terça-feira, 12 de outubro de 2010

Um pouco mais de Andréa em sua solidão

"Receio"

É tao bom a gente sentir,
Eu sei, um amor maior que nós.
Mas, eu também dei de muito sentir,
Ao ver minha dor não sair.

E ao fugir deste meu amor,
Sentir uma dor maior.
E maior que a dor de um grande amor,
Só mesmo a dor da solidão.

Esta dor que está sempre,
Sempre a me perturbar.
Com um temor que não tem fim,
Quando eu viver o amor final.

E, ao sentir nosso amor terminar,
Vou saber me encontrar,
Pois só é pior que a dor de uma paixão,
A dor de ser tão só.


"Rua da Solidão"

Não tenho amor pra viver,
Não tenho com quem falar.
Tudo perdeu o prazer
E agora eu vivo a chorar.
Agora eu sou tão calada,
Ninguém mais me faz sorrir.

É triste não ser amada,
É duro não se iludir.
Fico fugindo da noite
Somente pra não lembrar,
Que tudo isto é um açoite,
Que sabe onde me encontrar.

Assim eu vou me acabando,
Sempre fugindo da dor.
Ninguém mais está me amando,
Tudo perdeu o valor.
Nem sei mais onde encontrar
Animação pra viver.

De tanto que eu quero amor,
Eu só consigo sofrer.
Não encontro passagem,
Vou ter que ficar aqui.

Pois que me levem, me matem,
Mas me tirem daqui.
A rua está muito escura.

Eu quero sair daqui!
Se eu sair esta dor cura,
E nunca mais vou me iludir.


É isso aí, Andréa, nos momentos difíceis, a melancólica solidão de sua alma tem grande chance de aparecer. O importante é você se permitir ouvi-la e não abafá-la, ou fazer de conta que nada diz. O que sua alma grita, com perspicácia e coragem, você conseguiu apreender e colocar no papel através das poesias.

Você já sabe que esse é o instrumento para se aproximar de seu íntimo, de sua alma tão só... dar o aconchego que ela pede e possibilitar a expressão da dor, que é o que ela demanda... para ser "curada".

Talvez seu caminho possa servir de exemplo a muitas outras pessoas por aí, com suas almas perdidas dentro de si.

Aurora Gite

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Supervisão em Psicologia em Hospital Geral (3ªparte)

Acredito que com mais essa parte tenha contribuído para sanar algumas de suas dúvidas. Pincelei alguns aspectos de meu projeto com tal intuito. Então vamos lá?

A própria busca de qualidade exige uma revisão constante nas formas de avaliação e na metodologia, que envolve esse processo. Tal procedimento é que poderá embasar programas de treinamento e reciclagens, devendo para isso não possuir caráter punitivo, ou mesmo premiativo, não culminando com demissões ou exclusões, mas com a inserção dos profissionais -efetivos e estagiários - em programas específicos a cada um, que ocasionem seu desenvolvimento mais adequado, visando sempre, em virtude da própria prioridade institucional, também a produtividade da organização hospitalar e a qualidade dos serviços supervisivos oferecidos.

A avaliação mais condizente, ao exposto nos dois blogs anteriores, deveria abranger o todo da atuação dos elementos envolvidos numa supervisão, e efetuada longitudinalmente. Deveria levar em consideração não só aspectos da competência e destreza clínica, mas também a própria qualidade dos vínculos relacionais e éticos estabelecidos durante o período. As avaliações das capacitações, que envolvem o próprio processo cognitivo, bem como as motivações, interesses, intervenções e leituras de feedbacks, seriam adaptados a qualquer linha teórica.

Mediante o preenchimento de um questionário padronizado a supervisores e supervisionados, em quatro fases distintas, poderíamos obter uma avaliação longitudinal qualitativa das motivações e interesses que o cercam. Suas possíveis alterações nos possibilitariam efetuar um levantamento situacional de prováveis momentos dentro do próprio estágio, que demandariam um planejamento supervisivo diferenciado. Haja visto a grande mudança, na área afetiva e comportamental, observada nos estagiários ante a elaboração da monografia, por exemplo.

