sábado, 27 de junho de 2015

Tô com você e não abro!

Ajudo a compartilhar a vitória alcançada e realço a subida de Obama e dos Estados Unidos, dos quais é presidente! Seu espaço na História foi consolidado sem dúvida nessa semana! Coube aos EUA esse avanço, consolidando seu papel de potência mundial que pode bancar inovações legais em prol do real benefício de uma sociedade globalizada mais humanizada.

Obama não escondeu sua defesa por anos (+de 10 anos?) e seu orgulho e alegria por ver sua causa ganha, quanto ao reconhecimento da liberdade de escolha afetiva e respeito humano às relações homoafetivas e, na semana, com a legalização e oficialização, por todos os estados americanos, do casamento entre eles, com os mesmos benefícios das relações heteroafetivas.

Por outro lado, desce, a meu ver, a instituição que a Igreja Católica e o Papa representam!
Que decepção Papa Francisco pela opção em ter carregado nas costas o lado conservador da Igreja Católica, com sua recusa a se inserir na realidade atual, enfraquecendo o potencial violento dos radicais, com o virar as costas em prol da convivência respeitosa e harmônica entre os seres humanos do milênio.

É questão de tempo, agora, as mentalidades mudaram e a velocidade das informações vão continuar a atingir a todos em tempo real! As sociedades vão conseguir se afastar de dogmas religiosos em prol da liberdade de amar, e, "por amar", tornarem os agentes sociais, "seres humanos mais felizes por bancarem, lutarem com coragem, ousarem defender e, livres das molduras dogmáticas, aclamarem e expandirem o próprio amor".

O amor é o vencedor como força, que une e não destrói; integra e inclui e não separa e exclui; que pacifica as ações humanas e não conduz à violências interpessoais em prol de manter o poder de abstrações, facilmente manipuláveis, e fantasias ilusionistas, habilmente fabricadas e buriladas conforme as circunstâncias do momento histórico.

Tô com você e não abro, meu neto!
Endosso sua luta em prol de uma humanidade mais justa com direitos iguais... ops, e deveres respeitados, zelando por um convívio social pacífico!

Deveres respeitados implicam em se responsabilizar pelas repercussões das próprias ações e por bem gerenciar as consequências das mesmas, tendo em vista que entre as metas sociais está a preservação do bem-estar coletivo.

Compartilho seu bom uso do espaço permitido pelas redes sociais, no caso, o Facebook!


Que fique às autoridades desse país e do resto do mundo o recado que o planeta está gritando em seis cores nesse dia de conquista nos EUA.
A questão não é nem a possibilidade de poder casar em mais um país, muitos da comunidade LGBTT sequer têm esse sonho tradicionalista de constituir casamento. O ponto é ter uma das maiores influências culturais do mundo reconhecendo qualquer forma de amor como igual perante aos olhos da lei, que não deveria restringir os direitos de grupo algum, quando isso não afeta a vida de terceiros.
Gritamos em VERMELHO contra todo o SANGUE derramado pela homofobia violenta que continua agredindo e matando pessoas, que só querem se sentir bem da forma que nasceram.
Gritamos em LARANJA pela LIBERDADE de sermos iguais. Nunca se pediu qualquer privilégio, apenas que se entenda que qualquer indivíduo merece a chance de amar e ser amado.
Gritamos em AMARELO para lançar o ALERTA de que a ignorância deve parar de ser disseminada. Em especial por aqueles que só querem enriquecer às custas de quem tem fé em algo maior e não entendem como seus atos podem destruir a cabeça e saúde do próximo que nenhum mal fizera.
Gritamos em VERDE para explicitar que a NATUREZA é sábia em construir a diferença para atingir o equilíbrio. Se todos fôssemos iguais, estaríamos ainda hoje usando as mãos, e não os cérebros, para nosso próprio desenvolvimento.
Gritamos em AZUL pois precisamos LAVAR o passado, esquecer desentendimentos, buscar um espaço comum nesse oceano em que todos tem espaço para nadar de braços abertos sem invadir ou atrapalhar o trajeto dos demais.
Por fim, gritamos em ROXO porque heteros, gays, lésbicas, travestis, transexuais, transgêneros, ateus, cristãos, budistas, hinduístas, judeus, muçulmanos, negros, japoneses, brancos, índios e qualquer um, q não se encaixe em nenhum desses grupos, possui sua própria individualidade. Mas todos clamam juntos em uma só voz pelo direito mais básico da humanidade: RESPEITO!

