sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

"Casuística e Metodologia" e ... lição de vida?

Dando continuidade à postagem anterior ...

Todos os sujeitos da amostra passam inicialmente por um programa educativo ministrado por uma equipe transdisciplinar, que teria por objetivos:

* Ampliar o campo cognitivos dos pacientes, possibilitando várias informações sobre a patologia em si e o processo doloroso, sobre movimentos e exercícios físicos adequados e inadequados, sobre aspectos nutricionais e interferências emocionais pertinentes ao quadro apresentado
* Dissipar dúvidas, pertinentes à sua área de atuação, minorizando ansiedades emergentes por falta de conhecimentos específicos.
* Formar hábitos mentais voltados para uma vida mais saudável, maior disciplina sobre os padrões emocionais e melhor administração de reação impulsivas.
* Buscar maior conscientização do paciente sobre sua responsabilidade com o tratamento e a necessidade de sua automotivação para uma participação ativa durante o mesmo.
* Procurar maior envolvimento do paciente no compromisso de "querer efetivamente se cuidar" e obter resultados eficazes, eficientes e efetivos.

Posteriormente, os sujeitos serão divididos em três grupos, cada um recebendo intervenções diferenciadas, embora todos tenham como objetivo comum o alívio dos sintomas, a minorização se possíveis interferências emocionais e a melhora de qualidade de vida.

Sendo assim, a hipótese, a ser confirmada ou refutada, é que os pacientes vão apresentar um gradativo quadro de melhora de sua sintomatologia cronificada.

Casuística e Metodologia

Serão avaliados um total de 30 sujeitos, portadores de Síndrome de Fibromialgia. Os pacientes serão encaminhados por Dra. ..., fisiatra responsável pelo Grupo de Fibromialgia da Medicina Física do Instituto de Ortopedia do Hospital ... da Faculdade de Medicina da Universidade de ...

Da amostra serão excluídos os pacientes do sexo masculino, mulheres com idade inferior a 30 anos, analfabetos, portadores de graves distúrbios cognitivos e/ou neurológicos, que apresentem (ou tenham apresentado) algum comprometimento psiquiátrico, que estejam sendo acompanhadas por outra especialidade médica com programas similares, ou que já tenham passado por algum programa educativo semelhante.

Para a classificação das amostras serão consideradas as informações obtidas através dos prontuários médicos. Variáveis demográficas serão coletadas por uma "Ficha de Identificação" previamente elaborada, e pelo questionário padronizado para a obtenção da "Classificação Socioeconômica do Brasil" (ABA/ABIPEME) dos sujeitos selecionados. Demais variáveis serão extraídas dos registros efetuados durante o procedimento.

Os dados serão colhidos no Ambulatório de ............................................

O procedimento constará de dois momentos:

* Em um primeiro momento, todos os sujeitos passarão por um "programa educativo" a ser ministrado por uma equipe interdisciplinar: fisiatra, fisioterapeuta, nutricionista, psicólogo. O psicólogo permanece constante durante todo o programa, já realizando em seu transcorrer uma avaliação diagnóstica psicológica.
Período: 1 encontro
Duração: 03 horas e 30 minutos, assim distribuídos:
- 15 minutos seriam reservados para uma dinâmica psicológica, visando maior integração grupal, onde seriam investigadas as expectativas sobre o programa, buscando dissipar idealizações inatingíveis.
- 30 minutos para o representante da Fisiatria.
- 30 minutos para o Fisioterapeuta.
- 15 minutos de intervalo
- 30 minutos para o representante da Nutrição
- 30 minutos para a Psicologia
- 30 minutos para o encerramento, onde os pacientes dariam um feedback sobre o programa, respondendo inclusive um breve questionário padronizado (a ser elaborado pela equipe), material que poderá servir para melhor categorizar posteriormente a população fibromiálgica, as crenças e expectativas sobre a doença e o tratamento, as dificuldades e limitações para que a adesão se processe adequadamente, possíveis ansiedades decorrentes de vínculos fantasiosos, inclusive com os profissionais da equipe e com a instituição.

* Em um segundo momento:
- subdivisão em três grupos (I, II e III)
Os grupos serão diferenciados pelas técnicas empregadas, selecionadas de acordo com a amplitude dimensional a ser abrangida:
- Grupo I : dimensão comportamental e cognitiva
- Grupo II : dimensão comportamental, cognitiva (intelectual) e afetiva
- Grupo III : dimensão comportamental, intelectual, afetiva e espiritual (transpessoal)
Critério seletivo aleatório por sorteio.