Levando-se em consideração que o estagiário deve apresentar uma postura ético-profissional, estruturas cognitivas adequadas, unidas a condições emocionais mínimas e habilidades específicas, os aspectos avaliados envolveriam como ele usufrui e busca conhecimentos, as ferramentas utilizadas, e se a forma como as usou demonstrou eficiência e foi, portanto, eficaz.

Sintetizando, poderíamos classificar essas avaliações em quatro categorias:

a) Quanto às relações estabelecidas:
1- avaliações longitudinais qualitativas das motivações e interesses, tanto do supervisor, quanto do supervisionado, e possíveis alterações
2- avaliações qualitativas das interações interdisciplinares
3- avaliações ante feedbacks e tipos de mudanças dos próprios pacientes
4- posturas perante o paciente
5- posturas ético-profissionais gerais

b)- Quanto às correlações da teoria e da prática:
1- avaliação de mudanças no que se refere a assimilações teóricas de novos contextos, e da própria didática, que a envolveu na instituição hospitalar com as especificidades de UTIs, PS, Clínicas Médicas, Enfermarias...
2- como articula o pensamento
3- como utiliza os conceitos
4- como interage teoria e prática
5-coerência de atuação com a linha adotada

c)-Quanto ao amadurecimento profissional:
1- avaliação da autonomia e discernimento do estagiário
2- como o supervisionando enfrenta problemas pontuais, situacionais
3- como concebe soluções ou sugere procedimentos
4- como define prioridades, avaliação da capacidade seletiva
5- segurança na atuação, avaliação da habilidade na tomada de decisões
6- flexibilidade e maleabilidade adaptativa
7- tolerância a frustrações profissionais

d)- Quanto à destreza clínica:
1- avaliação da capacidade de sistematização e análise dos dados obtidos
2- avaliação da capacidade de síntese e interpretação do material coletado
3- capacidade de diagnosticar
4- capacidade de estabelecer hipóteses e objetivos dentro da linha teórica adotada
5- avaliação da capacidade de elaborar e planejar estratégias e/ou intervenções
6- clareza e objetividade de expressão

Tal método de avaliação envolveria aspectos evolutivos e de aprendizagem, mais do que conteúdos e fórmulas padronizadas. Seria sistemático, objetivo, com caráter científico, pois envolveria dados concretos e registrados, não apenas relatos de sessão e observação de aspectos transferenciais e contra-transferenciais, mas os aspectos vivenciais dessa relação que deverão ser registrados, obrigatoriamente, em relatórios, independentemente da linha teórica adotada. Cada ítem, acima mencionado, se dividiria, ainda, em subítens específicos. No espaço reservado para observações, caberiam justificativas pertinentes.

Além da relação, por escrito, da bibliografia lida durante o estágio, haveria um fichamento das leituras. Ele seria uma das fontes para serem avaliados os aspectos mencionados. Esses materiais seriam arquivados em pasta e comparados, no final do estágio, pelo supervisor e supervisionado. Consideramos esse tipo de documentação importante para o acompanhamento objetivo das mudanças, quebrando o processo unicamente subjetivo de avaliação por parte do supervisor, e possibilitando uma auto-avaliação realista, por parte do supervisionado. Cada clínica poderia montar assim um tipo de biblioteca específica. Ao aprimorando caberia não somente receber e acumular, mas já haveria um aprendizado de troca, de registrar suas idéias e soltá-las, posturas indispensáveis a um cientista.

Omitimos nesse post algumas partes sobre a necessidade inicial de caracterização da clínica de atuação, sobre monografias, só realçando que seus temas deveriam estar vinculados às demandas da própria clínica, da Divisão de Psicologia, ou sugeridos pelo próprio supervisor, e não soltos, unicamente de interesse do estagiário pois muitos trabalhos se tornam repetitivos ou aleatórios ao local de atuação no período de aprimoramento.

Enfatizamos a necessidade de modelos de supervisão baseados em moldes científicos, onde basicamente registros, comprovações por escrito, possibilitariam suas próprias reciclagens, num processo de retroalimentação, ocasionando redimensionamentos da própria supervisão e do teor do vínculo supervisor-supervisionado, ante observações concretas, mesmo posteriores. de quando e porque algumas modificações ocorreram e em que âmbito se deram.

Terminamos pontuando que um modelo de supervisão, assim estruturado, já estaria buscando a inserção do estagiário no âmbito científico, além da motivação para um crescimento pessoal e desenvolvimento profissional pós-estágio.

