domingo, 31 de março de 2013

Longe é um lugar que não existe

Longe é um lugar que não existe, mas "Como trazer a Irlanda para mais perto"?

Onde encontrar um ombro amigo que acolha minha saudade, uma serena saudade sem "neuras"?

A primeira imagem que aflorou à minha memória foi recostar minha imaginação nos livros de Richard Bach. Li quase todos eles. Um deles serviu para introduzir essa postagem: "Longe é um lugar que não existe". Outros foram meus companheiros de jornada como "Ilusões",  "Nada é por Acaso", "A Ponte para o Sempre".

Não posso negar a ponte - imagem que me persegue mentalmente -  em um quadro cinzento dando destaque a um guarda-chuva vermelho como proteção do casal no dia chuvoso. Nós atribuímos às emoções que acompanham as imagens que guardamos, a nossa assinatura pessoal. Quero paz e serenidade dentro de mim, então gerencio a qualidade das emoções memorizadas e que interferem em meu agora, para atingir esse objetivo. Enfatizo que o nosso "agora" contém nosso presente, nosso passado e nosso futuro. Não é a "ponte para o sempre"?

Relembrando frases de Bach, seleciono algumas, pertinentes para o acolhimento demandado:

* "Quando amas alguém e sabes que ele está pronto para aprender a crescer, tu o deixas em liberdade."

* "O laço que une a sua família verdadeira não é de sangue, mas de respeito e alegria pela vida um do outro."

* "Uma nuvem não sabe porque se move em tal direção e em tal velocidade; sente um impulso... é para este lugar que devo ir agora. Mas o céu sabe os motivos e desenhos por trás de todas as nuvens, e você também saberá, quando se erguer o suficiente para ver além dos horizontes."

* "Valorize suas limitações, e, por certo, não se livrará delas."

* "Você está sempre livre para mudar de ideia e escolher um futuro, ou um passado, diferente."

* "A única coisa que destrói os sonhos é resignar-se às concessões."

* " A tua única obrigação durante toda a tua existência é seres verdadeiro para contigo próprio."

* "O que você faria se não tivesse medo?"

* "Mais cedo ou mais tarde, os que vencem são aqueles que acreditam que conseguem."

* "O tédio entre duas pessoas não provém de estarem juntas fisicamente. Provém de estarem separadas mental e espiritualmente."

Quanta coisa para refletir sobre as vantagens dessa separação, e quantas ponderações sobre seu merecimento para essa viagem à Irlanda, talvez seguindo para meses na Itália e outros tantos na França,  uau!

Só trazendo você mais perto por meio de suas palavras em uma linda carta, que enviou à sua mãe, e que coloquei no post abaixo. Releio recordando frases de Bach como "Tua única obrigação, em qualquer período da vida, consiste em ser fiel a ti mesmo" e "Se buscas a segurança antes da felicidade, a segunda será o preço que terás que pagar pela primeira".

Eu teria me orgulhado muito de ter recebido, como presente, um filho assim!


Quer um filho assim de presente de Natal?

Tenho abordado muito que o "estar bem espiritualmente" e "autocentrado" propicia mais recursos mentais para o império da "razão", e maior presteza para discriminá-la de raciocínios lógicos egóicos. A meu ver, reconhecendo e aceitando os pontos fracos e fortes, se pode optar por superá-los, buscando equilibrar a energia entre essas forças internas. Fraquezas sempre vão existir. No entanto, podem não implicar em vulnerabilidade, se buscar manter um centro de auto-referências transparente e fortalecido.

Na opção pela energia das virtudes ( e o "amor" me parece a maior delas) como fontes psíquicas integradoras, uma boa dica é buscar responder: "Será que eu mereço isso?". O critério do merecimento vale para auto-avaliação reflexiva e coragem para mudanças, tanto quanto para dar um basta a interações desgastantes.

Tudo isso parece "fácil" e "lindo" estando no papel? Quer um exemplo prático? Então leia essa carta, de um filho (18 anos) dirigida a uma mãe, de tal grandiosidade que merece ser compartilhada com todos vocês. Expressão de amor genuíno, acredito que possa "servir de empurrão" para muita gente. Foi transcrita literalmente:


" Mamãe linda,

Acho que um problema que herdei do vovô foi a baixa eloquência para lidar com pessoas muito próximas. O J. e o F. têm trabalhado isso em mim, com ótimos resultados, mas ainda é difícil. Tem algumas coisas que eu quero te falar. A primeira, que é a mais importante, é que eu te amo DEMAIS e não quero que você jamais chegue a sonhar em duvidar disso.

Se eu me afasto de vez em quando é porque não estou muito bem e não quero passar essa energia ruim pra você, afinal você precisa estar 100% positiva pra passar E superar essa fase.
Não tô muito legal porque o meu lado emocional, que sempre sustentou a falta financeira e as brigas em casa, deu uma batida MUITO forte, e está começando a cicatrizar agora. Não adianta insistir que eu não vou compartilhar isso com você; você tem muitas outras coisas em que eu preciso que você foque.

Mas essa minha fase me mostrou como é importante a gente estar sempre com os amigos, mais próximos e parecidos, BEM próximos de nós. Liga mais pra tia V., veja mais ela, marque um filme de vez em quando (mesmo que seja de dia de semana ou, quando estiver sem dinheiro, só um DVD mesmo). Você talvez não perceba, mas ela sempre te faz muito bem. Se abra mais com ela também, não tem ninguém que vai te entender melhor, já passaram por muitas coisas parecidas.

Não deixe a peteca cair. A mãe da minha irmã diz sempre pra ela que é ela a única pessoa que não acredita no próprio potencial, e vejo você com o mesmo problema. Tenha mais certeza do seu próprio talento na hora de falar.

Nunca apele pra sua situação, não é problema de ninguém como sua vida está; as pessoas só se preocupam com sua experiência e capacitação. Vale muito mais citar seus anos de administradora de consultório e ... do que sua vida sofrida de viúva com dois filhos. E isso vale pra QUALQUER lugar. Se correr atrás não tá adiantando, aprenda a voar. Sonhe cada vez mais alto, mas bata as asas para ir subindo atrás dele. Mexa-se mais! Não importa o quanto você esteja fazendo, SEMPRE é possível fazer mais. Tente diferente! Teclar a mesma tecla quebrada não vai resolver, pense em comprar outro teclado, nem que pra isso você tenha que vender, tudo o que der, do quebrado.

NUNCA diga que uma porta está trancada sem girar a maçaneta; é o que você mais tem feito ultimamente e isso me decepciona muitíssimo. Se, mesmo girando, a porta não abrir, empurre um pouco com muita força. Por fim, se ainda estiver fechada, procure nos seus bolsos, muitas vezes a chave está com você mesmo. Depois de ter certeza que aquela porta não vai te levar a lugar nenhum, sente...SÓ pelo tempo necessário para respirar fundo 10 vezes. É o suficiente para repor as energias. Se achar que não, tome um energético e lembre que tem gente te esperando no fim do caminho. Levante e vá em FRENTE. Para trás só haverão portas fechadas; você já testou todas.

Cuida do seu corpo. Você já dorme demais; se obrigue a deitar sempre às 23h e acordar às 6h, você vai ver como rende muito mais seu dia. No começo ( três primeiros dias) vai ser difícil, mas garanto que vale a pena. Faça sexo (nem acredito que tô falando isso pra minha mãe), definitivamente não quero saber quando e nem com quem, mas isso estimula a cabeça a trabalhar melhor e libera hormônios que nos dão ânimo pra tudo. Você é linda e interessantíssima, não tem dificuldades pra achar alguém pra um passatempo.

PARE de procurar alguém para ser sua base! Você só vai achar um amor quando tirar da cabeça que precisa de alguém pra por sua vida em ordem! Você é capaz e "vai ter que" fazer isso SOZINHA! Precisa de um amor pra compartilhar suas felicidades e aliviar as tristezas dele. Isso é que realmente nos faz bem num relacionamento. Se não tem alegrias para dividir, procure quem precisa de um ouvido, e ouça todos seus problemas. Pode parecer estranho, mas quando nos despertamos para ajudar alguém nossos problemas se mostram pequenos, como realmente são perto desse mundo todo.

Ouça seus próprios conselhos! Nem todos são propriamente bons, mas os melhores são os que você menos segue. Quando estiver sozinha, repasse tudo que você disse aos outros e aplique TUDO a você mesma. PARE de citar exemplos e SEJA você o exemplo. Procure cada vez menos dizer "Olhe como fulano está fazendo" e busque cada vez mais poder falar "Olhe como EU estou fazendo".