Número de sujeitos por grupo: 10
Atendimento grupal: 1 vez por semana em horários diferenciados
Período de atendimento: 1 hora e 30 minutos
Total das sessões semanais: 10

O controle avaliativo dos grupos será padronizado, consistindo em:
- Autobiografia da dor, por escrito
- Diário semanal, com anotações sobre AVD e situações de dor
- Apresentação de uma figura humana, para anotações dos pontos de dor, antes e depois de cada sessão

A leitura dos dados e as referências bibliográficas que embasaram o Projeto ...

Paro por aqui! Não acredito serem mais pertinentes nessa postagem.

Penso que discorrer sobre o que ocorreu com o Projeto, pode valer como um grande incentivo aos que ainda não desenvolveram a persistência ou "a sábia perseverança" para colocar suas criações no mundo, a coragem para ousar se diferenciar e conviver com a competição invejosa e perversa entre seus "pares", ou transformar o "clima empresarial" e alterar o desânimo ante equipes fechadas - que podem ser associadas aos grupos "bionianos" psicotizantes - sem aberturas ou trocas e sem crescimento pessoal ou coletivo.

O projeto e o protocolo de pesquisa, foram apresentados ao Diretor da mencionada Divisão, merecendo sua avaliação positiva e sendo reconhecido o mérito inovador da abrangência de articulação que os dados e a leitura conclusiva possibilitariam a formação de novos programas terapêuticos interdisciplinares. Avisou que o mesmo seria entregue à equipe da Escola responsável pelas intervenções na patologia mencionada. Protocolei a entrega e ... foi a última vez que vi meu Projeto, sequer soube dele.

Mas não só desvios perversos ocorrem ainda nas instituições e a maioria por parte dos próprios "pares". Represálias vêm da união desses com os da assessoria administrativa, responsáveis pelos trâmites burocráticos.

Se os primeiros conseguem distorcer informações como, por exemplo, avisar de alteração de horários de reuniões de Diretoria, vil atitude vinda a descoberto por se cruzar com o Diretor e dele ouvir "Senti sua falta na reunião!", ou ainda disseminar depreciações caluniosas contra a pessoa física do profissional, unindo, por ignorância, espiritualidade com baixo espiritismo - distante da categoria de ciência e moral filosófica elevado onde atualmente pesquisas colocam esse lado espiritual. São dos próprios pares que se esmeram em humilhar, não apenas desqualificar potenciais profissionais com frases do tipo "Estou mostrando meu projeto, não para que agregue suas ideias, mas para que faça uma revisão do português (?)... Para que providenciarmos uma funcionária administrativa para nós, se você está aqui e pode corrigir e digitar?"

Por outro lado, dentro das funções do quadro burocrático é fácil engavetar projetos, e até não se responsabilizar por seus "sumiços", inutilizando o peso de protocolos de recebimento; como é ainda comum acobertar, e até negar, a procedência de atitudes discriminatórias e condutas que denotam grande injustiça social e falta de legalidade trabalhista.

Qual foi a lição? Vitimização ou coitadismo?
Enfiar mais a faca de traições dos pares, ou se afundar no sofrimento pelas feridas na alma por injustiças humanas?
Chafurdar no mar de lama no qual essas pessoas se encontravam?
Acusar, bater boca, acolher e rebater também com maldades, mergulhar em queixas, contribuir para intoxicar o bem-estar emocional pessoal e da equipe?

Não foi o caminho escolhido, podem crer!
Mais ideias brotavam e novas curiosidades vieram para projetos mais ousados. Assim é a "cabeça" dos pensadores, criadores, inovadores, empreendedores visionários e idealistas, perfis do futuro milênio.
O tempo foi muito bem aproveitado e otimizado, na psicologia clínica projetos de pesquisa engavetados ou desviados e entregues a terceiros, por que não ousar criar projetos inovadores, para a época (10 anos atrás), visando a psicologia organizacional?

Nesse sentido, ao remexer o baú das impressões institucionais, junto com muitos profissionais em posições semelhantes, que optaram por decisões mais enobrecedoras e virtuosas, persiste a  imensa gratidão a todos, "pares" falaciosos ou pertencentes a outras categorias profissionais, que acabam se transformando em variáveis funcionais, que impulsionam os que querem progredir com integridade e evoluir dentro dos valores espirituais. Vale o reconhecimento que são meros funcionários dentro da instituição que, atualmente, não têm nem o mérito de serem seus "porta-vozes" oficiais.

