sexta-feira, 31 de maio de 2013

Por que é tão difícil essa amizade?

Uma das postagens que mais gostei:
 "Amizade:parentesco de alma?"
Meu convite ainda continua de pé!
Tem certeza que ainda não partimos do mesmo referencial?

Não custa reiterar o convite, não é?

Sendo assim reencaminho-o:

Você topa fazer uma viagem junto comigo ? Vamos ao encontro de uma amizade verdadeira, escapando da pré-fabricada?


O que vem à sua mente ao pensar em amizade? A ideia de uma cumplicidade fiel e leal? Então essa conversa começou bem, pois partimos do mesmo referencial. Também entendo que confiabilidade e segurança, fidelidade e lealdade, são qualidades essenciais, para que esse tipo de vínculo se alicerce. Quem é fiel, é firme, constante, perseverante. Quem é leal, é franco, sincero, digno, honesto.


Estamos de acordo, não é? Então, podemos seguir adiante? Podemos nos dar as mãos e caminhar juntos?


A amizade é uma relação a dois sempre, senão vira um fenômeno virtual, onde se busca suprir carências e necessidades através das projeções depositadas no outro, que se torna mero objeto de extensão da própria pessoa. 


Concordamos aqui também? Ótimo, porque todo fenômeno inter-relacional demanda de uma clareza contratual entre as partes envolvidas. Dessa colocação de limites é que depende a sua sobrevivência ante a violência destrutiva do mundo cão atual, a ausência de cortesia e delicadeza entre as pessoas, a expansão e frieza dos vínculos sado-masoquistas - onde um sente satisfação interna ante a insegurança e dor física ou psíquica do outro . Pense na inveja para exemplificar tudo isso em seu cotidiano. 


São os limites acordados nesse contrato que aplacam, ainda, o vazio e dor da saudadesinal de que o outro adquiriu importância em nossa vida afetiva.


Que tal sairmos do racional e nos embrenharmos, um pouco mais, rumo ao nosso "sentir" ? Vem comigo então!


Na amizade não existe uma aliança implícita, um duplo cuidar e zelar pelo bem-estar do outro, uma troca de generosidades e gentilezas, uma sensação prazerosa ante a observação da felicidade do amigo? Não é um tipo de "pacto de sangue" ante o tesão químico sentido? Não é uma "irmandade de alma" pela pureza do sentimento e assexualidade física?


Você já notou que ela é um exemplo vivo da relatividade do tempo e espaço ? Não é a presença física direta que a mantém. Após anos de afastamento, no reencontro dois amigos se sentem no mesmo ponto do passado interrompido. O tempo cronológico parece ter parado. A sensação de união retorna do nada, mas emerge com plena força. O contentamento vem por si.


alegria ao ouvir o tom da voz do amigo, e o prazer da troca de olhares, por si só já expressam o afeto. Não há necessidade de toque ou aproximação física mais direta. A satisfação vem da cumplicidade de almas. Não há cobranças expressas. Não há deveres e obrigação impostos. Ocorre o respeito e aceitação pelo que o outro "é", e a compreensão que deu o melhor de si naquele momento de sua existência, naquela circunstância que cercou a relação. Às vezes nem é o que esperamos, mas o que ele pode dar.


Você percebe a grandiosidade dessa disponibilidade entre amigos? O contrato não se rompe tão facilmente; não se abala pela mesquinhez e agruras situacionais do cotidiano descartável.


amigo nos surge como um conjunto harmônico, onde é difícil separar as partes do todo. Tudo é ritmado no compasso da amizade mesmo ante desacordes de opinião ou crises individuais existenciais. Não é aí que surge o "ombro amigo" que nos acolhe, e com sua tolerância à nossa condição humana, nos impulsiona a superar os obstáculos, e melhor selecionar e afinar os instrumentos para, novamente, entrarmos em sintonia melódica com a vida?


É a lealdade na amizade que carregamos como melodia em nosso íntimo. Sua vibração persiste por longo e longo tempo. Seu entoar contamina nossa disposição interna e nos pegamos rindo à toa, saboreando na memória a dança de duas almas. É ela o maestro, que regula a pausa, o silêncio, o compasso de espera para o posicionamento adequado de dois amigos, e que busca, pontuando o tempo certo, mobilizá-los a acertar em suas entradas e harmonizar seus passos no relacionamento.



Um brinde a uma amizadeparte de uma missão impossível? 
Ou, valendo minha determinação e perseverança, "quase impossível". Tem certeza que não poderia existir uma probabilidade dela acontecer a partir de agora?
 
Aurora Gite

terça-feira, 28 de maio de 2013

Como lidar com as constantes descobertas da Física Quântica?


Confesso que estou assustada!
Como lidar com as constantes descobertas da Física Quântica?

Há algum tempo escrevia eu:
Novos rumos, ventos solares e pássaros quânticos...e minha mente borbulhando de idéias, esperando "trocas"!

E lá vou eu, outra vez, me debruçar na "janela visionária" de meu castelo profissional, observar a natureza, os novos paradigmas envolvendo o ser humano, e contar com a aproximação de um físico quântico, na iluminação desse novo alvorecer. tal a proporção das novas descobertas. Dessa vez, me faço acompanhar por Amit Goswami e seu livro "A Janela Visionária" (Cultrix 2006).

Não posso negar o misto de tesão e ansiedade na retomada desse trilhar. Alguns pacientes surgem em minha memória e minha "consciência", lhes dá a condição de presença viva em meu aqui e agora.

Recordo nosso caminhar juntos. Ao me permitirem a entrada em sua mente, buscando a compreensão do funcionamento de seu mundo psíquico e da dinâmica mobilizadora de suas ações, eles também foram incorporados em meu mundo interno e me facultaram muitas auto-descobertas. E assim se ultrapassa a ponte do mundo físico (material) ao psíquico (energético), num constante ir e vir.

Quantas vivências compartilhadas... transferências e contratransferências... energias se misturando e se separando ante insights que ocorriam... quantas mudanças contínuas e descontínuas.

