sexta-feira, 23 de abril de 2010

Melodia no viver com o som das palavras?

Existem pessoas que não só tem acúmulos de conhecimentos e conseguem transmiti-los através da expressão poética escrita ou criação musical, como também tem a capacidade de burilá-las de tal forma que chequem até nossos ouvidos de forma melódica.

Param por aí? Não, não param. Com sua postura reflexiva e analítica, sua busca ética pela verdade e grande capacidade perceptiva, nos envolvem de tal forma, atingindo a dimensão de nossa subjetividade.

Nesse sentido foi impactante a palestra de José Miguel Wisnik. Sua forma de raciocinar chamou minha atenção, mas seu transcender ou "levitar" através do encadeamento de suas idéias considerei magistral.

Lembram da célebre música de Maysa "Meu mundo caiu"?
Não lembram do "se meu mundo caiu, eu que aprenda a levantar"?
Pois é! Wisnik aborda esse tema das experiências de perda que demandam uma recomposição do sujeito.. Segundo ele, e nós podemos comprovar tais afirmações, muitas são tão vertiginosas por atingirem objetos afetivos tão significativos que propiciam nosso autoreconhecimento, que sentimos nosso mundo interno desabar.

E lá vamos enfrentar o processo do luto, morrer e renascer com a ajuda do tempo e muita paciência, pois como bem diz Wisnik, no luto pela perda onde nosso mundo interno é "desertificado", só com o tempo e um trabalho psíquico também em dimensões inconscientes, é que o sujeito dentro de nós vai se recompondo e, novamente, povoando esse mundo. A perda vai sendo aceita, ou assimilada, de tal forma que a experiência sofrida é incorporada e passe a fazer parte de nós. Nosso ser passa a se reconstituir ao levitar, ao transcendê-la.

Essa experiência é muito bem abordada em sua música:
"Se meu mundo caiu, eu que aprenda a levitar."
Eis trechos de algumas estrofes:
"Se meu mundo cair, então que caia devagar.
Vou surfar sobre a dor até o fim...até deixar para trás... até perder o chão... até ter o mundo na mão, sem ter mais onde segurar...
"Se meu mundo caiu, eu que aprenda a levitar".

"Levantar é encontrar forças... Levitar é chegar a um local de leveza, onde a dor da perda possa ser transcendida ... O luto só se dá pela margem de desapego, que vai possibilitar o poder se apegar novamente...Não renomear é não fazer o luto...". É preciso encontrar uma forma de "recolocar ou colocar em outros termos" a experiência passada já envelhecida e inútil dentro de nós para "levitá-la".

Não nos atemos, muitas vezes, que o único lugar de vida, que temos para estar, é onde o "aqui e agora" se presentifica. Isso ocorre a cada momento de vida.

Como vivê-lo é que dá o sentido de nosso viver, ou nos remete a sensação de desamparo, tédio, indiferença, raiva, ressentimento... sinais de "briga com a vida" por não sabermos administrar o tempo presente em prol do nosso "ser livre e feliz", "ser responsável e autônomo na busca do próprio bem estar".

É preciso soltar fantasmas e ilusões enganadoras , e se desapegar, dizer adeus à dor do desamparo que mantém nosso psíquico fragilizado e sem recursos para lidar com esses espectros imaginários.

É necessário abrir os braços para acolher nosso "eu" amadurecido, que reconhece suas limitações e sua potência para "levitar". Dar-lhe o crédito amoroso da fé e confiar, também, em sua capacidade para conviver com a dor da saudade... saudade inclusive de sonhos e ideais não realizados.

Após o processo de elaboração do luto das perdas, é que podemos estar abertos às novas oportunidades que surgem, mobilizados internamente para que sejam substituidas por outras metas e ganhos, tão ou mais significativos, para nosso momento de vida presente.

A entonação da voz de Wisnik ...suas palavras ... significantes e significados...passam a ressoar em nós. Elas continuam vivas, ainda vibrando, através de cordas invisíveis mobilizadas por associações de idéias significativas. Soam além do eco de sua voz, e persistem autônomas, nos revitalizando por sua força energética, por muito e muito tempo...