Obs: Entregue na década de 90, nunca mais vi meu projeto. Retorno via diretoria: bom projeto que estava sendo encaminhado á psicóloga responsável pelo setor de aprimorandos. Nenhum contato foi estabelecido pela mesma. Retorno de colegas: que era uma visionária, que esse projeto seria para instituições de primeiro mundo e não para aquele complexo hospitalar iniciando seu processo de transformação também administrativa, decorrente de sua parceria com entidades do ramo.

Porém o pior, foi o contato com assessores e chefias inseguras, e seu constante "não sei como me relacionar com você" e sentindo-se ameaçados foram retirando sala, contato telefônico, computador, materiais de trabalho, bloqueio de pacientes e interações com área médica; avisos de reuniões chegavam com datas e horários errôneos, bem como impedimento de participação em reuniões científicas multidisciplinares. Foi o período em que aprendi como pode ser maldoso o ser humano, perversa a interação grupal às voltas com interesses pessoais e elementos algemados por gratidão manipulada, e o quanto temos que caminhar até uma sociedade mais ética e justa.

Aurora Gite

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Supervisão em Psicologia em Hospital Geral (2ªparte)

Para se pensar em modelo de supervisão em Psicologia em Hospital Geral há que se considerar também os aspectos abordados no blog anterior, do qual este representa sua continuidade.

Ao abordarmos a demanda hospitalar, estamos nos reportando a uma demanda médica, dos pacientes e também da instituição. A busca da saúde mental adquire urgência capital, não se esquecendo da inserção do recurso humano organizacional e sua adequação à visão, missão e valores da referida instituição.

Ante as novas descobertas da grande integração "psiconeuroimunoendócrina", e a adoção de atitudes médicas mais humanistas, holísticas e psicossomáticas, as técnicas adaptativas, que envolvam a diminuição de ansiedade, a adequação à situação momentânea do tratamento e a adesão a ele, tornam-se prioritárias ( não excludentes necessariamente) à própria investigação clínica do que pode estar ocorrendo com o mundo fantasmagórico do paciente.

Comunicações teóricas mais abrangentes, e que possibilitem maior facilidade de decodificação, tornam-se imprescindíveis nesse mundo, predominantemente científico e de interações interdisciplinares. Citamos o caso de uma criança de 10 anos. Quando assumimos o setor, na primeira entrevista, observamos claros sintomas de epilepsia. A mesma estava em tratamento há quase um ano pela profissional que nos antecedera. Nesse período todo, ela continuava a investigar a interação mãe-filho, e a repercussão do super-protecionismo sobre o comportamento ansioso do filho. Após a nova leitura colocada em reunião interdisciplinar de discussão de casos, o paciente foi encaminhado para uma avaliação por profissionais da área médica, na clínica neurológica, e foi constatada sua patologia. Devidamente tratado com medicamentos, seu quadro evoluiu satisfatóriamente em pouco tempo.

Independente dos parâmetros referenciais, que facultem a compreensão de um fenômeno, em virtude da grande demanda hospitalar e da alta rotatividade dos pacientes, o psicólogo hospitalar tem que se adequar às técnicasque envolvam psicoterapias breves, de tempo limitado e com objetivo determinado. Nesse sentido, a eficácia de um diagnóstico mais preciso está atrelada ao conhecimento do que fazer. para traçar uma linha de ação psicoterapêutica.

A imprevisibilidade da possibilidade do retorno dos pacientes, por fatores, muitas vezes, independentes de sua vontade, nos impele a tratar cada sessão como unidade; a refletir sobre o cuidado com o material que possa aflorar, pois sua elaboração pode demandar tempo, que não pode se estender conforme a demanda do paciente. Sendo assim, as intervenções devem instrumentalizar o paciente, tanto quanto possível, para que possa lidar melhor com suas angústias, inclusive. O enfrentamento do paciente com sua realidade pessoal e social adquire prioridade sobre trabalhos unicamente com suas fantasias.

Embora se conte com o vínculo terapêutica como "experiência emocional corretiva", as intervenções do psicólogo hospitalar são mais interativas e focais.

