segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Supervisão em Psicologia em Hospital Geral (2ªparte)

Para se pensar em modelo de supervisão em Psicologia em Hospital Geral há que se considerar também os aspectos abordados no blog anterior, do qual este representa sua continuidade.

Ao abordarmos a demanda hospitalar, estamos nos reportando a uma demanda médica, dos pacientes e também da instituição. A busca da saúde mental adquire urgência capital, não se esquecendo da inserção do recurso humano organizacional e sua adequação à visão, missão e valores da referida instituição.

Ante as novas descobertas da grande integração "psiconeuroimunoendócrina", e a adoção de atitudes médicas mais humanistas, holísticas e psicossomáticas, as técnicas adaptativas, que envolvam a diminuição de ansiedade, a adequação à situação momentânea do tratamento e a adesão a ele, tornam-se prioritárias ( não excludentes necessariamente) à própria investigação clínica do que pode estar ocorrendo com o mundo fantasmagórico do paciente.

Comunicações teóricas mais abrangentes, e que possibilitem maior facilidade de decodificação, tornam-se imprescindíveis nesse mundo, predominantemente científico e de interações interdisciplinares. Citamos o caso de uma criança de 10 anos. Quando assumimos o setor, na primeira entrevista, observamos claros sintomas de epilepsia. A mesma estava em tratamento há quase um ano pela profissional que nos antecedera. Nesse período todo, ela continuava a investigar a interação mãe-filho, e a repercussão do super-protecionismo sobre o comportamento ansioso do filho. Após a nova leitura colocada em reunião interdisciplinar de discussão de casos, o paciente foi encaminhado para uma avaliação por profissionais da área médica, na clínica neurológica, e foi constatada sua patologia. Devidamente tratado com medicamentos, seu quadro evoluiu satisfatóriamente em pouco tempo.

Independente dos parâmetros referenciais, que facultem a compreensão de um fenômeno, em virtude da grande demanda hospitalar e da alta rotatividade dos pacientes, o psicólogo hospitalar tem que se adequar às técnicasque envolvam psicoterapias breves, de tempo limitado e com objetivo determinado. Nesse sentido, a eficácia de um diagnóstico mais preciso está atrelada ao conhecimento do que fazer. para traçar uma linha de ação psicoterapêutica.

A imprevisibilidade da possibilidade do retorno dos pacientes, por fatores, muitas vezes, independentes de sua vontade, nos impele a tratar cada sessão como unidade; a refletir sobre o cuidado com o material que possa aflorar, pois sua elaboração pode demandar tempo, que não pode se estender conforme a demanda do paciente. Sendo assim, as intervenções devem instrumentalizar o paciente, tanto quanto possível, para que possa lidar melhor com suas angústias, inclusive. O enfrentamento do paciente com sua realidade pessoal e social adquire prioridade sobre trabalhos unicamente com suas fantasias.

Embora se conte com o vínculo terapêutica como "experiência emocional corretiva", as intervenções do psicólogo hospitalar são mais interativas e focais.

Resumindo, esses aspectos nos indicam a importância da adoção pelo psicólogo hospitalar de:
1- uma linguagem mais adequada, buscando a quebra da "Torre de Babel", que se expandiu, dentro da própria comunicação psicológica;
2- seleção de técnicas que permitam a visualização de um resultado mais rápido no que se refere a minorização das ansiedades observadas ( pacientes, cuidadores e equipes), mesmo com a união de várias linhas teóricas;
3- testes aplicados em vários níveis, não somente projetivos, que possibilitem pontes de contatos mais objetivos, com suas interpretações colocadas de formas mais compreensíveis à equipe como um todo;
4- maiores registros das atividades desenvolvidas, para que a Psicologia passe a ter reforçado seu cunho científico, nesse tipo de instituição.

Modelos teóricos surgiram tendo como alicerce a visão, de homem e de mundo, de seus autores; da mesma forma, não poderíamos abordar a construção de um modelo de supervisão, como o pretendido, sem enfocarmos a visão do psicólogo - não usamos o termo psicanalista propositadamente - e do mundo hospitalar, enlaçados pelo cunho humanista e científico que lhes dá sustentação.

Sendo assim, um modelo de supervisão psicológica hospitalar já pode ir-se delineando. Portador de um caráter sempre dinâmico, portanto funcional e mutável, deveria apresentar algumas características constantes, tais como:
1- visão holística e global do psicólogo em si e de sua função dentro de uma instituição hospitalar;
2- adaptabilidade a regras e conceitos institucionais, a necessidades emergentes e técnicas adequadas;
3- flexibilidade e adoção de posturas mais ecléticas, pertinentes à demanda e não a uma linha teórica específica;
4- versatilidade e preparo do profissional para atuar em várias áreas para as quais se capacitou como psicólogo, e não acatamento de desejos específicos de atuação limitada -no caso psicanálise;
5- interatividade sistêmica, propiciadora de equipes mais harmônicas e conjuntos de ensinamentos e práticas mais integrados;
6- comunicabilidade acessível aos diferentes níveis de interações hospitalares.

Aqui você tem mais dados para cruzar com os seus e refletir em cima deles. No próximo coloco as formas de avaliação propostas, nesse projeto elaborado em setembro de 1998. Acho que abarquei o que me foi pedido.
Aurora Gite

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