quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Turma do "Me Engana Que Eu Gosto"? Eu não me incluo,não!

Quanto mais o tempo passa, mas me é desconfortável presenciar como aumentam os participantes da turma do "Me Engana Que Eu Gosto", que acolhe os "cegos" de Saramago em sua inércia viral e acomodação existencial.

No ir e vir das notícias, violência e guerras, prisões e mortes, negociações e violações, reportagens que envolvem possíveis períodos de tréguas, talvez com probabilidade de paz futura, geram grande alívio em muitos e me causam enorme espanto.

Paz futura em meio a um jogo irracional de poder regado por uma maldade tão destrutiva?
Desejo de posse, bárbara violência, ódio e vingança que levam de roldão até a comovente história religiosa de povos, que se orgulhavam de mantê-la viva, rememorando-a através de sua honrada tradição, passada de geração a geração.

Será que essa História merece ser reescrita?

A meu ver, seus governantes atuais afogam nobres intenções, assassinam sagrados ideais, depositam a humanidade de seu povo nas lamúrias do muro das lamentações. Se tinham razão ao clamarem ao mundo que não se esquecesse do que passaram; ao justificarem que mantinham vivos na memória os sofrimentos pelas injustiças e perseguições indiscriminadas, perversas atrocidades a que, por implacáveis conflitos raciais, foram expostos em período longínquo... as evidências que nos chegam demonstram como se afastaram desses objetivos.

Nesse momento histórico, infelizmente, passam a agir como seus agressores de então, com implacável desumanidade, desconsiderando a repercussão moral sobre sua raça e as demais, ao matar crianças e idosos indefesos, civis longe dos campos de combate. Tantos cadáveres, não apenas de corpos físicos que se acumulam por esses campos...

Uma luz no final do túnel: a doída descoberta pela dor do remédio que pode combater o vírus das crenças que geraram a cegueira humana entre esses povos, que serão obrigados a recolher esses destroços e conviver com tantas perdas desestruturantes da identidade humana.

Vale ler o texto abaixo, ressuscitado após 5 anos, e refletir sobre a validade do que chamam de "paz". Paz "entre os povos e os homens de boa vontade". O grito irônico que me vem, de dentro do peito, é: "Me engana, que eu gosto!".

Acreditem, o contexto histórico é outro, mas a moldura é a mesma; as figuras retratadas mudaram, mas nada foi aprendido desde então! Confiram por si mesmos, não aceitem como "cegos, surdos e mudos" pertencer à raça humana, que aí está. O milênio pede outro perfil de "ser humano". Comprovem isso por si mesmos também!

Renovo a tristeza com que escrevi o texto abaixo:

SEXTA-FEIRA, 9 DE JANEIRO DE 2009

Perdas desestruturantes da identidade humana

Seus comentários são excelentes. Procuro sempre lê-los.
Penso que teríamos que focar os acontecimentos sob nova perspectiva, a partir de agora.

Ante um quadro onde observamos:
  • o império da irracionalidade na busca de poder e exaltação de interesses personalizados,
  • a evidência da quebra da ética e dos compromissos assumidos sob esse prisma,
  • a constatação da não aceitação de acordos visando o bem comum e ações humanitárias,
acredito que nosso foco deveria recair no que temos no "aqui e agora existencial" dessas populações.
Sob uma leitura racional e emocional, análises e interpretações deverão recair nas perdas desestruturantes da identidade do ser humano, e que interferirão diretamente em suas reconstruções logísticas e convivências futuras.
Nesse sentido, vale lembrar que as perdas, na construção do ser humano, englobam os três tipos de lutos:

1- as perdas de entes adultos e idosos significativos, parentes ou não, testemunhos de nossas experiências, pontos de nossa auto-referência, reminiscências de nosso passado e sinalização de nossa passagem por esta vida;

2- as perdas de crianças e adolescentes, representantes de nossos projetos futuristas, sonhos e propósitos que dão sentido a nossa vida;

3-as perdas dos patrimônios materiais e culturais, de nossa tradição histórica, conquistas e aquisições : autorrealizações responsáveis pela valorização de nossa auto-estima.


Como se reestruturar como ser humano, com senso moral virtuoso e justo, ante toda a distorção da própria sensibilidade humana, necessária para suportar todo o flagelo desumano?

Como suplantar todo o ódio, raiva e ressentimento, que tendem a se transformar posteriormente em reações vingativas e intimistas, até como forma de amenizar toda a angústia que geram?

Como perdoar e superar todas essas vivências violentas, mescladas em ambos os lados por impotência e culpa, dos que sofreram e foram submetidos e dos que agrediram e humilharam.

Ambos os lados terão que se confrontar com a gélida barreira de autoproteção, porta de aço da sólida indiferença, instalada internamente para aprisionar o lado mais íntimo e afetuoso de cada um, postura necessária à sobrevivência física ante o dilema "eu ou ele".

E quanto a sobrevivência psíquica?

Ambos os lados são constituídos por pais, filhos e maridos, que viram projetadas suas próprias vidas, derrocadas suas esperanças, ao serem espelhadas as mortes de familiares e a sua própria morte, ante cada tiro dado ou agressão efetuada.

Zumbis e robôs, aceitando e dando ordens aviltantes, sem autonomia humana defensiva, sem direito a senso crítico questionador, que já pagaram e pagarão alto preço a partir de agora ante a intransigência que se observa.

Quem irá lhes propiciar posterior equilíbrio emocional, harmonia consigo mesmo; motivação para respeitar as leis e normas discriminadoras políticas, econômicas e sociais; disposição para a construção de convivências pacíficas humanitárias num mundo tão ameaçador e persecutório, sem a segurança de lideranças confiáveis visando o bem-estar da raça humana?

Qual será a visão de mundo e de homem, que está sendo construída, e qual prevalecerá nesse século 21?

Isso é responsabilidade de cada um de nós, mesmo distantes.

Com pesar, Aurora Gite.

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