Quando precisar de dinheiro, ao invés de bater na porta de seu pai, bata na porta de alguma clínica e veja se não há alguma vaga, para você trabalhar lá. Tem seu diploma e é capaz de cuidar da saúde dos outros! NÃO, você NÃO pode ter certeza de que a porta está trancada antes de girar a maçaneta, empurrar com força e procurar a chave. Pare de deixar as coisas passarem batidas, tudo, por menor que seja, deve ser levado em conta e analisado com muita cautela, a repercussão pode ser maior do que se espera.

Você definitivamente não precisa e nem vai ter quem te ajude a andar, você já aprendeu a fazer isso sozinha! Não procure bengalas, mas caminhos! Se parecer que não há nenhum, ache um facão e desbrave um. Uma mulher que passou pelo que você passou tem força pra isso. Não evite chorar, é um bem imenso lavar o que nos incomoda. No entanto, busque sorrir mais, veja vídeos engraçados, ouça piadas ou ligue para conversar com alguém cuja voz lhe agrada.

E, sempre que precisar de um abraço, você tem um filho, que te ama demais, de braços abertos pra te apertar bem forte. e dar uma chacoalhada nessa tua cabeça instável.

F.
05.10.10

sexta-feira, 29 de março de 2013

Fundação Saramago, eco para idéias que ainda ressoam

José Saramago, uma voz que ainda ressoa através da Fundação Saramago.

Fundação Saramago, um eco para propagação de suas ideias e preservação viva de sua memória como cidadão humanista atuante, fiel à sua luta social através do esgrima com o significado cortante das palavras afiadas para comover, e com as coreografias realísticas e dinâmicas de suas montagens imagéticas, que levavam seus leitores a profundas reflexões sobre o papel de cada um dentro do quadro social, onde, até então, se mantinham como meros espectadores.

Como não continuar admirando um escritor, que bancou um estilo próprio de escrita sem pontuações,  que a tantos incomodou pela quebra da tradição gramatical e manteve a altivez de sua dignidade e simplicidade também através dessa sua assinatura ética personalizada?

Como não aplaudir aquele que reconheceu a importância atemporal do conteúdo de suas ideias e valorizou a expressão social de suas obras, a ponto de se preocupar que sua construção histórica não caísse no esquecimento tão rápido, não se apagasse facilmente ante a borracha algoz do tempo?

Como não prestar homenagem, como um simples leitor, à quem buscou a expansão e continuidade de seu patrimônio intelectual, mesmo após sua morte, através da criação da Fundação Saramago?

Propago "Um Instante de Silêncio", post que se resumiu mais em uma homenagem a quem considero um de nossos grandes "Homens", em sua luta em prol de sociedades mais justas e democráticas, embasadas por convivências interpessoais mais pacíficas e solidárias!


Um instante de silêncio

Tocam os sinos ante a partida de José Saramago, escritor português, prêmio Nobel de Literatura em 1998. Só? Respondo essa pergunta no transcorrer desse post.

Tocam os sinos como obrigação de um ritual de despedida aos mortos. Hoje esse célebre toque a finados nos remetem ao texto de Saramago lido na cerimônia de encerramento do Forum Social Mundial de 2002, intitulado "Este Mundo da Injustiça Globalizada" e suas colocações que os "Toques a finados, pela Justiça, porque a Justiça está morta".

Como ocorre, com registro longitudinal na História, muitas idéias e contestações de grandes Homens, passam a ganhar amplitude e reconhecimento após sua morte. "Saramago, talvez sua voz agora se faça escutar com a vibração positiva e otimista que o embalou em seus ideais pacifistas e fraternos!"

Segundo suas palavras no Forum:

"Não estou em erro, não sou incapaz de somar dois a dois, então entre tantas outras discussões, necessárias e indiscutíveis, é urgente um debate mundial sobre a democracia e as causas de sua decadência, sobre a intervenção dos cidadãos na vida política e social, sobre as relações entre os Estados e o poder econômico e financeiro mundial, sobre aquilo que afirma e aquilo que nega a democracia, sobre o direito à felicidade e a uma existência digna, sobre as misérias e as esperanças da humanidade, ou, falando com menos retórica, dos simples seres humanos que a compõem, um por um e todos juntos. Não há pior engano do que o daquele que a si mesmo se engana. E assim é que estamos vivendo."

Destacava a necessidade da implantação no mundo de uma Justiça companheira dos homens:

"Uma Justiça em que se manifestasse, como um iniludível imperativo moral, o respeito pelo direito a ser que a cada ser humano assiste."

"Uma Justiça que é companheira dos homens, que é condição de felicidade de espírito e até, por mais surpreendente que possa parecer-nos, condição do próprio alimento do corpo... Nova Justiça, distributiva e comutativa... Justiça protetora da liberdade e do direito."

Segundo ele, existe o código consignado na Declaração Universal dos Direitos Humanos, porém nele raramente se fala, quando não se silencia, e cuja retidão de princípios e clareza de objetivos, contrastam com as realidades brutais do mundo atual, que investem violentamente "contra a dignidade racional e sensível que imaginávamos ser a suprema aspiração dos seres humanos".

Procura nos tirar da "cegueira branca", idéia central de seu livro e filme "Ensaio sobre a Cegueira", de 1995, onde diferente da cegueira das trevas e da escuridão visual, somos cegos que vendo, não enxergamos o que nos cerca, interna e externamente. "É preciso cegarem-se todos, para que enxerguemos a essência de cada um."

"Se podes olhar vê. Se podes ver, repara." E lança questões para reflexões: "Será que respeitamos os valores mais básicos da sociedade?"

Continua a nos recordar que a "Democracia, invenção dos atenienses ingênuos, como governo do povo, pelo povo e para o povo."

E nos confronta com nossa realidade atual: " Podemos votar por delegação da partícula de soberania que se nos reconhece como cidadãos eleitores e, normalmente por via partidária, escolher nossos representantes no governo... A possibilidade de ação democrática acaba por aí... Não nos apercebemos que governos eleitos por nós vão se tornando meros comissários políticos do poder econômico, com a objetiva missão de produzirem as leis que a esse poder convierem, para depois, envolvidas nos açúcares da publicidade oficial e particular interessada, serem introduzidas no mercado social sem suscitar demasiados protestos, salvo os de certas conhecidas minorias eternamente descontentes."

O que fazer? "Não tenho mais nada que dizer. Ou sim, apenas uma palavra para pedir um instante de silêncio (para ouvir o sino tocar). Ouçamo-lo por favor" . Acordar, ver, reparar, analisar e refletir como cidadão participante e engajado nesse mundo, não como cegos visitantes que necessitam ser guiados e dirigidos por grupos que tomam posse dos governos como se fossem bens particulares.

Saramago tinha consciência do poder da Internet para divulgar idéias. Criou um blog em setembro de 2008, intitulado "O Caderno". Segundo suas palavras, "um espaço pessoal na página infinita da Internet". O site do blog é "caderno.josesaramago.org" .

Teve preocupação que suas idéias estivessem presentes, e que seus livros persistissem vivos após sua morte, daí a criação da Fundação Saramago. Tinha como certo que criações humanas não são meras articulações textuais mas "apelos à reflexão sobre presente e o futuro", daí a importância que busquem sempre a preservação dos valores humanos.

Existem vários vídeos no YouTube, que possibilitam acompanhar suas idéias, através de entrevistas dadas a vários setores midiáticos, e espero que possam esclarecer que atrás do enquadramento de pessimista e ateu comunista, depredador dos bons costumes, Saramago era um otimista esperançoso, confiante na capacidade do ser humano de lutar por comunidades e sociedades mais justas, livre dos domínios ideológicos políticos, econômicos ou religiosos.

Acreditamos que aos leitores mais sensíveis, que buscam entrar no pensamento do autor, atrás da concretude da palavra, que se embrenham na procura do significado simbólico e do sentido do contexto situacional, vai se destacar a pureza do estado de espírito desse Homem, magistral escritor e persistente lutador por uma humanidade mais livre e feliz.

Aurora Gite
 20/06/2010

quarta-feira, 27 de março de 2013

União da Psicologia com Física Quântica

Relembrando minhas considerações sobre o papel da Psicologia no novo milênio, e minha perspectiva sobre a importância de sua união com a Física Quântica, recoloco essa postagem, considerando-a cada vez mais atual, ante as novas descobertas que ocorreram de lá para cá:


Sobre o papel da Psicologia no novo milênio

União da Psicologia e Física Quântica: Novas leituras.