Aurora Gite

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Esboço de Projeto sobre a dor e sua compreensão psicodinâmica

Remexendo baús, encontrei esse esboço, que compartilho por ter tido muito orgulho de ter elaborado esse protocolo de pesquisa, por volta de 2003, mas que conserva ainda seu status de atual. Talvez possa auxiliar, nesse milênio, a alguns profissionais da área de saúde mental a quebrar tabus e preconceitos.

Confiram por si e avaliem a repercussão que poderia ter tido há 10 anos!

Por sua extensão, divulgo em duas partes, sendo que "casuística e metodologia", para os que se interessarem pela linha de trabalho, estarão na próxima postagem.

" Lidar com a dor, aliviá-la ou saná-la, tem sido um desafio constante por parte de muitos profissionais da saúde. Extensa equipe transdisciplinar se agrega ao redor do paciente portador de um quadro doloroso, obrigado a conviver com angústias geradas pelas frustrações e impotência, decorrentes das frequentes limitações em seu agir. Alto investimento pessoal por parte da área médica, do paciente e de seus cuidadores, com pouco retorno e elevado ônus sócio-econômico, inclusive para os órgãos de saúde competentes, tornam-se fatores que justificam a importância e a emergência de programas voltados a minorizar os sintomas dolorosos e buscar a compreensão da psicodinâmica que envolve a manifestação da dor, sua perpetuação ou cronificação.

Os mecanismos biofisiológicos da nocicepção não são difíceis de serem detectados, bem como são facilmente catalogadas algumas estratégias de enfrentamento, ou condutas adotadas pelos pacientes ante a presença da dor. No entanto, o mesmo não ocorre ao se buscar intervir satisfatoriamente buscando alterar essa experiência emocional desprazerosa, na maioria das vezes limitante, que pode vir a se constituir em um vivência emocional cronificada e desproporcional, independente da presença ou não de danos teciduais. A complexidade desses quadros clínicos, transforma-se em grande obstáculo para a obtenção de diagnósticos precoces e consequentes prognósticos mais benéficos, justificando a liberação institucional dos pacientes.

A Fibromialgia ou Síndrome Dolorosa Muscular (SFM) corresponde a uma dessas entidades clínicas caracterizadas por uma dor muscular intensa, difusa e crônica. Os pontos dolorosos são múltiplos e de fácil apalpação em várias regiões específicas do corpo, sendo necessária a presença de, pelo menos 11, dos 18 pontos pertinentes à síndrome, fatores indicativos do grande desconforto, físico e psíquico, trazidos por esses pacientes.

A etiologia dessa patologia não decorre de inflamação tecidual, mas de disfunção do sistema nervoso central, acarretando o aumento da sensibilidade dolorosa e, portanto, a diminuição da tolerância do paciente à dor. Não há método complementar de radio-imagem ou laboratorial, que possa auxiliar no diagnóstico desses pacientes, sendo o mesmo obtido pelo 'exame clínico', realçada a importância dos 'dados coletados através de auto-relatos'.

Torna-se perceptível à área de saúde mental, a forte presença de interferências emocionais na eclosão e manutenção da dor e na exacerbação de muitos sintomas físicos, que acompanham o quadro, alterando a qualidade de vida dos pacientes e familiares. Ilustrando essa afirmação podemos citar alguns como: distúrbios do sono, parestesias, alterações gastrointestinais, síndrome da bexiga irritável, intolerância ao frio, síndrome dos pés irrequietos, disfunções cognitivas e afetivas.

Um quadro de dor mobiliza comportamentos regredidos, passivos e dependentes, contribuindo para condutas de isolamento e afastamento do convívio familiar e social. O desconforto imposto pela restrição dos movimentos e alterações de postura, bem como a raiva e a impotência a que remetem, tornam-se fatores iatrogênicos para a elevação do desequilíbrio a nível de saúde mental. Muitas vezes culminam com o afastamento do trabalho e todas as consequências que tal fato acarreta para o paciente e para a empresa, inclusive podendo chegar a desgastantes demandas trabalhistas, ocasionando novas descompensações em um campo mais amplo biopsicossocial e econômico. Mais angústias se agregam ao quadro da síndrome dolorosa, ligadas à vida prática e agora aos aspectos internos que envolvem, entre outros, a queda da valorização pessoal e da auto-estima, até pela diminuição da produtividade, a perda da autonomia e do crescimento pessoal, da independência e do controle sobre a própria vida, da vontade genuína de comunicação e participação ativa em grupos, indispensáveis para a integração no social.

