quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Ops, Espinosa e Gikovate? Qual é a tua, "cara"!

Parte 1
Retorno aos pensamentos do filósofo Espinosa (volume 28, da coleção "Os Pensadores"): SER LIVRE não implica ter livre-arbítrio para decidir entre várias opções de escolha, mas ter a vontade (nosso querer) voltado para administrar uma "boa vida" dentro de uma LIBERDADE POSSÍVEL.

Para Espinosa, "O mundo é regido pelo determinismo e não pela finalidade", ou seja, por um processo histórico circunstancial e interações genéticas de redes de causalidades. Devemos é analisar as circunstâncias ao nosso entender e buscar nos entender inseridos também na origem das causas do que nos ocorre.

Espinosa combate o "irracionalismo" e a "superstição" em todas as suas formas. É um dos ferrenhos defensores da RAZÃO. Afirma que eles se mantêm pelo uso inadequado da imaginação e pelo "não uso da razão de forma adequada".

Observe, dentro de você, a FORÇA na alegria que brota de sua essência, de seu "ser autêntico", de quem você realmente é, ao "alinhar" em sua existência "as energias das capacidades de intuir, sentir, pensar e agir": sinal da SUPERPOSIÇÃO de seu EXISTIR, ou "maneira escolhida de viver sua vida", com ser SER, ou "modo de vivenciar sua alma".

Parte 2
Mais dados sobre minha pesquisa!
Considero importante o agregar de observações de vários pensadores, ponderações sob várias perspectivas e diversas leituras compreensivas dos fenômenos (eventos ou acontecimentos que nos cercam) que guardem relações de sintonia e sincronia entre si. Amanhã, se não estiver por aqui, o PODER CRIATIVO de algumas ideias podem germinar em outros "sítios mentais semelhantes". E, assim, a "tocha do saber" é passada, ainda acesa, para outras mãos de pensadores.

Acompanho Espinosa quando distingue uma Teoria (conjunto de ideias) da Descoberta (desvelamento de algo oculto, mas já existente) da Teoria da INVENÇÃO (produção de novo conhecimento). Considera a invenção como expressão da essência, ou potência do ser humano.

Nos últimos anos, pude constatar em pacientes, e em mim mesma, a necessidade de uma leitura compreensiva quântica dos fenômenos observados. A articulação quântica propicia acompanhar os fenômenos psíquicos sob outra dinâmica em nosso mundo interior, outra mobilização na configuração, outra percepção do movimento das energias psíquicas, particularmente nos denominados "estados alterados de consciência".

Considero estados alterados de consciência não só os fenômenos parapsicológicos (referentes ao campo da Parapsicologia), que cada vez mais se tornam mais conhecidos (mais assumidos abertamente ou passíveis agora de reconhecimento). Agrego, nessa categoria de estudo, também as energias que mobilizam os transes religiosos, os êxtases orgásticos (sexuais), as intuições, os insights, os sonhos...

Parte 3
Minha hipótese, de alguns anos, é que Freud foi o primeiro a observar e registrar a movimentação das operações quânticas dentro de si e de seus pacientes. Com suas descobertas sobre os mecanismos de defesa psíquicos e suas observações inovadoras sobre os processos mentais inconscientes, foi o pioneiro, a meu ver, a descrever nos seres humanos as interações na mente das forças imanentes do, hoje cada vez mais desvendado, mundo subatômico.

Acredito que o psiquismo faça parte do mundo da FÍSICA QUÂNTICA, com suas FORÇAS IMANENTES DE PRODUÇÃO CRIATIVA do ser humano, por meio de interações de energias em estados alterados de consciência e saltos quânticos, que formam a rede de reações sub-atômicas dentro de todos nós.

Nesse momento, procuro a sintonia com essas ideias e a sua sincronia com as articulações lógicas espinosistas sobre os fenômenos por ele também observados. Espero encontrar nos relatos de Espinosa sobre suas viagens internas, e nos registros descritivos deixados por ele, particularmente em sua obra "A Ethica", quadros sensoriais semelhantes aos citados abaixo.

Uma leitura e interpretação quântica abrange o leque do mundo de possibilidades e probabilidades; a análise das reações (respostas comportamentais) a pressões internas e externas; aborda a compreensão de RELAÇÕES DE FORÇAS imanentes aos seres humanos; a apreensão, dentro de uma visão holística da dinâmica das redes de causalidades, dos efeitos de vibrações e as qualidades de energia, imantações e irradiações que "afetam o ser humano quântico e influenciam seu modo de vivenciar: observar e interferir no que lhe ocorre".