Algumas considerações de Danah Zohar, física e filósofa -casada com o psiquiatra, psicoterapeuta e escritor, Ian Marshall - retirados de seu livro “O Ser Quântico" (já citado em posts anteriores de 2008)


“Uma psicologia da pessoa, baseada na natureza quântica do ser, enfatiza todos os relacionamentos e assenta o indivíduo, em virtude de sua própria natureza, no mundo do ser. Para tal indivíduo, cujo compromisso com os outros, com a natureza ou com valores espirituais está na essência de sua existência, não poderá haver uma base para distúrbios narcisistas de solidão, vazio, alienação ou envolvimento consigo mesmo...Estar envolvida consigo mesma é, pela própria natureza do ser, estar envolvida com os outros".


"Numa psicologia quântica, não há pessoas isoladas. Existem indivíduos, que possuem identidade, significado e propósito, mas, como as partículas, cada um é uma breve manifestação de uma particularidade. Essa particularidade está em correlação não local com todas as outras particularidades e, em certo grau, entrelaçada a elas".


"Apenas responsabilidade dá significado e valor a nossa existência. Mas em que medida podemos fazer face a ela? Se uma psicologia do compromisso e da responsabilidade quiser ter algum valor em si mesma, deverá levantar a questão da liberdade humana, a questão do grau em que qualquer um de nós é livre para se comprometer como quiser ou assumir a responsabilidade que é nossa por natureza. Portanto, uma psicologia quântica dever adotar alguma posição quanto à realidade e eficácia da escolha".


"Estou convicta de que temos hoje na física quântica os fundamentos de uma física sobre a qual podemos basear nossa ciência e nossa psicologia, e que através de uma comunhão da física e da psicologia também poderemos viver num Universo conciliado, um Universo em que nós e a nossa cultura seremos plena e significativamente parte do esquema das coisas".


Zohar, Danah.O Ser Quântico: uma visão revolucionária da natureza humana e da consciência baseada na nova física. 17ª edição. Rio de Janeiro: BestSeller, 2008.

“ Uma obra sobre a vitalidade da nova física e seu poder de combater a alienação e a fragmentação da vida moderna, substituindo-as por um modelo de realidade em que o próprio universo possui uma consciência – e a humanidade é somente uma de suas muitas expressões.”

Aurora Gite
(postado em 25/08/09, às 17:30h)

sexta-feira, 22 de março de 2013

Atenção, existem dinâmicas e "dinâmicas"!

A dinâmica de grupo é um recurso muito usado pelos profissionais de RH. O bom proveito dessa técnica de mobilização de pessoas dentro de um grupo reside no se poder observar suas ações e reações, e vários outros aspectos. Erro de quem menospreza sua importância ou a utiliza visando um campo menor de observação. Pode ser um aliado poderoso desde que envolva uma racionalização ponderada e um planejamento consciente em sua  escolha e sua aplicação. É indispensável o traçado do design do cargo e levantamento do perfil de um candidato que mais se adeque a ele, ou que possa vir a se constituir em um candidato potencial, portanto, que apresente aspectos pessoais passíveis de serem aperfeiçoados, por programas específicos de treinamentos, para que seja possível se obter um enquadre mais funcional.

É o bom conhecimento prévio de informações sobre a demanda da empresa, até de sua missão social e diretrizes políticas, e a análise responsável sobre detalhes dos currículos dos candidatos e levantamento das funções específicas que a descrição do cargo propicia, que vão possibilitar ao profissional de RH, "saber o que ver dentro da fantasia criada pela dinâmica" e "avaliar a sobreposição funcional dentro daquilo que organização e candidatos almejam preencher".

Por exemplo, na escolha da história abaixo, se pode ter por foco observar a habilidade de convencimento ou poder de sugestão dos candidatos, uma das capacidades indispensáveis a um bom líder, ou a alguém que vá exercer um cargo de comando ou chefia. Posturas espontâneas podem ser detectadas durante qualquer dinâmica. À medida em que vão se desenvolvendo as interações entre os elementos do grupo, várias atitudes podem revelar muitas respostas positivas, mas um cabedal de reações imaturas, dificuldade de conter e canalizar emoções como raiva ao passar por contrariedades, atitudes competitivas mais destrutivas do que construtivas, ironias sobre argumentos expostos por outros participantes e desqualificações invejosas. Podem ser observadas, ainda, ações mais voltadas a se fechar, se isolar e excluir, em vez de buscar inclusão e integração, abertura de espaço no grupo, com  uso de recursos como bom humor e consistência nos argumentos.

Considero importante analisar a escolha da dinâmica de forma condizente com o momento atual de reestruturação de uma sociedade, para se adaptar às transformações exigidas pelas três grandes revoluções do milênio que abrangeram a biotecnologia (projeto genoma humano e ciência da clonagem), a inteligência (máquinas inteligentes,computadores, inteligência artificial substituindo a inteligência humana em muitas áreas funcionais) e a quântica (alterando a visão de homem e de mundo com a constatação dos efeitos da energia subatômica).

A busca deve se concentrar em perfis empreendedores com diferenciais para acompanhar a velocidade das mudanças e da urgência, muitas vezes, de tomadas de decisões firmes e imediatas, responsabilidades a serem assumidas e mantidas, independente dos resultados. Não se pode desconsiderar a imprevisibilidade de era de incertezas, que marca o início do século 21.

Destaco sempre, para uma gestão participativa, transparente e pró-ativa, a flexibilidade e segurança pessoal, para alteração de metas e estratégias necessárias visando manter ampliado "continuamente" o espaço da empresa no mercado e, mais ainda, como referência em sua especificidade. Todo diferencial, deve ser renovado constantemente e nunca ganhar o "status de obsoleto". Possuir um diferencial indica que deve servir de parâmetro a outras organizações, que ofereçam o mesmo tipo de serviço, ou que a tenham como modelo de gestão adequada de problemas.

Projetos aprovados e em fase de implantação já são indicadores, a meu ver, para que novas equipes se voltem para pesquisas e elaboração de novos projetos, visando sempre diferenciais e excelência de qualidades.Otimização do tempo, por que não? Quem se envolve com esse processo sequencial percebe como esse comprometimento responsável se torna fascinante!

Inúmeras questões surgem para reflexões como: "Será que um candidato com perfil conservador, relutante a correr riscos, com medo de se expor, não se sentindo capaz de se aventurar a facultar projetos inovadores, centralizador dos merecimentos de uma equipe dentro de uma postura autoritária e hierárquica, sem disponibilidades a mudanças... tem espaço garantido em um processo seletivo atual, independente de apresentar habilidades intelectuais para desempenhar a função?"

Observo muito, dentro das dinâmicas, como o candidato articula seus pensamentos e usa sua razão, buscando soluções mais inovadoras e criativas, e como controla e administra suas emoções dentro das pressões impostas pela interação grupal e pela situação ansiógena mobilizada pelo própria exposição no processo seletivo, que também pode ativar outros desconfortos, se houver histórico pessoal de baixa autoestima e rejeições a figuras de autoridade ou outras, que travem o candidato em situação de concorrência mais acirrada.

Muitas mudanças de foco de observação podem surgir de forma imprevista durante as dinâmicas de grupo. Como em situação clínica, o grupo também pode tornar-se o sujeito a ser observado em seu dinamismo próprio ao acolher os comportamentos padronizados e ao mesmo tempo singulares de seus elementos.

Uma dinâmica grupal, ganha vida por si, pois o conteúdo da história equivale a um simples gatilho para movimentar energias psíquicas dos mundos lógico e emocional dos candidatos. Esse dinamismo, induzido durante o processo seletivo, pode facultar observar vários aspectos pessoais importantes como:
* a utilização de argumentos preconceituosos voltados ao certo e errado,
* a monopolização do grupo e imposição de opinião,
* a dificuldade de aceitar limites só buscando expor as próprias ideias sem se permitir ouvir os demais elementos do grupo,
* as interrupções, invasivas e abruptas, nas colocações de outros, tentando abrir espaço, para ter seus desejos atendidos de imediato
* as dificuldades para usar a razão e buscar trocas empáticas, visando soluções efetivas sob pressão em curto espaço de tempo,
* a inabilidade para conter ansiedades, separando a situação fictícia de uma realidade emergente,  rebatendo pacificamente os argumentos,
* o uso de posturas defensivas (mais primitivas/imaturas), demonstrando canalizações inadequadas da raiva ante contrariedade,
* a expressão incontrolável e espontânea de reações agressivas, impulsivas e impensadas,
* a manifestação de atitudes outras que dificultem a preservação da unidade das equipes e a convivência harmônica grupal em situação efetiva que envolve as difíceis relações de trabalho.