Até o presente momento, no tratamento da SFM (Síndrome Dolorosa Muscular), têm sido enfatizadas medidas ligadas à dimensão orgânica e psíquica: uso de fármacos e terapias fisioterápicas, estratégias de enfrentamento ligadas à área cognitivo-comportamental, técnicas acupunturistas comprovadamente eficazes em sua função analgésica... A união da acupuntura à medicina tradicional, inclusive para tratamento de várias disfunções, data de período recente. O mesmo ocorre com programas educativos direcionados a esses respectivos pacientes.

Segundo Yeng, Kasiyama e Teixeira (2001, p.105): "Em geral esta abordagem terapêutica (acima citada) procura abranger todos os fatores referidos pelo doente com fibromialgia: aumento da analgesia central e periférica, melhora do sono, redução dos distúrbios do humor e a melhora da circulação sanguínea em músculos e tecidos periféricos".

Yeng (2003) em sua tese de doutorado, descreve os benefícios advindos dos programas educativos com pacientes portadores de SFM, enfatizando os resultados encorajadores obtidos com a Escola de Fibromialgia, programa desenvolvido no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Amaral (2001, p.61-63), realça que, para a compreensão psicodinâmica da dor, haveria necessidade de se englobar "mais do que técnicas cognitivas e sensitivas". Segundo a mesma, o paciente deveria ser compreendido dentro de sua 'pluridimensionabilidade' física, mental e espiritual, sendo que as técnicas adotadas deveriam abarcar seu agir (condutas adotadas e atitudes internas), seu pensar (a nível de cognição e crenças ou informações preconceituosas disfuncionais), seu sentir (a nível de sua afetividade, ou de seu conteúdo 'ideoafetivo' e suas representações imaginárias), e seu intuir (a nível de sua espiritualidade responsável pela fé, esperança e vontade para poder transcender o momento existencial vivenciado).

Amaral observa que "Questionamentos existenciais, tão comuns em quadros de dor crônica, remetem a intervenções no eixo transcendental, na dimensão espiritual, onde o resgate do sentido da vida e da importância do viver, impelem o profissional a buscar novos instrumentos técnicos, e a trabalhar cada vez mais a qualidade das relações internas e externas desse pacientes."

Muitos autores como Lemgruber (...) relatam a qualidade corretiva advinda do campo vincular relacional, conferindo ao profissional da saúde o papel de agente terapêutico, na interação que denomina de "experiência emocional corretiva".

Portnoi (2001, p.176) refere as vantagens de atendimentos grupais no tratamento da dor crônica, citando a oportunidade de convivência com indivíduos em situação semelhante, a facilitação da produção de referenciais sociais capazes de atenuar sentimentos de isolamento e alienação, a possibilidade de compartilhar temas de interesses comuns... destacando a intervenção terapêutica voltada para os comportamentos que ocorrem no contexto social do grupo, não desprezando o interesse para a instituição, pois este tipo de atendimento representa um recurso mais econômico.

Segundo Tabone (1987) a Psicologia Transpessoal surgiu nos Estados Unidos em 1966, como um desdobramento da Psicologia Humanista. Considera a importância dos estados alterados de consciência, partindo do pressuposto de que a mente é uma espécie de campo que ultrapassa de longe o cérebro encontrando-se integrada a uma mente (fonte de energia) universal.

Pelegrini (apud Tabone, 1987) refere-se à Psicologia Transpessoal ( além da pessoa e da personalidade) como "filha direta do enfoque holístico da realidade, partindo de uma concepção sistêmica da vida e do mundo, baseada na consciência do estado de inter-relação e interdependência essencial de todos os fenômenos: físicos, biológicos, psicológicos, sociais, culturais e espirituais".

Dentro da perspectiva da psicoterapia transpessoal é reconhecido o potencial humano para experimentar uma ampla gama de estados alterados de consciência. "Tem como foco central a consciência, especialmente a auto-reflexiva e a vivência no aqui e agora. Utiliza-se de ensinamentos e práticas da Filosofia Oriental, unindo-os aos recursos próprios das psicoterapias em geral, visando o alívio dos sintomas e as mudanças de comportamento. Busca a integração da ciência ocidental à sabedoria oriental, para desenvolver uma nova ciência e um novo modo de experimentar o viver." (Tabone, 1987, p.106).

