terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Uma de minhas postagens favoritas

DOMINGO, 17 DE MAIO DE 2009

A matemática de um casal

Esse título intrigou você?
Vamos destrinchar um pouco mais esse tema?
Aposto que você vai se surpreender mais ainda.

O próprio termo casal nos remete a um par, ao número "2".
E eu vou mostrar a você que um casal equivale ao número "1" e , se tentar transformar essa relação humana em "2", é o início do fim de uma convivência harmônica.

Duas pessoas se conhecem, descobrem um certo magnetismo no outro (que chamar de simpatia, tudo bem) , que vem da troca de olhares. No olhar está escondido um grande mistério, tente falar com a pessoa sem olhar diretamente, e observe o que ocorre dentro de você. Epa! Prometo, não misturar a física quântica nesse momento, mas que já podemos fazer várias conjecturas sob o prisma dos novos conceitos podemos. Os primeiros passos para essa leitura residem no poder da energia obtida através da visão, pensamento e imaginação.

Por que aquela pessoa, e não aquela outra, que está bem ao lado dela, te atraiu?
Por que a disposição interna de conhecê-la melhor?
Por que o tesão de prolongar ao máximo o contato, de fazer com que as palavras se arrastem e o relógio se atrase?
Por que vontade de que esse imã de ligação não perca sua força de atração?

Descoberta de afinidades, algumas reais, outras criadas, e sabemos que é aqui que reside o perigo. O encantamento pode ser tanto, e a carência pessoal maior ainda, que desligamos nossa capacidade de captar e coletar os dados diretamente da realidade externa e interna. O mundo da imaginação, quando unido à idealização pela fantasia sobre o outro e sobre nós, nos arrebata de tal forma, que nos embalamos no ledo engano da ilusão... e nos perdemos, abrimos mão de nós como indivíduos únicos. Porém nos esquecemos que mais cedo, ou mais tarde, a realidade vai se impor a nós. A vida não nos perdoa esse afastamento. O resgate de nossa individualidade, e a retomada da administração de nossa vida, vai ser sempre difícil e sofrido, e inadiável muitas vezes.

E a matemática?
Já ouviram falar no processo de individuação?
Então sabem que não me refiro a individualização, não é?
Como podem existir dois números "1" tão idênticos, mas tão distantes um do outro e tão díspares em suas equivalências, ou seja, no peso de seus valores.

No primeiro nos tornamos indivíduos, abertos ao outro, ao mundo de relação, sabemos nos cuidar, reconhecemos nossas necessidades, distinguimos o que pertence ao nosso mundo interno e separamos o que é do outro, conseguimos melhor administrar nosso patrimônio interior. Podemos nos bancar, ou seja, verificar se temos cacife - psíquico, moral, e mesmo financeiro, por que não? - para preservar o número "1" dentro da relação de parceria, e se temos condições de avaliar até onde podemos seguir na relação sem nos violentarmos. Uma violentação implica numa invasão agressiva ao nosso íntimo e a quebra do inteiro, do "1" que somos, e é a nossa relação conosco mesmo que fica "zerada".

No segundo nos tornamos individualistas, fechados ao outro, no mundo de relação prevalecem os próprios valores e os interesses individuais, ou seja, existe o "2", o "eu e você", mas não existe a relação casal. Como o individualista não sabe se cuidar, não se assume como sendo responsável por si mesmo, não consegue ir a luta e buscar conquistar aquilo de que sente falta - aliás nem sabe o que deseja realmente, nem do que precisa para ser feliz - espera que, quem com ele se relacionar, assuma a responsabilidade "sobrehumana" de bancá-lo em suas carências, de magicamente saber o que quer e precisa, e entre no papel de salvador acertando no aplacamento das angústias por suas frustrações. Sendo o eterno insatisfeito, representa o negativo do "1" , ou seja, o "-1". Só por aí a relação a "2" está zerada.