Por conta de vocês, fica o aumento desses ítens a serem observados em dinâmicas. Meu intuito foi colocar como operacionalizar seu próprio patrimônio psíquico para atuar de forma efetiva, eficaz e eficiente como profissional de RH  utilizando dinâmicas dentro de um processo de seleção de candidatos.

Abaixo os dados principais para a montagem da história, a serem passados ao grupo de candidatos. A forma de contá-la não padronizo, realço a preservação do "know-how" do profissional de RH, único em seu desempenho, por mais que o desenrolar de dinâmicas possam ser padronizadas.

*Por catástrofe natural, uma ilha está prestes a explodir. Finalizados os resgates de pessoas, sobraram  10 retardatários, que se aglomeram ao redor do único barco que restou. Ao grupo cabe a seleção de quais deverão entrar no barco para serem salvos, sabendo que :
a)- em 3 minutos ocorrerá a explosão
b)- que esse é o único transporte para que, por ventura, possam recomeçar vida em outro local
c)- no barco só cabem 5 pessoas
d)- que, "obrigatoriamente", terá que se incluir entre as 5

Relação dos que buscam salvação:
1)- um cientista, de 45 anos, que só entrará no barco se a sua esposa, que passou por três internações no hospício, for junto
2)- um padre de 72 anos
3)- uma menina de 4 anos, portadora de Síndrome de Dow
4)- uma mulher de 52 anos
5)- um homossexual de 24 anos
6)- um adolescente de 16 anos, criado nas ruas e viciado, que alicia os outros pela força
7)- um menino de 6 anos, surdo de nascença
8)- uma prostituta de 28 anos
9)- um cientista de 60 anos, que diz não ter provas de que Deus existe
10)- uma jovem de 26 anos, que só se veste de preto e fez votos de castidade.

É impressionante a mobilização do uso da razão, "ou não", e a busca de gerenciar, "ou não", as reações emocionais emergentes na fictícia situação grupal induzida.

Só como adendo, outra dinâmica para pequenos grupos e de simples aplicação, que oferece muitos dados sobre a integração de um candidato em uma equipe, se o profissional souber dirigir as repercussões das reflexões finais para trabalhar o espírito de equipe:
* Participante se posicionam em círculo fechado
* A cada participante é dado uma folha em branco e uma lápis preto
* Em local central de fácil acesso, inclusive possibilitando rotatividade do material, vários lápis de cor à disposição dos candidatos
* A orientação é que os candidatos iniciem um pequeno desenho, ou mesmo um traço, e passem a folha ao quem estiver a sua direita, que seguirá a mesma orientação ... e assim, sucessivamente, até que a folha volte às mãos do candidato de origem.

Essa dinâmica envolve um segundo momento de indagações como:
* Quem gostou do desenho que fez?
* Quem se reconhece no desenho final (da equipe)?
* Quantos desenhos ficaram com partes isoladas sem visão de conjunto?
* Em quantos desenhos pode-se observar a construção de um todo integrado, um traço agregando algo ao traço do outro?

Podem ser observadas também outras atitudes pessoais, se estiverem dentro do interesse do profissional de RH como: a qualidade da postura competitiva expressa na facilitação da rotatividade dos lápis de cor, no desapego em soltar a cor possibilitando que outro candidato a use, na presteza em fazer o pequeno traço ou desenho que lhe cabe, na expressão de estranheza ou curiosidade se descobrir dentro do desenho finalizado, da ocupação da folha pelo grupo, da posição na folha do desenho inicial (centro, quadratura acima ou inferior, à direita ou à esquerda...) , uso de cores predominantes... e por se vai, sem inferências baseadas em "achômetros", mas sempre buscando questionar, com sutileza, em meio às reflexões finais do grupo, possíveis dúvidas representativas para o cargo em questão.

A partir do momento que "se sabe o que se quer ver" a partir de uma dinâmica, é "criar" situações, cuja temática podem eclodir até das interações cotidianas. No entanto, é preciso se ter sempre em mente que o processo seletivo envolve um ser humano, na singularidade de sua subjetividade, que quanto mais amadurecido emocionalmente estiver no encontro consigo mesmo, se aceitando e tendo "aprendido a se curtir em sua evolução como pessoa", mais tende a tornar expressivo seu "ser livre e feliz" em sua integração positiva e equilibrada com o social do qual faz parte.

Aurora Gite

quarta-feira, 20 de março de 2013

Uma encruzilhada de "entres"...

Como não divulgar?

Entre isso e aquilo, entre aquilo e isso... um labirinto de dúvidas, uma encruzilhada de "entres" ... uma carapuça no qual muitas pessoas se encaixam... Por acaso, você está entre elas?

Que belas reflexões podem propiciar! 

"Ora, direis, ouvir estrelas...?"
 E com ela sonhos, ideais, fantasias, ilusões... nossos fantasmas e medos tornados reais.

Por que não dizer:

"Ora, direis, ouvir os 'entres' das entrelinhas de nosso pensar, de nosso querer, de nosso dever para conosco mesmo...?"
E com eles nossa realidade dentro da relatividade do tempo e do espaço, que une a criança viva em nós e o adulto, que clama por espaço, 
entre o jovem e o velho que também somos.

Agora é ler com atenção o texto abaixo, tem muito conteúdo espalhado entre tantos "entres", por mim separados para auxiliar suas reflexões. 

Vale ponderar sobre sua verdade em seu viver, após acompanhar as emoções que se soltam de dentro de "velhos/novos baús" e , ganhando liberdade, se embaralham dentro de você pelo impacto da exposição direta.

“Entre o que você é e o que gostaria de ser; 
entre o que você é e o que gostaria de parecer; 
entre o que você quer e o que diz querer; 
entre o que você quer ser quando crescer e o que você deixou se perder; 
entre o que você vê e o que não vê; 
entre o seu olhar e o que suas mãos podem tocar; 
entre Cianorte e Belém do Pará; 
entre a Rua da Praia e o Guaíba; 
entre tudo que vocês vão esquecer e as lembranças que nunca irão se apagar;
entre o muito rápido e o quase devagar;
entre o desistir e o perseverar;
entre o querer e o desejar;
entre a repulsa e a vontade; 
entre o tempo e a idade; 
entre o futuro e a saudade;
entre o esquecido e o perdido; 
entre este momento e o seguinte.

Em algum lugar existe um meio termo entre o meio e o termo. 
Meio é entre princípio e fim. 
Termo quer dizer prazo, limite, que é o que você terá agora. 
Entre a estratégia de casal e o de perto ninguém é normal; 
entre a sua ousadia e a paciência nossa; 
entre o que você gostaria e o que você gosta; 
entre o autor e a obra; 
entre o desperdício e a sobra; 
entre construir, difícil, e destruir, fácil, 
Entre a triste verdade e a alegre mentira; 
entre a mulher e a menina... 
Entre o que cega e o que fascina, nas entrelinhas... 

Entre a aparência e o engano; 
entre o sonho e a ilusão; 
entre o sim e o não, talvez?
Entre a minha e a tua vez; 
entre o primeiro e o 64º dia; 
entre amigos que se faz aí e não se faz aqui; 
entre não ser votada aí e não ser votado aqui; 
entre o que você fez, o que deixou de fazer e o que nem posso dizer;
entre a zona rural e a cidade grande; 
entre o interior e o exterior; 
entre o B, o B e o BBB, aqui entre nós... 

Entrementes, entretanto, entretendo, entendendo que... 
Entre vocês três, entre eu e mim e entre nós dois e vocês... entre. 
A porta está aberta. Ainda que seja a porta de saída, entre, sem bater. 
Por aqui, K. ”
                                                                                (Pedro Bial) 

Parabéns, Bial, grandiosa introspecção em um simples discurso de eliminação!
Aurora Gite


sábado, 16 de março de 2013

É se movimentar conforme a "dança das ideias"

É fascinante observar tantas ideias espalhadas por aí, ao alcance de qualquer um que se interesse em se aproximar, manipulá-las e juntá-las, como crianças, buscando o encaixe perfeito para obter uma maior compreensão sobre elas.

É intrigante acompanhar como algumas pessoas articulam ideias de maneira inovadora, só mudando seu foco sobre elas. A alteração da perspectiva, em que se encontravam, faculta-lhes associar e acoplar a elas, novas ideias, transformando o já conhecido em novo design compreensivo.

É instigante, desafiador mesmo, tentar colocar nosso mundo mental e nossa sensibilidade a postos, para se movimentar conforme o novo rítmo, em constante mutação, buscando aprender os passos da "dança das ideias" do mundo contemporâneo.