O presente trabalho foi estruturado sob esses referenciais. Parte da existência de níveis diferenciados de consciência, que possibilitam o "insight" cognitivo, tão importante quanto o "insight" afetivo. Considera a compreensão de ambos de grande relevância, tanto no que se refere a sua faixa de atuação, como, evolutivamente, para a construção da personalidade e a formação da identidade (senso de individualidade). Destaca, no entanto, que essa passagem de um "não-ser" para um "Ser", que caracteriza a existência humana do "Eu Pessoal", marca o acesso a novo trabalho interno, voltado para a essência humana com seus valores morais autônomos e auto-imperativos, dentro de grandezas éticas, forças (ou energias) específicas do "Self". Nesse sentido, as intervenções psicológicas voltam-se para o lado saudável dos pacientes, para o fortalecimento da força vital, que mobiliza o ser humano para o crescimento e evolução interna, para a "transpessoalidade", para o alcance de experiências místicas ou espirituais, de integração, plenitude e harmonia."


Aurora Gite

* Casuística e Metodologia serão abordadas na próxima postagem.

sábado, 14 de dezembro de 2013

"Auto-sessão" de psicoterapia on-line, nova modalidade?

Mudanças e mais mudanças... novas formas de viver... novos estilos de vida ... e tudo num ritmo intenso, dentro de uma rapidez alucinante, numa volúpia voraz por transformações internas para acompanhar o que ocorre no mundo nesse milênio.

Lá vinha eu refletindo sobre um aspecto que me é assustador no quadro atual, que é o produto mental padronizado mediante a postura de seres humanos com seu "potencial de inteligência", que, de forma irracional, nos dias de hoje quase que só estimulam suas mentes frente aos "games". O que me afeta profundamente é observar a geração que se cria na internet e na globalização, perder o interesse por manter o nível da comunicação e linguagem escrita e falada, substituindo-as pelo famoso "tô ligado!" e você "tá ligado na minha?". Quero traduzir isso por "estou atento, estou compreendendo...e você está focado em mim, estou despertando o seu interesse?" A certeza que tenho é que mais dia, menos dia, chegaremos a um encaixe, não perfeito, mas possível, nas formas de comunicação inter-geracionais, incluindo a geração que está despontando agora.

O que me fica claro é como se diferenciam os garotos do Vale do Silício e os físicos quânticos, mais distanciando sua "inovadora classe social". Contrapondo a esse fenômeno criativo transformador, é visível o ócio com o vício pelos jogos eletrônicos, cujo torpor terá alto preço a ser pago em futuro próximo. Aqueles atraídos, por horas e horas, pelo fascínio dos "games", não estarão mais no mercado de trabalho. Ou melhor, já estão em desvantagem acentuada, pois estão perdendo as características do perfil dos profissionais do milênio.

O milênio está cada vez mais exigente do empreendedor autodidata em constante aperfeiçoamento e , pela velocidade da necessidade de reciclagem de conhecimentos, se pararmos existe um espaço aberto a ser preenchido pela competência de outros. O mercado não fica a nossa espera, não fica aguardando que um "game over" ocorra, para então obter a atenção do candidato a profissional.

Nesse sentido, visando um diagnóstico desse período da Pós-Modernidade, não posso deixar de indicar, da série "Invenção do Contemporâneo", Cpfl Cultura, a palestra sob o título " O diagnóstico de Zigmunt Bauman para a Pós-Modernidade". Observem a perspicácia desse sociólogo polonês, nascido em 1925  - 88 anos bem vividos não? - e sua análise sobre a sociedade atual paralisada sob o medo, por ter atingido uma liberdade que se vê marcada pela agonia de, ao poder se considerar livre, não saber mais para onde se dirigir. Sintetizando e comentando suas ideias, de forma magistral, a presença mordaz e sábia, a meu ver, do filósofo Luiz Felipe Pondé.

Desperto a curiosidade de vocês, transcrevendo uma metáfora citada e analisada no vídeo, disponível pelo youtube, publicado em 26.11.2011 : "Vivemos como se estivéssemos sobre uma fina casca de gelo, se pararmos ela racha."(Emerson). Bauman retira dessa imagem a ideia para dizer, segundo Pondé, que "atravessamos isolados o deserto no inverno onde a casca do gelo é fina: se andarmos devagar, o chão racha." Vale conferir o paralelo que distingue as características da modernidade da pós-modernidade, como o homem atual se vê, impelido pela força do mercado, como a própria mercadoria de troca.

Para assistirem ao vídeo ou entrem no site cpflcultura/videos e procurem pelos dados acima... ou pesquisem pelo google.com: ponde e bauman/cpfl+youtube  e escolham Invenção do Contemporâneo ano 2011. Vale a pena se inteirar desse diagnóstico sobre o quadro social atual.

Nas ideias de Bauman destaco as que coloca o "ser humano anos-luz de encontrar solução para seus problemas", para a angústia de que parece haver algo de errado com ele ante a dificuldade de acompanhar as transformações que se avolumam em tantos setores ao seu redor, e para lidar com a preocupação com a administração da vida diária vertiginosa, abismal e violenta, que parece distanciar o ser humano da reflexão moral, da compaixão e da solidariedade com o próximo e consigo mesmo.

