patrimônio público tudo regado a ausência de fiscalização do Executivo, falta de elaboração de leis eficazes do legislativo e impunidade do Judiciário, a massa da manada se fragmenta e cada um berra: o que "eu" vou fazer? o que "nós" vamos fazer?

E a realidade apavora os governantes, pois cidadãos clamam por urgência de soluções concretas, não mais blablablás... e gritam através das constantes e contínuas mobilizações populares: O que "vocês" vão fazer?
O que vocês, como governo, vão fazer com o despertar do senso crítico da grande continência dos que se sentem injustiçados e, na verdade, o são; dos que se aperceberam de como o país se afundou políticamente também por sua atitude displicente ou de autoexclusão social, sua acomodação e impotência; dos que se perceberam de sua condição humana vazia e superficial, que os remete a graves quadros depressivos; dos que passaram a ver no que se transformaram se permitindo viver na padronização e mesmice robotizada, seduzidos pelo "brilho da vida ilusória marketizada" e comandada por grupos que, centralizando e "manipulando o poder", lhes tiraram a possibilidade de exercer sua cidadania em prol de uma nação melhor e mais justa.

Notícias de tal porte, como o fogo, logo se espalham, inclusive por outros continentes "internatizados", ao tempo real em que os movimentos acontecem: "Protestos se espalham pelo Brasil", "Movimento está divorciado dos políticos tradicionais!", "Manifestação apartidária começou pelas redes sociais", "Convocação via Internet, mobilizou muita gente, deixando atônito o Governo", "Governo, surpreso, procura entender a dimensão nacional do protesto!"...

Cartazes se proliferam em meio às passeatas: "Basta à roubalheira!", "Chega de corrupção e impunidade!", "Não tenho partido, 'eu sou' Brasil!" "Prioridades do povo não são as prioridades do governo".

Divulgação do movimento por meio de caras pintadas, se avolumando: agora não só dos jovens, mas crianças, adultos e idosos expressam o orgulho de lutar pelo Brasil, orgulho de "pertencer a essa nação".

Muitas análises aproximam o movimento brasileiro ao que ocorreu na França em maio de 1968, que redundou 1 ano depois na destituição do governo De Gaulle. No Brasil, espero que futuros votos nas urnas democráticas possam denotar a decepção com a falta de representação popular: câmara, congresso - vereadores, prefeitos, deputados estaduais, governadores, deputados federais, senadores... e por aí vamos.

Podemos observar com clareza "facetas mobilizadoras da grande manifestação popular", que assola o Brasil como um todo. Alguns perfis de futuros líderes políticos já despontam. Passo a acompanhar os passos de Thiago Aguiar, jovem mestrando em Sociologia, do grupo JUNTOS, por sua fluência retórica, capacidade de convencimento, coerência e deteminação de ideais e metas, repetidas em várias entrevistas televisivas: "Meu objetivo pessoal é contribuir para maior bem estar social. Minha luta visa uma sociedade justa!"

Se alguém tiver interesse em traçar o perfil do político do milênio indico, além da análise atenta e acurada do quadro social atual, o livro "Cartas a um Jovem Político", de Fernando Henrique Cardoso.

Vamos então pensar juntos e articular algumas ideias com fatos observados?

Manifestação "apartidária",  não apresenta características de engajamentos políticos, defesa de compromissos ideológicos, manipulações populistas. O povo brasileiro permaneceu, por tantos anos, impotente, observando a grande distância entre as prioridades do governo e suas reais necessidades.

O sentir-se excluído, colocado à parte das decisões governamentais, pois seus representantes, ao serem eleitos, buscavam outros interesses, implica em sensações de menos valia, desconsideração pela frieza e insensibilidade dos políticos escolhidos, e com isso grande desconfiança na classe política. Aliás poucos sabem, ou se interessam em saber, "O que é Política?". Não existem mais projetos políticos para serem debatidos contribuindo para a formação do "ser político". Em épocas eleitoreiras o que mais se notificam são as datas dos shows com cantores famosos e celebridades, pagas - e bem pagas - para prestigiar os candidatos.

Em meio a esse quadro de exclusão, desesperança, impotência, raiva, inveja dos privilégios e da aquisição fácil de poder financeiro e reconhecimento social, podemos notar que, num primeiro momento, a busca da massa popular se voltava mais para o preenchimento do vazio como eleitor e cidadão, para a conquista da "sensação de pertencimento", não de engajamento em uma causa política. A "mola propulsora do movimento popular de tal porte" foi, confiram comigo, a necessidade do ser humano de ser valorizado e se autovalorizar, sentir-se acolhido, de ser aceito e incluído, para ter satisfação em "pertencer a...".

A música entoada "Eu sou brasileiro" indica o "despertar da disposição do cidadão de fazer história por pertencer a essa nação e se orgulhar desse sentimento". "O Brasil precisa de nós!". "Basta de desmando irresponsável, de nepotismo, de corrupção, de impunidade correndo solta, de represálias por falta de uma Justiça atuante!". "Chega de violência de uma polícia sem preparo!" ... e são muitos os que gostariam, se a raiva pemitisse um pensar mais ponderado, continuar com : sem treinamento, sem recursos, sem salário à altura do risco que enfrenta!

Nesse momento, com caras pintadas com as cores da bandeira nacional, cabeça erguida e peito inflado, encontram sua potência na "inclusão participativa". Lutam pelo futuro de sua geração e das gerações vindouras.

