terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Vivências terapêuticas

Eis que, de repente - "de onde" é o que pesquiso - surgem, em alguns pacientes, lembranças... recordações tão vívidas que o transcorrer dos anos - e ponham-se anos nisso, 40 anos talvez! - não conseguiram ensombrecer, muito menos apagar.

E eu, os ouvindo, me punha a indagar sobre qual seria o amálgama que estabelecia e mantinha alguns vínculos afetivos. Entendo "afetivos" tendo por referência algo que afeta internamente as pessoas, e a consequente forma como as pessoas, envolvidas pelo caleidoscópio dessas energias psíquicas misturadas, se permitem serem "afetadas".

Desde pequena minhas inquietações se voltavam ao que havia surgido primeiro na mente: as idéias ou os pensamentos e o que era que mobilizava a vontade, as intenções e as efetivas ações das pessoas.

O mundo psíquico já me era fascinante, não como algo estático mas dinâmico em seu jogo de forças bioenergéticas!

Nos últimos anos me aproximei dos conceitos quânticos e a leitura compreensiva que me foi facultada através da Física Quântica me jogaram mais profundamente nesse campo "além do espaço e do tempo, onde encontra-se a fonte de possibilidades infinitas, verdade, inteligência e realidade" ("A Janela Visionária", Dr.Amit Goswami).

O tempo cronológico é determinado pelas noções de tempo/espaço instituídas até pela observação científica do mundo material, mas o que determina sua inexistência no mundo psíquico?

E lá me via eu mergulhada em reflexões sobre o psíquico inserido no bioeletromagnetismo, sobre o conceito de quanta e sobre a definição da matéria, também, como ondas de possibilidades:

* Quanta -"discreta quantidade de energia emitida por pulsos, e outros atributos da matéria como o momento/angular" (posso pensar em circunstancial?),
* átomos, em sua instabilidade, que "por excesso de energia acumulada, tendendo a liberá-la, ao decaírem emitem energia sob a forma de radiações" ,
* átomos que ao livrarem-se do excesso de energia tornam-se, assim, estáveis.

Eis o mundo da mudanças contínuas, das ações e reações, sequenciais e previsíveis, campo das técnicas comportamentais e cognitivas, com as estratégias terapêuticas visando melhor adequação de respostas ou reações disfuncionais a estímulos definidos, ou o desmontar crenças - idéias irracionais enraizadas não questionadas - substituindo-as por operações realísticas racionais ... e por aí vão as intervenções, sobre os momentos vividos no presente, para que pacientes adquiram instrumentos para melhor administrar suas vivências...

Mas e a questão das probabilidades/possibilidades?
Quem, ou o quê, provoca o "colapso da onda de possibilidade no elétron real, no espaço e tempo reais, num caso real de observação"?

E lá vinha Gotswami: "Sempre que observamos um objeto, nós vemos um ato único, e não um espectro inteiro de possibilidades e probabilidades... A observação consciente é condição suficiente para o colapso da onda de possibilidade... O agente que transforma a possibilidade em ato é a consciência...A consciência é quem cria a realidade - o propósito criador - porque a escolha se converte em ato... E a escolha do ato, a partir das possibilidades compreende a mudança descontínua."

Como não associar ao mundo do inconsciente freudiano e ao jogo da consciência, que permeia essas operações psíquicas?
Existem princípios inteligentes atuando nesse mundo latente, fora da realidade material tempo/espaço - pertencentes a outra dimensão atemporal e espacial, próprias, a meu ver, do mundo das ondas de possibilidades quânticas, que conservam sentidos a serem decifrados e tornados manifestos.

Nesse sentido, cabe aos terapeutas o contato sensível com a qualidade das energias vibracionais, que mesclam os elos afetivos, particularmente as que envolvem o vínculo paciente-analista em seu setting de projeções, tranferências e contra-transferências, ampliados para cliente-psicoterapeutas ou para profundos e significativos elos pessoais, contatos que podem se transformar em experiências emocionais corretivas.