Experiências comuns de estados alterados de consciência e saltos quânticos descrevem a sensação de uma mola impulsora (salto quântico?) que remete a mente a um campo psíquico onde imperam: calor, luz, expansão, calmaria, serenidade, paz, aconchego... não há espaço para uma comunicação verbal como conhecemos, embora a via seja mental, não por palavras mas por informações sensoriais por afinidades telepáticas. Aparecem sempre unidas a vivências de grande retidão ética.

Parte 4
Indico a leitura da Dissertação de Mestrado em Filosofia de Victor Cesar Bessa da Rocha: " O Conatus na Filosofia de ..." (entrar pelo Google, pesquisando pelo nome do autor). A dissertação de Rocha é um convite a uma reflexão sobre a Ethica de Espinosa: "A RAZÃO, mais poderoso dos afetos, É CAPAZ DE REFREAR OUTROS AFETOS". "Espinosa sempre orienta a razão para o exercício da mente no ato de estabelecer vínculos entre essência e existência, entre homem e sociedade". (Rocha)

Assimilando esses dados, vou procurar, direto nas obras de Espinosa, acompanhar suas ideias sob a perspectiva quântica. Tem algo que as une! Vou buscar entender os conceitos, antes de acompanhar as nuances do pensamento de Espinosa (século 17) e sua visão de mundo, perspectivas e raciocínio lógico.

E onde entra Gikovate? Como não cruzar as ideias contidas principalmente nos últimos livros de Gikovate com a necessidade apontada no PROJETO ESPINOSISTA de configuração de uma NOVA MORAL?

No Projeto de Regeneração Moral de Humanidade, Espinosa propõe uma reflexão orientada para um FIM PRÁTICO voltado ao SUMO BEM  e a um EDUCAR mais amplo da HUMANIDADE.

Onde entra Gikovate? Confira por si mesmo:

* De seu último livro: "Mudar: Caminhos para a Transformação Verdadeira"
"Os que conseguem pensar e agir de acordo com suas convicções experimentam um orgulho íntimo justificado: talvez seja nossa maior CONQUISTA!" ..."Uma vez atingidos os pré-requisitos para o desenvolvimento da maturidade emocional: disciplina, determinação, boa tolerância à frustração e entendimento claro da nossa atual condição, a RAZÃO torna-se fortalecida para idealizar e executar o PROCESSO DE MUDANÇA, que a pessoa considera importante." ( livro Mudar...)

* Do livro " Uma História de Amor ... com Final Feliz"
"A EVOLUÇÃO EMOCIONAL E MORAL é requisito essencial e está presente em todos os que conseguiram se aproximar da CONDIÇÃO DE JUSTOS (superando o egoísmo e a generosidade que definem as relações afetivas entre opostos). Confiança recíproca e respeito pelo modo de ser de cada um determinam um elo mais consistente e construtivo. Chamo o sentimento, que une pessoas livres, de +amor..." (que implica na morte do amor romântico).

"Uma ORDEM SOCIAL que estimule o individualismo (que nada tem a ver com egoísmo, mas com independência afetiva ) - e uma forma de EDUCAR adequada a isso - poderia ajudar a encurtar muito o caminho descrito aqui e hoje percorrido pelos que conseguem se tornar independentes. É preciso CORAGEM PARA MUDAR o foco nessa direção, embora isso já venha acontecendo em decorrência dos avanços tecnológicos. Porém, hoje vivemos uma espécie de individualismo "monitorado": somos mais livres do que qualquer outra época mas radicalmente manipulados pela mídia e pela publicidade."

"Pessoas mais INDEPENDENTES e com BOA-AUTOESTIMA podem se rebelar com mais facilidade (contra padrões irracionais opressores) e começar a pensar por conta própria. A resolução desse nó relacionado com a questão do amor é que cria as condições sonhadas pelos idealistas do século passado. Cria condições para que os HOMENS DE BOA VONTADE, LIVRES E JUSTOS pensem mais seriamente na CONSTRUÇÃO DE UMA VIDA COMUNITÁRIA fundada nos ideais de LIBERDADE E JUSTIÇA."

Ops, Espinosa e Gikovate? Qual é a tua, "cara"! Reformulamos o título da postagem?

Concluo - para quem quer conhecer mais sobre as ideias de Gikovate - indicando a leitura, entre outros, dos livros:
* "Nós, os Humanos"
* "A Liberdade Possível"
* "O Mal, o Bem e Mais Além - Egoístas, Generosos e Justos"
* "Uma História de Amor... com Final Feliz"
* "Mudar: Caminhos para a Transformação Verdadeira"

Aurora Gite



quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Mais sobre minha pesquisa? Compartilho, como não!

Eis as inquietudes e os focos de interesse, que direcionam minhas pesquisas!