Essa força vive dentro de nós, independente da emissão oral das palavras, depois que sua energia é acoplada a tantas memórias e afetos, que fazem parte de nossa subjetividade... melodia agora para nossa alma. Espera espaço em nosso mundo interno para que através de "insights" possa pulsar emitindo luz e vibrando energia novamente, mesmo sabendo ser por curto período de tempo presente, pois logo será remetida ao lado escuro da memória, à escuridão em nossa mente - mais potencializada com certeza e com seu campo magnético de ação ampliado - no aguardo de novas oportunidades para se manifestar.

Gostei muito do paralelo estabelecido com os adolescentes que fazem o luto de si mesmos ante a passagem para o mundo adulto. "Deixamos de ser em parte o que éramos e temos que nos despedir" . O dar adeus a quem fomos só é conseguido ao nos desapegarmos sem nos destruirmos, conservando nossa integridade mental, e com ela integrarmos nosso trajeto histórico a nossa experiência de vida psíquica.

Tal fato implica em persistente coragem para irmos em busca de nós mesmos. Esse é nosso encontro marcado com a vida que, por mais que o adiemos constantemente, sempre vai constar da agenda de nosso viver.

Melhor compreensão deste post?
É se permitir assistir, sob esta perspectiva, ao filme "Duas Vidas" (só em CD) com Bruce Willis.

Valeu, Wisnik! Obrigada!
Aurora Gite

domingo, 18 de abril de 2010

Acaso? ... Será?

Acaso? ... Será?

Segui uma indicação e assisti ao filme " Teoria do Tudo" em CD.

Segundo o encarte: "... uma nova esperança. Uma comovente história de família, fé e teorias

físicas".

E, inacreditável! Chegam a ir até o Alaska para ver o "fenômeno da aurora boreal"... e o filmam!

Se indico? Claro que indico.

Estamos chegando cada vez mais perto das faces de uma mesma moeda:

fé (Deus) e ciência (conhecimento).

E nós mais próximos da compreensão do que a Física das Partículas representa para a

espiritualidade do milênio.


Aurora Gite

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Novas evidências científicas

Reforçando a veracidade de alguns relatos de experiências transcendentais como a da neuroanatomista Jill Bolte Taylor, citada no post anterior, indico:

"A Religião do Cérebro": as novas descobertas da neurociência a respeito da fé humana/ Raul Marino Júnior - São Paulo: Editora Gente, 2005.


Raul Marino Jr. é "professor titular da neurocirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - Hospital das Clínicas de São Paulo, professor adjunto de neurologia e de psiquiatria da Universidade de São Paulo, diretor do Instituto Neurológico de São Paulo (Inesp) e Visiting Scientist, em neurofisiologia, do National Institutes of Health (NIH), Bethesda, Estados Unidos".


Cito considerações do autor como cartão de visita, convite para a leitura de seu livro:

"Possuímos hoje razoável evidência científica de que existem áreas no cérebro humano responsáveis pela geração de uma consciência espiritual ou religiosa, ali instalada pela própria natureza ou por seu Criador.

As escolas psicanalíticas têm nos mantido por quase um século na crença de que os fenômenos psíquicos se processam no "vácuo", sem necessidade de um substrato cerebral, e o ateísmo considera até hoje as manifestações do sagrado no cérebro humano como tabu, e o pior deles: o tabu científico.

Hoje, um dos princípios fundamentais da neurociência do comportamento é que todas as nossas experiências são geradas pela atividade cerebral, a qual é determinada por microestruturas cerebrais e seus padrões de atividade eletromagnética e química dentro e entre as estruturas do cérebro. Assim, as estruturas decretam as funções e as microestruturas, as microfunções, permitindo-nos afirmar que todas as nossas experiências emergem da atividade cerebral : da autoconsciência e da sensação do eu aos sentimentos de amor, às emoções, à afetividade e, até mesmo à sensação da presença de uma divindade." (p.89)

Uma série de técnicas empregadas, bem como resultados de exames imagenológicos e sua alta tecnologia em imagens funcionais, são relatadas pelo autor. Sua análise da correlação dos dados observados já implica na construção de novo paradigma sobre o funcionamento cerebral, mental e espiritual.