Para quem não sabe, transferência se refere aqui aos sentimentos que o paciente inconscientemente vincula (transfere) ao terapeuta, mas que, na verdade, se originam de relacionamentos anteriores. Contratransferência é o reverso, ou seja, sentimentos irracionais que o terapeuta tem em relação ao paciente. Esses fenômenos inconscientes também fazem parte de nosso dia-a-dia e são muito comuns na vida de relação, ocasionando grandes distorções na realidade dos envolvidos.

Mas lá estava eu "surfando", no encontro terapêutico, entre as ondas de possibilidades e probabilidades, contando com minha intuição e criatividade, para ajudar cada paciente em seu encontro com sua consciência auto-referente.

E lá estava eu "buscando", através de uma observação consciente e atenção flutuante, provocar o colapso da onda de possibilidades passadas e futuras, trazendo o paciente para seu aqui e agora, integrando-o ao seu propósito criativo de vida, criatividade que lhe é imanente.

E lá estava eu "questionando", tanto o efeito temporário de mudanças contínuas ( de causas e efeitos em espaço e tempo definidos), quanto as interpretações que vinculavam os pacientes à cabeça (ao pensar) de seu terapeuta. Não desconsidero a importância do espaço terapêutico e da qualidade do vínculo estabelecido, mas eu almejava a integração da pluralidade de teorias, para que o homem em si emergisse em sua unidade, e fosse compreendido sob vários pontos de vista.

Lembram do papel atribuído ao observador consciente pela física quântica, que ocasiona o afunilamento do espectro das possibilidades, para sua convergência num ato ou objeto único?
Segundo Goswami, toda escolha a partir das possibilidades, vem da intervenção de nossa "consciência" . Sendo assim, ela é que cria a realidade. E eis minha intuição gritando: "É por aí, vai atrás desse conhecimento!"

E lá estava eu "enfatizando" a vida relacional como experiência emocional corretiva, buscando saber mais sobre a dinâmica energética da rede inter-relacional.


Faço minhas algumas das indagações de Goswami:
Que força imaterial poderia interagir com a matéria?
Como obter essa interação imaterial?
Empatia e aversão...atração e rejeição...campos de energia e de força?
Integração do indivíduo com o Cosmos?

Tudo me encaminhava para uma leitura energética dentro de uma visão holística ( integrada) de mundo. O ser humano é bem mais que um sintoma. Seu sintoma é um ato criativo para indicar alguma disfunção. E essa, na maioria das vezes traduz seu "sofrimento existencial".

Com avidez fui em busca dos conhecimentos da física quântica. Queria mais que o contato entre intelectos. Já reconhecia que a consciência tem um papel decisivo na configuração da realidade. Mas queria a experiência, queria através de uma vivência pessoal comprovar por mim mesma.


E lá estava eu não atrás do silêncio, mas do diálogo. Não buscava monólogos e atitudes separatistas. Meu coração me integrava na relação (eu-outro se transformando em "uno"). Não me bastava minha capacidade racional ou facilidade no cruzamento de dados.

O diálogo interno no contato com o paciente se aquietou, e se estendeu para a vida pessoal de relação.

A palavra "diálogo" deriva de "dia" ( palavra grega que significa "por meio de" e de "logos" que significa palavra) e vai além da comunicação por meio de palavras, envolve uma troca de sentido entre os que se comunicam, outra dimensão do psiquismo humano.

E é aqui que tudo se complica. Querem ver?
Eis um fato que poderia ocorrer no cotidiano de qualquer um.

Lá estava eu numa sala de espera, quando uma mulher se aproximou e começou a se queixar da relação com o marido, onde não havia diálogo, embora muita tentativa "da parte dela", para que ele ocorresse. E ela continuou, ao me perceber como ouvinte atenta: " Imagine que hoje pela manhã, ele pediu a minha opinião sobre se devia ir ou não no casamento de um parente. Logo retruquei, que agora é que ele queria saber o que eu achava? Por que não me consultou quando o parente ligou há dois dias? E ele ficou em silêncio, veja só! Nem continuou a conversa. Ele não sustenta um diálogo."

Que diálogo? Fiquei me perguntando.
Existiu uma comunicação, um fluxo de sentido entre eles?
Em que clima transcorreu o contato?
Existiu um campo energético entre eles, que propiciasse um vínculo aconchegante a uma cumplicidade na comunicação?
Ele chega e se aproxima, de peito aberto a coloca na relação. Ela "pisa na bola, dentro de seu egocentrismo", o exclui da relação.
E ainda reclama da atitude defensiva dele e de seu afastamento.

Haja "Física Quântica" para iluminar nossa rede de convivências, ou como muitos a consideram, de conveniências!

"E lá vou eu, buscando, surfando, questionando, enfatizando a procura e o encontro da relação afetiva idealizada no real do cotidiano... e no buscar, surfar, questionar, enfatizar ... lá estava eu (Consciência)".
Tudo ocorreu de forma tão imprevisível! 
Fui tomada de enorme espanto pela minha receptividade.
Não vou negar a estranha impressão e a dúvida se estaria morrendo. Ao perceber que não, surgiu por breve instante sendo logo rechaçada, a curiosidade: "Será que o morrer é assim?".

Recordo que aconteceu de repente, sem que minha volição se manifestasse para interromper a sequência da energia desconhecida que me mobilizava. Desconheço como surgiu dentro de mim e tenho dificuldade ainda para encontrar palavras para descrever essa estranha vivência. A sensação foi de uma mola me elevando, não o meu corpo, mas a minha mente. "Seria assim um salto quântico?" 

O impulso de propulsão não foi voluntário. Uma conexão foi estabelecida. O outro polo é que direcionava esse movimento interno. A percepção do real não desapareceu, mas perdeu o foco. Eu sabia onde estava, mas intuitivamente, não pela via perceptível que nos é conhecida. Tempo e espaço se diluem nesse momento (intervenção do hemisfério direito do cérebro, segundo experiência direta, da neurocientista J.B.Taylor). Fui tomada por uma sensação de prazer intenso, calor e claridade, paz e harmonia, quietude e suavidade, plenitude e infinito - sensações de uma amplitude diferente da que captamos através dos sentidos que nos são conhecidos. Experiência indescritível. Nossa compreensão não abarca com palavras. De repente, a imagem de minhas filhas, precisava voltar (intervenção do hemisfério esquerdo). E o "brusco rompimento suave" da conexão.

