domingo, 16 de junho de 2013

"O Algo Mais"


Queria um termo que definisse a nova era que estamos vivendo, onde os conhecimentos e tradições passadas não nos servem mais como referências para um sólido bem-estar. Aliás, nada mais guarda o caráter de solidez, proteção de um pensar estático e segurança social para um bem viver.

Em nossas próprias reflexões podemos observar a característica da mutabilidade nas formas de pensar, a flexibilidade para bem conviver com o raciocínio sobre processos, não mais saciados com o alcance de bons resultados. Vivemos a época da inovação e criatividade para inventar novas metas na busca de "O algo mais".

Minha curiosidade me fez questionar o que seria "O algo mais", que faz a diferença nesse milênio?

Época do desassossego, da intranquilidade, da insegurança, da incerteza inicial, que pouco a pouco vai se acomodando ante a nova visão de homem e de mundo, mais dinâmica, mais fundada numa leitura sobre a energia vibracional que nos envolve, sobre a qualidade do clima que aspiramos fisicamente e respiramos emocionalmente.

Era que não demanda só o pensar supérfluo e constatação de estatísticas sobre focos recortados da realidade , mas o pensar reflexivo e análise de tendências da visão sistêmica que envolve o todo da humanidade. Novas formas de raciocinar, entrelaçar pensamentos e cruzar dados, sobre as características envolvidas nos processos de pensar e em "o algo mais" que deles poderão advir.

Nova era exigente de novas atitudes responsáveis por sucesso na vida pessoal e profissional, que demandam posturas que vão além das qualidades, habilidades ou características pessoais; ou seja, de atribuições que vão além da própria natureza, personalidade, educação familiar ou transmissão cultural.

Hoje quem leva vantagem é quem demonstra coragem, garra, firmeza, perseverança, agilidade de raciocínio, autoconfiança ou capacidade de realizar e assumir riscos... e a segurança que resulta da vivência dessas posturas. Eis os dados a serem agregados para se levantar perfis do homem do milênio que queira se inserir no mercado de trabalho e nas parcerias amorosas, que queiram ter valor sendo reconhecidos e admirados nesses setores de convivência.

Ao pensar em insucesso na vida amorosa, financeira ou no trabalho gratificante, agora logo me vem a ideia de que "o algo mais" faltou. O sucesso, a meu ver, é marcado por três pré-requisitos: conhecimento, perspectiva e atitude. Esse triângulo está na base das diferenças, como diz Michael Hammer em seu livro "Além da Reengenharia".

Não se pode deixar de reconhecer a evolução, ou revolução, em uma seleção de talentos e no mapear a postura de um profissional, cruzando os novos perfis com os requisitos que a função a ser exercida demanda. Hoje não faço tanta distinção dos mesmos com os critérios das escolhas amorosas. Todos temos na imaginação uma imagem ideativa estática de um parceiro amoroso, sabendo, com mais amadurecimento emocional, que temos que buscar bem encaixar esse ideal com nossa maneira de ser e de existir no cotidiano, mas com "o algo mais" direcionando a uma busca contínua de melhores interações, de inovações diferenciadoras que fazem com que perdure a admiração recíproca na vida a dois - ou o reconhecimento no fluxo empresarial.

Nessa nova era, o companheiro amoroso e o executivo, com outros pesos e valores, têm seu mercado de trocas, tanto nas parcerias afetivas quanto nas convivências sociais e no trabalho, orientados para uma compreensão global das relações - que envolve a "sinergia do conjunto de processos interativos":
de bem administrar diferenças, de autogerenciar os lados sombrios das personalidades para bem conviver com as afinidades pessoais, e de autocontrolar reações negativas frente a "maus" e "bons" resultados.

Acredito que não poderia ser diferente nesse novo mundo globalizado de mudanças aceleradas, onde se observam:
* graves crises de identidade, pela quebra dos possíveis quadros referenciais;
* variadas formas de agir e pensar invadindo até nossa maneira de sentir e interferindo em nossas respostas emocionais;
* que não se pode mais pensar nos resultados, isoladamente, mas na maneira como eles foram alcançados, nos processos que possibilitaram se chegar a metas;
* que, ao serem atingidas, as metas alcançadas já podem estar obsoletas, não mais se adequando ao "agora" de nosso "bem viver";
* que, algumas saídas, a meu ver, podem ser vislumbradas, resgatando o potencial humano tão vilipendiado nas últimas décadas.

Só o processo, raciocina Hammer, ao alinhar com eficiência, um grupo de tarefas separadas, cria um resultado que tem valor para o consumidor (de uma rede doméstica, familiar ou empresarial). Uma tarefa bem realizada, sozinha, não cria nenhum valor real. Boa performance (conhecimento+técnica), no aqui e agora, logo estará defasada, não mais servindo para hierarquizar processos seletivos pessoais ou coletivos.

"As atividades de rotina estão se tornando um componente cada vez menores nos cargos modernos", diz Michael Hammer em seu livro. "Podem ser eliminadas, automatizadas, transferidas" - afirmações sem levar em conta o acelerado desenvolvimento da tecnologia de inteligência artificial dos humanóides, ou robôs prontos a substituir o homem em muitas funções no mercado de trabalho e mesmo na facilitação em várias áreas da convivência humana, como por exemplo, ajuda em casos de doenças ou limitações físicas.

A grande reviravolta do milênio está voltada ao desafio de "saber como pensar o algo mais". O adicionar valor está em saber aplicar o conhecimento e usar a criatividade para inovar em qualquer situação, abrindo espaço para a expressão do próprio diferencial.

Não leva mais vantagem quem sabe apenas aplicar regras, fazer reuniões para debate, ou valer-se de procedimentos passados para avaliações de seus desempenhos pessoais ou de sua equipe. Não leva mais vantagem quem promove diálogos, tipo "DRs", seguindo essa mesma linha de raciocínio.

A postura correta na era de "o algo mais" pertence aqueles que se tornaram capazes de pensar com clareza, objetividade e originalidade, abarcando com olhar perspicaz as "tendências" de mudanças e investindo em competências pessoais duráveis, que não vão se tornar obsoletas, pois estão à frente, voltadas ao futuro, na direção do "por vir" apontada pelas tendências vislumbradas.

Destaco, ainda, no raciocínio sobre o processo interacional, a capacidade estratégica e inovadora para criar coisas inéditas, e volto a frisar, dentro de uma visão sistêmica e abrangente do todo, do fazer acontecer, introduzindo mudanças reais.

Em um agir ético  preservando a integridade e o próprio "feeling", é preciso ainda relembrar alguns aspectos, que não fazem parte da vontade da atitude de inovar, como:

* Ficar remoendo falhas, ou se culpando por erros, em vez de interpretá-los como oportunidades para mudar e buscar acertar.

* Ficar buscando desculpas para o que não deu certo, ou justificar as próprias falhas atribuindo a culpa aos outros.

* Não ter disposição para assumir riscos, não investindo em suas "competências duráveis" mas em conhecimentos externos específicos e descartáveis, de fácil substituição, que recordam mais que "os resultados obtidos no passado não garantem nada para o aqui e agora".

Não é fácil abraçar o desafio de "saber fazer acontecer" através do "saber pensar o algo mais" ... demanda que, segundo acredito, não vai abandonar o ser humano no milênio.

Atitudes a serem incorporadas pelos novos inventores: habitantes no mundo inovador do milênio...

Confesso que é uma possibilidade que me encanta, e que a adoção dessa postura me cativa.


Aurora Gite



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