Como afastar Krishnamurti nesse momento?
Para ele, o homem vive no tempo psicológico, apegado a suas experiências egóicas, conflituosas.
* "O próprio processo de pensar envolve o especular, examinar e evidenciar... Utiliza-se da memória, da experiência e do conhecimento, que, por sua vez, estão atrelados ao passado e aos condicionamentos."
* A base de tudo é energia... A mente opera sem o tempo...O tempo psicológico, sob esse prisma, não existe...Mas todo movimento do conhecimento envolve o tempo. O conhecimento é baseado no conhecido (passado) e é projetado para o vir-a-ser (futuro)..."
* Físicamente, ocorre o aumento da capacidade do cérebro... O tempo está inserido no desenvolvimento do cérebro. O cérebro pertence ao tempo, mas a mente não pertence ao tempo. Agora, estará todo o cérebro condicionado pela estrutura temporal? Pode o cérebro, dominado pelo tempo, não subordinar-se a ele?

E continua Krishnamurti, nos provocando, com suas indagações:
Como limpar a mente do acúmulo do tempo?
Como viver sem conflito? Como viver sem pressão?
Como se desapegar do "eu", mundo das palavras e significados, e se aproximar da essência do "mim" , mundo silencioso, que não tem a ordem do tempo e o sentido prisional das palavras?

Para Krishnamurti, existe algo "além do vazio".
"A vida é algo captado além do vazio, no sentido da mente ir além das teorias... O silêncio faz parte do vazio... a vida faz parte do vazio, mas é diferente dele... A 'sensação do nada' indica que a separação, criada pelo ego, pelo tempo, pelo pensamento, pela educação - terminou. O 'nada' passa a ser o 'tudo'. E o tudo é a energia total, não diluída, pura, não corrompida, que emerge de uma base interna."

E eu, novamente, me ponho a perguntar sobre a máxima freudiana da "necessidade de tornar consciente o inconsciente".
E lá vem Krishamurti: "Só há verbo atuar no presente ativo, não no tempo passado ou futuro... No olhar não verbalmente (traduzido e fixado em palavras) mas atentamente, há um estado de atenção sem esforço...É um outro itinerário interno. A comunicação interpessoal torna-se uma comunhão..."

Quando se diz eu compreendo, quem é que compreende dentro de nós, a não ser o que chamam de ego? Há uma entidade interna, no momento da compreensão, que nos diz isso. Ocorre mais separação e não aproximação empática. Na comunhão ocorre a apreensão do outro, uma intuição empática, pois é neutralizado o observador fora da relação. O observador, como diz Krishnamurti, e qualquer um pode experienciar, é a coisa observada. Há uma comunhão de energias. outra qualidade de comunicação, onde a compreensão vem do 'sentir', como ocorre na compreensão da natureza do amor."

"A vida é um movimento de relações (ondas de possibilidades?) ...As relações são a base da existência...A confusão começa quando o fato real se torna memória... Essa memória é que exige continuidade do prazer, repetição das coisas... gerando expectativas e medos... projeções voltadas para o autopreenchimento já que existe a identificação com algo próprio projetado no outro..."

Para Krishnamurti, o sentimento de vazio interior indica o quanto nossa mente é superficial: olha a si própria e se sente vazia, mobilizando um impulso para preenchê-la (sequência de desejos para preencher faltas criadas pelo ego, necessidades inventadas pelo "eu").

Lá se questiona ele: Por que existe esse vazio, instituído oficialmente, dentro de nós?

E assim nos responde, realçando o perigo e o necessário cuidado com as palavras:
"Essa 'vacuidade' decorre da palavra (e quem a institui, como ao pensamento, é o "eu") - em seu sentido comparativo... Ante a necessidade de comparar, eu me engrandeço ou me diminuo... quando a ação se torna um esforço de imitação, de ajustamento, de seguir um padrão de prazer, acarreta agonia... só conhecemos a ação nascida da ideia... E a ação em si é diferente da ideia advinda do pensar... decorre da ação do "mim": é criativa, intuitiva, original, espontânea, virtuosa ..."

Como novamente não parear algumas dessas informações com as técnicas psicanalíticas, particularmente aquelas direcionadas à postura do analista?

Lembram da "atenção flutuante"? Investiguem o que acontece dentro de vocês, como terapeutas.
Não seria um aquietar pensamentos e um adotar a postura do observador descrita acima por Goswami e Krishnamurti?

Não equivaleria a um "permitir a interconexão de uma energia psíquica livre do analista/observador, com o analisando no lugar do observado, facilitando a 'atitude de comunhão' e a ponte para insights"? Não se estabeleceria "um livre fluxo de sentido entre as pessoas na comunicação" (físico David Bohm), nessa comunicação sem que a mente esteja concentrada em focos específicos de atenção, pré-selecionados por pré-julgamentos sobre atitudes do analisando, ou mesmo por expectativas ansiógenas do analista, até sobre acertos de suas intervenções ?