Resumindo, esses aspectos nos indicam a importância da adoção pelo psicólogo hospitalar de:
1- uma linguagem mais adequada, buscando a quebra da "Torre de Babel", que se expandiu, dentro da própria comunicação psicológica;
2- seleção de técnicas que permitam a visualização de um resultado mais rápido no que se refere a minorização das ansiedades observadas ( pacientes, cuidadores e equipes), mesmo com a união de várias linhas teóricas;
3- testes aplicados em vários níveis, não somente projetivos, que possibilitem pontes de contatos mais objetivos, com suas interpretações colocadas de formas mais compreensíveis à equipe como um todo;
4- maiores registros das atividades desenvolvidas, para que a Psicologia passe a ter reforçado seu cunho científico, nesse tipo de instituição.

Modelos teóricos surgiram tendo como alicerce a visão, de homem e de mundo, de seus autores; da mesma forma, não poderíamos abordar a construção de um modelo de supervisão, como o pretendido, sem enfocarmos a visão do psicólogo - não usamos o termo psicanalista propositadamente - e do mundo hospitalar, enlaçados pelo cunho humanista e científico que lhes dá sustentação.

Sendo assim, um modelo de supervisão psicológica hospitalar já pode ir-se delineando. Portador de um caráter sempre dinâmico, portanto funcional e mutável, deveria apresentar algumas características constantes, tais como:
1- visão holística e global do psicólogo em si e de sua função dentro de uma instituição hospitalar;
2- adaptabilidade a regras e conceitos institucionais, a necessidades emergentes e técnicas adequadas;
3- flexibilidade e adoção de posturas mais ecléticas, pertinentes à demanda e não a uma linha teórica específica;
4- versatilidade e preparo do profissional para atuar em várias áreas para as quais se capacitou como psicólogo, e não acatamento de desejos específicos de atuação limitada -no caso psicanálise;
5- interatividade sistêmica, propiciadora de equipes mais harmônicas e conjuntos de ensinamentos e práticas mais integrados;
6- comunicabilidade acessível aos diferentes níveis de interações hospitalares.

Aqui você tem mais dados para cruzar com os seus e refletir em cima deles. No próximo coloco as formas de avaliação propostas, nesse projeto elaborado em setembro de 1998. Acho que abarquei o que me foi pedido.
Aurora Gite

sábado, 2 de outubro de 2010

Supervisão em Psicologia em Hospital Geral (1ªparte)

Espero que esse material lhe sirva. Foi parte de um projeto elaborado visando a construção de modelo de supervisão e de processos avaliativos em Psicologia, em um Hospital Geral.

Refletindo sobre a função da supervisão psicológica hospitalar, podemos observar sua dupla tarefa, formativa e informativa.

Propiciar ao supervisionando uma aplicação prática de teorias, que se supõe assimiladas em sua formação acadêmica; abrir espaço física para tal aprendizagem prática, unida à própria integração dentro de equipes multidisciplinares. orientar leituras pertinentes à atuações específicas, possibilitando essa correlação e interação da teoria com a prática. supervisionar as atuações do estagiário, são ações pertinentes ao ato de supervisionar.

Contribuir para que o supervisionando capacite sua observação. desenvolva um tipo de atenção específica. uma escuta adequada ao paciente e à própria equipe. maior agilidade na percepção dos aspectos transferenciais e contra-transferenciais, ou dos aspectos indiscriminados em sua vida de relação profissional; um melhor lidar com as inseguranças e as ansiedades, oriundas, inclusive, do próprio fato de atuar no ambiente hospitalar, onde a doença, a dor, o sofrimento, as deformações e a morte são constantes, também fazem parte desse quadro.

Indepente da linha teórica mais familiar a ambos, supervisor e supervisionado, possível união em torno desse conceito (supervisão) inclue, portanto, aspectos clínicos, voltados sempre ao autoconhecimento e crescimento interno, que envolvem o amadurecimento profissional do aprimorando para conter as enormes angústia e as reações emocionais, que podem eclodir, nesse contexto. Uma coisa é "saber-se" um psicólogo, outra coisa é "tornar-se" um psicólogo hospitalar, finalidade dessa formação educativa e clínica, durante o período de estagiário nesse tipo de instituição.