Espero que possam lhe ajudar. Não me importo em compartilhar, não! 

Gosto de perceber, quando conhecimentos se somam, que novas configurações sobre um fenômeno psíquico, conduzam a construção de novas hipóteses, para além das minhas.

No entanto, única variável, que não abro mão, é que as descobertas agregadas a afirmações, que me sejam atribuídas, sejam baseadas em fatos e evidências, validados por métodos científicos. 

Vale um adendo sobre o "fenômeno da intuição". Não o considero vinculado a experiências místicas manipuláveis, ou pertencente ao campo dos mistérios inexplicáveis de uma superstição religiosa sobre o sobrenatural, mas sob o domínio de fenômenos alterados de consciência, pertencentes ao mundo quântico. Fenômenos parapsicológicos como a telepatia, comprovados atualmente, são enquadrados dentro de uma "ciência intuitiva" e se tornaram objetos de pesquisas científicas.

Sendo assim, compartilho mais algumas de minhas ideias (sempre não conclusivas - como tudo o que cerca o ser humano inserido em um mundo em constante evolução e mudança), baseadas em observações e cruzamento de informações pertinentes:

QUINTA-FEIRA, 30 DE JUNHO DE 2011


Outra instância psíquica? Será?

Outra instância psíquica? Será? Minha intenção com esse título é mobilizar a reflexão do leitor leigo, e também motivá-lo, como ser humano, a investigar em seu psíquico os movimentos que ocorrem ante o que exponho. Minha expectativa quanto aos profissionais, da área psíquica e afins, é que cruzem dados e analisem com os que já possuem, lembrando que o ser humano é um só, e, o que for verdadeiro sobre ele, pode ser observado sob várias perspectivas.


Tudo começou com grande inquietude, revendo teorias ocidentais e orientais, buscando explicações que justificassem experiências de várias pessoas, inclusive minhas. Há muito pouco tempo tais experiências se tornaram objetos de estudo, e assim mesmo com restrições e descréditos preconceituosos. Há muito tempo as pessoas ousaram se expor e colocar a descoberto a experiência por que passaram sem serem taxadas de loucas, ou se considerarem portadoras de algum distúrbio mental.

Por outro lado, sempre me causou estranheza a variedade de teorias e o antagonismo, propagado ferrenhamente por seus defensores, sobre o ser humano. Tais radicalismos produziam, a meu ver, um reducionismo na visão do mundo psíquico do homem, e grande viés na leitura e interpretação dos dados pragmáticos. Fenômenos observados na prática clínica tinham que ser encaixados nas molduras teóricas preexistentes. O recorte sobre o ser humano tinha que se adaptar a esses enquadres conhecidos e avalizados. Os que nele não cabiam, ou eram modelados, ou eram excluídos e desprezados; mais ainda eram desqualificados, por não estarem dentro dos critérios científicos atuais.

Com a globalização, a era digital, novas tecnologias propiciando acompanhar passo a passo o funcionamento cerebral, surpreendentes descobertas sobre o genoma e a clonagem humana... e eis, nesse milênio, paradigmas e mais paradigmas dando cambalhotas e mais cambalhotas sem conseguirem se erguer ante a evidência do novo, que impõe outros modelos teóricos e busca imperiosa de outra conceituação, para se obter compreensões adequadas sobre os fenômenos observados.

Enfatizo o perigo de tentar abarcar a realidade e tentar trocas dialéticas sobre ela, buscando o uso de conceitos comuns. Infelizmente o mundo conceitual se tornou uma Torre de Babel , onde os signos da palavra passam a ser lidos da mesma forma, mas seu simbolismo e representações adquirem tal diferenciação de significados, que poucos se entendem. Também não se dão ao trabalho de estabelecerem os pontos referenciais de onde partem suas idéias, ou as perspectivas onde se colocam para emitirem seus pontos de vista. importante critério para colocar ordem na dialética dos discursos humanos.

Dando continuidade a minhas pesquisas, buscando comprovar minha hipótese de que a energia psíquica está atrelada á biofísica quântica, me deparo com a possibilidade da existência de uma outra instância psíquica, além do id-ego-superego freudianos.

Tal proposição me coloca em posição mais confortável podendo aproximar tantas mentes pensantes de personalidades geniais que se distanciaram, pois ao não se colocarem dentro da perspectiva do outro, não viam com encaixar seus pontos de vista também baseados em evidências clínicas e pessoais. E, ficava eu a refletir, onde está o sujeito psíquico, qual o lugar ocupado pelo ser humano no meio de tanta divergência. Mais ainda, seguindo minha intuição e me permitindo ser livre e pular de perspectiva a perspectiva, observava sob o referencial de cada um e constatava as evidências práticas, ousando testar suas técnicas operacionais na relação terapêutica, comprovando seus efeitos sobre meus pacientes e sobre mim mesma.