E, que tal, se agregarmos Bion?
Lembram de sua famosa frase: "O analista deve estar na sessão sem desejo e sem memória".

Nesse ponto de minhas reflexões, indico uma visita ao site da Escola Paulista de Psicanálise, de onde retiro as frases citadas abaixo, de um texto de Ale Esclapes:
(http://tecnicaapsicanalise.wordpress.com/tag/bion)

"Toda vez que uma pessoa nos fala livremente de seu passado, está falando inevitavelmente de seu desejo presente. Ela fala algo muito mais do que simplesmente lembranças. Fala do que gostaria de ter tido, do que gostaria de ser, do uso que essas lembranças podem servir no presente. Mas nunca, jamais, uma lembrança, uma memória, é ingênua. Ela é sempre a presentificação do desejo... Armadilha: muitas pessoas acreditam que o passado têm vida própria, que não podem escapar de suas lembranças, quando na verdade não conseguem escapar de seus desejos. Nesse caso o amo (o Eu) se rendeu ao seu escravo (o desejo) que passa a comandá-lo. Não é mais o cachorro que abana o rabo, mas o rabo que abana o cachorro. Ou como disse Nietzsche - 'O passado atormenta o homem'."

"Em que deveria residir a interpretação do analista? Em sua atenção? Em sua memória? Bion toma uma atitude radical em relação ao tema: a interpretação deve residir sobre a notação (armazenamento perceptivo de informações) e não sobre a atenção (movimento interno que consiste em um ato intencional que visa utilizar o aparelho de percepção a fim de buscar algo) ou sobre a memória. Inclui-se na memória toda a teoria que o analista dispõe sobre psicanálise, sendo que esta deve acontecer a cada sessão. Uma determinada teoria serve para explicar um determinado caso, uma determinada sessão, mas depois deve ser esquecida. Qualquer interpretação que contenha elementos teóricos, uma construção, está contaminada com os desejos e memória do analista."

Não resisto ainda a citar, também da análise de Ale Esclapes, essas considerações sobre a obra de Bion:
"A interpretação deve estar baseada no que 'nota' (notação) no enquadre...A questão da ética bioniana é um dos aspectos mais difíceis de sua técnica, uma vez que o analista precisa mais do que nunca estar focado no aqui e agora, imediato e mediato que ocorre entre analista e analisando, pois somente isso pode servir como elementos para notação. Exige-se uma presença do analista ao mesmo tempo que todo seu aparelho perceptual, incluindo-se aqui sua intuição, devem estar abertos para serem impressionados pelo analisando. Uma interpretação que não seja baseado nisso, não tem para Bion, valor terapêutico."

E eu, nesse momento, continuo, com firmeza e perseverança, a especular sobre os dados que possam validar minha hipótese de que "Freud foi o primeiro a observar e intervir sobre a energia quântica presente em todo ser humano".

E vocês terapeutas?
Procurem articular os dados expostos, com o perfil de comunicação do milênio, visando interações mais humanas e contatos menos robotizados.
Observem como muda a visão do terapeuta e como, tudo isso, interfere na escolha de técnicas psicoterapêuticas, muitas vezes, dificultando a obtenção de maior eficiência e eficácia nos resultados, pelo 'excessivo pensar sobre' e 'selecionar com rigidez condutas' a serem seguidas durante as sessões, obstacularizando boas intenções e competências profissionais.

Aurora Gite





quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Violência Social versus Cordialidade Perdida

Vale assistir, e até rever: GloboNews Painel (domingo, 16 de fevereiro de 2014) sobre a violência na sociedade brasileira. Pelo Google pesquisando  globonewspainel/violência/16-fevereiro conseguem assistir.

Há tempo uma inquietação constante, ao analisar a dinâmica dos movimentos sociais, me conduzia a refletir sobre o mundo de "anomia"  e de "impunidade" em que vivemos, e indagar sobre quando estaremos seguros para exercemos nossa livre expressão, direito que deveria ser zelado, legalmente, pela Justiça.

É inquestionável que enquanto imperarem "impunidade" e "distorções éticas", organizações paralelas continuarão a mandar e a violentar nossa "dignidade como ser humano" e nosso "direito a respeito e paz", mesmo dentro de um social tão agressivo.