Nas ideias de Pondé, "como dar conta de você, se você não tem mais tempo?" E como ter tempo se você fala no celular, ou em dois celulares, ao mesmo tempo em que dirige, levando ou trazendo filhos da escola num trânsito infernal, se você tem que se preocupar com o trabalho, pois, se der mole, alguém passa por cima de você, se você tem que estudar além de tudo isso, porque não poder parar de estudar nunca, é reciclagem constante para perdurar como profissional competitivo atuante na função. Além de todas essas frentes com que se preocupar, onde você tem que se manter alerta e vigilante, você tem a "frente em casa", quando você chega cansado e tem que trabalhar a relação - as eternas DRs atuais - ou optar por ficarem como duas múmias, você e sua mulher (ou marido), sentados no sofá e vendo televisão ... E você ainda tem que "trabalhar você mesmo"?

Aí, por acaso, mas não tão por acaso assim, cheguei a esse site! Ao me dispor a ouvir o vídeo de 13.11.2013, logo me veio a ideia de se enquadrar numa alternativa psicoterapêutica pertinente ao momento atual, de crise financeira e de pouca disponibilidade de tempo e  mesmo pessoal, de espaço e boa vontade internas para realizar mudanças efetivas". A proposta do autor me pareceu abranger a possibilidade de uma "auto-sessão" de terapia, a quem quiser assim utilizar o conteúdo que ele se propôs compartilhar".

Coloco algum tópicos, para exemplificar o exposto:

* Entendimento bom é o dinâmico, que impulsiona não só a vontade de mudar, mas direciona para que mudanças reais sejam efetivadas. Uma explicação não serve para mudar nada. É tudo ilusão. Mobiliza mais autocobranças e auto-exigências, tipo "eu tenho que, eu devo, eu preciso". Com isso você se desconsidera, se ignora, se auto-desvaloriza. E uma "energia de valor" é necessária para a "prosperidade profissional".

* Você tem motivações, propostas, razões e um querer interior a serem respeitados. O ser humano não é feliz com 'obrigar a se ignorar'. Se bancar, se assumir, ter posse de si equivalem a sair do papel de ser escravo de suas cobranças e exigências e se colocar como patrão de si mesmo. Organizar seu espaço interno, colocar ordem para que tenha paz, aceitando seus limites e fazendo o melhor que for possível, se optar por fazer algo...

* Você tomar posse de si é respeitar seu "pique", sua condição psicológica. Se achar que é importante para você fazer algo e escolher então fazer, é se engajar no compromisso assumido com você mesmo, sem se largar no meio. Onde ficou sua força para decidir, o que mais valeu para você ao optar? É aprender a não se deixar na mão, não se desconsiderar. É resolver com responsabilidade o que você quer bancar e ser honesto consigo, pois o acerto é com você mesmo, assim como o é, o prazer e a curtição, após ter conquistado o que se propôs realizar.

E por aí vai nesse vídeo de aproximadamente 45 minutos - acredito que o tempo dos demais vídeos à disposição - o que equivale ao horário médio de uma sessão de psicoterapia. Escolhi essa sessão de 13 nov 2013 como exemplo, mas existem várias outras, visando reflexões relevantes para por ordem e ensinar você a se disciplinar com a finalidade de alcançar paz em seu mundo interior. O mundo on-line se tornou boa alternativa nesse sentido. Uma boa reviravolta, e mais eficaz, a quem realmente quer mudar. Experimentei, mas cada um que confira por si mesmo!

E o site, via canal do youtube?

http://youtu.be/sBb8RBCceGQ
ou
www.youtube.com/watch?v=sBb8RBCceGQ

ou youtube/gasparetto/13nov2013

As duas indicações estão também em:  http://twitter.com/ThompsonLM


Aurora Gite

Em tempo:

* Leram o artigo, na revista Psyche, sobre o livro de Birman que analisa as dificuldades terapêuticas da Psicanálise, quando seu projeto não se coaduna mais com os "imperativos sociais" atuais?
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psyche/v11n20/v11n20a13.pdf

** Ops! Não se espantem! Conheço as novas regras sobre o emprego do hífen. No caso, as que envolvem prefixos terminados em vogal e uma palavra começada por "r" ou "s", como auto+sessão. Sendo assim, de acordo com a "reforma ortográfica", dever-se-ia dobrar o "r" ou o "s" e, como no exemplo de ultrassom, eu deveria escrever "autossessão".
    Meu coração "chiou" agoniado e minha mente "reclamou" com raiva! Não me conformei e preferi usar um "neologismo" - palavra nova derivada de outra já existente, segundo o dicionário. Daí ter usado no meu título "auto-sessão". Considerem-na um neologismo, ok?

domingo, 8 de dezembro de 2013

Enfim, "não" sós!