Não vou comentar a relação estabelecida pelo autor entre consciência e eventos quânticos, mas vou acrescentar uma pitada a mais para aguçar a curiosidade sobre o conteúdo deste livro:

" Os processos místicos ou espirituais valem-se das mesmas estruturas neurais que o processo sexual, mas isso não significa que sejam o mesmo tipo de experiência. Do ponto de vista neurológico, ambas são bem diferentes... os processos mais elevados do pensamento envolvidos no coito - os êxtases do sexo - são resultado de sensações físicas ou tácteis. As experiências transcendentais, por outro lado, dependem de estruturas mais elevadas da cognição, sobretudo os lobos frontais, o lobo temporal direito e outras áreas de associação. A neurobiologia das experiências espirituais parece, assim, ter se originado a partir do mesmo mecanismo responsável pela experiência de voluptuosidade, que, a nosso ver, não diminui o significado da espiritualidade, uma das funções cerebrais mais sublimes e sofisticadas... "(p39)

E aqui fico eu... novas associações e novos dados para compreensões de experiências...

As imagens estão muito nítidas na minha memória: domingo... palestra... telefone toca na sala sem ninguém da equipe que organizou para atendê-lo...depois de algum tempo, para que o orador não fosse interrompido, eu me levanto, atendo e faço sinal ao assessor do evento para vir atender...e ... Isso ocorreu em 1980!

O tema da palestra envolvia amor e sexualidade... respondendo a pergunta de um dos participantes, o orador aborda o fenômeno do orgasmo duplo e coloca sua limitação para responder, pois mesmo entre suas pacientes não tinha tido nenhum relato a respeito, e que agradeceria se alguém da platéia, que tivesse passado pela experiência, pudesse descrever a
sensação. E eu lá... olhando para os lados... inquieta na cadeira... deixaria a oportunidade passar ou me exporia... e resolvi me aquietar.

Como gostaria de ter colocado que a sensação foi semelhante a - se puder exemplificar por imagem - forte emoção, reação sentida no término de um trajeto numa montanha russa, onde sem se completar o trajeto, o carrinho engata nova subida. O acúmulo de energia não descarregada e a surpresa contribuem para nova sensação ( indescritível ainda para mim) . Uma ressalva importante: no caso envolvendo enorme satisfação, ou como diz o autor do livro o estado de "êxtase sexual".


Agora preciso juntar, a essa vivência única, as novas informações e pensar a experiência sob a perspectiva científica que me chega.


Aurora Gite

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Revendo a experiência da neurocientista Jill B.Taylor

Aos que se interessam pelas novas constatações científicas, abertos a quebra de antigos paradigmas sobre o funcionamento do cérebro e o mecanismo da mente humana, indico a leitura de "A cientista que curou seu próprio cérebro", Jill Bolte Taylor São Paulo: Ediouro, 2008.

Quem é Jill Bolte Taylor?
"Neuroanatomista por profissão, acostumada a tratar de pacientes acometidos de derrame, ao ser vítima de um pôde observar sua mente se deteriorar segundo a segundo... Em seu livro compartilha a experiência que passou e conta como conseguiu se recuperar sem nenhuma sequela."

Sob seu olhar de neurocientista, eis algumas de suas descrições provindas dessa experiência pessoal:

"Como máquinas de processar informação, nossa habilidade de processar dados sobre o mundo externo começa no nível da percepção sensorial. Embora muitos raramente tenham consciência disso, os receptores sensoriais são projetados para detectar informação em nível energético. Por que tudo a nossa volta - o ar que respiramos, e até as matérias-primas que usamos para construir alguma coisa - é composto por partículas atômicas vibrantes e giratórias, você e eu literalmente nadamos em um mar turbulento de campos eletromagnéticos. Somos parte dele. Somos envolvidos por ele, e, por intermédio de nosso aparato sensorial, experimentamos o que ele é." (p.199)

"... é impossível falar sobre os sintomas resultantes do derrame sem ter uma conversa sobre as diferença inatas entre os dois hemisférios cerebrais direito e esquerdo. Apesar de a estrutura dos dois hemisférios ser relativamente simétrica, eles são totalmente distintos, não só em como processam a informação, mas também no tocante aos tipos de informação que processam." (p.204)

" O lado direito de minha mente é aberto ao fluxo eterno que me faz existir como um ser unificado ao Universo...É minha intuição e minha consciência mais elevada... O lado direito de minha mente é sempre presente e se perde no tempo... Ele entende que somos todos ligados uns aos outros num complexo tecido do cosmos, e marcha com entusiasmo no ritmo do próprio tambor." (p.146/147)

Sobre suas constatações do lado esquerdo espero ter despertado sua curiosidade ou interesse científico para uma leitura direta ante a aquisição do livro.