Nessas circunstâncias, embora o perigo pela infiltração dos baderneiros, vândalos e saqueadores destruindo o patrimônio público e investindo contra pessoas indefesas, como não apoiar pais, que, com o coração angustiado, são obrigados a soltar os filhos para a vida, justificando esse ato de amor com a frase: "Acho uma experiência cívica importante para essa juventude!"; como não aceitar familiares, que estão sendo convencidos pelos estudantes, por amor e por admiração, a com eles se solidarizarem respeitosamente ao ouvirem:"Estamos dando a cara à tapa, lutando por um mundo diferente!"; como não aplaudir esses jovens estudantes - filhos agora também do Brasil - com o gosto da vitória na boca, caminhando rumo a uma batalha pacífica, com amplo sorriso gritando: "Tenho orgulho de estar aqui, por meu país!"

E "nós, que convivemos titubeantes com a estranha sensação de pertencer ao milênio", buscando nova identidade ante a multiplicidade de possibilidades para tomadas de decisão, analisando a liquidez transitória dessa nova época, que nos leva mais longe da solidez da segurança do "velho e presente ainda mundo"... podemos constatar no cantarolar do Hino Nacional, a "força do patriotismo", a "História mostrando ao povo sua identidade... novos valores sociais emergindo da solidariedade no coletivo":

"Tava em casa e percebi que não dava mais para ficar fora, queria pertencer a esse movimento. Sou cidadão brasileiro. A nação precisa de mim!"

Particularmente, sinto enorme comoção, orgulho e gratidão ante essa juventude corajosa.
Por vontade, estaria nas ruas, cara pintada com as cores da bandeira nacional.
Só não me permito, como cidadã, ficar sem divulgar notícias sobre essa manifestação.
Só não me concedo o direito de personagens públicos e políticos (por serem também formadores de opinião) permanecerem sob proteção pessoal, sigilosa, silenciosa e intocável, idealizados dentro de "bolhas individuais".

Nesse sentido:
Só posso mais uma vez parabenizar a exposição, análise crítica do quadro social como sociólogo e ex-presidente, postura de um verdadeiro político como é Fernando Henrique Cardoso.
Só nâo posso me consolidar com a postura "neutra e até certo ponto indiferente ao quadro social", e me permito deplorar a atitude do ex-presidente Luis Inácio "Lula" da Silva, que hoje saiu de sua clausura, manifestou suas críticas e "apontou erros do atual governo (de seu partido)", estando com suas "malas prontas, para sua próxima viagem à África, para respeitar compromissos assumidos e, talvez, porque não, marcar seu espaço público (como muitas celebridades já o fazem) na paz da despedida de um "verdadeiro líder como Mandela" - só que no seu caso, nesse momento, falha no respeito ao povo brasileiro, que se digladia (combate corpo a corpo) em uma batalha por espaços de cidadania e de valores éticos.


Aurora Gite

P.S.: Em próximo post, "Vamos pensar juntos ..." (2), que tal nos empenharmos para refletir sobre o que representa esse "despertar" para o ser humano, e constatar, na prática, se não se refere ao acordar da "razão crítica", ao despertar de um "espírito crítico", responsável pela eclosão da vontade espontânea, ou seja, pelo "querer agir de forma realmente política?"



domingo, 16 de junho de 2013

"O Algo Mais"


Queria um termo que definisse a nova era que estamos vivendo, onde os conhecimentos e tradições passadas não nos servem mais como referências para um sólido bem-estar. Aliás, nada mais guarda o caráter de solidez, proteção de um pensar estático e segurança social para um bem viver.

Em nossas próprias reflexões podemos observar a característica da mutabilidade nas formas de pensar, a flexibilidade para bem conviver com o raciocínio sobre processos, não mais saciados com o alcance de bons resultados. Vivemos a época da inovação e criatividade para inventar novas metas na busca de "O algo mais".

Minha curiosidade me fez questionar o que seria "O algo mais", que faz a diferença nesse milênio?

Época do desassossego, da intranquilidade, da insegurança, da incerteza inicial, que pouco a pouco vai se acomodando ante a nova visão de homem e de mundo, mais dinâmica, mais fundada numa leitura sobre a energia vibracional que nos envolve, sobre a qualidade do clima que aspiramos fisicamente e respiramos emocionalmente.

Era que não demanda só o pensar supérfluo e constatação de estatísticas sobre focos recortados da realidade , mas o pensar reflexivo e análise de tendências da visão sistêmica que envolve o todo da humanidade. Novas formas de raciocinar, entrelaçar pensamentos e cruzar dados, sobre as características envolvidas nos processos de pensar e em "o algo mais" que deles poderão advir.

Nova era exigente de novas atitudes responsáveis por sucesso na vida pessoal e profissional, que demandam posturas que vão além das qualidades, habilidades ou características pessoais; ou seja, de atribuições que vão além da própria natureza, personalidade, educação familiar ou transmissão cultural.

Hoje quem leva vantagem é quem demonstra coragem, garra, firmeza, perseverança, agilidade de raciocínio, autoconfiança ou capacidade de realizar e assumir riscos... e a segurança que resulta da vivência dessas posturas. Eis os dados a serem agregados para se levantar perfis do homem do milênio que queira se inserir no mercado de trabalho e nas parcerias amorosas, que queiram ter valor sendo reconhecidos e admirados nesses setores de convivência.

Ao pensar em insucesso na vida amorosa, financeira ou no trabalho gratificante, agora logo me vem a ideia de que "o algo mais" faltou. O sucesso, a meu ver, é marcado por três pré-requisitos: conhecimento, perspectiva e atitude. Esse triângulo está na base das diferenças, como diz Michael Hammer em seu livro "Além da Reengenharia".