Muitos aspiram e suspiram pela possibilidade de concretizarem seus desejos de "Enfim, sós!".

Eu buscava, incessantemente, poder trocar ideias e compartilhar hipóteses. Agora, acredito que tenha conseguido mais do que isso, que as mesmas não sejam refutadas, mas acolhidas com fortes argumentações, difíceis de serem contestadas a partir das evidências apresentadas, e do novo pensar incluindo a mecânica quântica, que se expande cada vez mais. Essa é a razão de meu contentamento expresso por um "Enfim, não sós!"

Há alguns anos defendo a hipótese de que a energia psíquica faz parte do mundo quântico, sendo Freud o primeiro a registrar seus efeitos. Agora encontro um trabalho que me indica que "não estou tão sozinha" e que minhas conjecturas estão saindo do papel de especulações teóricas. Compartilho a dissertação de mestrado em Psicanálise, Saúde e Sociedade, de Denise de Assis, sob o título "Transmissão psíquica: uma conexão entre a psicanálise e a física".

É fascinante a retrospectiva feita por Assis do momento histórico freudiano, de quando-onde-e como surgiram as ideias de Freud para construir seu "Projeto para uma Psicologia Científica". Computo o papel de Denise de Assis como fundamental na história da Psicanálise, resgatando o início das dúvidas, associações e raciocínio original de Sigmund Freud. Por outro lado, considero assustador como, com o intuito de superproteger a Psicanálise, a maioria de seus seguidores, semelhantes aos fanáticos religiosos, reduziram seu núcleo de atuação à clínica e afastaram a criação do Criador, ao colocarem a figura pública de Freud no pedestal fictício das idealizações pessoais, ou das políticas grupais, visando preservação do poder manipulado patenteado.

Na sua dissertação, Assis nos leva a viajar acompanhando seu painel delineador da evolução histórica do movimento psicanalítico (Freud e as ideias contidas em seu Projeto de uma Psicologia Científica sempre presente em sua obra, neuropsicoses de defesa, pulsões ou forças instintivas), correlacionando com ideias predominantes no momento do surgimento da Teoria Quântica  (Newton, Einstein, Mark Planck, o observador influenciando o observado).

Assis nos convida ainda a conhecer os apontamentos de Freud sobre a Telepatia, citando as influências de Jung e Ferenczi, chegando às ideias freudianas sobre o Ocultismo e suas relações com os sonhos, além de relatar a experiência de Freud por seu contato direto com o Espiritismo. Continuando nas suas interconexões, dedica um espaço para a Física e Telepatia, a Transmissão Psíquica entre Gerações e o Corpo. Dá um fechamento a esse tópico com distinção entre Religião e Espiritualidade, com Transmissão, Psicanálise e Espiritualidade.

Em suas considerações finais localiza a "Psicanálise à Frente de Seu Tempo". Vale conferir como Assis articula todos esses conhecimentos e pareia, cientificamente, os diversos argumentos dos autores citados de ambos os lados: Psicanálise e Física.

Convém não esquecer que o mundo vibracional, que se nos desponta, com suas interconexões relacionais, e sua rede de energia que mantém atuantes os vínculos afetivos (que liga os que são afetados pelo entrelaçamento de partículas - sincronias e afinidades). A concepção atual é de "Universo Holográfico", energeticamente estamos todos unidos.

Aqui estabeleço um parêntese para chamar a atenção para o show em homenagem a mais um ano do falecimento do cantor e compositor Cazuza, onde aparece no centro do palco holograma do cantor em várias movimentações. Como não sentir correr no psíquico o sangue da emoção?

Não há mais espaço, tempo, objeto independentes de nosso psíquico. Categorias conceituais, ou palavras, são fenômenos dentro de nossa cabeça, não estão "lá fora", dependem de nossas escolhas e atribuições de significados ou sentido. O próprio "nada" não é um vazio, mas é um "nada vibrante" permeado de matéria sutil, energia que pode ser abarcada pela sensação interna de luz e calor, espaço-tempo e consciência inferidos pelas sensações intuitivas de aconchego e paz. Não se pode mais negar a realidade de vários estados da mente, e da limitação dos cinco sentidos para abarcar a recepção de tais estímulos e retradução dos impulsos a eles pertinentes. O cérebro recebe sinais, mas não podemos nos recusar a observar a existência de um princípio inteligente que os organiza em hologramas, que chamamos de realidade.