O que me restou? As sensações paradoxais de uma perda feliz e de uma saudade alegre, e a constatação de muita força interna ( sensação de um recarregar de pilhas). Anos e anos se passaram, e essas sensações persistem. Só agora estou chegando mais próximo de entender o que ocorreu.
Recentemente, tendo assistido a alguns vídeos pelo YouTube, da série "Além do Cosmos" particularmente os que envolviam o Tempo e o Espaço, ou o Espaço-Tempo Einsteiniano, vejo reforçada minha certeza: a humanidade entrou em "nova era", que se preparem os "físicos quânticos", e que nossa sociedade possa estar aberta a uma nova visão de mundo, a uma "nova forma de pensar nesta coisa que nós chamamos de "pessoa", de "ego", de "ser", de "eu", como pontuam os físicos em seus comentários na série indicada acima. 

Confesso que as teorias especulativas atuais sobre um Universo Holográfico, geradoras de espanto e surpresa até para muitos físicos quânticos que acompanham de perto o mundo subatômico e acreditam que possam vir a ser comprovadas cientificamente em futuro não tão distante, me assustam. 

Posso entendê-las por analogia ao uso e armazenamento de informações em minúsculos "chips", recursos tão difundidos pela tecnologia atual em várias áreas, até com implantações voltadas ao setor da saúde. 

Posso reconhecer, por vivência direta, a existência dentro de nós de uma força antigravitacional ... vivência essa mais ameaçadora ao ser recordada através da memória unida à imaginação, mas muito acolhedora se me atenho à lembrança da experiência real.

Posso até entender racionalmente, pela análise dos dados que chegam e pelo cruzamento das informações científicas de tantos físicos quânticos, mas ainda não as assimilo compreensivamente, como gostaria ... abarcam realmente uma nova forma de pensar.
O que fazer? Cruzar os braços e ficar sob a tutela dos que já digeriram essas informações?

Eu não! Vou "arregaçar as mangas" , partir para a luta "em busca dos novos conhecimentos", e estar aberta a que agucem, mais e mais, minha curiosidade!  Vem comigo?

Aurora Gite

domingo, 26 de maio de 2013

Será que o tempo parou ou o pessimismo se expandiu pela entidade espaço-tempo de nosso psíquico?


"O tempo leva muitas coisas, mas tem coisas que só o tempo traz" como a coragem, a temperança, a serenidade... sábias virtudes tão bem descritas e analisadas por Bobbio, que também discorre sobre as forças internas - energias de nosso mundo psíquico - mobilizadas por elas, em seu livro
 "Elogio da Serenidade e outros escritos morais"/ Norberto Bobbio - São Paulo: Editora UNESP, 2002.

Bobbio considera a serenidade como a mais nobre das virtudes:

 " O homem sereno não é nem submisso nem concessivo, porque a concessividade é a disposição daquele que aceitou a lógica da disputa, a regra de um jogo no qual, ao término, há um que vence e um que perde .[...]O sereno não guarda rancor, não é vingativo, não sente aversão por ninguém. Não continua a remoer as ofensas recebidas, a alimentar o ódio, a reabrir as feridas. Para ficar em paz consigo mesmo, deve estar antes de tudo em paz com os outros. [Tranquilo] jamais é ele quem abre fogo; e se os outros o abrem, não se deixa por ele queimar, mesmo quando não consegue apagá-lo. Atravessa o fogo sem se queimar, a tempestade dos sentimentos sem se alterar, mantendo os próprios critérios, a própria compostura, a própria disponibilidade." (Bobbio, p.41)

Acredito que reflexões sob a perspectiva desse pensador sejam de grande valia para os dias de hoje.


Revendo o post abaixo fiquei me perguntando:
"Será que o tempo parou, pois seu conteúdo continua valendo para o momento social presente, ou será que o pessimismo é que se expandiu ocasionando que tantas pessoas tenham desistido de lutar para conquistar sua serenidade?"

QUARTA-FEIRA, 9 DE DEZEMBRO DE 2009


O mundo atual justifica o pessimismo?

No mundo atual, a violência sádica e a falta de amor, a corrupção e devida impunidade, a descrença no ser humano robotizado ante uma mídia, que busca maior envolvimento da sociedade com seus enfoques apelativos, refletem uma realidade que parece não ceder lugar para o otimismo e a esperança de um mundo melhor.

Muitas vezes sou considerada idealista ao refutar tais assertivas e defender que o mundo atual não justifica o pessimismo. Ele é uma representação abstrata. O real somos nós. Ele é feito por todos nós, seres humanos...e pensantes. Nós é que lhe outorgamos o "status" de poder, de autoridade independente, nós lhe atribuímos erroneamente o comando de nossas existências, nós é que aceitamos nos subjugar e abrimos mão de nosso direito de viver com esperança e de lutar para concretizar nossos ideais.

Cada vez que desativo o autocontrole, abandono a liderança sobre meu agir, pensar, sentir e principalmente "intuir", deixo-me envolver pela realidade que me é imposta, minha visão torna-se imperfeita e meu julgamento distorcido.

No entanto, ao entrar em sintonia comigo mesmo, buscando equilíbrio e paz interior, passo a considerar, com maior atenção e vigilância, meu papel na sociedade.

Sinto a flexibilidade e leveza do "ser livre" , e o peso da enorme responsabilidade advinda dessa autonomia.

Culpas e autocríticas cedem lugar a aceitações modestas e resignações humildes de minhas imperfeições, reconhecendo que através delas é que posso fortalecer minha estima e coragem para estar no mundo, como agente de mudanças; e para me posicionar como meu melhor amigo, principalmente na frente das adversidades.