Não se pode deixar de reconhecer a evolução, ou revolução, em uma seleção de talentos e no mapear a postura de um profissional, cruzando os novos perfis com os requisitos que a função a ser exercida demanda. Hoje não faço tanta distinção dos mesmos com os critérios das escolhas amorosas. Todos temos na imaginação uma imagem ideativa estática de um parceiro amoroso, sabendo, com mais amadurecimento emocional, que temos que buscar bem encaixar esse ideal com nossa maneira de ser e de existir no cotidiano, mas com "o algo mais" direcionando a uma busca contínua de melhores interações, de inovações diferenciadoras que fazem com que perdure a admiração recíproca na vida a dois - ou o reconhecimento no fluxo empresarial.

Nessa nova era, o companheiro amoroso e o executivo, com outros pesos e valores, têm seu mercado de trocas, tanto nas parcerias afetivas quanto nas convivências sociais e no trabalho, orientados para uma compreensão global das relações - que envolve a "sinergia do conjunto de processos interativos":
de bem administrar diferenças, de autogerenciar os lados sombrios das personalidades para bem conviver com as afinidades pessoais, e de autocontrolar reações negativas frente a "maus" e "bons" resultados.

Acredito que não poderia ser diferente nesse novo mundo globalizado de mudanças aceleradas, onde se observam:
* graves crises de identidade, pela quebra dos possíveis quadros referenciais;
* variadas formas de agir e pensar invadindo até nossa maneira de sentir e interferindo em nossas respostas emocionais;
* que não se pode mais pensar nos resultados, isoladamente, mas na maneira como eles foram alcançados, nos processos que possibilitaram se chegar a metas;
* que, ao serem atingidas, as metas alcançadas já podem estar obsoletas, não mais se adequando ao "agora" de nosso "bem viver";
* que, algumas saídas, a meu ver, podem ser vislumbradas, resgatando o potencial humano tão vilipendiado nas últimas décadas.

Só o processo, raciocina Hammer, ao alinhar com eficiência, um grupo de tarefas separadas, cria um resultado que tem valor para o consumidor (de uma rede doméstica, familiar ou empresarial). Uma tarefa bem realizada, sozinha, não cria nenhum valor real. Boa performance (conhecimento+técnica), no aqui e agora, logo estará defasada, não mais servindo para hierarquizar processos seletivos pessoais ou coletivos.

"As atividades de rotina estão se tornando um componente cada vez menores nos cargos modernos", diz Michael Hammer em seu livro. "Podem ser eliminadas, automatizadas, transferidas" - afirmações sem levar em conta o acelerado desenvolvimento da tecnologia de inteligência artificial dos humanóides, ou robôs prontos a substituir o homem em muitas funções no mercado de trabalho e mesmo na facilitação em várias áreas da convivência humana, como por exemplo, ajuda em casos de doenças ou limitações físicas.

A grande reviravolta do milênio está voltada ao desafio de "saber como pensar o algo mais". O adicionar valor está em saber aplicar o conhecimento e usar a criatividade para inovar em qualquer situação, abrindo espaço para a expressão do próprio diferencial.

Não leva mais vantagem quem sabe apenas aplicar regras, fazer reuniões para debate, ou valer-se de procedimentos passados para avaliações de seus desempenhos pessoais ou de sua equipe. Não leva mais vantagem quem promove diálogos, tipo "DRs", seguindo essa mesma linha de raciocínio.

A postura correta na era de "o algo mais" pertence aqueles que se tornaram capazes de pensar com clareza, objetividade e originalidade, abarcando com olhar perspicaz as "tendências" de mudanças e investindo em competências pessoais duráveis, que não vão se tornar obsoletas, pois estão à frente, voltadas ao futuro, na direção do "por vir" apontada pelas tendências vislumbradas.

Destaco, ainda, no raciocínio sobre o processo interacional, a capacidade estratégica e inovadora para criar coisas inéditas, e volto a frisar, dentro de uma visão sistêmica e abrangente do todo, do fazer acontecer, introduzindo mudanças reais.

Em um agir ético  preservando a integridade e o próprio "feeling", é preciso ainda relembrar alguns aspectos, que não fazem parte da vontade da atitude de inovar, como:

* Ficar remoendo falhas, ou se culpando por erros, em vez de interpretá-los como oportunidades para mudar e buscar acertar.

* Ficar buscando desculpas para o que não deu certo, ou justificar as próprias falhas atribuindo a culpa aos outros.

* Não ter disposição para assumir riscos, não investindo em suas "competências duráveis" mas em conhecimentos externos específicos e descartáveis, de fácil substituição, que recordam mais que "os resultados obtidos no passado não garantem nada para o aqui e agora".

Não é fácil abraçar o desafio de "saber fazer acontecer" através do "saber pensar o algo mais" ... demanda que, segundo acredito, não vai abandonar o ser humano no milênio.

Atitudes a serem incorporadas pelos novos inventores: habitantes no mundo inovador do milênio...

Confesso que é uma possibilidade que me encanta, e que a adoção dessa postura me cativa.


Aurora Gite



sexta-feira, 14 de junho de 2013

"Basta ... Agora Basta!"


Quero acreditar que todo esse confronto em várias capitais do país, que resultaram em várias pessoas presas no dia de ontem, 13 de junho de 2013, represente o início de um despertar de um povo, que permaneceu por longo tempo com sua razão adormecida e seu pensar crítico desativado, substituído pelo mundo ilusório do pensar superficial do mundo supérfluo das aparências transitórias e manipuláveis.

Minha expectativa é que valham como um "Basta!" para autoridades que camuflam interesses outros atrás de discursos sofistas de preocupação com a comunidade e com o bem-estar do povo. Quadro mais sério quando pertencentes a partidos políticos que pregam ideologistas trabalhistas e divulgam projetos em prol dos trabalhadores.