É decepcionante constatar como, mesmo conscientes de se esforçarem por acompanhar tantas e aceleradas mudanças muitos se permitam embalar pela preguiça ou fadiga mental, pelo tédio ou apatia ansiosos pela premência da necessidade de agir em tantas direções e de forma simultânea, para não serem pisoteados pelos que buscam aprender a dançar sob rítmo tão frenético, até assustador para os limites humanos de então, do presente sempre passado a partir de agora.

A mensagem é sempre se aprimorar mais e mais... mas com sabedoria e serenidade, sem atropelos, domando medos de tropeços. Na era da incerteza e insegurança, um dos maiores aprendizados reside no reconhecer seu potencial de sempre se renovar, a partir de uma célula física ou mental, se reestruturar organicamente e até ressurgir das cinzas de possível caos mental.

Desde que tive contato com as descobertas da "Neurociência", em particular com as constatações da Dra.Jill Bolte Taylor ("A cientista que curou seu próprio cérebro", Ediouro, 2008) - cujas palestras sobre as experiências vividas estão disponíveis no canal Youtube - cada vez mais me alio às informações operacionais passadas pelo diálogo entre nossos dois hemisférios cerebrais.

O conhecimento científico, e o acompanhamento como cientista do que se passou em seu cérebro, a levou a considerar os dois hemisférios cerebrais como duas entidades autônomas, inclusive com lógicas diferenciadas dentro do campo lógico. Taylor pode observar o campo lógico dos valores racionais, transmitidos por uma linguagem de fácil compreensão aprendida pela maioria (hemisfério esquerdo) e do campo lógico dos princípios valorativos, pertencentes a uma razão diferenciada, por uma linguagem lógica apreendida, criativa, intuída por uma sensibilidade mais apurada, como no caso das artes em geral (hemisfério direito).

Sendo assim chamo a atenção pelo que tem ocorrido no social, em diferentes frentes observadas, onde intervenções não se voltam mais só a buscar autoconhecimento através de acontecimentos ocorridos por vezes em passado distante, mas principalmente em buscar soluções alternativas inovadoras (criativas) para problemas que ocorrem no dia a dia, contribuindo para a qualidade de uma "vida boa" (Luc Ferry).

Intervenções clínicas buscam não mais só o modelo médico da leitura e intervenção sobre sinais ou sintomas (razão ou lógica do hemisfério esquerdo), mas a leitura compreensiva da doença, representação significativa, plena de sentido a ser apreendido, caminho escolhido para a manifestação e alívio de uma subjetividade angustiada (razão ou lógica do hemisfério direito). Quando a essência humana se encontra enjaulada e castrada em sua alegria de viver, grita por socorro e liberdade, por ter que conviver com o peso de uma existência repressora e sufocante.

Nossas "mãos" têm tantos dedos para representar novas saídas, novos interesses, novas metas, novos caminhos alternativos. Nossas "cabeças" suportam acolhê-los até simultaneamente, rechaçando o tédio e a apatia, a falta de sentido no viver e estagnação mental e física, perdendo os movimentos necessários para os passos acompanharem o ritmo da dança da vida também. Salvo por limitações orgânicas, que demandam a aliança com medicamentos específicos, a questão recai sobre nossa capacidade de unir as forças de um "saber, querer, fazer, fazer acontecer" a um "querer fazer acontecer de forma contínua", renovando sempre nossas energias internas.

Muitos nascem com um patrimônio genético, com uma curiosidade e uma vontade, de mais e mais aprender, inatas. Outros por aprendizagem aprendem, com esforço, a conquistar esses interesses e diversificá-los. Felizes e livres são aqueles que se aprimoram, para obter a compreensão das linguagens dos níveis diferentes do mundo psíquico do ser humano. Acoplando potencial genético à disciplina na aprendizagem, transitam mais facilmente de um hemisfério cerebral a outro, e se capacitam para seguir, com consciência e disponibilidade interna, o diálogo - no momento ainda assustador, mas integrador -  entre essas duas lógicas, acompanhando a sequência de operações e se permitindo, com flexibilidade e firmeza, gerenciá-las.

Meu interesse atual recai na coleta de dados significativos para poder me aventurar a esboçar um perfil do "humano" ante as transformações atuais. Quando me reporto a humano, coloco o "homem dentro do social", levando em conta a máxima "Sei que sou, que existo, mas só posso tornar-me eu através do outro".

Coincidência? Feliz coincidência e agradável surpresa!
Duas novas aquisições e início de leituras simultâneas ao perceber que, em ambos, poderia obter elementos para me ajudar a começar a delinear o perfil psicológico do homem para o milênio:

"Terapia de solução de problemas: uma abordagem positiva à intervenção clínica" (TSP). Thomas D'Zurilla e Arthur Nezu - São Paulo:Roca, 2010  (ou edição 2011 revisada) Nesse livro os autores vão abordar as técnicas de TSP, em diversas patologias psíquicas, inclusive psiquiátricas como é o caso de quadros esquizofrênicos, e exemplificar intervenções clínicas voltadas a agir sobre problemas também no desempenho social, focando o "uso da criatividade" no enfrentamento.

"O Instinto do Sucesso: transforme seus impulsos primitivos em poderosos aliados na sua carreira e nos negócios". Renato Grinberg - São Paulo: Ed.Gente, 2013. O autor propõe o uso racional e criativo para a administração e desenvolvimento profissional e pessoal. Seu objetivo, segundo ele, é "ensinar a converter ansiedade em planejamento e resultado; a transformar agressividade em motivação, a pensar antes de agir, a se conter e criar estratégias positivas voltadas ao sucesso e não ao fracasso".

No momento, destaco a "dança das ideias" de Grinberg , que parte do princípio de que:
* "É possível direcionar a energia de nossos impulsos inconscientes e usá-la para ter êxito no trabalho e na vida pessoal.".
*"Reações naturais, instintos primitivos, permeiam o mundo corporativo, caso da "crítica" sentida como invasão de território ("instinto de territorialidade"), rechaçada como defesa de imediato sem devida reflexão racional sobre ela, pela atuação impetuosa do "instinto de preservação", sobrevivência do espaço psíquico sentido como ameaçado".
* A ação mobilizada pelo "instinto de altruísmo recíproco" resulta em fracasso pela postura corporativa de quem quer agradar a todos na expectativa errônea de igual reciprocidade.
* O "instinto de reprodução", primitivo desejo de perpetuação agora voltado ao legado, nome, marca...

E por aí vai o rodopio de suas ideias, que impulsionam a quem se  permite se envolver por elas e se entregar a sua condução racional, que se estende pelos recantos do amplo salão imaginário no deslizar da fluência ideacional e associativa.

Quem não passou pelos momentos citados por ele, que se manifeste!

"Todos os dias, vemos nas empresas e no ambiente corporativo profissionais de todos os níveis e setores reagindo segundo seus instintos mais primitivos:
* São executivos que tomam decisões abruptas e impensadas que prejudicam as equipes.
* São empreendedores impetuosos que não planejam racionalmente e conduzem seus negócios à falência.
* São profissionais que se sentem ameaçados por colegas e armam planos e intrigas no ambiente de trabalho, causando danos a todos.
* São gestores que, paralisados pelo medo e pela ansiedade, não conseguem agir para alcançar as metas.
* São funcionários que se desesperam por sentirem uma enorme pressão e acabam deixando que o estresse chegue a um nível insustentável.
* São pessoas agressivas e inconstantes, que tratam seus pares com rispidez, por descontarem neles suas frustrações e seus problemas pessoais.
* São líderes que se sentem acuados e chegam a atrapalhar a carreira de colegas e subordinados por criar disputas descabidas no ambiente de trabalho.
* É você quando, ao participar ou presenciar determinada situação, tem vontade de voar na jugular de um colega (ou chefe) por achar absurda alguma atitude dessa pessoa."

O exposto acima valeu como convite, para que comecem a refletir e se mobilizar conforme a "dança das ideias", e  planejem como se integrar, ao rítmo anunciado pelo milênio, agregando forças?

Aurora Gite



quarta-feira, 13 de março de 2013

Dupla Homenagem e muita esperança

Data histórica : muita esperança de paz no caos do desalento, impotência, violência e falta de fé.

Dia: 13 de março de 2013

Local: Vaticano em Roma, Itália
Conclave de Cardeais na Capela Sistina
Eleição de um novo Papa (líder da Igreja Católica)


Hora: 19:06 (Roma)  15:06 (Brasília)
Horário oficial de emissão da fumaça branca pela chaminé da capela
Os sinos tocaram anunciando a "boa nova"!
Novo papa eleito!