Minha proposta é que existe uma instância psíquica, só observada ao se deslocar o investimento das funções superegóicas. Considero a existência no sistema psíquico de duas vias, por onde circulam a energia, como ocorrem nos sistemas circulatório e respiratório. Penso que Piaget teria prazer em renascer para registrar as características da forma operacional contida nessa inteligência.

Para mim, libido (Freud) e energia psíquica (Jung), fazem parte do mesmo processo energético humano, se diferenciando pelas perspectivas sobre o ser psíquico. Pelo processo de individualização partimos do "não-ser psíquico" para a formação da personalidade, de nossa maneira de ser, e construção do nosso "ser e existir como sujeito", a ser transcendido por uma alquimia interior.

Através dessa transformação na qualidade da energia, ela é direcionada a uma "instância espiritual". Nova via de circulação da energia psíquica buscando o encontro do "Ser Psíquico" com sua autenticidade, liberdade e autonomia de ação, que tende a se dirigir ao "Não-Ser Psíquico", que não consiste em sua negação, mas na afirmação de nossa potência energética original.

A compreensão do "Ser" espiritualizado demanda novo aprendizado sobre sua simbologia (linguagem quântica?) e novos recursos interpretativos. Considero o "processo de individuação", enfatizado por Jung, como base para a "espiritualização", onde podem ser observadas novas capacitações humanas e diferentes operações psíquicas funcionais, voltadas a habilidades específicas como intuir, captar sensações e percepções superiores.

Penso que o processo de espiritualização tem a ver com a canalização da energia psíquica re-catexizada   por novos valores: origem do Ser Espiritual Moral, característico da "instância espiritual". Aqui diferencio a moral superegóica da Moral Espiritual.

A primeira,  "moral superegóica" - rédea externa ao "ser" - constituída pelo conjunto de regras e costumes, ditado por fatores externos ao indivíduo, com sua função limitadora do "eu" em sua inserção no social, facilitadora da convivência do indivíduo dentro da comunidade, mas criadora de um "querer", que depende de uma "vontade condicionada" ao livre arbítrio" desse indivíduo, para decidir e optar entre caminhos, que lhe são "oferecidos pelo mundo relacional à sua volta".

A segunda, "Moral Espiritual", pertencente ao campo das "Virtudes", que, a meu ver, são valores espirituais advindos de fonte interna - essência do indivíduo - e que se constituem em forças intrínsecas, que o mobilizam a atuar de acordo com esse querer autônomo, essa "Vontade Livre" do espírito (da psique humana), que, por si só, se constitui na "disposição tensional para querer" que motiva o indivíduo a buscar se superar continuamente.

Como estamos diante de uma inteligência que se propaga por vibrações ondulatórias (quânticas?) - sincronias energéticas ou dissonâncias psíquicas - pesquiso, no momento, dados sobre o processo eletrolítico dessa alquimia. A água, por nós ingerida, tem a capacidade de aumentar as sinapses entre os neurônios... quantas hipóteses podemos construir, a partir daí, considerando o bioeletromagnetismo humano?

Aurora Gite

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Turma do "Me Engana Que Eu Gosto"? Eu não me incluo,não!

Quanto mais o tempo passa, mas me é desconfortável presenciar como aumentam os participantes da turma do "Me Engana Que Eu Gosto", que acolhe os "cegos" de Saramago em sua inércia viral e acomodação existencial.

No ir e vir das notícias, violência e guerras, prisões e mortes, negociações e violações, reportagens que envolvem possíveis períodos de tréguas, talvez com probabilidade de paz futura, geram grande alívio em muitos e me causam enorme espanto.

Paz futura em meio a um jogo irracional de poder regado por uma maldade tão destrutiva?
Desejo de posse, bárbara violência, ódio e vingança que levam de roldão até a comovente história religiosa de povos, que se orgulhavam de mantê-la viva, rememorando-a através de sua honrada tradição, passada de geração a geração.

Será que essa História merece ser reescrita?

A meu ver, seus governantes atuais afogam nobres intenções, assassinam sagrados ideais, depositam a humanidade de seu povo nas lamúrias do muro das lamentações. Se tinham razão ao clamarem ao mundo que não se esquecesse do que passaram; ao justificarem que mantinham vivos na memória os sofrimentos pelas injustiças e perseguições indiscriminadas, perversas atrocidades a que, por implacáveis conflitos raciais, foram expostos em período longínquo... as evidências que nos chegam demonstram como se afastaram desses objetivos.