Há algum tempo gostava de dizer que o número representativo de um casal era o "11". Hoje, com mais vivência e com o manto de sabedoria que a vida vai nos protegendo, com humildade mudei essa convicção.

Considerando uma relação formada por dois números "1", queria que refletisse comigo, pois coloco que a relação humana, que surge de dois "1" equivale também a "1".

Se "relação casal" não for considerada como terceiro elemento inteiro da interação das pessoas, ela vai se tornar vítima de "momentos pessoais de cada um". A manutenção de um casal de inteiros vai depender da forma como cada um dos elementos anteriores vai administrar suas diferenças e da coragem com que vão bancar o "número infinito" de expectativas internas, que fazem parte de suas personalidades individuais, somadas às do mundo que os cerca, que também interferem nas qualidades das vivências cotidianas.

Acredito que a relação "1", surja do "entrelaçamento de partículas" individuais que permitam a cada um estar em vários lugares ao mesmo tempo, sem perder a força atrativa, ou o brilho pessoal. Ela traz como características o companheirismo e a cumplicidade, valores individuais que se entrelaçam, em prol da construção do "nós", sob a radiação luminosa da auto-estima e autovalorização - forças necessárias na manutenção do equilíbrio energético, elo de ligação desse "casal", e também em alguns momentos, ante possíveis desgastes advindos das convivências diárias, fontes reabastecedoras e reativadoras da sintonia entre o casal.


Aurora Gite

UM COMENTÁRIO:

Andrea Dias disse...
olá aurora,
gostei muito do seu texto sobre casal, e descobri com a minha experiência o porque do resultado de um casal é 1, e não dois, primeiro a palavra ja diz UM CASAL, isto é quando dois se transformam em um só, na cumplicidade, quando o seu amor próprio se torna tão intenso que podemos dividí-lo com outra pessoa e se torna um amor só, isso é complicado!!!! pois as vezes as coisas se confundem e vc se anula perante o outro e se mistura no outro, pois o amor é um só... tudo isso porque quando vc ama e é correspondido (o que é essencial par se formar um casal), isso faz vc se sentir amada, importante, essencial para alguem, o que é muito importante para fortalecer o amor próprio, por isso os dois amores se tormam o mesmo.
Agora voltando a matemática do caso, um casal não pode ser dois pelo fato de não se tratar de uma adição, e sim de uma multiplicação, de sentimentos, de felicidade e até de problemas e como sabemos 1x1 é igual a 1.
Um abraço Andrèa Dias

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

A armadilha e o perigo


Sabe onde residem a armadilha e o perigo?

O perigo é deixar que a relação a dois, e a familiar, se intoxique pela falta de respeito entre as pessoas... aí a convivência fica insuportável ,,, até o amor pode acabar.
O amor é uma força que impulsiona os que amam à busca de crescimento interno e conquista de dignidade pessoal.
Sendo assim não é tão difícil de distinguir, mas é muito difícil de ocorrer!
É preciso muito amadurecimento emocional para ter essa disponibilidade interna ao respeito pelas diferenças e estar receptivo ao outro como ele é.

A armadilha é querer que o outro seja o que ele não é; não pode ser mesmo que tente!
Se quiser mudar o outro para que se aproxime de seus ideais, não o ama. Se projeta nele um perfil, que construiu mentalmente, o que sente não é amor.
Vai perceber quando sentir amor, e focar em uma pessoa especial, que desperte essa vontade de fazer o melhor de si e sentir prazer pelo outro fazer o mesmo.
Quando para sustentar a relação tem que fazer concessões, que violentam sua maneira de ser e seus valores mais íntimos, não há relação amorosa que resista.
Isso vale para todos os níveis: amizades, amor filial e fraternal, quando muito o amor conjugal!

Resgato algumas ideias de Espinosa, como as que colocam a vida como "constantes devires em produção", campo abstrato para o "encontro de corpos" ou de forças. Para ele pessoas, pensamentos, ou os homens, como se refere, se constituem em forças, vindas de dentro deles e de fora. Essas forças podem se constituir em pressões impostas , os remetendo,  pela presença do constrangimento, a uma servidão atroz. Não existe liberdade se, no encontro de forças, não ocorre a produção de vida a partir delas, para inovar ou ter o poder de "produzir outra maneira de existir no mundo das relações, mantendo, se ainda vivo, o elo amoroso entre os envolvidos".