Novo Pontífice da Igreja Católica Apostólica Romana
* Responsável pela gestão da fé de mais 1 bilhão de seguidores
* Responsável pela reestruturação da Instituição Religiosa Católica hoje abalada
* Responsável pelo resgate de muitos fiéis, que debandaram em virtude dos constantes escândalos entre seus representantes oficiais
Árdua tarefa: A Igreja vai ter que se abrir ao novo globalizado e aceleradas transformações pelo conhecimento informatizado; vai ter que expandir suas fronteiras e fortalecer seu poder doutrinário no mundo contemporâneo, enfrentando com realismo discussões que se perderam pelo findar da era moderna.

Cardeal Jorge Mario Bergoglio
Idade: 76 anos
Primeiro papa jesuíta (membro da Companhia de Jesus) - função pastoral evangelizadora
Primeiro papa latino-americano
Primeiro papa oriundo da Argentina (país com histórico ditatorial)
Características pessoais: humildade, simplicidade

Peça-chave para sua liderança: a escolha de seu secretário para suprir a experiência burocrática, que lhe pode faltar, com boa capacidade diplomática para orientar agenda papal no transitar com roteiro logístico inteligente pelos diversos países; grande conhecimento, bom senso e firmeza para gerir funções burocráticas, podendo ser seu braço direito nesse sentido.

"Habemus Papam Franciscus"
Adoção do nome papal de "Francisco"
Nome a que logo se associa "São Francisco de Assis"
Missão que se atribuía esse Santo: "Reconstrução da Igreja"
Missão do  Papa Francisco: "Reerguimento da Igreja Católica pela restauração de sua credibilidade"

Sendo assim homenageio Francisco citando a Prece de São Francisco, já expressando minha esperança em sua atuação em prol da unificação do social tão corrompido e dividido por discriminações várias e resgates de valores espirituais humanos, pertencentes à razão "kantiana" envolvendo "princípios morais virtuosos" e não regras institucionais e normas sociais obsoletas.


Prece de São Francisco

Ó Senhor!
Faze de mim um instrumento da Tua Paz:
Onde há ódio, faze que eu leve o Amor;
Onde há ofensa, que eu leve o Perdão;
Onde há discórdia, que eu leve a União;
Onde há dúvidas, que eu leve a Fé;
Onde há erros, que eu leve a Verdade;
Onde há desespero, que eu leve a Esperança;
Onde há tristeza, que eu leve a Alegria;
Onde há trevas, que eu leve a Luz!

Ó Mestre!
Faze que eu procure menos
Ser consolado, do que consolar,
Ser compreendido, do que compreender,
Ser amado, do que amar...
                                     Porquanto:
É dando, que se recebe;
É perdoando, que se é perdoado;
É morrendo, que se vive para a vida eterna.



Foquem a leitura dessa prece, pensando em uma "alquimia de energias" e suas fases de transformação da vida material para a espiritual. Esses são os passos, experimente trilhá-los para ver como a administração de suas energias psíquicas se altera para uma forma mais harmônica, unindo serenidade com sabedoria. O morrendo se refere à morte da vida superficial da matéria, das aparências e das ilusões.

Lembram da vida de São Francisco? Então revejam como foi construído seu código de valores, analisem as regras morais que respeitou e como cortou, com firmeza, regulamentos e normas questionáveis e não de acordo com seus princípios internos.

No momento, aceitem meu convite para assistir comigo ao filme "Irmão Sol e Irmã Lua".

Depois continuamos a ponderar se pode existir ou não pura amizade entre um homem e uma mulher, ok?

No amanhã, acompanho, com grande interesse, as primeiras medidas do novo pontífice, as repercussões de sua escolha, as diferentes análises sobre as probabilidades de suas eventuais intervenções, e principalmente os primeiros discursos papais colocando suas idéias e suas orientações, para restaurar a humanidade desse milênio.

Aurora Gite


terça-feira, 12 de março de 2013

Tem cacife para se bancar na relação a "2" ?


A matemática de um casal

Esse título intrigou você?
Vamos destrinchar um pouco mais esse tema?
Aposto que você vai se surpreender mais ainda.

O próprio termo casal nos remete a um par, ao número "2".
E eu vou mostrar a você que um casal equivale ao número "1" e , se tentar transformar essa relação humana em "2", é o início do fim de uma convivência harmônica.

Duas pessoas se conhecem, descobrem um certo magnetismo no outro (que chamar de simpatia, tudo bem) , que vem da troca de olhares. No olhar está escondido um grande mistério, tente falar com a pessoa sem olhar diretamente, e observe o que ocorre dentro de você. Epa! Prometo, não misturar a física quântica nesse momento, mas que já podemos fazer várias conjecturas sob o prisma dos novos conceitos podemos. Os primeiros passos para essa leitura residem no poder da energia obtida através da visão, pensamento e imaginação.

Por que aquela pessoa, e não aquela outra, que está bem ao lado dela, te atraiu?
Por que a disposição interna de conhecê-la melhor?
Por que o tesão de prolongar ao máximo o contato, de fazer com que as palavras se arrastem e o relógio se atrase?
Por que vontade de que esse imã de ligação não perca sua força de atração?

Descoberta de afinidades, algumas reais, outras criadas, e sabemos que é aqui que reside o perigo. O encantamento pode ser tanto, e a carência pessoal maior ainda, que desligamos nossa capacidade de captar e coletar os dados diretamente da realidade externa e interna. O mundo da imaginação, quando unido à idealização pela fantasia sobre o outro e sobre nós, nos arrebata de tal forma, que nos embalamos no ledo engano da ilusão... e nos perdemos, abrimos mão de nós como indivíduos únicos. Porém nos esquecemos que mais cedo, ou mais tarde, a realidade vai se impor a nós. A vida não nos perdoa esse afastamento. O resgate de nossa individualidade, e a retomada da administração de nossa vida, vai ser sempre difícil e sofrido, e inadiável muitas vezes.

E a matemática?
Já ouviram falar no processo de individuação?
Então sabem que não me refiro a individualização, não é?
Como podem existir dois números "1" tão idênticos, mas tão distantes um do outro e tão díspares em suas equivalências, ou seja, no peso de seus valores.

No primeiro nos tornamos indivíduos, abertos ao outro, ao mundo de relação, sabemos nos cuidar, reconhecemos nossas necessidades, distinguimos o que pertence ao nosso mundo interno e separamos o que é do outro, conseguimos melhor administrar nosso patrimônio interior. Podemos nos bancar, ou seja, verificar se temos cacife - psíquico, moral, e mesmo financeiro, por que não? - para preservar o número "1" dentro da relação de parceria, e se temos condições de avaliar até onde podemos seguir na relação sem nos violentarmos. Uma violentação implica numa invasão agressiva ao nosso íntimo e a quebra do inteiro, do "1" que somos, e é a nossa relação conosco mesmo que fica "zerada".

No segundo nos tornamos individualistas, fechados ao outro, no mundo de relação prevalecem os próprios valores e os interesses individuais, ou seja, existe o "2", o "eu e você", mas não existe a relação casal. Como o individualista não sabe se cuidar, não se assume como sendo responsável por si mesmo, não consegue ir a luta e buscar conquistar aquilo de que sente falta - aliás nem sabe o que deseja realmente, nem do que precisa para ser feliz - espera que, quem com ele se relacionar, assuma a responsabilidade "sobrehumana" de bancá-lo em suas carências, de magicamente saber o que quer e precisa, e entre no papel de salvador acertando no aplacamento das angústias por suas frustrações. Sendo o eterno insatisfeito, representa o negativo do "1" , ou seja, o "-1". Só por aí a relação a "2" está zerada.

Há algum tempo gostava de dizer que o número representativo de um casal era o "11". Hoje, com mais vivência e com o manto de sabedoria que a vida vai nos protegendo, com humildade mudei essa convicção.

Considerando uma relação formada por dois números "1", queria que refletisse comigo, pois coloco que a relação humana, que surge de dois "1" equivale também a "1".

Se "relação casal" não for considerada como terceiro elemento inteiro da interação das pessoas, ela vai se tornar vítima de "momentos pessoais de cada um". A manutenção de um casal de inteiros vai depender da forma como cada um dos elementos anteriores vai administrar suas diferenças e da coragem com que vão bancar o "número infinito" de expectativas internas, que fazem parte de suas personalidades individuais, somadas às do mundo que os cerca, que também interferem nas qualidades das vivências cotidianas.