terça-feira, 9 de junho de 2015

Lacan, Forbes e Gikovate

Jacques Lacan (1901-1981) é um autor de linguagem complexa, onde um emaranhado de ideias se chocam como as partículas quânticas assim o fazem no "Acelerador de Partículas" e propiciam a descoberta de novos meandros no mundo psíquico. Sua obra que contém a argúcia de suas perspectivas não possibilita fácil leitura compreensiva. Muitos, como eu, por vezes se utilizam dos olhos e ouvidos de outros leitores e estudiosos de seus "Seminários", para que lhe sirvam de lanternas clareando aos leigos, como nós, os confusos conceitos lacanianos e o encadeamento de seu raciocínio lógico.

Sem dúvida, Lacan em sua releitura da obra de Freud, abre o leque de novas perspectivas sobre os registros de suas descobertas. Mas, a meu ver, o que me foi fascinante, foi perceber o próprio Lacan, não mais encoberto pela genialidade de Freud, mas expondo a originalidade de seu próprio pensar ao esboçar a "Clínica do Real" ou "Segunda Clínica de Lacan", no final de sua vida. Aqui encontro extasiada a abrangência das ideias de Lacan sobre o que ocorre no psiquismo humano que implicam em novas perspectivas sobre a condição humana e novas formas de atuar clínicamente com os pacientes.

Segundo Cunha (in Psicanálise, a Clínica do Real, 2014. Jorge Forbes (Ed), cap.11, p.177): "Conhecido como 'o analista do significante', viveu pelo menos dois grandes períodos, bastante distintos, em sua relação com este. O primeiro, desdobramento da psicanálise freudiana, é o encaminhamento da escuta do paciente para a associação livre. É uma forma de lidar com o significante remetendo-o a um 'sentido a mais'. O trabalho analítico convida aquele que fala a dar atenção a um significante 'x' e a se lançar mais sobre aquela cena. O segundo modo utilizado por Lacan é o oposto. Trata-se de pegar um significante e retirá-lo do fluxo frasal. Em vez de convidar o paciente para interpretá-lo, agregando a ele mais sentidos, o analista o faz ressoar, busca gerar um curto-circuito para que ele toque diretamente o corpo sem passar pela compreensão racional."

Riolfi, no cap.10 (p.172) do mesmo livro, esclarece: "No Seminário 23 (2007) ministrado entre 1975 e 1976, Lacan enfatiza a palavra 'ressoar'. Ele o faz opondo 'sintoma' com 'sinthoma'. Se o primeiro é uma escrita, pode ser decifrado. O segundo, por sua vez, indica um modo singular da relação entre o sujeito e seu modo singular de satisfação e, por isso, permanece opaco, não passível de apreensão pela via do simbólico. Dizendo de outro modo, esvaziada da carga semântica, a palavra 'ressoa'... O analista, separando a palavra do discurso corrente atrás do qual se escondia, ...ao perceber a inconsistência do Outro, libera a pessoa do sofrimento gerado pela autoimposição de atender suas expectativas... O analisando não consegue pensar em alternativas para lidar nem com suas expectativas, nem com o seu desejo... [Como foi o caso de uma paciente que...] projetando seus altos ideais em seus semelhantes, sofria de culpa, transmudando-a em uma suposta rejeição alheia."

Continua Riolfi (p.175) "...uma palavra nomeia, mas não recobre os modos de uma pessoa viver... a mudança da relação da pessoa com a palavra diminui a dependência do imaginário na unidade corporal; mostra a necessidade de encontrar alternativas para o reconhecimento simbólico e, por esse motivo, proporciona a abertura para a surpresa do encontro... O analista tenta evitar que seu paciente se esconda dos desafios de inventar uma vida qualificada para si mesmo, aceitando que sua realidade subjetiva seja expressa por palavras." Aqui vale ser colocada a diferença entre a 'qualidade de vida', padronizada pela cultura atual para o alcance do bem viver coletivo, de uma 'vida qualificada' que se destaca pela sua singularidade.