Os que deveriam ser "representantes do governo", pelo menos parece que para isso foram eleitos, esquecem que um aumento do ônibus de 3,00 "só" para 3,20, e ainda "abaixo da porcentagem da inflação acumulada", tem como contraponto acordos salariais que não acompanham o aumento inflacionário acelerado por gastos inadequados governamentais e má administração das finanças que lhes chegam às mãos para realizar benfeitorias sociais.

Ah! Não esqueçam de descontar o total, a que chegaram, do salário mínimo atual. Agora avaliem o quanto sobra para a sobrevivência do povo, que busca um mínimo de qualidade de vida.

Analisam o problema sob que perspectiva referencial? Parece que, até esse momento, ganham o bastão, que na certa não pertence nem ao bom senso e nem à temperança dos "justos" e dos "pacíficos". O manto que coube aos políticos, envolvidos em seus discursos vazios de sentido e cheios de especulações - e nas diversas esferas governamentais - foi o mesmo de "Pilatos", lavando suas mãos, indiferente às repercussões práticas de sua decisão, tomada do alto da posição, que lhe outorgava o prestígio e a coroa da insensibilidade do intocável.

Os que deveriam se colocar como responsáveis pela proteção pacífica e segurança da sociedade não poderiam nos dias que antecederam e que vinham anunciando o acréscimo da bola de neve do descontentamento e da sensação de injustiça social, ter planejado ações não violentas e estratégias de contenção por outras vias preventivas, quer sejam, marcações de reuniões visando ações mais eficazes para solucionar o problema?

"Queremos conversar sim ... justificar nossas medidas ... negociar até ... desde que façam como queremos e mandamos!" Eis o monólogo divulgado, em nada propenso ao diálogo que faculta a probabilidade para negociações, que sejam consensuais e boas "para ambos o lados".

Não se pode deixar de enfatizar que, sentir a dor da injustiça social, machuca o povo por dentro, atinge sua alma e integridade, mais do que um par de algemas, do que tiros com balas de borracha e pancadarias com cacetetes, que na pontaria e descida aleatória sobre suas partes físicas buscam amordaçar a expressão dessa dor. Ontem essas cenas tornaram-se evidentes com a tecnologia do "zoom".

Para quem não viu um repórter sendo imobilizado por seis ou sete policiais, tal visão ocasiona maior revolta a quem pode assistir a cena e impotente teve que conter a raiva que despertou. Muitos ignoram ou se esquecem que a violência injustamente contida, física ou verbal, se constitui em uma das variáveis com grande força mobilizadora de contrarreações agressivas. A reação é mais aviltante ainda, tanto a quem sofre a agressão, ou assiste a essa agressão sendo praticada em terceiros, quando se trata de aliviar a dor que vem da alma: dor da indiferença e desconsideração, do desprezo e desrespeito, dor das atitudes desumanas por aqueles que deveriam zelar pelas interferências visando a ordem para o bem-estar social.

Colocar limites e restringir transgressões legais é bem diferente do incorporações policiais avançarem em suas funções e se permitirem ações violentas, autoritárias e ilegais.

E viva a tecnologia, que facultou recursos para o alcance de cenas transmitidas por profissionais usando seus equipamentos e filmando dentro de helicópteros. Com isso, a imprensa, ante evidências gravadas em vídeos e fotos, pode desmascarar quaisquer tentativas de manipulação de notícias e plantação de provas como tem sido feito em muitos casos. Com isso, pode a imprensa apontar a fraqueza e irresponsabilidade de covardes, "paus mandados que não ousam ter respeito próprio e dignidade", maus treinados para o desempenho de determinadas funções. Convém pontuar que, para muitos, o cargo serve como válvula de escape e respaldo para suas tendências agressivas, encobrindo o lado sombrio e patológico da condição humana em sua perversão, fato bem retratado nos dois filmes brasileiros sob o título de "Tropa de Elite 1 e 2".

Os agrupamentos populares, como caracterizou uma repórter em sua breve, corajosa e rápida avaliação
nos locais do confronto, tinham seus elementos pertencentes à uma classe não tão carente que necessitasse defender esse quinhão de seu salário. Aliás multipliquem esses 0,20 por 30 dias/mês, pelas vezes ao dia em que a população usa esse meio de transporte, ou paga a seus empregados para que os use, ou que pais pagam para que seus filhos estudantes os usem...

E por aí vai essa realidade, tão distante das categorias, de representantes e protetores da sociedade, acima citadas:

De um lado pode-se notar que - dessa vez intransigentes em suas normas mantenedoras de seu poder, e sem abertura para escuta indispensável a qualquer negociação - os que teriam poder decisório para alterar o quadro de violência, lavaram aos mãos, atribuindo todo levante a grupos de baderneiros e uso político do evento popular.

De outro lado os que, garantidos pela farda, usurparam de seus poderes e se deixaram seguir ordens irracionais, borrifando gases de pimenta diretamente nos olhos de muitos fotógrafos evitando o registro direto da tirania de suas ações, ferindo com as balas de borracha de suas espingardas o rosto de jovens repórteres no exercício de sua função, tal como eles.

E viva a tecnologia, que permitiu que tudo fosse documentado e que o mundo verificasse como a liberdade de imprensa ou de expressão é ceifada ante o ardor, a cegueira e sequelas respiratórias provocada por gases de pimenta e bombas de "efeito moral".

Contra evidências como lideranças podem, cabeça erguida e sem hipocrisia moral, encontrar argumentos para justificar o ocorrido, sem colocar em xeque e demitir seus comandados responsáveis por tais ações inaceitáveis e não administráveis através de belos discursos?