Acredito que a relação "1", surja do "entrelaçamento de partículas" individuais que permitam a cada um estar em vários lugares ao mesmo tempo, sem perder a força atrativa, ou o brilho pessoal. Ela traz como características o companheirismo e a cumplicidade, valores individuais que se entrelaçam, em prol da construção do "nós", sob a radiação luminosa da auto-estima e autovalorização - forças necessárias na manutenção do equilíbrio energético, elo de ligação desse "casal", e também em alguns momentos, ante possíveis desgastes advindos das convivências diárias, fontes reabastecedoras e reativadoras da sintonia entre o casal.


Aurora Gite

domingo, 10 de março de 2013

Recorte:Será mesmo que vamos assassinar a História


Será mesmo que vamos assassinar a "História"?


Entendo que da pluralidade e conectividade de "micro-histórias", obtenhamos o desenho da dinamica existencial que configura a "macro-História".

As micro-histórias dependem da inserção das individualidades na complexidade dos relacionamentos humanos, seus jogos de convivência, suas lutas por espaço e poder, suas tomadas de decisão embasadas em intencionalidades e imprevisibilidades.

E é dessa intríncada rede de relações pessoais que se esboça a História da Humanidade. Suas sinalizações são importantes de serem levadas em consideração ao se observar a "vida em reverso".

Sendo assim procuro aspectos de minha história pessoal que pudessem se encaixar na sociedade que gostaria de ver construída nesse novo milênio.

A colocação de um grande complexo hospitalar no "divã", a observação e análise da rede de interações estabelecidas, os jogos pelo poder, o mau uso da autoridade conferida pelo cargo ocupado, o contato com o lado perverso do ser humano ao reagir a ameaças de possíveis alterações em seu "status quo", a constatação da enorme fragilidade das lideranças, escravas da burocracia e do fortalecimento pessoal ilusório, falseado por constantes manipulações desumanas e preconceituosas, desnudaram para mim : uma categoria que se esconde atrás da aparência assistencialista, a razão da deficiência na qualidade do ensino dos profissionais da área, e das egoísticas atuações em pesquisas, voltadas mais a interesses pessoais, do que ao bem empresarial e o coletivo.

O fechamento de equipes, enclausuradas em si mesmas, debaixo do "em time que está ganhando não se mexe" ,"mudanças desde que...", " é preciso fazer a cabeça de fulano" . Esse tipo de coordenação impede a flexibilidade necessária para trocas e constantes inovações criativas. Um agregar forças, diretriz de uma política em recursos humanos baseada na inclusão e administração das diferenças, depende de posturas abertas, saudáveis , que não se amedrontem ante qualquer desenvolvimento concorrencial, pois confiam em seu potencial.

A patologia organizacional a nível de suas lideranças diretas e indiretas ( assessores) estava visível. Chefias apresentando projetos como seus, erguendo crachás e dizendo:"Faça porque estou mandando!", desenvolvendo políticas de privilégios ( liberação para congressos) e submissões humilhantes? Coordenações de ensino que guardam sigilo do "sumiço" de matriz de apostilas necessárias as aulas, que desviam para outros docentes material ( datashow) requisitado dentro do prazo, obrigando reestruturações imediatas do plano de aula? Falta de ética ante quebra de sigilo de provas e de banco de dados informatizados? Quem não convive ainda com algo semelhante? 
Tudo agora é questão de tempo . Esses tipos de profissionais não conseguem sobreviver dentro dos novos modelos participativos de gestão.

Um ponto forte que me chamava a atenção residia no orgulho de muitos colaboradores ( e aqui me incluo) ao percorrer os corredores daquela Faculdade, observando a galeria de quadros de profissionais que construíram sua história, ganhando por isso destaque. Isto constrastava com o desejo de outros, ainda na ativa, de apagar registros bibliotecários e destruir dados significativos, banco de memórias de uma época, esquecendo que uma história institucional se conserva viva, enquanto estiver na lembrança dos que a cultivem e transmitam oralmente de geração a geração.

Não entendia bem, na época, os projetos voltados a esses objetivos. Por que e para que serviam? Buscando maior compreensão, tinha por resposta que tudo fazia parte da evolução tecnológica que envolvia a agilidade da informação e a simplificação da burocracia. Porém na prática tais medidas ainda deixavam muito a desejar, e as perdas históricas eram muito significativas.

Um assassinato imediato de vivências históricas reais, buscando enterrar protagonistas, conservados vivos pela dignidade dos valores defendidos?

Um suicídio, a longo prazo, visto que a história vivenciada por anônimos poderia ensombrecer ainda mais o vazio e espelhar a falta de comprometimento organizacional e social de muitos profissionais atuantes?

As experiências devem sempre reforçar o quadro autoreferencial de quem se propõe a ser o construtor de sua própria história de vida. Lembro que mesmo dentro de um ambiente totalmente hostil, preconceituoso e de falsa política inclusiva, consegui sobreviver. Consegui manter a cabeça erguida e estar bem comigo mesmo. Produzi a cada mês novo projeto, reforçando meu capital intelectual. Engavetados ou redistribuídos, muitos deturpados e abandonados, ninguém me usurparia esses conhecimentos. O tesão da criação e o processo logístico para a implantação residem "no" e permanecem "com o" autor. 

Hoje, após anos, minha auto-estima valorizada só tem a agradecer. De tempos em tempos, em alguns momentos de fragilidade, resgato essa visão histórica e isso me ajuda a superá-los mais rapidamente. Acredito ter sido a qualidade dessas vivências, que me possibilitou acompanhar as considerações de Eric Hobsbawm em seu livro " Era dos Extremos" , e retirar delas as respostas que buscava naquela época.

Transcrevo trechos dos relatos desse historiador , algumas de suas análises sobre o século XX, repercussões atingindo o século XXI . Também endosso o apelo de muitos :" Não deixem que retirem da História seu eterno papel unificador"! Acreditando que possa estar sendo falseada por alguns, é se aproximar dos historiadores que buscam cercar seus relatos de evidências focando a transparência de fatos verdadeiros sob várias perspectivas.

Algumas citações do autor, acima mencionado valem muitas reflexões, pois sinalizam o grande perigo do século XXI:

" No fim deste século XX, pode-se ver como pode ser um mundo em que o passado - inclusive o passado no presente - perdeu seu papel... Não sabemos aonde tudo nos leva, ou mesmo aonde deve nos levar... Para onde vai a humanidade? "

"Olhando para trás, vemos a estrada que nos trouxe até aqui. Mas o que nos moldará o futuro?"... Ante a "regressão aos padrões do barbarismo, este século nos ensinou que os seres humanos podem aprender a viver nas condições mais brutalizadas e teoricamente intoleráveis."

" A memória histórica já não está tão viva". É a lacuna entre gerações e o abismo entre seus valores dificultando a vida de relação.

"A destruição do passado - ou melhor, dos mecanismos sociais que vinculam nossa experiência pessoal à das gerações passadas - é um dos fenômenos mais característicos e lúgubres do final do século XX. Quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem. Por isso, os historiadores, cujo ofício é lembrar o que os outros esquecem, tornam-se mais importantes que nunca no fim do segundo milênio. Por esse mesmo motivo, porém, eles tem de ser mais que simples cronistas, memorialistas e compiladores".

Ao abordar a diferença qualitativa no mundo, o autor cita três transformações históricas, que contribuíram para a realidade atual :

1- Quando o século XX começou, a Europa deixava de ser o centro de poder, riqueza, intelecto e "civilização ocidental" e o mundo deixava de ser "eurocêntrico" - ocorrendo grandes mudanças na configuração econômica, intelectual e cultural da época.

2- A construção de uma "aldeia global" , e a aceleração das comunicações e transportes - mobilizando a grande "tensão entre o processo de globalização cada vez mais acelerado e a incapacidade conjunta das instituições públicas e do comportamento coletivo dos seres humanos de se acomodarem a ele".

3- Segundo ele, talvez o mais perturbador: " a desintegração de velhos padrões de relacionamento social humano e, com ela, a quebra dos elos entre gerações, quer dizer entre passado e presente".

O historiador destaca "o predomínio dos valores de um individualismo associal absoluto, a erosão das sociedades e religiões tradicionais, a destruição ou autodestruição das sociedades do socialismo real". Registra a formação da sociedade atual "por um conjunto de indivíduos egocentrados sem outra conexão entre si, em busca apenas da própria satisfação ( o lucro, o prazer, ou seja lá o que for) que estava sempre implícita na teoria capitalista".

O modo de produção capitalista e as relações dele decorrentes podem ter sido responsável por ter moldado esse tipo de indivíduo, porém o ser humano está muito além desses padrões de massa. É encontrar força e coragem para se bancar, se assumir no que tem de melhor, não assassinar também a sua história de vida.