Minha liberdade de escolha me permite atuar dentro da sociedade, predominantemente espalhando amor, gratidão, união, credibilidade, confiabilidade, lealdade; ou incrementando a discórdia, a ira, a inveja, a rivalidade, a competição insana; ou ainda cruzando os braços, e passivamente contribuir para a manutenção do caos mundial e da psicopatia social, com a frieza paralisante da indiferença com o sofrimento de outro ser humano, que já se alastra aceleradamente...Ganhou até o status de normal! O espanto agora recai sobre quem ajuda alguém, quem devolve uma carteira cheia de dinheiro a seu dono, quem consegue separar brigas - grotescas pela ferocidade - entre adolescentes escolares, quem delata agressões de parentes e empregados a octogenárias, e por aí vai.

E aí , vai vestir o manto pesado do pessimismo, ou vamos lá, lutar por nossos sonhos?
Mas, primeiro, cabe a cada um de nós controlar nosso agir, comandar nossas atitudes e pensamentos e, talvez o mais difícil, tolerar nossos afetos.

Aurora Gite

P.S.
Em resposta: pesquiso, no momento, a intuição. Essa faculdade de intuir está presente em todos nós, mas só é ativada, e considerada com seriedade, por poucos. Pequena parcela de pessoas se dispõe a escutá-la de forma científica. Ter fé é intuir algo. Ter esperança também. Aqui é onde me incluo.

Hoje - 2013 - continuo defendendo o estreito vínculo da Psicologia com a Física Quântica.Tenho cruzado a operacionalização do caleidoscópio de nosso psiquismo com as leis que regem o mundo quântico. Qualquer pessoa pode constatar a real existência do espaço psíquico e verificar que as energias, que nele atuam, podem ser facilmente observadas em sua mobilização de forças em nosso psiquismo, que servem como referência para a compreensão de nossas reações subjetivas ou comportamentais.

Atualmente penso numa "ideia como um elétron do mundo psíquico", e uma "sugestão, ou um leque de ideias alternativas, como uma onda quântica de probabilidades". Atribuo eventos psíquicos como a sincronia telepática - ou mesmo o apego e a atração/aversão dos vínculos afetivos - a esses fenômenos quânticos, que ocorrem dentro do espaço subjetivo de cada um de nós.

A meu ver, no mundo psíquico pode-se observar a "entidade espaço-tempo einsteiniana". As perspectivas passado-presente-futuro aí se manifestam entrelaçadas, acumuladas no aqui e agora de nosso existir. Eventos ocorridos na infância passam a interferir em nossa realidade, como se estivessem acontecendo no momento presente. Expectativas sobre um futuro distante podem gerar medo e paralisar ações em nosso agora existencial, chegando, inclusive, a ser responsáveis pelo fenômeno do pânico, com graves transformações químicas em nosso metabolismo.

Cada vez mais acredito que a alteração no "tecido espaço-tempo subjetivo", por ideias de maior peso valorativo por sua "carga afetiva", gere o efeito gravitacional atraindo as demais ideias em nosso pensar e sentir - premissas a novas interações energéticas que determinam nosso agir. Penso que passem a formar "buracos nucleares ideativos" que constituem o que correntes teóricas psicológicas chamam de "complexos" psíquicos.

Realço o caminho percorrido por vários cientistas. Alguns têm suas ideias consideradas bizarras para o momento histórico em que vivem. Muitas dessas ideias são rechaçadas e sua credibilidade de pensador posta à prova. Gosto de citar Peter Higgs, físico inglês: "Me disseram que eu estava falando bobagem, que eu não poderia estar certo. Claro que ninguém entendia o que eu estava falando." Como ele estava convencido de que tinha feito uma grande descoberta, enfrentou as rejeições iniciais à sua ideia sem se abalar, insistiu e aprimorou sua teoria. Hoje a "ideia pioneira de Higgs, chamada de Campo de Higgs, é crucial para nosso entendimento do espaço", segundo observação do físico Brian Greene.

Indico, a quem se interesse, a série em vídeos intitulada "Além do Cosmos" (National Geographic), particularmente sobre o "Espaço" e o "Tempo", ainda disponível no canal do Youtube.

Encerro essa postagem com a frase de William James:
" Uma ideia nova primeiro é considerada ridícula, depois é desprezada e considerada sem importância, até que finalmente transforma-se naquilo que todo mundo sabe." 

Aurora Gite


terça-feira, 21 de maio de 2013

"Quem me roubou de mim?"

Li, ansiosa com o desfecho, o conto "Um pássaro em sua gaiola" de Lima Neto, sua última postagem em www.lugardaspalavras.blogspot.com.br
Quanta gente engaiolada no mundo!
Mas há sempre o momento certo, até para ser livre e voar, não é?

Logo associei ao livro "Quem me roubou de mim?" (Melo, 2008), que me afetou profundamente quando o li, e ainda toca, minha alma e minha razão, ao recordar seu conteúdo.

Melo aborda as dificuldades das relações humanas, nos convidando a um mergulho em nossa subjetividade "a fim de nos fazer conhecer a nós mesmos e a descobrir como viver e conviver melhor não só com as pessoas que nos cercam, mas com todos que passam pelo nosso caminho".

O autor destaca a capacidade do ser humano de ser singular dentro da pluralidade do mosaico de sua vida. "Ao nos juntarmos aos outros para compor o todo, não deveríamos deixar de ser o que somos"... mas não é bem assim que os encontros se sucedem em nosso cotidiano.

Toda relação, segundo ele, é um encontro de subjetividades. A vida é feita desses encontros. Mas como viver "a dinâmica de um mundo que é plural, sem que nossa subjetividade corra o risco de ser sufocada, sequestrada"?

Ou como ocorre, e atualmente cada vez mais,  roubada e aprisionada em verdadeiros "cativeiros" - talvez "gaiolas" soe melhor socialmente, talvez "jaulas" seja a preferência dos que reconhecem sua raivosidade animalesca - e com nossa plena anuência de feras feridas isoladas.

Melo chama nossa atenção para como "é fácil se perder na pluralidade do mundo, perder a liga existencial (cordão que nos costura a nós mesmos), entrar nos cativeiros de relações sociais (que nos subjugam, nos sequestram e nos lançam, temerosos e mais inseguros, nas prisões sutis da dependência e escravidão". Vai mais além e nos confronta com a nossa facilidade para entrarmos cegos nos "cativeiros dos que nos idealizam, nos esmagam, nos desconsideram, pensam que nos amam, nos viciam, pensam por nós".

