sábado, 2 de março de 2013

Momento de despertar e trabalhar, "mãos à obra"!

Que agonia vem de se saber que não se tem mais tempo, ou potencial, para tentar chegar lá.

Ouço os acordes do piano! Sinto minha alma acordar e se elevar em sua dignidade. Vários compositores e pianistas dedilham com uma sensibilidade admirável. E eu me permito acompanhar os movimentos dentro de mim ao ouvir o som que conseguem tirar na coordenação das teclas manuais e dos pedais abafadores.

Ops! Para quem gosta de ouvir música clássica, passo o site que aparece na tela de meu computador, quando as ouço, escrevendo esse post:
http://abc-piano.playtheradio.com .
Particularmente, entro através do:
 iTune>biblioteca>radio>ABC PIANO >classical piano

Gosto de me entregar ao imprevisível confiável desse canal de comunicação musical e, na escuridão do desconhecido, me aventurar ao repertório que me apresentam. Aos poucos me solto, olhos fechados relaxo, e me deleito numa entrega plena de corpo e mente. Deixo meus sonhos se embalarem nos sons conseguidos pelas notas colocadas em escalas precisas. Minhas idéias se organizam, se perfilando racionalmente, como os músicos de uma orquestra esperando pelo maestro. Já vou assumir minha batuta para articular com maestria a articulação dos sentidos das palavras. Esse é o meu lugar no mundo e sei que nesse existir me desempenho a contento!

Quanto à música, sei apreciar o conjunto e reconheço quando minha alma é sensibilizada, mas sinto uma agonia enorme ao constatar que meus ouvidos são surdos e me impedem de dedilhar sequer a escala, e que meus olhos são cegos para qualquer leitura de uma simples partitura. A agilidade de meus dedos poderia ser conseguida após esforço persistente e disciplina contínua: mão de obra e vontade amordaçadas pela ausência do material bruto básico.

Piano, violino, violoncelo, flauta, saxofone, trompa, até o som angelical da harpa hoje menos usada nas orquestras... posso fechar os olhos e vê-los flutuando em suas sonorizações, como nas fantasias dos filmes de Disney. Posso me imaginar flutuando, meu espírito se elevando, transcendendo o meu próprio corpo sensório. Mas essas habilidades e esses potenciais humanos estão muito distantes de mim! Sempre estiveram muito distante de mim! Intocáveis!

Não fizeram parte de meu material genético, para ir me adaptando à nova linguagem que a leitura do milênio vai demandar sobre o ser humano. Mais uma rodada de descobertas sobre o genoma humano, mais alguns anos de descobertas... e as gerações de então vão poder contatar bancos de genes, que lhes facultem adquirir algumas potencialidades, que não vieram com seu material genético inato.

Para se inteirarem de como estão acelerados os projetos que envolvem essas revoluções do milênio, indico os vídeos disponíveis no Youtube das séries englobadas sob o título de "Visões do Futuro":
* Revolução Quântica - Mundo Subatômico, Biomolecular e Nanotecnologia
* Revolução Computacional e das Redes de Inteligência Artificial
* Revolução Biotecnológica e da Medicina Genética

A trilogia destaca a fusão indiscutível e inquebrantável da inteligência artificial em nosso cotidiano prático com a ciência da computação e a medicina genética, e a onipresença fortalecida das "redes inteligentes invisíveis", de tal forma integrada como parte da vida dos seres humanos.

Os humanos talvez venham a se transformar a partir de agora em seres "trans-humanos", ante a posse total de seu código genético e poder de manipulá-lo para alcançar projetos de criações clonadas de "raças ideais" e conseguir, graças a revolução biomolecular, o domínio até sobre a própria "longevidade da vida humana".

Realça o papel da sinergia entre as três grandes revoluções (quântica,computacional e tecnológica) e aborda suas consequências imediatas sobre os seres humanos e as novas civilizações informatizadas que surgem, tão distantes das sociedades até então conhecidas por nós.

Aponta para a transição da Era das Descobertas Científicas para a Era do Domínio Científico, para os perigos que se delineiam e para importantes questões éticas e sociais. "Não vamos transcender nossa humanidade, só nossa biologia." Será? Como está a "humanidade" neste início do século 21? Existem princípios éticos predominando sobre costumes e regras de convivências sociais disfuncionais ao bem estar da raça humana?

" O reconhecimento de nossa finitude é a chave para o modo como vivemos a vida. Tudo é governado pelo "sentido de eu" e por saber que nascemos e depois vamos morrer.Convém pensar com maior seriedade, a partir de agora, nas implicações que possam existir por mexermos com o processo de envelhecimento e refletirmos sobre questões como:
* Por que devemos querer viver milhares de anos?
* O que faremos com o tempo que teremos pela frente?
* Qual é o real motivo que nos mobiliza e o que iremos fazer com tudo isso?
* Como tornar a evolução auto-dirigida mais consciente, sem deixá-la ao caos da vaidade humana?
* O que significa para nós tudo isso tanto no coletivo, quando no individual?

* Como impedir interesses pessoais e laboratórios clandestinos de fazerem uso indevido desse poder?
* Como controlar o tráfico de genes ilegais?
* Como impedir maior discriminação ética seletiva no social e distribuição injusta de privilégios entre classes mais ricas e mais pobres?
* Existe o perigo da raça humana começar a se dividir e criar um "apartheid" genético?
* Como iremos usar os novos poderes e até onde iremos?

Todas essas possibilidades surgem no dedilhar simultâneo dos dedos humanos inspirados na melodia das  músicas vindas da alma da criação humana, que, no entanto, podem produzir, no momento social em que vivemos, muitos ruídos e estragos, até ocasionar o rompimento das cordas do humano, que a geração atual já tem dificuldade em conservar intactas, ao pensar no coletivo.

Termino esse post com os receios, e análise sobre possível luz no fundo do túnel, do sociólogo Zigmunt Bauman  ("Medo Líquido", Zahar, 2008):

O medo que caracteriza nossa sociedade é "liquido": difuso, disperso, sem sentido, desvinculado, flutuante, escorregadio...A incerteza sobre o que nos cerca, a impossibilidade de estabelecer um foco de atuação e estratégias efetivas nos confronta com nossa impotência... Eis o círculo vicioso ao redor do homem dessa era da incerteza: medo, impotência, insegurança, desvalorização, tediosa acomodação, raiva, negligente rebeldia... Nesse momento, o único eixo seguro para o homem é se fortalecer pela proximidade com seus princípios éticos (valores ou forças interiores) e não com a moral decadente do social em vigor.

Esse é o eixo, segundo Bauman, que poderá possibilitar ao homem a segurança interna para não se vergar ante tantas e tão rápidas transformações desumanas, conservando a dignidade ética que lhe cabe respeitar e defender.

A meu ver, o momento é de despertar o humano em cada um de nós, e não sucumbi-lo mais ainda.
Tenho exercido meu papel como posso.
E você, em sua autoavaliação, tem exercido o seu a contento?

No que se refere à defesa da humanidade, temos potencial, capacidade e tempo "ainda", para atuar em favor dela. É só arregaçar as mangas, com cabeça erguida, respeitando as limitações que o cercam.

O momento é de despertar e trabalhar, "mãos à obra"!
Comecem, por exemplo, por divulgar essa trilogia "Visões do Futuro", séries de vídeos disponíveis no canal Youtube.

Aurora Gite

P.S.: Indico também o livro "A Física do Futuro: como a ciência moldará o destino humano e o nosso cotidiano em 2100", Michio Kaku. Rio de Janeiro: Rocco, 2012.



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