Cito, no entanto, as considerações abaixo pois conforme foi recuperando suas funções, outras inquietudes e dúvidas surgiram ante como denomina a autora seu "derrame de sabedoria" e seu encontro com o sentido de vida:

"A questão com que me deparava muitas e muitas vezes era: Preciso recuperar o traço de afeto, emoção ou personalidade que era neurologicamente ligado à memória ou habilidade que eu queria recuperar? Por exemplo, seria possível recuperar a percepção do meu eu, sob a qual eu existia como alguém singular, sólido, separado do todo, sem recuperar as células associadas ao meu egoísmo, meu intenso desejo de ser argumentativa, minha necessidade de estar certa, ou o medo da separação e da morte? Poderia valorizar o dinheiro sem me deixar prender pelos elos neurológicos da carência, da ganância ou do egoísmo? Poderia recuperar meu poder pessoal no mundo, fazer o jogo da hierarquia e não perder o sentimento de compaixão ou a percepção da igualdade entre todas as pessoas? Poderia me reengajar com a família sem esbarrar nas questões relacionadas a ser uma irmã caçula? Mais importante: poderia manter meu recém-encontrado senso de conexão com o Universo na presença da individualidade do meu hemisfério esquerdo? ...Que preço a consciência de meu hemisfério direito teria de pagar para que eu pudesse ser considerada normal outra vez?" (p.136)

Vale a pena seguir sua jornada reflexiva, suas estratégias para combater as limitações e sua coragem no enfrentamento dos obstáculos. Jornada interior que "lhe ensinou que é possível alcançar a paz de espírito tão almejada por todos, bastando, para isso, que estejamos atentos às mensagens enviadas por nosso cérebro."(ediouro)

Aos profissionais da área da saúde, a leitura desse pequeno livro com conteúdo tão rico para o novo milênio, é muito importante.
Ops, para os físicos também!

Gleiser, gostaria que me enviasse seus comentários científicos se chegar a lê-lo.

Sentindo falta de contatos para trocas de idéias, fico no aguardo ...

Aurora Gite

Reforço de: O mundo atual justifica o pessimismo?

Muitos justificam seu pessimismo ante o mundo atual, realçando aspectos de nossa sociedade como: a violência e a falta de amor, a corrupção e devida impunidade, a descrença no ser humano robotizado... (A primeira postagem com esse título data de 09.12.09).

Interrompo parte dos discursos negativos e desesperançados, e recorto contextos dessa paisagem para refletir sobre alguns aspectos, como sobre o reconhecimento da lavagem cerebral das pessoas que se permitem viver a vida sob a perspectiva da rede televisiva, imóveis em seus sofás, sentindo emoções -reais para si -ante cruéis noticiários de catástrofes e perversões, várias no leque de assassinatos e estupros, descritos detalhadamente e perversamente.

A meta visada é acima de tudo é manter acesa as curiosidades mórbidas e prender a atenção daqueles responsáveis pelo ibope da emissora. Em segundo plano está a preocupação com o bem estar do telespectador. É uma pena que, cada vez mais, aumente a parcela de pessoas que se sente atraída pela espetacularização acima da veracidade dos fatos.

Por que muitos aí permanecem sem emitir nenhuma reação humana de crítica e bom senso, se contaminam e se intoxicam com a morbidez dos noticiários?

Aí vem a queixa: "Este programa está me fazendo mal!" ; "Estava me sentindo bem, agora me sinto aflita e preocupada." ; " Como viver nessa sociedade?" e por aí vão os lamentos.

Mesmo percebendo suas alterações metabólicas, as pessoas não ousam ações mais contundentes como interromper no momento o contato, desligando a televisão. Mais grave ainda, permanecem na inércia, como que hipnotizadas mesmo tendo a percepção de que lhes é passada uma visão imperfeita do quadro social. A bola de neve da sociedade virtual em que vivemos é inflada pelos julgamentos distorcidos decorrentes de interpretações discrepantes do contexto focado.