Como não sentir "como cidadã" o peito encher de orgulho patriota, percebendo "como ser humano" todo o corpo palpitar ante essa "sensação de despertar"?

Como esquecer o rico instrumento da comunicação via internet, onde um líder ausente é capaz de bem aglomerar muito mais pessoas em minutos de convocação e propagação midiática globalizada abrangente, se estratégias forem bem planejadas buscando eventos populares maciços e pacíficos, que espelhem ao mundo as injustiças sociais que dominam o país?

Como não realçar o papel, de cada um de nós, intelectuais ou não, que possam divulgar e tenham a ousadia de se expor, um pouco, e não se esconder atrás de suas cátedras, seus livros, seus chinelos e suas "tevês", suas cervejinhas e uísques, ou seu pote de cremes e doces?

De qualquer modo, penso que assistimos, nesses últimos dias, a um despertar que acredito não ter retorno.

Não só lembro das consequências do movimento dos "caras pintadas", há alguns anos, para que ocorressem as eleições diretas para presidente, aqui mesmo no Brasil; mas me recordo da época do movimento que eclodiu na Revolução Francesa, quando o povo se conscientizou de que a ele eram distribuídos cestos de pães para matar sua fome, enquanto que aos governantes cabiam fartos banquetes para saciar sua gula e sua ganância.

E com o despertar para o que de real acontecia ao seu redor, vieram o urro de dor pela injustiça percebida e o enraivecido limite colocado pelo grito de "Agora basta!"

Engrosso o urro dos injustiçados com meu "Basta, agora basta!"


Aurora Gite


sexta-feira, 7 de junho de 2013

Lembram dessa frase: "O destino baralha as cartas, e nós jogamos" ?


Lembram dessa frase de Arthur Shopenhauer: "O destino baralha as cartas, e nós jogamos" ?

Há alguns anos apostei alto com o destino, não tinha como bancar seu jogo. Não contei que fosse misturar as cartas como o fez. Pegou pesado! E eu impotente pois não me facultou embaralhar uma vez sequer, por um bom tempo de jogo.

As regras éticas entre bons jogadores não foram respeitadas. Demorei a perceber que eu não mais podia ficar esperando que isso ocorresse, que teria que encontrar o centro de meu jogo, fortalecê-lo, e passar a dar algumas cartadas também.

Na época, a que me refiro, eu tinha a pretensão de saber jogar, e investi o que tinha. Não tinha o devido conhecimento de que o destino na posição da banca sempre mostrava quem comandava o jogo da vida e embaralhava as cartas, para que nós jogássemos, ainda mais se nos rebelássemos impensadamente contra seus desígnios.

Não posso deixar de recordar do filme "Julia" (1977, de Fred Zinnemann) e das impressões que me deixou. Lembro que foi interpretado por uma atriz, Jane Fonda, que pouco a pouco hoje passa a pertencer somente à calçada da fama tendo seu nome retirado dos letreiros das estrelas principais.Outro embaralhar das cartas para um novo jogo que começa ante a passagem do tempo. Poucos reconhecem a necessidade de que ele demanda nova aprendizagem, pois surgem novas regras limitadoras de ações.

E aqui me ponho a pensar no destino baralhando as cartas para nós jogarmos, como coloca Schopenhauer. Logo associo com o embaralhar das peças dos quebra-cabeças, à espera de nossa vontade e serenidade para ir montando suas peças e vislumbrando seu conjunto, como ocorre com as circunstâncias de nossa vida, onde não nos é permitido avaliar o cenário formado por nossas vivências, acertos e erros.

Não é por acaso que nesse encadeamento de recordações surgiu em minha mente o filme Júlia e com ele a certeza que sempre temos um pincel à mão para transformarmos as marcas da paisagem anterior com a vontade e representação de Schopenhauer. A moldura da tela já existe, o destino é responsável por ela, investiu nela e não deixa por menos, não temos condições de modificá-la. Mas somos responsáveis pela nova imagem da tela e só nós vamos poder nos lembrar do que cada novo traçado e pinceladas coloridas vão encobrir.

Ação semelhante ocorre com a montagem de um quebra-cabeça de muitas e muitas peças.Tantas peças todas misturadas esperando que, com atenção, sensibilidade e inteligência, possamos observar detalhes de formas e nuances de cores. Com habilidade e destreza, possamos buscar o encaixe adequado entre as mesmas para atingir o todo previamente configurado. Grande é a satisfação interna ante o alcance do prazer por atingir seu "todo", que implica no entendimento de sua sistematização e completude. Sendo assim essa compreensão só pode ser vislumbrada ante nossa perspicácia de perceber a conexão entre as peças, e ante nossa capacidade intuitiva aberta a visão abstrata do conjunto das mesmas.

Cada peça de um quebra-cabeça, ou cada evento de nossas vidas, depende da escolha acertada, possibilidade única entre tantas oportunidades com que nos deparamos. No entanto, como acertar ante tantas peças ocultas e embaralhadas no meio de tantas outras que lhe são semelhantes? Mais ainda, como distinguir o acerto das decisões, ante peças ainda não tão visíveis na parcialidade do cenário que se constroe gradativamente. Sua construção depende das relações entre elas e o contexto global, para que possamos obter a engrenagem perfeita, que lhe permita sua sustentabilidade, inclusive ante imprevistos que surgem quando menos esperamos.

Cada situação de vida representa uma vivência, cuja qualidade depende da forma que a assimilemos. Experiência positiva ou negativa, sempre fará parte de nossa vida, sempre terá seu espaço nesse quebra-cabeça. Nele não existe lacuna. O que poderia ser chamado de lacuna, ou espaço vazio, já se constitui numa peça a ser considerada como tal. A firmeza de um ponto central está atrelada a nossa qualidade de caráter auto-referencial, que permite conviver por um tempo com a ansiedade do vácuo inicial até a percepção da integração com a plenitude do todo.