Segundo esse pensador, no ser livre, efetuam-se forças que vêm de dentro de si; ao acoplá-las ao seu "viver em liberdade", expressa sua natureza e aumenta sua potência. Portanto, cabe a cada um entender sua natureza (essência) e promover encontros afetivos que o possibilite manifestar e aumentar seu singular potencial.

Parcerias, quaisquer que sejam, deveriam ser um espaço para que ocorresse um agregar de forças no encontro amoroso, e não seu desgaste por exigências e cobranças de padrões de conduta do outro que se encaixem às próprias expectativas e idealizações de como deveria ser a interação, para obter mais prazer de acordo com interesses meramente unipessoais. Qualquer forma de anulação do outro na interação, controle sobre o parceiro e restrição a sua maneira espontânea de ser, seja por ciúme, jogo de poder, humilhação ou subjugação castradora por insegurança e sensação de inferioridade próprias, ferem direto à liberdade do outro, e se tornam um tiro certeiro ao coração da relação afetiva.

Observo no fenômeno amoroso uma "força dinâmica" ( em movimento, não estática); o amor mais como um meio que impulsiona, quem o sente, a evoluir e buscar uma integridade ética, uma dignidade pessoal, autorrealização que o valorize e do qual se orgulhe. Sendo assim, amor é força dinâmica, motor propulsor, causa ativa que impulsiona o crescimento interno de quem ama, tomando como referência seu centro interior de valores éticos, e não os que lhe são impostos por normas morais sociais.

A energia amorosa não é remédio, não serve como prescrição para que seja alcançado equilíbrio emocional; não é vínculo vital pelo estabelecimento da dependência fissural com esse alguém especial, como o fazem os drogadictos.

Quem não se disse: "Putz, que barra!" quando, por vezes, o mundo parece desabar sobre sua cabeça, sem vislumbres de alternativas de fuga de situações paralisantes?
Quem não sentiu sua criança interna, impotente e frustrada (com raiva), gritar por aconchego: "Eu não merecia isso!"
O que fazer, a não ser que cada um amadureça e concentre suas forças - não em queixas e autorrecriminações culposas, mas na montagem de uma cena mental (formatação de imagens mentais) acolhedora?

Por exemplo, por que não se utilizar da "técnica de imaginação ativa" e não pegar sua "sofrida e triste criança interna" no colo, sentar com ela em uma cadeira de balanço e, seguindo o ritmo do embalo suave e delicado, com a cabeça dela encostada em seu peito, fazer um terno cafuné nos cabelos dessa criança, tão viva e tão presente em você, embora você prefira não dar tanto valor a sua voz ativa, implicante e implacável na marcação de seu espaço dentro de você?

Cenas mentais bem montadas, sob a coordenação de um diretor eficiente - que percebe as necessidades reais do que ocorre com as emoções que permeiam as forças dentro do cenário que dirige - apaziguam o ambiente conflituoso psíquico, propiciando a confiança na vida e seus desígnios, com maior resignação e serenidade.

Por vezes, o elo de ligação, uma sincronização energética ou sincronicidade junguiana, ou encontro de forças similares espinosistas, com meninos de 72, não reside na afinidade de almas, no frescor da ternura e pureza ingênuas intuídas em suas crianças internas medrosas, em processo corajoso de melhor se conhecer intimamente e clarificar culpas indevidas? 
Ou melhor, por que não, se é o que falando de amor pode suscitar?

Aurora Gite

Para quem quiser se aprofundar nas ideias de Espinosa, indico os vídeos disponíveis - no Canal do YouTube: Claudio Ulpiano, filósofo espinosista (1932-1999), vídeos-aulas sobre esse pensador.