A preservação da subjetividade implica no fortalecimento de nossa identidade e no exercício de uma liberdade interna, que nos faculta a posse de nós mesmos. Sendo assim, quando Melo se refere a um sequestro da subjetividade, fala sobre a consequente perda de referenciais identificatórios e da inteireza que nos torna um sujeito particular, apto a realizar escolhas, livre para tomar decisões por si e ser responsável por elas, independente dos resultados que provoquem.

De acordo com o autor, "sentir-se privado de ser você mesmo equivale ao afastamento de seu mundo particular de significados e representações", sendo o cativeiro a "negação do direito de ser e estar, e com o tempo o esquecimento de ser o que você é - forma de aniquilamento de nossa condição primeira que chamamos de identidade e perda, então, do centro interno dos próprios referenciais".

Sendo assim, "o cativeiro mina nosso amor-próprio e nossa auto-estima, nos faz perder de vista a sacralidade da condição humana". "Tornar-se pessoa", equivale dispor de si ("ser de si", "ter posse do que se é") e ir mais além ao estar disponível para si e se voltar para o elo da relação, ao se permitir receber a visita do outro em sua vida.

Para Melo, a presença dos outros em nossas vidas vai não só nos indicar o que somos, mas também abrir nossa percepção de que, após descobrirmos quem somos, ainda precisamos entrar num processo contínuo de nos conquistarmos: "Cada pessoa é uma propriedade já entregue, isto é, dada a si mesma, mas ainda precisa ser conquistada... Eu já sou meu, mas preciso me conquistar". Isso significa me curtir e valorizar, para me colocar no mundo.

Essa jornada parece tão simples, não é? É "só" passar pelas etapas da personalização, da socialização, da individuação, da subjetivação, da espiritualização... É "só" esse caminhar que nos possibilita ser donos de nós mesmos. É simples? Tem como ponto de partida a condição de "só" não existir de qualquer jeito, "dizer não" à massificação e à superficialidade de uma vida artificial.

"Só?". Tente chegar ao terceiro patamar, o da individuação e vai ver como é preciso coragem e determinação, como vai requerer esforço e empenho, disciplina e tolerância; muita paciência para conviver com os fantasmas dos nossos próprios medos, interagindo dentro da rede imaginária, com os medos dos que nos cercam, e dos que são fabricados pela manipulação do social no qual estamos mergulhados, quando não atolados.

Continua Melo, "O medo nos priva de inteligência, ainda que temporariamente. Paralisados pelo medo é estarmos privados de nós mesmos... A perda da coragem de lutarmos por nós mesmos, implica nos alienarmos, depositando nas mãos de estranhos o poder de decidir o desfecho de nossa existência". É a rendição à convicção de que "o outro decidirá o destino de nossas vidas, e com isso a autoridade que subjuga vai se tornando o centro de decisões e além de mais fragilizar, passa a ter cada vez mais controle sobre o vitimado". O que se coloca como vítima mais se priva de lutar com autonomia "por sensações que lhe são agradáveis e o fazem feliz, pois a rendição envolve o acorrentamento de sua alma (vontade, liberdade, desejo)". Cada vez aumenta mais o abismo e se coloca mais distante sua possibilidade de devolver-se a si mesmo.

E o círculo fechado ao redor do sequestrado, vai se apertando e, mais e mais, aumenta sua pressão sobre ele. Quanto mais encapsulado na condição de vítima, no mundo do "tanto faz", perdendo a capacidade de dizer "não", e com maior perda de autonomia caindo na insegurança  seguida pela indiferença do "não sei se...", mais reforça o consentimento  a "uma espécie de invasão de sua vida", passaporte para a "violência velada sobre si" que, comodamente, tem sua responsabilidade atribuída "só ao outro".

Raivas são acumuladas - sob a conotação e maquiagem social de mágoas e ressentimentos - e são represadas, mal sustentando uma auto-violência, grande potencial agressivo prestes a implodir através de ações autodestrutivas, ou a explodir em agressões projetadas, voltadas a ferir quem estiver ao redor.

Interessante as perspectivas de Melo sobre identificação e diferenciação."Sou isso", implica uma negação e renúncia, visto que "Não sou aquilo". A identidade, estabelecendo limites à realidade, delimita nosso encontro conosco mesmo, legitimando nossa natureza. Nesse sentido, "aprender a conhecer os limites que se tem é um jeito interessante de potencializar as qualidades que nos são próprias".

O perigo está em que ao negarmos nossa identidade, nossa forma de ser e de existir, "todas as potencialidades ficam fragilizadas pela confusão entre o que a pessoa pode e o que ela não pode  inclusive, ... nessa desumanização ela perde seu horizonte de sentido, sua subjetividade deixa de ter valor... como ser humano fragilizado fica vulnerável e, acrítico, facilmente é roubado de si mesmo."

Como o sequestrado não se dá valor como pessoa, o outro, que o submete tornando-o dependente de si, vai tratá-lo como um "bem útil". Sendo visto como um "isso", um objeto, passa a ser coisa nas mãos de quem o desconsidera. Alguém colocado na condição de "algo" vive a "negação de sua dignidade", analisa Melo.

Qualquer relação amorosa, que vier a acontecer nessa condição, é fonte de grande ameaça e temor, pois ela comporta o risco de se perder no outro, por não ser ainda dono de si. Mais ainda, se o afeto envolver relações que sequestram, um "eu" vai sempre tentar sufocar o "tu", pois o outro "não é visto em sua alteridade, mas como extensão das necessidades de quem o enxerga". Nesse sentido, o "eu" em solidão, sem interação, não poderá crescer e "amar não vai pertencer a essa relação", não tem campo para o amor se desenvolver dentro desse tipo de relação, onde ambos se autodestroem.