Um dos maiores obstáculos constatados concentra-se na má formação acadêmica atual dos profissionais particularmente nessa áreal. Tal fato interfere, inclusive, na expectatica e idealização do papel e dos limites de um supervisor. Muitas vezes, esse é colocado, erroneamente, no lugar daquele que detém um saber absoluto, o certo e o errado, devendo manter as rédeas diretivas. Ou então, podemos observar um "outro profissional, embora estagiário", dentro de uma passividade, se impedindo de atuar, de se instrumentalizar e aprimorar seu próprio potencial, na espera de modelos de atuação estáticos, que possam ser copiados.

Parece-nos que um dos trabalhos primordiais que atualmente, nós, supervisores, temos que desempenhar é ensinar ao estagiário como "aprender a aprender", como realmente "incorporar conhecimentos teóricos" e "adaptá-los em sua prática clínica", valorizando-se como profissional que também já é. talvez indo, inclusive, mais além, dentro de um método socrático, "ensiná-lo a pensar".

Ferramentas mudam, conforme o avanço tecnológico, porém necessitam e podem ser bem utilizadas, quaisquer que sejam, por aquele profissional que tiver, além de formação básica consolidada, autoconfiança, senso crítico e discernimento suficientes. Nesse sentido, a postura do supervisor seria fundamental, para que tal ocorresse.

Outro ponto nodal se situa, justamente, em algumas posturas que, de certa forma cerceiam o próprio desenvolvimento do aprimorando, que será livre "desde que" siga às orientações pertinentes à linha teórica do supervisor; ou desenvolva sua identidade, como psicólogo hospitalar, "desde que" se amolde a padrões de atuação rotineiros já estabelecidos. Esbarramos aqui numa grande questão ética, que vai mais além do englobar, em sua conceituação, a responsabilidade de cada profissional por seus atos. Permeia a própria formação do ser humano livre e autônomo, com um sistema de valores próprios e sociais a serem respeitados, só assim lhe possibilitando ser responsável por si, por suas escolhas e atuações supervisionadas, por suas posturas perante seus pacientes, a instituição e demais membros de uma equipe. "Ética" subentende, assim, julgamento valorativo, que permite discriminar e hierarquizar ações intencionais, envolvendo a capacidade crítica e o bom senso, para que tal ocorra.

Refletindo sobre os diversos aspectos, que envolvem uma supervisão, poderíamos até abordar a existência de uma "ética supervisiva", obtendo novo ponto de união independente de divergências teóricas. Ao tentarmos situar o profissional "psicólogo" e delinearmos o perfil de um "psicólogo hospitalar", observamos grande barreira advinda da própria relação Psicologia-Psicanálise e dos profissionais envolvidos por ela. É inegável o papel da Psicanálise, mãe e matriz das demais teorias surgidas. Quer por afinidades, quer por oposição, profissionais da área de Saúde Mental nela se alicerçam. Haja visto seu caráter abrangente, não só a psicólogos, mas a diversos profissionais de outros cursos superiores, desde que tenham passado por uma formação psicanalítica específica, com a inclusão da própria análise pessoal e supervisão clínica. Muitos "psicólogos psicanaliticos" preferem omitir sua primeira formação.

Não podemos desconsiderar a amplitude do campo de atuação do "profissional psicólogo", que se especializou na técnica psicanalítica, com sua escuta apurada, sua atenção flutuante, o aprimoramento de sua capacidade de análise e síntese dos processos psíquicos, ansiedades e defesas, dos aspectos transferenciais e resistenciais, sua criatividade elaborativa, sua adequação interpretativa ao momento ideal; bem como a extensão nosográfica das classificações e sub- classificações freudianas sobre a doença mental. Porém, também não podemos deixar de realçar a importância de outras teorias e técnicas, e a necessidade de conhecê-las, e porque não, dentro de nossa "identidade hospitalar" reconhecer as limitações da técnica psicanalítica e sua não abrangência a algumas patologias mentais. E, sendo assim, ante a emergência da demanda observada, utilizar instrumentações mais adequados ao "paciente", ao "existir de um doente". ao próprio "existir no meio hospitalar"

Paro por aqui. No próximo coloco novas propostas para comunicação em reuniões de equipes interdisciplinares, e para um modelo de supervisão psicológica hospitalar de caráter sempre dinâmico.

Aurora Gite