O grande perigo é que além da inércia mental, responsável pela formação de robôs humanos, e do envenenamento psíquico, por muitos quadros depressivos, os programas televisivos passam a dar sentido as suas vidas.

Mas por que preencher assim o vazio de suas existências e entorpecer sua alma?

Será que a resposta não está no "para que ela não reclame de sua exclusão do viver dessas pessoas"? É dela que vem nossa alegria de viver, nosso amor pela vida e pelas pessoas, nossa esperança. É dela que vem nossa sensação de liberdade e de felicidade. Atualmente as pessoas preferem amordaçá-la e tampar seus ouvidos a seus apelos. Evitam ouvir esse seu lado do "querer" inato e autêntico.

Então como sua alma reclama?

Já sentiu sensações de desconfortos e angústias mais profundas, que surgem do "nada"? Já se viu tomado por quadros sintomáticos de doenças físicas ou psíquicas, sem causas tão aparentes?

Observe o que se passa dentro de você. Sei que não é fácil adotar uma postura introspectiva e ainda se permitir uma autorreflexão sobre o que lhe ocorre; sobre como pode mudar para viver melhor e efetuar as alterações necessárias para isso.

Grande parte da mídia busca maior envolvimento popular através de enfoques apelativos, refletindo uma realidade que parece não ceder lugar para o otimismo e a esperança de um mundo melhor. Essa reclamação é constante nos consultórios e mesmo em conversas do cotidiano das pessoas. Mas por que as pessoas se permitem ser envolvidas, ou melhor, se envolver e fazer parte como atores do espetáculo social? Por que não atuam como agentes sociais de mudança contribuindo para alterar esse quadro desgastante ao ser humano?

Como profissional, eu a ouço mais como um grito de socorro e a observo como uma constatação do desamparo interno do homem, sua fragilidade e insegurança sobre sua capacidade de se bancar em suas mudanças.

Como toda moeda, grande impotência manifesta também traz grande potência encoberta. Eu preferi reconhecer o lado cara, necessários aos papéis que desempenhamos no palco da vida, mas me aproximar da coroa, e nesse lado humano reconhecer minha hierarquia como indivíduo.

Aí é avaliar os custos e os benefícios. A economia da matéria psiquica não difere tanto da matéria visível (vide minha primeira postagem de 2008 "Otimização dos recursos humanos").

Muitas vezes sou considerada idealista ao refutar duramente assertivas que endoçam o desamparo humano e a posição de vítima ante uma sociedade tão inimiga do homem. Será?

Como não, se o aprisiona nas algemas da impotência pela falta de uma defesa social e pessoal eficazes, e meios mais ativos de preservação de seus direitos como cidadãos?

Reconheço que a Justiça ainda está vendada pelos instrumentos burocráticos, que aumentam as distorções da realidade.

Observo que a lentidão de soluções legais, é reforçada pelo desrespeito e descrédito na justiça dos homens, atualmente sem forças para desatar suas mãos de leis e códigos obsoletos e novamente segurar a balança do equilíbrio.

Constato a dificuldade no empenho da manutenção de atuações transparentes, justas e equânimes, em busca da verdade e preservação de uma sociedade humanística.

Reconheço que ainda se privilegia o cuidado de uma máquina social que, há muito tempo, solapou de suas engrenagens a figura humana.

Porém, também reconheço que o mundo é feito por todos nós "seres humanos e pensantes". Mais ainda, que acima do pensar está o sentir humano, ambos atrelados a uma inteligência e a uma consciência, com seus respectivos níveis de entendimento e compreensão.

E não me canso de repetir que cabe a cada um de nós estar em constante vigilância sobre nosso mundo interno, controlar nosso agir, comandar nossas atitudes e pensamentos, tolerar nossos afetos, respeitar nossas emoções e aprender a conviver pacificamente com elas.

Cada vez que desativamos esse controle, deixando-nos envolver pela realidade que nos é imposta, nossa visão é turvada e nossa percepção é distorcida, passamos a lidar com a qualidade negativa de energia que permitimos que nos envolva, e reagimos de acordo com ela.

