sexta-feira, 1 de agosto de 2014

"Mudar e o Impacto na Rede de Reações"

Existem livros que chamam a atenção de imediato. Esta semana foi o que ocorreu com uma de minhas aquisições. As cores da capa me tocaram agradavelmente, como o fazem as tonalidades de azul. O contato por toque com a textura do papel reiterou meu prazer em manusear livros. Há tempos tenho claro para mim que meu tesão não estava em "escrever livros", embora quando elabore um texto para uma postagem curta o prazer de terminar e dizer a mim mesmo "Gostei do que escrevi!". Minha maior satisfação está em "ler livros" e me orgulhar de ser uma excelente leitora.

Como leitora, dou a mão ao autor e coloco minha mente disponível, não à invasão mas à entrada de suas ideias, buscando ir refletindo sobre as mesmas, entrecruzando os caminhos seguidos por eles com obras anteriores do mesmo autor, ou com temas equivalentes elaborados por outros pensadores. O estilo de escrever do autor, a meu ver, já me embala a iniciar uma leitura compreensiva de sua obra, e desperta minha curiosidade, me facultando absorver com sofreguidão a articulação de suas ideias.

Foi com esse espírito que adquiri o livro abaixo. Dentro da própria Livraria Cultura do Market Place do Morumbi (SP), entre um café e um pão de queijo, e outro café de saideira, li até meados do capítulo 2. Acabei a leitura do livro no término da manhã do dia seguinte. Eram tantas reações dentro de mim, provocadas pelas reflexões do autor, que meu primeiro pensamento foi : "Mudar é corajosa empreitada pessoal, sem dúvida! Poucos se aventuraram a essa difícil jornada interior. Que livro!".

Endosso as palavras do autor: "Ninguém muda para agradar aos outros". Acrescento que, da forma como o autor coloca, o verdadeiro processo de mudança, a meu ver, é como iniciar a caminhada solitária por um deserto, sem a possibilidade de voltar atrás. Quem conheceu a verdadeira transformação por si mesmo antes de ler o livro, não tem como não reconhecer a validade e idoneidade das pistas contidas nele. É procurar buscar o encontro com a autenticidade de nosso "nós mesmos", a aliança com a vida que nos foi dada para bem trilhar, e tentar dar o melhor de nosso melhor nesse trajeto.

Confesso que fechei o livro, sob o impacto da rede de reações que mobilizou dentro de mim, e me percebi balbuciando "É tanto a comentar sobre seu conteúdo, que linhas no Twitter não conteriam o que gostaria de expressar. Não posso me furtar de delegar o espaço do blog para o que vou intitular: "Mudar e o Impacto na Rede de Reações". Em minha cabeça logo veio o título dessa postagem.
 Como não indicar:
 "Mudar: caminhos para a transformação verdadeira"
 Flávio Gikovate - 1ª ed. - São Paulo: MG Editores, 2014

Surpresa acompanhei o autor no que ousei chamar seu "voo quântico". É incrível com estava "livre internamente para contemplar a amplitude dos temas abordados", realçando sua importância para melhor qualidade de vida das pessoas nessa era de incerteza e imprevisibilidade em que vivemos.

A cada assunto, pinçado para suas reflexões de acordo com seu interesse pessoal, inclusive como psiquiatra e psicoterapeuta, podia-se notar a "influência do observador direcionando o viés dos recortes".

Em cada abordagem o leitor ia se gratificando por suas "articulações quânticas". Podia-se acompanhar o movimento das ideias do autor. Um "leque de possibilidades" eram espalhadas à sua frente como pensador, que ousava "pular em várias perspectivas",  para "analisar e contrapor vários ângulos" do que pretendia expor.

Livre e solto, com visão de empreendedor, havia o empenho e o convite para seguir, "junto com sua razão", a "investigação das probabilidades que se configuravam" a cada momento em que novas reflexões se agregavam, dando formatação às suas hipóteses.

Novos desenhos imagéticos surgiam no aqui e agora da interpretação e elaboração do "caleidoscópio reacional dos fatos", propiciado pelas circunstâncias existenciais que cercam os seres humanos. Uma rede de reações se torna consciente no jogo de emoções e sentimentos, que mesclam as dinâmicas das interações humanas.

Nada foi deixado de lado pelo autor: raiva, culpa, remorso, vingança; sensação de humilhação, sentimentos de hostilidade, superioridade e inferioridade; vaidade exibicionista e orgulho ferido, inveja rancorosa e desejos de retaliações entre várias modalidades de parcerias; admiração, fenômeno amoroso e repercussão entre egoístas, generosos que perdem a pureza e cedem espaço aos justos.Tudo foi muito bem articulado nas 150 páginas do livro, possibilitando a clara e objetiva compreensão dessa rede de reações que envolvem a condição humana, assim que caíam no campo de estudo abrangido por sua agudeza e sagacidade de observador da mente humana.

A meu ver, "Mudar" tem tudo para ser um livro de grande repercussão em várias áreas da Psiquiatria e Psicologia, Neurociências e Neurologia, Filosofia e Sociologia, setores voltados à Educação em geral, leigos que buscam atualizar seus conhecimentos, e principalmente aos que querem mudar e se empenham diretamente nesse projeto de vida pessoal.

Fico feliz, por perceber nele um instrumento real, uma semente lançada, que pode em muito contribuir para uma mudança social. Uma luz no fim do túnel para aquelas pessoas que não vislumbravam mais nada que as escorassem em meio à velocidade das transformações desse milênio, que demandam rápidas alterações no modo de viver para melhor se adaptar à nova condição humana. Existem reflexões como mudar e buscar a inserção mais eficaz na nova configuração de mundo.

Mais ainda, pois pude constatar, como terapeuta, um farol a muitos que nos procuram perdidos e desamparados, desrespeitados e vilipendiados, sem nada - em meio ao caos social atual da violência física e violentação da integridade psíquica - que o pudesse aconchegar como ser humano, a não ser mudar, como é a proposta do livro.

E, através da mudança, enfatizada pelo autor como difícil e que demanda grande esforço pessoal. que cada um pode conseguir o corajoso encontro consigo mesmo, o olhar direto para dentro de si resgatando o que ele chama de nosso "nós mesmos", e fortalecer a razão, força amiga individual, para seguir adiante nesse processo de mudança.

Próximos passos? A confrontação com as próprias verdades e com as necessidades subjetivas de mudar o que não estiver de acordo para manter sua integridade como ser humano. Reconhecer "para que mudar" e se voltar para concretizar o "como mudar". Conhecer-se a si mesmo é uma empreitada, não se esqueçam!

A meta a alcançar? A maturidade emocional e a dignidade pessoal, ao se autorrealizar e se autovalorizar... passar a se bancar ao se autorrespeitar e delegar o poder de suas decisões ao império subjetivo de seu próprio centro de referência.

Aurora Gite

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