O Poder Executivo adentrou na esfera do Legislativo e do Judiciário, que, por sua vez, se perderam na elaboração e aplicação de leis que, obsoletas e canalizadas para atender a interesses pessoais ou corporativos, não respondem às demandas do novo milênio, ou se mostram insensíveis aos apelos da nova sociedade emergente.

E, lá me permitia eu, me perder no labirinto de tantas informações e evidências do grande caos social, e tentar buscar caminhos alternativos que levassem a mudanças desse complexo quadro sociopolítico. Lá ía eu, articulando dados, analisando e comparando situações semelhantes para evitar erros crassos, procurando vislumbrar parcimoniosamente possíveis novas soluções legais, de acordo com nossa época, a serem implantadas passo a passo, gradativamente. Lá me punha eu buscando saídas que, com bom senso e firmeza administrativa levassem nossa sociedade ao respeito a uma nova ordem aplicada a uma hierarquia reconhecida, no que se refere a cada um dos âmbitos dos "três poderes montesquieuanos".

Não há como não partir dos três poderes distintos - Legislativo, Executivo e Judiciário - que caracterizam o Estado de Direito dos regimes democráticos, cujos limites perderam seus contornos delineadores, a meu ver, na sociedade brasileira; com isso, o povo perdeu seu referencial para se manifestar em protestos legais, e ser escutado em suas queixas e pontuações de falhas das instituições legalizadas, e o Governo Estatal se outorgou um lugar de justiceiro egocentrado na elaboração de leis que melhor convenham à sua meta messiânica de centralizar as tomadas de decisões e a responsabilidade pela boa gestão do país.

E eu, continuava a me indagar sobre como "resgatar a voz dos cidadãos", silenciada-amordaçada-subjugada pelo temor de represálias sociais e individuais, e "inserí-los como agentes participativos", sem que levem bordoadas de policiais, de um lado, ou  sejam ameaçados pelos representantes do crime organizado, por outro lado.

Carregava uma certeza, tendo em vista a divulgação e comprovação de tantas operações governamentais mescladas de indecentes propostas autoritárias, ou melhor dizendo totalitárias, articuladas na calada da noite e por baixo do pano, que oculta a real transparência das perversas intenções políticas, que, a meu ver, o governo que aí está, exercendo seu poder em nome da nação brasileira, não representa o país Brasil, do qual me orgulho de pertencer.

E lá estavam no programa acima juristas, cientistas políticos, historiadores... como nos anteriores já estiveram antropólogos, sociólogos, filósofos, psicólogos... buscando uma compreensão mais ampla sobre o que acontece no momento atual calcado em uma agressividade desumana, o que impulsiona as circunstâncias sociais para desqualificarem de tal forma o sentido do humano e desvalorizarem o poder das leis, o que determinou, na maioria das pessoas, a falência mortal da esperança em um mundo melhor a ser vivido com mais qualidade de vida.

É questão institucional, faltam mecanismos de participação e espaço para livre expressão social!
A violência é uma forma de defesa social, ante o quadro da falta de punição e abuso da força versus complacência e ausência da cordialidade no convívio entre as pessoas. Advém da incapacidade das corporações legalizadas, e do próprio Governo instituído, de darem conta do grau de insatisfação popular. A crise atual se agrava  pela dificuldade das estratégias visando a colocação de limites. Tudo se misturou: os que deveriam defender e zelar pela segurança pública, agridem e matam; os que deveriam cuidar do patrimônio cultural e social, que ajudaram a construir, inclusive pagando pesados impostos, o destroem.

A questão é econômica, além das relações entre o social e os interesses do coletivo, envolve o indivíduo e suas pulsões, seus impulsos inatos! Envolve o mercado de consumo e o aumento de expectativas, caindo nas percepções marxistas da dificuldade de conter as frustrações coletivas com as grandes discriminações injustas de classes sociais: de um lado privilégios concedidos em excesso, de outro a categoria dos explorados como mão de obra produtiva, sem outro espaço social para serem reconhecidos; subjugados com rigidez dentro das humilhantes prisões burocráticas e da implacável aplicação de leis elaboradas conforme os interesses de classes dominantes, oligarquias ainda existentes.