Segundo Melo, por um lado, "amar não é fazer do outro nossa propriedade, ninguém é tão completo que seja capaz de preencher totalmente as necessidades do outro"; por outro lado, "sempre que alguém chega à nossa vida, nunca vem sozinho, traz o seu horizonte de sentido, possui um histórico que necessita ser respeitado". Quem ama é evidenciado por cuidar da preservação da liberdade do outro na relação.

Melo cita Martim Buber e seu processo de "relações eu-tu", destacando: " Amar é o encontro de duas subjetividades, duas partes que se complementam porque se respeitam. E no ato de se respeitarem ampliam o mundo um do outro...Trazem o desejo de fazer crescer, melhorar, avançar aqueles que encontram, e a si mesmos...O processo de tornar-se pessoa é contagiante."

Acredito não ser preciso justificar o porquê da associação do livro de Melo com o conto de Lima Neto. O que mais dizer e sobre o que mais refletir?
Isso sim é fácil!

* Nada vale mais do que a liberdade. Ser livre sem voar, é rastejar e morrer aos poucos fora da gaiola, até ser subjugado e devorado pelos mais fortes, seguindo a lei da própria evolução física, que não permite aos fracos sobreviverem por muito tempo. A vida não abre espaço para os que querem permanecer paralisados, estanques em sua solidão e dependência, tendo suas asas já crescidas para voar por si. Oportunidades surgem, são percebidas e aproveitadas pelos que se capacitaram para a conquista da autonomia física e psíquica, e para o alcance do prazer de cuidar de si e de seu espaço na vivência de uma prática cotidiana, solidária e respeitosa com o espaço da subjetividade do outro.

* Nada pode ser mais gratificante do que a busca e o encontro de relações onde exista um alguém que  ame realmente, que não vai se permitir entrar no rol de "Quem me roubou de mim", pois seu prazer é cultivar sua relação consigo mesmo e, por amor, ter enorme satisfação em conviver com a singularidade da existência do amado, diferencial unificador que só tende a agregar maior grandeza valorativa a uma rara relação amorosa de duas pessoas, que se reconhecem na relação como sendo "especiais" para si e para o outro.

Não desisto!
Aurora Gite

sexta-feira, 17 de maio de 2013

E eis que, de repente, acontece o reencontro e novos reencontros!


Considero fascinante constatar os reencontros com o humano em nós, pertencentes à "raça humana".

É interessante a sintonia que aproxima os indivíduos, agora inteiros pelo reencontro consigo mesmo, aos novos grupos que os acolhem. Deixam de pertencer ao grupo anterior, são excluídos por seus membros padronizados na mesmice do pensar, sentir e agir. Por si mesmo se separam. Deixaram de ser "patinhos feios" nessa família humana e, obrigatoriamente, vão em busca da família humana - que corresponde a dos cisnes - à qual passaram a pertencer.

Realço que sem esquecer que, em primeiro lugar, passaram a pertencer a si mesmos, condição imperdível e irreversível ao ser alcançada a fronteira da singularidade ou o limite da unicidade como ser humano.

A jornada é a mesma para cada um de nós, difícil e solitária. Pedágio alto na maioria da vezes. Mas ao chegar do outro lado da ponte, ou do deserto como muitos preferem, a gratificação interna é imensa.

A satisfação pela sensação de autorrealização e valorização pessoal é tão  imensa, que amedronta. Ao mesmo tempo, enche de heroísmo corajoso e admiração orgulhosa a quem ousou se soltar de crenças irracionais, convicções disfuncionais para seu momento de vida, e  arriscou questionar tradições sociais obsoletas. Ambas são geradoras de pressões paralisantes que em muito dificultam a conquista de um bem-estar e viver digno a um ser humano, que almeja estender sua liberdade e felicidade ao seu modo cotidiano de existir.

É importante a conscientização de quem ousa e corre o risco de empreender a caminhada - com determinação e persistência daqui para frente, pulando obstáculos e abrindo espaço para se colocar em seu existir, conquistando dignidade e autorrespeito na forma de viver seu dia a dia - que esse trilhar é contínuo, a partir de agora... e não tem volta. Qualquer olhar para trás é para observar como se distanciou do ponto em que estava, se confrontar com suas transformações pessoais e com as mudanças em seu percurso evolutivo.

Poucos conseguem atingir a liberdade do "status" de ser humano. É uma sensação de estar livre que incomoda por vezes, pois o leque de possibilidades para tomadas de decisões é enorme, assim como a insegurança ante os imprevisíveis resultados das escolhas. Mas o aconchego, ante o reconhecimento da tarefa intransferível de ser o único capaz de cuidar de si, logo dá acolhida ao peso dessa angústia, e a leveza pela serenidade e plenitude se instala em nosso mundo interno.

Tal não foi minha surpresa ao terminar ontem de ler um livro, onde o autor descreve com tal detalhe o trajeto dessa jornada, como só o faria, quem a trilhou pessoalmente. Mas confiram por vocês mesmos entrando em contato com as ideias do autor. E se atentem pela sequência com que relata as etapas a serem ultrapassadas, o que pode sugerir que não mais fazem parte de dúvidas inquietantes existenciais de um autor, mas de encadeamentos sinalizadores convidando o leitor a buscar a sua condição de ser humano biopsicossocial, ao que eu acrescento ainda mais um estágio, ou seja, o espiritual (nada com religião institucionalizada, mas com valores do sagrado, forças individuais imanentes dentro de cada humano)

Muitas reflexões do autor são, por ele colocadas, como confirmadas em sua função de psiquiatra e psicoterapeuta. Mas muitas, muitas articulações, colocadas dentro de seu estilo claro e objetivo, primam por sua originalidade e atemporalidade, fatores que me cativam.

Acompanhem de perto suas propostas para transformações visando o bem-estar das sociedades sob tripé da Justiça, Dignidade Ética e Honestidade Intelectual, onde se observa o sujeito não mais submisso.

Essa posição do sujeito em seu existir me recordou Michel Foucault (filósofo) e sua análise do processo de subjetivação, que possibilita ao indivíduo se ver livre da pior das servidões. Segundo Foucault, "a servidão para consigo mesmo é aquilo contra o que nós deveríamos lutar", com ações direcionadas ao cuidar de si, valor social do humano cunhado em moedas onde na outra face aparece o cuidar do outro.