Vamos nos imaginar montando o que nos parece um belo quebra-cabeça, de muitas e muitas peças. Particularmente eu gosto de montá-los e ver as imagens se delineando pouco a pouco. Demanda muita paciência e perseverança. Uma paradinha aqui, um cafezinho ali, uma leitura acolá, e uma nova aproximação da mesa onde as peças estão espalhadas. Sob novo prisma, como por encanto, no meio de tantas uma peça se sobressai dentre as demais. E eis o encaixe perfeito, imperceptível a nossos olhos até então focados atentamente e a toda nossa concentração mental, visando o controle sobre todo aquele contexto desmanchado e borrado. E com que orgulho ouvimos de nosso interior: "Puxa, até que enfim, consegui!" Nosso peito se enche pela auto-admiração com tão simples vitória.

Novamente em minha lembrança surgem  e se misturam as cenas nubladas pelo nevoeiro do cenário do filme. Quando retornam à minha mente - faz tempo que assisti ao filme -  ainda  tenho conservadas, e bem nítidas, as sensações que me despertaram logo no seu início: a solidão do barco, a tristeza do entardecer, a quietude do lago, a serenidade do contexto...De repente, o apagar dessa cena e a destreza do artista na busca de novas imagens para sua pintura, mais condizentes com seu aqui e agora, com o estado momentâneo de seu mundo interno. Determinado ele se esforça por encobrir a paisagem anterior. Porém na tela permanecem impressos os traços já delineados, por mais que somente a ele se tornem visíveis. Os demais poderão contemplar um belo trabalho, expressão de seu ser. Não imaginariam o que o mesmo encobre.

Como a vida nos prega uma peça. Anseios e aspirações, desejos e fantasias... Quantos sonhos e ideais imaginados! Quantas peças mal escolhidas, muitas tendo que ser desprezadas pois nas tentativas de encaixes acabam sendo deterioradas, de tal forma, que aquele quebra-cabeça não tem mais serventia.

Frustrações, raivas, brigas inúteis com a vida, aceitação do que nos impõe, tristeza profunda, resignação e sábia percepção de que na luta com a vida sempre saímos perdendo. A partir daí, "humildade" e "coragem" para novas negociações diplomáticas sobre "como viver"com a intensidade das rupturas bruscas e com o abandono das dolorosas perdas, sobre "como vislumbrar" novas formas prazerosas de vida, utilizando todas as experiências passadas. E eis que a vida nos brinda com um novo quebra-cabeça. E nos retorna a nossa capacidade de escolher montá-lo com alegria, ou ficar nos consumindo ante o que ela nos retirou e não tem retorno.

Paramos por aqui? Não!

A grandiosidade da vida é que após o término desse novo quebra-cabeça ou do jogo de cartas  nos possibilita apreciarmos tudo que aprendemos com o anterior. Seu jogo perverso é que o mesmo não perdura, qualquer esbarrão o desmonta ou baralha as cartas e demanda nova construção, testando nossas forças internas, valores e virtudes, na leitura e interpretação do que nos ocorre com os conhecimentos e sabedoria adquiridos.  

O presente da vida é a sábia vivência dando qualidade ao que nos ocorre no momento presente, sem nos prendermos ao que já foi, ou nos lançarmos avidamente ao que está por vir. Porém o desejoso desembrulhar desse "presente", não é tão simples, acarreta nova ultrapassagem, desvendando o "enigma das esfinges", para atingir o desconhecido dentro de nós mesmos, e reconhecer a validade do que recebemos da vida.

Por mais que tenhamos o relógio do tempo da vida como objeto de estimação, o mesmo não nos está disponível a nosso bel prazer, a espera de nossas opções de vida, mais ainda  - como no momento atual  - em que o percebemos acelerado e já ocorrem constatações de que tempo é "o movimento de vida", e ela não nos acompanha, coloca as oportunidades e segue adiante... 
A nós cabe aproveitá-las no presente, ou deixá-las para trás, para que passem a pertencer a nosso passado. A recordação do momento perdido será encoberta pelo que o futuro trouxer, quando for presente, mas não há esquecimento do que nos foi importante no jogo com a vida. 

Aurora Gite


segunda-feira, 3 de junho de 2013

Calor Humano's Blog?


Não errou, não! Esse é o nome do blog, cujo site é www.calorhumano.com.br

Nesses dias frios, tudo que eu precisava era de calor humano.
Não digo que não fiz como no "Cântico dos Cânticos": batia de porta em porta... procurando... Procurando... meu aconchego!
E não é que me deparei com um blog acolhedor!
Logo pensei em divulgar, como o faço agora.

Terapeutas focados no alcance do bem estar dos pacientes, adotando posturas abertas ao uso de técnicas voltadas a um ecletismo humanista e à busca da integração efetiva dos indivíduos, resgatados em sua singularidade, para atuarem no campo social, vão logo identificar porque me interessei em querer saber mais sobre o autor do blog, após ler o conto que me remeteu ao mundo das "carícias" e ao método psicológico criado por Eric Berne: Análise Transacional.

A Análise Transacional estuda e analisa as trocas de estímulos e respostas, as "transações" entre indivíduos em suas "fomes e interesses". A "AT" é um estudo psicodinâmico. Berne foca em sua análise, principalmente, os estados de ego, as transações, a posição existencial e o roteiro de vida. Para ele, o ser humano tem necessidade de "carícias", como tem de alimento: "Carícias são estímulos sociais dirigidos de ser vivo a outro".