O Real lacaniano não tem a ver com a 'realidade concreta', com o que se exibe a um social, buscando reconhecimento coletivo (ou não). O Real lacaniano tem a ver com o corte do outro com o Outro, do imaginário ao simbólico. O encontro com o Real (Segunda Clínica de Lacan) é a passagem ao registro da Responsabilidade. O símbolo tem que alcançar o Real, segundo Macedo (cap.6, p. 94) abandonando o que 'revestiu a significação' de algo. "A pessoa na análise quer comprar um saber maior sobre si mesma; vai para a análise 'querendo' se conhecer melhor... não é isso que vai ocorrer numa análise. Ela vai pagar um valor 'x' e não vai receber isso, o 'conhecer-se melhor'...A pessoa vai descobrir que está pagando por uma coisa que é da ordem do impossível... Ela quer encontrar um nome para isso e que o Outro a reconheça, com isso irá livrar-se da 'culpa', que é um 'elemento de expectativa' (culpa e dívida na língua alemã advém da mesma palavra ...)."

Na Segunda Clínica, Clínica do Real, Lacan muda sua forma de atuar com o paciente. Busca fazer com que o paciente se implique com o que está lhe ocorrendo e que seja responsável por seu 'mudar', ao perceber que o reconhecimento que o paciente almeja é o de seu Outro interno, seu inconsciente responsável.

Forbes questiona o 'mudar' em seu livro "Você quer o que deseja?" (2003) e Gikovate também o faz em "Mudar: Caminhos para a Transformação Verdadeira"(2015).

O psiquiatra Flávio Gikovate destaca, de seu livro 'Mudar: Caminhos para a Transformação Verdadeira', a frase: "A vaidade se alimenta do exibicionismo e do impacto que isso provoca nos outros. A autoestima depende do juízo que fazemos de nós mesmos."

Jorge Forbes, em seu livro "Inconsciente e Responsabilidade: Psicanálise do Século XXI (2012), : " ressalta [...] O inconsciente do qual vamos tratar é aquele que leva o ser falante a responsabilizar-se pela invenção de seu estilo singular de usufruir de seu corpo e de sua vida... No século XXI, o psicanalista que acredita no inconsciente irresponsável não trata o sintoma e não cura. É urgente considerar a responsabilidade pelo que é inconsciente... Também a clínica psicanalítica atravessa um novo momento, [...]"

"Freud mantinha um 'não saber' no cerne de suas interpretações...Diz ele, em seu texto 'Análise Terminável e Interminável' ( 1937ª/1975,p.256) que a resistência aparece, impedindo que qualquer mudança ocorra". Segundo Forbes, "Podemos, com Lacan, afirmar que visamos à "responsabilidade sobre o não saber" e não sobre o saber... Cabe a cada um colocar-se no mundo com a singularidade de seu desejo... Não basta render o desejo aos desejos dos outros, mas saber o que fazer com o seu desejo." (p.14)

Novamente cito Gikovate e seu livro "A Liberdade Possível" (2006, 2ª ed.), em que, como na maioria de seus livros, busca "fazer o leitor se voltar para dentro de si mesmo e refletir sobre temas para se conhecer melhor..."
" Cada um de nós deverá buscar encontrar por si mesmo seus caminhos, suas soluções para os problemas da existência - levando em conta suas propriedades psíquicas - suas aspirações materiais e intelectuais, sua capacidade de fazer concessões ao sistema social e econômico em que vive, e assim por diante. Ao nos conhecermos melhor, ganharemos força para pensarmos mais livremente acerca de nossa existência. " (p. 269)
"O autoconhecimento é o melhor instrumento para nos fortalecer e nos conduzir ao destino que pretendemos... ao nos tornarmos mais independentes do julgamento dos outros, conquistamos a liberdade... e podemos contribuir com a construção de uma sociedade mais justa."

Agora é articular o que nos é legado por esses "três pensadores Lacan-Forbes-Gikovate" sobre a condição humana, cujos conhecimentos - embasados por anos de vasta clínica e contínua autoanálise das próprias dinâmicas psíquicas - nos deixam registrados através de seus escritos.

Aurora Gite