Nesse momento histórico, infelizmente, passam a agir como seus agressores de então, com implacável desumanidade, desconsiderando a repercussão moral sobre sua raça e as demais, ao matar crianças e idosos indefesos, civis longe dos campos de combate. Tantos cadáveres, não apenas de corpos físicos que se acumulam por esses campos...

Uma luz no final do túnel: a doída descoberta pela dor do remédio que pode combater o vírus das crenças que geraram a cegueira humana entre esses povos, que serão obrigados a recolher esses destroços e conviver com tantas perdas desestruturantes da identidade humana.

Vale ler o texto abaixo, ressuscitado após 5 anos, e refletir sobre a validade do que chamam de "paz". Paz "entre os povos e os homens de boa vontade". O grito irônico que me vem, de dentro do peito, é: "Me engana, que eu gosto!".

Acreditem, o contexto histórico é outro, mas a moldura é a mesma; as figuras retratadas mudaram, mas nada foi aprendido desde então! Confiram por si mesmos, não aceitem como "cegos, surdos e mudos" pertencer à raça humana, que aí está. O milênio pede outro perfil de "ser humano". Comprovem isso por si mesmos também!

Renovo a tristeza com que escrevi o texto abaixo:

SEXTA-FEIRA, 9 DE JANEIRO DE 2009

Perdas desestruturantes da identidade humana

Seus comentários são excelentes. Procuro sempre lê-los.
Penso que teríamos que focar os acontecimentos sob nova perspectiva, a partir de agora.

Ante um quadro onde observamos:
  • o império da irracionalidade na busca de poder e exaltação de interesses personalizados,
  • a evidência da quebra da ética e dos compromissos assumidos sob esse prisma,
  • a constatação da não aceitação de acordos visando o bem comum e ações humanitárias,
acredito que nosso foco deveria recair no que temos no "aqui e agora existencial" dessas populações.
Sob uma leitura racional e emocional, análises e interpretações deverão recair nas perdas desestruturantes da identidade do ser humano, e que interferirão diretamente em suas reconstruções logísticas e convivências futuras.
Nesse sentido, vale lembrar que as perdas, na construção do ser humano, englobam os três tipos de lutos:

1- as perdas de entes adultos e idosos significativos, parentes ou não, testemunhos de nossas experiências, pontos de nossa auto-referência, reminiscências de nosso passado e sinalização de nossa passagem por esta vida;

2- as perdas de crianças e adolescentes, representantes de nossos projetos futuristas, sonhos e propósitos que dão sentido a nossa vida;

3-as perdas dos patrimônios materiais e culturais, de nossa tradição histórica, conquistas e aquisições : autorrealizações responsáveis pela valorização de nossa auto-estima.


Como se reestruturar como ser humano, com senso moral virtuoso e justo, ante toda a distorção da própria sensibilidade humana, necessária para suportar todo o flagelo desumano?

Como suplantar todo o ódio, raiva e ressentimento, que tendem a se transformar posteriormente em reações vingativas e intimistas, até como forma de amenizar toda a angústia que geram?

Como perdoar e superar todas essas vivências violentas, mescladas em ambos os lados por impotência e culpa, dos que sofreram e foram submetidos e dos que agrediram e humilharam.

Ambos os lados terão que se confrontar com a gélida barreira de autoproteção, porta de aço da sólida indiferença, instalada internamente para aprisionar o lado mais íntimo e afetuoso de cada um, postura necessária à sobrevivência física ante o dilema "eu ou ele".

E quanto a sobrevivência psíquica?

Ambos os lados são constituídos por pais, filhos e maridos, que viram projetadas suas próprias vidas, derrocadas suas esperanças, ao serem espelhadas as mortes de familiares e a sua própria morte, ante cada tiro dado ou agressão efetuada.

Zumbis e robôs, aceitando e dando ordens aviltantes, sem autonomia humana defensiva, sem direito a senso crítico questionador, que já pagaram e pagarão alto preço a partir de agora ante a intransigência que se observa.

Quem irá lhes propiciar posterior equilíbrio emocional, harmonia consigo mesmo; motivação para respeitar as leis e normas discriminadoras políticas, econômicas e sociais; disposição para a construção de convivências pacíficas humanitárias num mundo tão ameaçador e persecutório, sem a segurança de lideranças confiáveis visando o bem-estar da raça humana?

Qual será a visão de mundo e de homem, que está sendo construída, e qual prevalecerá nesse século 21?

Isso é responsabilidade de cada um de nós, mesmo distantes.

Com pesar, Aurora Gite.

domingo, 3 de agosto de 2014

Sentimento de culpa: tristeza ou raiva? Você decide!