Ela é que lhe serve de parâmetro, auto-referência para acertos e desejo de aprendizagem com erros; élan para novas tomadas de decisão que lhe propiciem efetivo bem-estar, e motivação para sair da cegueira das reais necessidades ante o ofuscar das satisfações criadas. Essas são tão tênues que, com o tempo, se desfazem ante o desmoronamento do cenário de atuação de personagens fictícios, que vivem atrás de máscaras, atuando em histórias criada por outros. Seres humanos reais ousam vivenciar com prazer e auto-admiração suas verdades históricas.

Assim retorno a pergunta de Eric Hobsbawm: "Mas o que moldará o futuro?" e endosso a sua resposta, a esperança de "um mundo melhor, mais justo e mais viável". Entendo mundo melhor como aquele com mais qualidade de vida, visando bem-estar individual e coletivo.

E por que não lutar pela construção de sociedades com essa história, em vez de procurar assassinar a "História"?

Aurora Gite

sábado, 2 de março de 2013

Momento de despertar e trabalhar, "mãos à obra"!

Que agonia vem de se saber que não se tem mais tempo, ou potencial, para tentar chegar lá.

Ouço os acordes do piano! Sinto minha alma acordar e se elevar em sua dignidade. Vários compositores e pianistas dedilham com uma sensibilidade admirável. E eu me permito acompanhar os movimentos dentro de mim ao ouvir o som que conseguem tirar na coordenação das teclas manuais e dos pedais abafadores.

Ops! Para quem gosta de ouvir música clássica, passo o site que aparece na tela de meu computador, quando as ouço, escrevendo esse post:
http://abc-piano.playtheradio.com .
Particularmente, entro através do:
 iTune>biblioteca>radio>ABC PIANO >classical piano

Gosto de me entregar ao imprevisível confiável desse canal de comunicação musical e, na escuridão do desconhecido, me aventurar ao repertório que me apresentam. Aos poucos me solto, olhos fechados relaxo, e me deleito numa entrega plena de corpo e mente. Deixo meus sonhos se embalarem nos sons conseguidos pelas notas colocadas em escalas precisas. Minhas idéias se organizam, se perfilando racionalmente, como os músicos de uma orquestra esperando pelo maestro. Já vou assumir minha batuta para articular com maestria a articulação dos sentidos das palavras. Esse é o meu lugar no mundo e sei que nesse existir me desempenho a contento!

Quanto à música, sei apreciar o conjunto e reconheço quando minha alma é sensibilizada, mas sinto uma agonia enorme ao constatar que meus ouvidos são surdos e me impedem de dedilhar sequer a escala, e que meus olhos são cegos para qualquer leitura de uma simples partitura. A agilidade de meus dedos poderia ser conseguida após esforço persistente e disciplina contínua: mão de obra e vontade amordaçadas pela ausência do material bruto básico.

Piano, violino, violoncelo, flauta, saxofone, trompa, até o som angelical da harpa hoje menos usada nas orquestras... posso fechar os olhos e vê-los flutuando em suas sonorizações, como nas fantasias dos filmes de Disney. Posso me imaginar flutuando, meu espírito se elevando, transcendendo o meu próprio corpo sensório. Mas essas habilidades e esses potenciais humanos estão muito distantes de mim! Sempre estiveram muito distante de mim! Intocáveis!

Não fizeram parte de meu material genético, para ir me adaptando à nova linguagem que a leitura do milênio vai demandar sobre o ser humano. Mais uma rodada de descobertas sobre o genoma humano, mais alguns anos de descobertas... e as gerações de então vão poder contatar bancos de genes, que lhes facultem adquirir algumas potencialidades, que não vieram com seu material genético inato.

Para se inteirarem de como estão acelerados os projetos que envolvem essas revoluções do milênio, indico os vídeos disponíveis no Youtube das séries englobadas sob o título de "Visões do Futuro":
* Revolução Quântica - Mundo Subatômico, Biomolecular e Nanotecnologia
* Revolução Computacional e das Redes de Inteligência Artificial
* Revolução Biotecnológica e da Medicina Genética

A trilogia destaca a fusão indiscutível e inquebrantável da inteligência artificial em nosso cotidiano prático com a ciência da computação e a medicina genética, e a onipresença fortalecida das "redes inteligentes invisíveis", de tal forma integrada como parte da vida dos seres humanos.

Os humanos talvez venham a se transformar a partir de agora em seres "trans-humanos", ante a posse total de seu código genético e poder de manipulá-lo para alcançar projetos de criações clonadas de "raças ideais" e conseguir, graças a revolução biomolecular, o domínio até sobre a própria "longevidade da vida humana".

Realça o papel da sinergia entre as três grandes revoluções (quântica,computacional e tecnológica) e aborda suas consequências imediatas sobre os seres humanos e as novas civilizações informatizadas que surgem, tão distantes das sociedades até então conhecidas por nós.

Aponta para a transição da Era das Descobertas Científicas para a Era do Domínio Científico, para os perigos que se delineiam e para importantes questões éticas e sociais. "Não vamos transcender nossa humanidade, só nossa biologia." Será? Como está a "humanidade" neste início do século 21? Existem princípios éticos predominando sobre costumes e regras de convivências sociais disfuncionais ao bem estar da raça humana?

" O reconhecimento de nossa finitude é a chave para o modo como vivemos a vida. Tudo é governado pelo "sentido de eu" e por saber que nascemos e depois vamos morrer.Convém pensar com maior seriedade, a partir de agora, nas implicações que possam existir por mexermos com o processo de envelhecimento e refletirmos sobre questões como:
* Por que devemos querer viver milhares de anos?
* O que faremos com o tempo que teremos pela frente?
* Qual é o real motivo que nos mobiliza e o que iremos fazer com tudo isso?
* Como tornar a evolução auto-dirigida mais consciente, sem deixá-la ao caos da vaidade humana?
* O que significa para nós tudo isso tanto no coletivo, quando no individual?

* Como impedir interesses pessoais e laboratórios clandestinos de fazerem uso indevido desse poder?
* Como controlar o tráfico de genes ilegais?
* Como impedir maior discriminação ética seletiva no social e distribuição injusta de privilégios entre classes mais ricas e mais pobres?
* Existe o perigo da raça humana começar a se dividir e criar um "apartheid" genético?
* Como iremos usar os novos poderes e até onde iremos?

Todas essas possibilidades surgem no dedilhar simultâneo dos dedos humanos inspirados na melodia das  músicas vindas da alma da criação humana, que, no entanto, podem produzir, no momento social em que vivemos, muitos ruídos e estragos, até ocasionar o rompimento das cordas do humano, que a geração atual já tem dificuldade em conservar intactas, ao pensar no coletivo.

Termino esse post com os receios, e análise sobre possível luz no fundo do túnel, do sociólogo Zigmunt Bauman  ("Medo Líquido", Zahar, 2008):

O medo que caracteriza nossa sociedade é "liquido": difuso, disperso, sem sentido, desvinculado, flutuante, escorregadio...A incerteza sobre o que nos cerca, a impossibilidade de estabelecer um foco de atuação e estratégias efetivas nos confronta com nossa impotência... Eis o círculo vicioso ao redor do homem dessa era da incerteza: medo, impotência, insegurança, desvalorização, tediosa acomodação, raiva, negligente rebeldia... Nesse momento, o único eixo seguro para o homem é se fortalecer pela proximidade com seus princípios éticos (valores ou forças interiores) e não com a moral decadente do social em vigor.

Esse é o eixo, segundo Bauman, que poderá possibilitar ao homem a segurança interna para não se vergar ante tantas e tão rápidas transformações desumanas, conservando a dignidade ética que lhe cabe respeitar e defender.

A meu ver, o momento é de despertar o humano em cada um de nós, e não sucumbi-lo mais ainda.
Tenho exercido meu papel como posso.
E você, em sua autoavaliação, tem exercido o seu a contento?

No que se refere à defesa da humanidade, temos potencial, capacidade e tempo "ainda", para atuar em favor dela. É só arregaçar as mangas, com cabeça erguida, respeitando as limitações que o cercam.

O momento é de despertar e trabalhar, "mãos à obra"!
Comecem, por exemplo, por divulgar essa trilogia "Visões do Futuro", séries de vídeos disponíveis no canal Youtube.

Aurora Gite

P.S.: Indico também o livro "A Física do Futuro: como a ciência moldará o destino humano e o nosso cotidiano em 2100", Michio Kaku. Rio de Janeiro: Rocco, 2012.