Entendo que aqui já se pode correlacionar o alcance ético do sujeito livre foucaultiano", que passa por esse processo de "construção histórica de sujeitos" - para o qual são indispensáveis as atitudes de 'parrhésia' - ato corajoso do dizer verdadeiro, honestidade e franqueza consigo mesmo - unido à crítica da razão cínica, rejeição do falseamento e do auto-engano. Segundo Foucault, esses são fatores que permitem "iluminar a questão ética do sujeito livre".


Sendo assim, como não indicar: "Nós, os Humanos"/ Flávio Gikovate - São Paulo: MG Editores, 2009.

Transcrevo algumas frases do autor, convite para sua leitura:

* Gosto muito de fatos e me perturbo quando são construídas teorias precipitadas...

* A alma (consciência, mente ) está colocada entre a biologia e as estruturas sociais ...quando ativa nos faz criaturas únicas. Temos que trabalhar com determinação em direção de nossa identidade para sermos capazes de nos livrar do que temos sido, seres biossociais... (alcançando a condição de seres biopsicossociais)

* A alma (encontra-se) espremida entre uma sociedade opressora e um estado químico cerebral de caráter essencialmente depressivo ... (ante) massacre social homogeneizador de nossos pensamentos, gostos, ideais e sonhos. Não espanta, pois, que o pensamento criativo esteja atrofiado ou seriamente prejudicado.

* O resgate da alma passa pelo exercício sadio da individualidade. Estou chamando de "sadio", o trabalho intelectual que leva em conta a honestidade e a reflexão moral na direção da Justiça... É essencial conseguirmos deparar com nossa individualidade (mutilada) por meio de momentos crescentes de solidão, nos quais poderíamos reencontrar nossa singularidade.

* Temos cometido um grave erro ao não adotarmos, como grupo social, um ponto de vista que privilegie a individualidade e a independência. Ao defendermos o amor como ele tem sido vivenciado, endossamos o ciúme, a possessividade e todo tipo de servidão.

* O instinto de vida é, de acordo com meu ponto de vista, único. Isso corresponde a uma visão monista dos instintos (portanto, não mais dualista que considera instinto de vida e instinto de morte)... Nosso único instinto, o de vida, nos abastece com dois tipos distintos de prazer: os de natureza corpórea, essencialmente vinculados ao sexo; e os de caráter intelectual, próprios da aquisição de todo tipo de conhecimento.

* O instinto de vida, se for competente para derrotar a "antivida", habitará indivíduos inteiros e independentes, capazes de aceitar pacificamente as dores próprias da nossa condição. Serão bastante refratários a qualquer tipo de submissão ... Pessoas mais individuadas considerarão mais fácil suportar as dores do desamparo do que aquelas que se sujeitam a normas propostas tanto pelo parceiro amoroso como pelo grupo familiar - ou pela sociedade ... Conscientes ... podem muito bem participar com fervor das ações de sua comunidade, uma vez que a razão nos leva a ter pensamentos - dos quais derivam sentimentos - de integração (termo usado com significado bem diferente de fusão ou diluição). Isso é mais que óbvio se pensarmos que, na comunidade da qual fazemos parte, estamos todos "no mesmo barco". Acrescenta, ainda, o autor, como distintos e singulares seres humanos biopsicossociais, que é o que somos nós, os humanos.

Encontrei na obra várias perspectivas de análise do humano, dentro de nosso quadro social, e pontuações de possibilidades alternativas para transformações da sociedade em prol da convivência, mais harmônica e serena, dos seres humanos que a constituem.

Vale conferir como o autor descreve o fenômeno amoroso que chamou de "+amor" e a relação de lealdade e cumplicidade entre dois seres humanos livres e inteiros, após o reencontro com suas almas e de suas almas, como não!

Ops! Cada vez que, após o término da leitura, abro alguma página de forma aleatória, tenho meu interesse voltado para novo foco que se sobressai. Gosto disso... é convite para "quero mais", e o autor pode me dar!

Agora vou ler "A Liberdade Possível", embora escrito em 2000 e reeditado em 2006, acredito que, além do tema ser atraente, possa servir de bom referencial para observar reencontros do autor consigo mesmo.

Aurora Gite




segunda-feira, 13 de maio de 2013

Psicopata Corporativo e Modelo Situacional Eclético de Estilos de Liderança


É difícil entender para onde caminha o social do século 21!

Tantos conceitos são misturados e deturpados que perdemos um eixo referencial para uma análise mais transparente do quadro social. Mudamos tanto os significados e a abrangência dos conceitos, que acabamos deformando, e muito, seus sentidos, contribuindo para uma psicopatia corporativa social.

Tal não foi o meu espanto ao ler dois textos publicados no Portal Carreira & Sucesso (www.catho.com.br), ambos datados de 10/05/2013, sob os títulos de "Características do psicopata corporativo" e  "Liderança situacional e a teoria de Hersey e Blanchard". Realço que, ousei colocar meus questionamentos sobre as assertivas, nas anotações entre parênteses, que aparecem na transcrição de alguns trechos dos artigos citados.

Por força do hábito, como muitas pessoas, tenho mais facilidade para ler textos com formatação científica, que romances e mesmo poesias. Procuro não só em cada parágrafo retirar palavras-chave ou grifar frases que considero importantes para minha compreensão do que o autor busca transmitir. Não posso negar que me encanta observar a coerência da articulação de suas ideias, bem como a clareza e a  congruência no encontro de palavras selecionadas para expressá-las e que bem se encaixam nessa função.

Outro ponto que me cativa de pronto é notar como o autor, com coragem e galhardia (garbo e elegância consigo mesmo. através da generosa e humilde admiração de sua obra), defende o lugar das palavras e a originalidade de suas ideias, compartilhadas com o público leitor.

Posso, ainda, me permitir embalar pela sensibilidade de metáforas poéticas, tanto quanto pela exposição de fatos reais, facilmente comprovados por um leitor, após análise mais acurada do que ocorre à sua volta.