Achei o texto abaixo genial, como exemplo de como crenças errôneas impulsionam nossas autossabotagens, por isso compartilho, parabenizando a autora pela pertinência de suas colocações!

Não são poucos os pensadores que atribuem à culpa a sensação de profunda tristeza. A meu ver, culpa encobre intensa raiva dentro do peito de quem a sente. Expressa a maldade de uma autopunição implacável, mais do que a bondade de uma tristeza reparadora. Presentifica o passado de desacertos, vivifica o repúdio a quem realmente é pela ofensa a vaidade por "não ser quem gostaria de ter sido", realça a impotência e a vingança do papel de mártir e vítima das circunstâncias que se rebela contra si mesmo, camufla um poço de raiva e autossabotagens.

Siga o artigo abaixo de Sonia Maria Milano, acompanhando que tipo de energia mobiliza dentro de você, buscando o que implica "sentir culpa", o que realmente significa um "sentimento de culpa".

Pode se surpreender ao constatar como a vida nos coloca sempre ante dilemas instigantes, e nos remete ao angustiante "Você decide!"

Sentimento de Culpa

por Sonia Maria Milano - sonia@soniamilano.com.br

Responsável por grandes sofrimentos psicológicos, um dos sentimentos mais arraigados dentro de nós, que se esconde atrás de nossas tristezas e frustrações, de nossas insatisfações na vida, de nosso tédio e angústias está o SENTIMENTO DE CULPA.

A culpa é um apego ao passado; é uma tristeza por ter cometido algum erro que não deveria. O núcleo do sentimento de culpa são estas palavras: “não deveria”. A base da grande tortura da culpa é a frustração pela distância entre o que não fomos e a imagem de como nós deveríamos ter sido. É a tristeza por não sermos perfeitos, por não sermos infalíveis; um profundo sentimento de impotência. E o mais grave é que aprendemos que o sentimento de culpa é uma virtude.

A culpa nos faz gastar energia numa lamentação interior por aquilo que já ocorreu ao invés de gastarmos em novas coisas, novas ações de novos comportamentos. É um comportamento considerado doentio em todas as linhas terapêuticas.

A culpa é o autodesprezo não aceitando nossos limites e fragilidade à frente das circunstâncias da vida. É uma vingança de nós mesmos, por não termos preenchido a expectativa de alguém a nosso respeito; seja essa expectativa clara e explícita ou seja uma expectativa interiorizada no decorrer da vida. Ao nos sentirmos culpados estamos alienados de nós mesmos. A nossa recriminação interna, é nada mais do que as vozes recriminatórias de nossos pais, mães, professores ou outras pessoas ainda dentro de nós.

Para trabalhar o sentimento de culpa é primordial descobrir as convicções falsas que existem em nós. A expectativa perfeccionista da vida é um produto da nossa fantasia. Achamos que é possível viver sem cometer erros. Quanto maior é a discrepância entre a realidade objetiva e a nossa fantasia, entre aquilo que podemos nos tornar através de nosso verdadeiro potencial e os conceitos idealistas impostos, tanto maior será o nosso esforço na vida e maior nossa frustração. Respondendo a essa crença opressora da perfeição, atuamos num papel que não tem fundamento real nas nossas necessidades. Nós nos tornamos falsos, evitamos encarar de frente as nossas limitações e ao desempenharmos papéis sem base em nossa capacidade, construímos dentro de nós um inimigo que é o ideal imaginário de como deveríamos ser e não de como realmente somos.

As pessoas sempre dizem que os seus sentimentos de culpa vêm dos seus erros, pois há uma relação nos nossos paradigmas mentais que culpa pressupõe erro. Acreditam que culpa é uma decorrência natural do erro, que não pode haver de maneira nenhuma culpa sem erro. Isso é profundamente falso. Uma coisa é o erro e outra é a culpa. São duas coisas distintas, separadas e que nós unimos de má fé, a fim de não deixarmos saída para o nosso sentimento de culpa.

O erro é o modo de se fazer algo diferente, fora de algum padrão de algum modelo determinado que hoje pode ser errado e amanhã, não. Pode ser errado num país e não no outro.

A culpa é o sentimento que vem de nós. Vem da crença de que é errado errar, que devemos ser castigados pelas faltas cometidas. Crença de que a cada erro deve corresponder, necessariamente, um castigo. O sentimento de culpa é a punição que damos a nós mesmos pelo erro cometido.

O erro é inerente à natureza humana, ele é necessário à nossa vida; só crescemos através do erro. O erro é uma demonstração de como eu sou, quando der ouvidos aos meus erros; ao invés de me lamentar por dentro, terei crescido.