Pelo método de Berne, criado em 1958, "nem o caráter, nem a personalidade devem coibir a autonomia possível e a criatividade do ser humano". Vale se inteirar da leitura proposta por Berne, que sofreu a influência de Claude Steiner, autor do conto que abordo,  e perceber os jogos de poder interpessoal, os scripts de vida, a necessária alfabetização emocional: um aprender a sentir, que í o que ambos propõem.

Já ouviram falar da estória do "saquinho de carinhos quentes" que recebemos ao nascer, e como ele pode ser transformado facilmente em "saco de carinhos frios"? Coloco logo abaixo, para que avaliem por vocês mesmos. Aliás posso afiançar que, adaptado, o conto "Uma História de Amor" (de Claude Steiner) daria uma bela dinâmica grupal.

Surpresa constatei que o blog foi criado por um terapeuta natural, com "formação em naturopatia". Curiosa lá fui eu verificar pelo Youtube, o vídeo de uma entrevista dada por Arnaldo Vieira de Carvalho em 30.04.2013 a um Programa intitulado "Ponto de Vida", onde ele aborda não só sua posição existencial, mas o roteiro de vida, que o conduziu para ela. Quem se interessar por assistir, vai ter que dar desconto para os intervalos. Para mim compensou  a decepção com as interrupções inadequadas, pelo conteúdo que pude apreender no "Quem é Quem?" que eu buscava.

E eu, me questionando, de onde surgiu esse rapaz? Eis o profissional do século 21... que traz seu exemplo pessoal de como mudar um padrão de vida e se posicionar firme no caminho escolhido, como ele mesmo diz, mesmo sendo a "ovelha negra" dentro de uma tradição familiar de médicos de renome... uau! ... E tudo começou com a genética das "enxaquecas familiares", que também já começara a atingi-lo, até que... É procurar ouvi-lo diretamente!

Ainda na entrevista acima, Carvalho pontua a necessidade dos profissionais se empenharem na múltipla-formação... e por aí vai!
Como colocou em aberto seu site, ajudo a divulgá-lo: www.arnaldovcarvalho.com

Entrei pelo "blog calor humano", buscando esse conto específico.
http://www.calorhumano.wordpress.com/2010/03/24/uma-historia-de-amor-claude-steiner
Caiu numa página do blog... Imagine se iria desistir...
Procurei pela homepage do blog, cliquei no setor "contos" e ...

Fiquei encantada com tantas temáticas. A meu ver, a maioria desse material esta à espera para ser transformada em ótimas dinâmicas sensibilizadoras do "calor humano" no mundo empresarial, ou em projetos educacionais.

Parece que Carvalho está reativando suas postagens recentemente.

Aliás continuando em minha leitura da sincronicidade das circunstâncias que nos cercam, não acredito que ter encontrado o blog de Carvalho foi tão por acaso assim. Ainda hoje, justo quando divulgava, via tweet - www.twitter.com/thompsonlm - uma notícia sobre o uso de pílulas e tatuagens "em vez de" senhas eletrônicas por nós memorizadas. Alertava sobre o perigo de nosso corpo estar passando a substituir um "token", mais um passo rumo a descaracterizar o humano que há em nós e outorgar esse poder a inteligências artificiais com controles à distância e no anonimato.

Confiram o conto do post de Carvalho:

"Neste conto, Claude Steiner, com muita sabedoria e ternura, sintetiza muitas idéias sobre carícia.
Era uma vez, há muito tempo, um casal feliz, Antonio e Mara, com dois filhos chamados João e Lúcia. Para entender a felicidade deles, é preciso retroceder àquele tempo.
Cada pessoa, quando nascia, ganhava um saquinho de carinhos. Sempre que uma pessoa punha a mão no saquinho podia tirar um Carinho Quente. Os Carinhos Quentes faziam as pessoas sentirem-se quentes e aconchegantes, cheias de carinho. As pessoas que não recebiam os Carinhos Quentes expunham-se ao perigo de pegar uma doença nas costas que as faziam murchar e morrer.
Era fácil receber carinhos quentes. Sempre que alguém os queria, bastava pedi-los. Colocando-se a mão no saquinho surgia um carinho do tamanho da mão da criança. Ao vir à luz o carinho se expandia e se transformava em um grande Carinho Quente que podia ser colocado no ombro, na cabeça, no colo da pessoa. Então misturava-se com a pele e a pessoa sentia-se toda bem.
As pessoas viviam pedindo Carinhos Quentes umas às outras e nunca havia problemas para consegui-lo, pois eram dados de graça. Por isso todos eram felizes e cheios de carinho, na maior parte do tempo.
Um dia uma bruxa má ficou brava porque as pessoas, sendo felizes, não compravam as poções e ungüentos que ela vendia. Por ser muito esperta, a bruxa inventou um plano muito malvado. Certa manhã ela chegou perto de Antonio enquanto Maria brincava com a filha e cochichou ao seu ouvido: ”Olha Antonio, veja os carinhos que Maria está dando a Lúcia. Se ela continuar assim vai consumir todos os carinhos e não sobrará nenhum para você”.
Antonio ficou admirado e perguntou: “Quer dizer que não é para sempre que existe Carinho Quente na sacola?”
E a bruxa respondeu: “Eles podem se acabar e você não ganhará mais”. Dizendo isso a bruxa foi embora montada na sua vassoura, gargalhando muito.
Antonio ficou preocupado e começou a reparar cada vez que Maria dava um Carinho Quente para outra pessoa, pois temia perdê-los. Então passou a queixar-se a Maria, de quem gostava muito, e Antonio também parou de dar carinho aos outros, reservando só para ela.
As crianças perceberam e passaram também a economizar carinhos, pois entenderam que era errado dá-los. Todos ficaram cada vez mais mesquinhos.
As pessoas do lugar começaram a sentir-se menos quentes e acarinhados e alguns chegaram a morrer por falta de Carinhos Quentes. Cada vez mais gente ia a bruxa para conseguir ungüentos e poções. Mas a bruxa não queria realmente que as pessoas morressem porquê se isso ocorresse, deixariam de comprar poções e ungüentos: inventou um novo plano. Todos ganhavam saquinhos que eram muito parecidos com o saquinho de Carinhos, porém era frio e continha Espinhos Frios. Os espinhos frios faziam as pessoas sentirem-se frias e espetadas, mas evitava que murchassem.
Daí para frente, sempre alguém dizia: “Eu quero um Carinho Quente”, aqueles que tinham medo de perder o suprimento respondiam: “Não posso lhe dar um Carinho Quente, mas se você quiser, posso lhe dar um Espinho Frio”.
A situação ficou muito complicada porque, desde a vinda da bruxa havia menos Carinhos Quentes para se achar e estes se tornaram valiosíssimos. Isto fez com que as pessoas tentassem de tudo para consegui-los.
Antes da bruxa chegar as pessoas costumavam se reunir em grupo de três, quatro, cinco sem se preocuparem com quem dava carinho para quem. Depois que a bruxa apareceu, as pessoas começaram a se juntar aos pares, e a reservar todos os seus carinhos exclusivamente para o parceiro. Quando se esqueciam e davam um carinho quente para outra pessoa, logo se sentiam culpadas. As pessoas que não conseguiam encontrar parceiros generosos precisavam trabalhar muito para conseguir dinheiro para comprá-los.
Outras pessoas se tornavam simpáticas e recebiam muitos Carinhos Quentes sem ter que retribuí-los. Então passavam a vendê-los aos que precisavam deles para sobreviver. Outras pessoas, ainda , pegavam os espinhos frios, que eram ilimitados e de graça, cobriam-nos com cobertura branquinha e estufada, fazendo-os passar por Carinhos Quentes.
Eram na verdade carinhos falsos, de plástico, que causavam novas dificuldades. Por exemplo, duas pessoas se juntavam e trocavam entre si, livremente, os seus Carinhos de Plástico. Sentiam-se bem num primeiro momento, mas logo depois sentiam-se mal. Como pensavam que estavam trocando Carinhos Quentes, ficavam confusas.
A situação, portanto, ficou muito grave.
Não fazia muito tempo, uma mulher muito especial chegou ao lugar. Ela nunca tinha ouvido falar da bruxa e não se preocupava que os Carinhos Quentes acabassem. Ela os dava de graça, mesmo quando não eram pedidos. As pessoas do lugar desaprovavam sua atitude porque essa mulher dava às crianças a ideia de que não deviam se preocupar com que os Carinhos Quentes acabassem, e a chamavam de Pessoa Especial porque se sentiam bem em sua presença e passaram a dar Carinhos Quentes sempre que tinham vontade.
Os adultos ficaram muito preocupados e decidiram impor uma lei para proteger as crianças do desperdício dos seus Carinhos Quentes. A lei dizia que era crime distribuir Carinhos Quentes sem uma licença. Muitas crianças, porém, apesar da lei, continuavam a trocar Carinhos Quentes sempre que tinham vontade ou alguém os pedia. Como existiam muitas crianças, parecia que elas prosseguiam o seu caminho.
Ainda não sabemos dizer o que acontecerá. As forças da lei e da ordem dos adultos forçarão as crianças a parar com sua imprudência? Os adultos se juntarão à Pessoa Especial e às crianças e entenderão que sempre haverá Carinhos Quentes, tantos quantos forem necessários? Lembrar-se-ão dos dias que os Carinhos Quentes eram inesgotáveis porque eram distribuídos livremente?
Em que lado você está?
O que você pensa disto?"
Texto retirado de : Shinyashiki, Roberto. A carícia essencial, Uma Estória de carinhos, S.Paulo, Ed.Gente, 1988.
A

Concluo esse post, pedindo atenção especial ao conteúdo desse conto!
Vale para refletirmos:

* como nossas leis foram e são adulteradas com a contribuição de nosso irresponsável silêncio e nossa cômoda aquiescência passiva;

* como nos remetemos ao saudosismo de um passado onde eram respeitadas, trocando a vivência prática pelo existir dentro da "bolha da fantasia ilusória" do cuidem de mim que "a vida é bela" , sem despertarmos para a necessidade de que conquistemos nosso espaço existencial, cada um de nós por si e dentro do coletivo, para alcançar o "status de vida boa";

* como idealizamos e sonhamos com uma época em que existam três Poderes, que administrem e protejam nosso social por serem consistentes em seus sistemas operacionais integrados, esquecendo de melhor escolher, através de nossos votos depositados nas urnas, verdadeiros representantes que sejam porta-vozes de nossas reais aspirações e não defensores dos próprios interesses ao serem eleitos - aliás precisamos saber os projetos dos partidos e dos candidatos antes de se elegerem, para podermos acompanhar suas atuações, ou talvez não votarmos novamente em quem não estiver à altura de nos representar no governo;

* como buscamos, esperançosos, que a Justiça em sua transparência constitucional e cobranças legítimas e legais, fortaleça medidas e atuações democráticas, para que possamos sair do caos da impunidade, que nos levou e nos mantém no "estado de anomia" atual, onde nossa sociedade foi aprisionada e continua ignorando seu "status deletado".

Aurora Gite