A acuidade analítica do autor, a forma de pontuar e descrever um fenômeno, a sagacidade intelectual de inseri-lo em nossas vivências atuais, a capacidade e visão empreendedora de fazê-lo caminhar no tempo e se projetar a futuro próximo ou distante, despertam meu interesse para uma leitura mais detalhada e uma compreensão mais apurada do que o autor de um artigo, ou de um livro, procura que chegue até quem leia suas obras. Pessoalmente, procuro saber "quem ele é" e "como se insere no social".

Não separo mais o indivíduo fora do coletivo, o micro do macrocosmo que chamamos de "vida", então automaticamente associo quem escreveu ao conteúdo escrito, e suas possíveis repercussões na vida da sociedade, da qual sou pequena parte integrante, não a coloco como conceito abstrato distante, mas assumo meu lugarzinho como "sujeito/cidadão" e procuro imprimir minha "micro-contribuição" em sua configuração.

E, de repente, me deparo com os textos acima, dos quais transcrevo alguns trechos para melhor avaliação até da sensação desagradável que o pareamento do conteúdo dos dois artigos me causou:

* A palavra psicopata não representa necessariamente violência ou outras coisas ruins (quais?)...o psicopata corporativo pode trazer benefícios ao ambiente profissional (para equipes?) já que muitos são extremamente inteligentes e conseguem controlar seus instintos (?).

* Para a psicologia, psicopatia nada mais é que um conjunto distinto de características de personalidade e pode ser comumente encontrada nas pessoas, que apresentam frieza, ausência de medo, são charmosas, persuasivas e narcisistas, e normalmente não são simpáticas (Opa! O difícil é juntar algumas características antagônicas e colocar tudo isso na formatação racional de uma equipe integrada e transpô-la a nível prático dentro do equilíbrio necessário a um sistema organizacional eficiente e eficaz).

* O conceito em estudos médicos refere-se a um transtorno caracterizado por atos antissociais contínuos, e principalmente, por uma inabilidade de seguir normas sociais.(Ops! Como formar times dentro da empresa? Como buscar que limites sejam respeitados para obter um fluxo racional na produção de resultados?)

* Kevin Dutton, da Universidade de Cambridge, Inglaterra, concluiu em pesquisa (?) que os profissionais que mais apresentam características psicopatas são os presidentes de companhia (?), seguidos pelos médicos cirurgiões, ambos profissionais de frieza (?), que assumem riscos e que podem quebrar regras.

Mais um argumento no artigo, justificando o transcrito anteriormente:

" Para Fátima J., professora dos programas de Pósgraduação e MBA da ...,...e..., o apego ao pragmatismo, o foco em resultado, a pressão por metas e velocidade para conquistar mercado são característicos do modelo do trabalho vigente, que favorece ao profissional frio, pouco sensível às questões humanas, cobrador incansável, com alto nível de exigência e autoritário"... "Considero um ato corajoso assumir este rótulo...dentro de nossos padrões culturais e sociais, sendo rotulado...levará a um clima turbulento da equipe e resultados improdutivos" , resumi (?) a especialista. ( Entenderam o encadeamento lógico? Fez sentido?)

Sempre sugeri que pesquisas se voltassem a investigar em diferentes setores da empresa onde recaia: maior incidência de licenças, patologias envolvidas, qualidade das interações entre profissionais e chefias/líderes...A leitura desse painel facilitaria a compreensão dos picos de aumento e queda da produtividade nos setores específicos e na organização como um todo, envolvendo a lealdade e fidelidade dos colaboradores internos e externos/clientes. A liderança intimidadora acima é a menos aconselhável dentro de um modelo participativo e transparente de gestão.

* Já para José Roberto M.,diretor presidente do ... Coaching, o perfil do psicopata dentro de uma empresa pode se destacar positivamente com características como discrição extraordinária, ou seja, é uma pessoa centrada e focada. (Unam discrição com centrada e focada e me traduzam a ideia em termos de atuação prática de um sociopata em grupo: manipula mais? dissimula mais?) ... No momento de crise na empresa, o psicopata trará maiores resultado, pois ele terá a frieza necessária para superar a instabilidade. (Será só especulação teórica, ou observação contínua da atuação de um psicopata na vida prática dentro da organização?)

* Por ser uma pessoa com características totalmente individuais, o sociopata não terá o equilíbrio necessário, ou seja, os resultados da empresa não serão afetados (?), porém, a vida pessoal deste profissional não estará balanceada (?). (Ajudou na compreensão?)

Passo ao artigo "Liderança situacional e a teoria de Hersey e Blanchard" :

* O líder situacional é aquele com "jogo de cintura" (Ops! Diplomacia e capacidade para negociação não são habilidades para um líder?) e que, de acordo com as demandas e o ambiente, consegue adaptar-se rapidamente e contornar os problemas de forma a eliminá-los, seja qual for o seu estilo de liderança (autoritário, democrático ou liberal). Assim a liderança situacional se apresenta melhor em momentos de crise, e neste caso, o trabalho do gestor é fundamental. (Mais confusão? Cada estilo de liderança não comporta um modelo de gestão? A crise vai determinar a escolha do estilo, dentro do ecletismo proposto?)

A partir daí o artigo vai caracterizar os tipos de liderança de acordo com a maturidade profissional...Para os que tem interesse é entrar no site e verificar que ferramenta é essa para "trabalhar com poucos recursos e em curto espaço de tempo... e com equipes otimizadas" Uau!

O que mais me inquieta no século 21 é que estamos equipando máquinas robotizadas com uma inteligência poderosa e estamos diminuindo do ser humano a capacidade de operar sua "razão" , seu QI (coeficiente intelectivo) a nível intelectual cognitivo, emocional, espiritual e social.

Inteligência artificial de um lado e psicopatas corporativos de outro, talvez expliquem em boa parte a perda do humano em nossa sociedade atual.

Por outro lado, pode ser um ponto de partida para o "resgate da potência da Razão" (lógica também intuitiva), que colocará o ser humano no lugar, que lhe cabe, bem acima das duas alternativas acima.


Aurora Gite