Se a culpa é a vergonha da queda, o autoperdão é o elo entre a queda e o levantar de novo. O autoperdão é o recomeço da brincadeira depois do tombo. Eu me perdôo pelos erros cometidos, por não ser perfeito, pela minha natureza humana, pelas minhas limitações. Eu me perdôo por não ser onipotente, onipresente. O perdão é sempre a si mesmo. É pessoal e intransferível. O perdão aos outros é somente um modo de dizermos aos outros que já nos perdoamos.

Perdoarmo-nos é restabelecer a nossa própria unidade. A nossa inteireza diante da vida e unir outra vez o que a culpa dividiu. É uma aceitação integral daquilo que já aconteceu, daquilo que já passou, daquilo que já não tem jeito. É o encontro corajoso e amoroso com a realidade.

Somente aqueles que já desenvolveram a capacidade de autoperdão conseguem energia para uma vida sadia psicologicamente. A criança faz isso muito bem. O perdão é a própria aceitação da vida do jeito que ela é, nos altos e baixos. É a capacidade de dizer adeus ao passado, é um sim à vida que nos rodeia agora, é uma adesão ao presente.

O autoperdão é a paciência diante da escuridão. É um vislumbre da aurora no final da noite. É o sacudir a poeira, é a renovação da auto-estima e da alegria de viver, é o agradecimento por sabermos que mais importante do que termos comedido um erro é estarmos vivos; é estarmos presentes.

Não tenha medo de erros; erros não são pecados; erros são formas de fazer as coisas de maneira diferente, talvez criativamente nova. Não seja um perfeccionista. É uma maldição, uma prisão, quanto mais você treme mais erra o alvo. Não fique aborrecido por seus erros; alegre-se por eles; você teve a coragem de dar algo de si.



Permanece a minha curiosidade para saber o que acharam desse texto. 
Posso apostar que incomodou muitas pessoas, por abalar suas crenças e ilusões, que tirou muitas delas de zonas de conforto em que se escondiam, e  que as mobilizou a investir mais em quem realmente são. 

Como? 
Saindo do papel de vítimas de suas fantasias idealizadas e se afastando do lugar de mártires, ou melhor, da posição de algozes juízes internos com as togas do "você deveria ser assim" ou "você não deveria ter feito isso desse jeito".

Depois me respondam:
 "Como se sentem, simplesmente 'sendo' e 'se aceitando' como são?"

Aurora Gite

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

"Mudar e o Impacto na Rede de Reações"

Existem livros que chamam a atenção de imediato. Esta semana foi o que ocorreu com uma de minhas aquisições. As cores da capa me tocaram agradavelmente, como o fazem as tonalidades de azul. O contato por toque com a textura do papel reiterou meu prazer em manusear livros. Há tempos tenho claro para mim que meu tesão não estava em "escrever livros", embora quando elabore um texto para uma postagem curta o prazer de terminar e dizer a mim mesmo "Gostei do que escrevi!". Minha maior satisfação está em "ler livros" e me orgulhar de ser uma excelente leitora.

Como leitora, dou a mão ao autor e coloco minha mente disponível, não à invasão mas à entrada de suas ideias, buscando ir refletindo sobre as mesmas, entrecruzando os caminhos seguidos por eles com obras anteriores do mesmo autor, ou com temas equivalentes elaborados por outros pensadores. O estilo de escrever do autor, a meu ver, já me embala a iniciar uma leitura compreensiva de sua obra, e desperta minha curiosidade, me facultando absorver com sofreguidão a articulação de suas ideias.

Foi com esse espírito que adquiri o livro abaixo. Dentro da própria Livraria Cultura do Market Place do Morumbi (SP), entre um café e um pão de queijo, e outro café de saideira, li até meados do capítulo 2. Acabei a leitura do livro no término da manhã do dia seguinte. Eram tantas reações dentro de mim, provocadas pelas reflexões do autor, que meu primeiro pensamento foi : "Mudar é corajosa empreitada pessoal, sem dúvida! Poucos se aventuraram a essa difícil jornada interior. Que livro!".

Endosso as palavras do autor: "Ninguém muda para agradar aos outros". Acrescento que, da forma como o autor coloca, o verdadeiro processo de mudança, a meu ver, é como iniciar a caminhada solitária por um deserto, sem a possibilidade de voltar atrás. Quem conheceu a verdadeira transformação por si mesmo antes de ler o livro, não tem como não reconhecer a validade e idoneidade das pistas contidas nele. É procurar buscar o encontro com a autenticidade de nosso "nós mesmos", a aliança com a vida que nos foi dada para bem trilhar, e tentar dar o melhor de nosso melhor nesse trajeto.