Ops! A questão é da esfera política, da tomada de decisões e administração da coisa pública. Vivemos uma crise de lideranças políticas, ainda mais com a visão transparente que situação e oposição estão devendo à sociedade brasileira. O problema é que o novo já nasce velho, pois setores arcáicos permanecem no interior do governo, eleição após eleição. Observem o império de tantos anos de famílias "sarneynianas", em suas oligarquias e defesas corporativas envolvendo os interesses familiares. Portanto, o problema está nos privilégios às organizações e ao espírito corporativo versus o cumprimento da missão pública, ou seja, a desconsideração da demanda pública. E a quem, como cidadão, além de fazer parte do povo, quer ter consolidado seu papel ativo na inclusão e participação nos processos decisórios que envolvem a nação brasileira, a revolta é o grito do socorro: saída da posição impotente e vulnerável, do ser incapaz com seu julgamento crítico sempre desacreditado.

Opa, espera aí! A questão não está só nas mãos da aplicação das leis. Convém lembrar que o império da lei é o centro da Democracia, defendendo as igualdades sociais, o respeito às diferenças e aos direitos, a observância dos limites impostos pelos deveres visando convivências pacíficas. O problema maior é o descrédito da palavra empenhada nas negociações, a inexistência de pactos de honra como antigamente.O que fazer agora que as leis não têm mais valor, que perderam sua função de abrigo protetor? Tudo ficou à deriva, nesse sentido, com a petrificação do sistema, com instituições que não funcionam mais, com as frustrações sociais vindas intempestivamente à tona, canalizando a vontade política das sociedades vigentes.

Epa! Aparelho jurídico institucional não funciona? Sistema político não é capaz de capturar líderes ou de formar lideranças? A elite política está fracassada? Então o problema envolve a "cultura política". A cultura política é violenta, reformas sociais são estratégias planejadas e elaboradas, guardando enorme distância da vivência concreta das pessoas. Erro tudo se basear em ideologias utópicas distantes da realidade do povo. Toda judicialização observada, nesse momento social, decorre da fragilidade política. O Supremo Tribunal Federal arca com atribuições em excessos, que necessariamente não são de sua alçada julgar, pois existem outras instâncias judiciais para tal.

E eu continuava a me perguntar como é que foi colocado de lado, ou esquecido, que, na dinâmica entre pessoas que se percebem como iguais, portanto, que podem exercer papel ativo na luta por seus direitos e deveres, não cabe mais a aceitação da submissão. Daí a reação brasileira desproporcional se manifestar dentro da perspectiva de respostas cada vez mais agressivas, desumanas e perversas. Por que tanta demora em perceber, concretamente, o que abrange uma real negociação diplomática do verdadeiro político?

Como não recordar as ideias de Hannah Arendt, em seu livro A Promessa da Política (p.146): "A suposição de que há no homem algo de político que pertence à sua essência, não acontece. O homem é apolítico (Não há substância política - Hobbes)... A política surge 'entre os homens', portanto, absolutamente fora dos homens."

Vale unir esses dados, com as ideias contidas em "A República", de Platão!
Chega-se mais facilmente à compreensão da "Justiça" e "Convivência Cordial" entre os homens.

O diálogo tem que ser reinstituído. A sociedade tem que amadurecer emocionalmente, e vai fazê-lo mas a duras penas, da forma como tem traçado sua vida de relação. A forma de agressão física e violentação da integridade psíquica tem que ser substituída pelo esgrima das ideias e dos argumentos, evidenciados por fatos concretos e necessidades observadas, que demandam saneamento imediato.

A Democracia tem que crescer como sistema político na sociedade amadurecida, ou tende a fenecer. Quem grita por socorro, nesse momento, é ela!


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Unicórnios são símbolos da ...

A meu ver, os unicórnios são símbolos da conquista da integridade moral pessoal e da possibilidade constante de superação ética.

Não sobrevivem em ambientes internos de almas saudosistas, voltadas ao passado ou aprisionadas na fantasia das expectativas, que correspondem a ansiedades antecipatórias do futuro, ilusão deslocada para o tempo presente do viver. Crescem no real do presente, no se imaginar ideais de vida e buscar concretizá-los.

Sobrevivem entre os que reconhecem os próprios potenciais e as limitações; entre os que buscam os meios de adequá-los à realidade, sempre mirando transcender o momento atual vivenciado.
Sobrevivem entre os que administram suas lacunas e aprimoram seus eventuais pontos fracos; entre os que gerenciam seus pontos fortes.
Sobrevivem, e permanecem por perto, entre aqueles que bem aproveitam suas presenças, como guias que auxiliam na busca do brilho do sucesso; entre os que exercem, assim, um polo constante de atração para suas aproximações espontâneas.