A Teoria Quântica nos remete a um "Universo Paralelo da Realidade" e à necessidade de um novo pensar sobre o que chamamos de "pessoa", de "ego", de "ser", de "eu". Uma partícula só existe em relação a outras partículas subatômicas. Assim também nosso lugar no mundo depende de nossa vida de relação com o que nos cerca.

Coloco ainda a citação de Wolf, colocada por Assis: "Que é a vontade? De que modo, nós humanos, possuímos a capacidade de escolher o que queremos? (Wolf, in Assis, 2011, p.38) .

"Recentes pesquisas (...) relacionam a mecânica quântica com a força de vontade... uma escolha atuando num nível atômico muito pequeno." (idem, p.38)


Passo o site, mas, se não conseguirem entrar direto, chegam através do Google, ou através do Twitter de ThompsonLM :

www.uva.br/mestrado/dissertacoes_psicanalise/transmissao-psiquica-uma-conexão-entre-a-psicanalise-e-a-fisica.pdf


Com o advento da Física Quântica e propagação das revoluções nos paradigmas em várias áreas do conhecimento, com grande influência nas novas intervenções que dizem respeito a saúde do ser humano como um todo (espiritual-bio-psico-social), mais se fortalecia dentro de mim a hipótese de uma ideia ser a partícula ou o elétron do mundo psíquico, e sugestões ou alternativas constituírem as ondas quânticas de probabilidades a espera de serem escolhidas através do olhar de um observador consciente, adquirindo assim a característica de partícula quântica, possibilitando novas imagens psíquicas carregadas de energia. Mais se destacava, para mim,  a necessidade do abandono de teorias reducionistas e a substituição por abordagens ecléticas, particularmente por parte dos profissionais da saúde.

A leitura sobre o humano, após comprovações quânticas envolve a compreensão sobre a intensidade da propagação da energia, sobre o fluxo dos processos ondulatórios, sobre a qualidade das vibrações e das emanações de intenções. A escuta se expande às dinâmicas psíquicas e corporais. Ao abordarem um fenômeno de forma dinâmica, já estão fazendo a leitura do movimento da energia psíquica, buscando uma "compreensão psico-energética".


Agora é ir mais adiante, alargando minha hipótese: "Os processos psíquicos fazem parte da dinâmica quântica, assim como os estados orgásticos e místicos".

Normas e regras estão ligadas a usos e costumes e a uma "moral imposta". Princípios e leis estão ligados a honra e dignidade e a "valores morais autorreferenciados". Acredito que o espaço interno de liberdade e responsabilidade propicie o alcance de novo patamar psíquico, onde o ser humano adquire a "potência de se autorreferendar", dando expressão à sua essência ao abrir espaço e bancar a colocação dessa essência real em sua existência psíquica virtual. 

Continuo respeitando a Teoria das Pulsões e observando a importância dada por Freud à excitação de zonas erógenas e suas consequências nas diversas fases de desenvolvimento psíquico. Agrego, no entanto, que o "orgasmo duplo" advém de uma plena entrega à "auto-excitação, duplicação da energia quântica interior, mobilizada naquele momento específico". Segundo uma paciente o descreveu: " Era como se estivesse numa montanha russa na hora da primeira descida, a cabeça se esvazia de tudo que nos afeta naquele momento. É um relaxamento do pensar. A presença da sensação física predomina. Estava começando a sentir o descontrole prazeroso com a rápida e vertiginosa descida. Foi algo imprevisível, como se engatasse uma outra marcha, 'outra força inesperada e incontrolável' aumentando o impulso e, em muito, a sensação prazerosa. Algo inesquecível! É difícil encontrar palavras para descrever o que ocorreu dentro de mim!"

Observo a mesma via quântica para a energia dos estados alterados de consciência sejam eles através dos prazeres sexuais orgásticos; da plenitude e êxtase das experiências místicas; da surpresa e alegria ante "insights" intuitivos; da sensação de autorrealização e bem-estar presentes nas verdadeiras criações artísticas; da intensa satisfação interna de completude advinda do aconchego, paz e serenidade que cercam o fenômeno amoroso.

Tudo que diz respeito ao ser humano, sai da categoria de hipóteses e inferências por observações soltas, e torna-se argumento significativo e verdadeiro, se puder ser observado e experienciado por outros seres humanos. Agora é aguardar para bradar: "Enfim, não sós!".

Aurora Gite