Confesso que fechei o livro, sob o impacto da rede de reações que mobilizou dentro de mim, e me percebi balbuciando "É tanto a comentar sobre seu conteúdo, que linhas no Twitter não conteriam o que gostaria de expressar. Não posso me furtar de delegar o espaço do blog para o que vou intitular: "Mudar e o Impacto na Rede de Reações". Em minha cabeça logo veio o título dessa postagem.
 Como não indicar:
 "Mudar: caminhos para a transformação verdadeira"
 Flávio Gikovate - 1ª ed. - São Paulo: MG Editores, 2014

Surpresa acompanhei o autor no que ousei chamar seu "voo quântico". É incrível com estava "livre internamente para contemplar a amplitude dos temas abordados", realçando sua importância para melhor qualidade de vida das pessoas nessa era de incerteza e imprevisibilidade em que vivemos.

A cada assunto, pinçado para suas reflexões de acordo com seu interesse pessoal, inclusive como psiquiatra e psicoterapeuta, podia-se notar a "influência do observador direcionando o viés dos recortes".

Em cada abordagem o leitor ia se gratificando por suas "articulações quânticas". Podia-se acompanhar o movimento das ideias do autor. Um "leque de possibilidades" eram espalhadas à sua frente como pensador, que ousava "pular em várias perspectivas",  para "analisar e contrapor vários ângulos" do que pretendia expor.

Livre e solto, com visão de empreendedor, havia o empenho e o convite para seguir, "junto com sua razão", a "investigação das probabilidades que se configuravam" a cada momento em que novas reflexões se agregavam, dando formatação às suas hipóteses.

Novos desenhos imagéticos surgiam no aqui e agora da interpretação e elaboração do "caleidoscópio reacional dos fatos", propiciado pelas circunstâncias existenciais que cercam os seres humanos. Uma rede de reações se torna consciente no jogo de emoções e sentimentos, que mesclam as dinâmicas das interações humanas.

Nada foi deixado de lado pelo autor: raiva, culpa, remorso, vingança; sensação de humilhação, sentimentos de hostilidade, superioridade e inferioridade; vaidade exibicionista e orgulho ferido, inveja rancorosa e desejos de retaliações entre várias modalidades de parcerias; admiração, fenômeno amoroso e repercussão entre egoístas, generosos que perdem a pureza e cedem espaço aos justos.Tudo foi muito bem articulado nas 150 páginas do livro, possibilitando a clara e objetiva compreensão dessa rede de reações que envolvem a condição humana, assim que caíam no campo de estudo abrangido por sua agudeza e sagacidade de observador da mente humana.

A meu ver, "Mudar" tem tudo para ser um livro de grande repercussão em várias áreas da Psiquiatria e Psicologia, Neurociências e Neurologia, Filosofia e Sociologia, setores voltados à Educação em geral, leigos que buscam atualizar seus conhecimentos, e principalmente aos que querem mudar e se empenham diretamente nesse projeto de vida pessoal.

Fico feliz, por perceber nele um instrumento real, uma semente lançada, que pode em muito contribuir para uma mudança social. Uma luz no fim do túnel para aquelas pessoas que não vislumbravam mais nada que as escorassem em meio à velocidade das transformações desse milênio, que demandam rápidas alterações no modo de viver para melhor se adaptar à nova condição humana. Existem reflexões como mudar e buscar a inserção mais eficaz na nova configuração de mundo.

Mais ainda, pois pude constatar, como terapeuta, um farol a muitos que nos procuram perdidos e desamparados, desrespeitados e vilipendiados, sem nada - em meio ao caos social atual da violência física e violentação da integridade psíquica - que o pudesse aconchegar como ser humano, a não ser mudar, como é a proposta do livro.

E, através da mudança, enfatizada pelo autor como difícil e que demanda grande esforço pessoal. que cada um pode conseguir o corajoso encontro consigo mesmo, o olhar direto para dentro de si resgatando o que ele chama de nosso "nós mesmos", e fortalecer a razão, força amiga individual, para seguir adiante nesse processo de mudança.

Próximos passos? A confrontação com as próprias verdades e com as necessidades subjetivas de mudar o que não estiver de acordo para manter sua integridade como ser humano. Reconhecer "para que mudar" e se voltar para concretizar o "como mudar". Conhecer-se a si mesmo é uma empreitada, não se esqueçam!

A meta a alcançar? A maturidade emocional e a dignidade pessoal, ao se autorrealizar e se autovalorizar... passar a se bancar ao se autorrespeitar e delegar o poder de suas decisões ao império subjetivo de seu próprio centro de referência.

Aurora Gite