Unicórnios nos ensinam que a força do ser humano está em equilibrar suas ansiedades e medos para encontrar a serena harmonia e a digna garbosidade dos passos cadenciados no galope majestoso.
Salientam a importância do foco no viver, com coragem e ousadia, o aqui e o agora, sempre tendo em vista o uso mágico do poder realístico da visão futurista do empreendedor, e a necessidade da atenção constante à maestria humilde de aprendizados anteriores relevantes.

Os seres humanos, encontram a bússola e a lanterna, instrumentos necessários para amenizar seu caminhar, pelas desconhecidas e obscuras trilhas de seu viver, quando se reconhecem apadrinhados por unicórnios internos, que não cedem espaço para expectativas ilusórias e especulações fantasiosas, que não direcionam ou iluminam, estratégias e metas de um bem viver.

Para espantar ansiedades antecipatórias, que podem levar a fobias (medos irracionais) e paranóias (alucinações e delírios de ameaças persecutórias), além de condutas evitativas de meras fugas de desafios, embasadas em covardias no agir por falta de autoconfiança em poder lidar com reveses da vida, a força desse símbolo serve como base firme para o autodomínio, segurança e controle interno para lidar com acidentes no percurso ou obstáculos decorrentes de más decisões.

Quando irei aprender a criar unicórnios antes de expectativas? Essa foi a sua pergunta?

Não somos nós que os criamos. Eles é que se aproximam de nós. É estarmos abertos e sentirmos sua proximidade. Nunca estamos sozinhos e desamparados, quando sentimos a presença e a força virtuosa dos unicórnios interiores.

Agora passo a palavra a Carlos Drummond de Andrade que, provavelmente, bem responde à sua pergunta em seu poema "Recomeçar":

"Não importa onde você parou... em que  momento da vida você cansou...
O que importa é que sempre é possível, e necessário, recomeçar.
Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo, é renovar as esperanças na vida
E, o mais importante, é acreditar em você de novo.

Sofreu muito nesse período? Foi aprendizado...
Chorou muito? Foi limpeza da alma...
Ficou com raiva das pessoas?
Foi para perdoá-las um dia ...
Sentiu-se só por diversas vezes?
É porque fechaste a porta até para os anjos...
Acreditou que tudo estava perdido?
Era o início da tua melhora...

Pois é... agora é "hora de reiniciar", de pensar na luz...
De encontrar prazer nas coisas simples de novo.
Que tal um corte de cabelo arrojado... diferente?
Um novo curso... ou aquele velho desejo de aprender a pintar... desenhar...
Dominar o computador... ou qualquer outra coisa...
Olha quanto desafio...
Quanta coisa nova, nesse mundão de meu Deus, te esperando.

Tá se sentindo sozinho?
Besteira... tem tanta gente que você afastou com o seu "período de isolamento".
Tem tanta gente esperando apenas um sorriso teu para "chegar" perto de você.
Quando nos trancamos na tristeza, nem nós nos suportamos... ficamos horríveis,
O mau humor vai comendo nosso fígado...até a boca fica amarga.

Recomeçar... hoje é um bom dia para começar novos desafios.
Onde você quer chegar? Ir alto? Sonhe alto...
Queira o melhor do melhor... queira coisas boas para a vida.
Pensando assim trazemos para nós aquilo que desejamos.
Se pensarmos pequeno... coisas pequenas teremos,
Já se desejarmos fortemente o melhor e, principalmente, lutarmos pelo melhor...
O melhor vai se instalar na nossa vida.

E é hoje o dia da faxina mental!
Joga fora tudo o que te prende ao passado...ao mundinho de coisas tristes...
Fotos...peças de roupa, papel de bala, ingressos de cinema, bilhetes de viagens...
E toda aquela tranqueira que guardamos quando nos julgamos apaixonados.
Jogue tudo fora, mas principalmente esvazie seu coração,
Fique pronto para a vida... para um novo amor...

Lembre-se:
Somos apaixonáveis,
Somos sempre capazes de amar... muitas e muitas vezes...
Afinal de contas...
Nós somos o Amor."

(Carlos Drummond de Andrade)


Não se esqueça de seus unicórnios internos, e una os dois:
"Somos do tamanho daquilo que vemos,
E não do tamanho de nossa altura".

Aurora Gite