No entanto, ao entrar em sintonia, buscando equilíbrio e paz interior, passo a considerar com maior atenção meu papel na sociedade, minha liberdade de escolha sobre como atuar dentro dela, minha responsabilidade espalhando amor, união, credibilidade, ou incremetando a discórdia, a rivalidade, a competição... ou cruzando os braços e passivamente contribuir para a manutenção do caos mundial, que já se alastra tão aceleradamente sem barreiras contensivas representativas até o momento.

O ser humano tem o potencial de força, que mobiliza o seu querer, e a autonomia criativa para interromper e superar o processo de desumanização que o cerca.

É alcançar sua liberdade interna e partir ao encontro de se dar um presente feliz. Vale o duplo sentido!

Aurora Gite
14.04.2010
10:55

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Tornar-se em vida um "educador-modelo anônimo"

Ao refletir sobre o tema "Não exija a educação do companheiro, demonstre a sua", veio-me à lembrança um ensinamento oriental, onde um velho chinês, todo dia, depositava um objeto de sucata, que descobria ao redor de seu trajeto durante um longo percurso, e carregava consigo em suas andanças pra depositar sempre no mesmo local de uma praça. Em seu semblante e postura humilde, transparecia a grande alegria de dever cumprido.

Algumas pessoas passaram a observá-lo, começaram a se aproximar para ouvi-lo contar sobre o significado daquele objeto naquele dia, e se mantinham por perto, por longo tempo em silêncio, embevecidos pela enorme sabedoria que o velho chinês aplicava a seu cotidiano, tão simples e de grande riqueza espiritual.

O tempo foi passando, o monte foi crescendo, tornando-se um monumento, que passou a conter a história de sua vida. Sua construção foi baseada em amor, dedicação e persistência, servindo de ensinamento para muitos.

Após sua morte física, o monumento foi preservado, sua lembrança eternizada por seus feitos, seu exemplo perdurando como fonte de aprendizagem para muitos, conservou viva sua alma, sua energia vital continuou a gerar forças na memória de muitos.

Na continuidade de guerras por atritos religiosos, políticos, econômicos... no perigo da expansão nuclear em mãos de mentes perversas... na acelerada destruição do planeta Terra ante o efeito estufa e tudo o que está acarretando com a contribuição de muitos habitantes... no sentimento de insegurança e impotência que se alastra entre os cidadãos comuns, que se consideram de mãos amarradas para combater tão grande ameaça... ponho-me a refletir.

O verdadeiro brilha por si, não necessita de endeusamentos fictícios ou idealizações radicais; não precisa de dogmas e rituais quaisquer que sejam; não necessita de comparações com outras correntes filosóficas, que carregam verdades de outra ordem; e muito menos é destruído por violentas contenções físicas, pois seu poder se alastra pela radiação da força que emitem.

Em sua expansão, seguidores teóricos ou de lideranças, em vários setores, não precisam banalizar, ou ironizar, outras disciplinas ou grupos, que têm como objeto de estudo o homem em seu aspecto "biopsicossocial e espiritual".

Não precisam fomentar a discórdia denegrindo áreas que se capacitaram a auxiliar o homem a melhor administrar e direcionar suas energias psíquicas descompensadas e expressar suas potencialidades com criatividade e espontaneidade.

Não necessitam desqualificar, ainda mais sem conhecer, os instrumentos que ajudam o ser a integrar mais harmonicamente suas dimensões humanas. Isso envolve o equilíbrio consciente e racional entre seu agir, pensar, sentir, intuir e transcender.

Na aquisição de ferramentas para se tornar "sujeito de sua história", fazem parte:

  • se capacitar para se tornar um administrador de imprevistos, inerentes ao processo de se envolver com o próprio viver;
  • se fortalecer para se tornar um líder comprometido e responsável pela autogestão de suas energias internas, perfil que lhe possibilita transpor as lutas habituais;
  • atingir o patamar de um ser humano heróico, em superação a cada minuto (lembram de Niietzsche?);
  • tornar-se, em vida, um humilde "educador-modelo anônimo", para muitos seguidores, desconhecidos aprendizes.

Sob esse perfil estão os verdadeiros líderes da humanidade, que, acredito, honrarão o novo milênio.

Você consegue observar o maior alcance de movimentos questionadores do papel e função do homem, da busca de inovações éticas e de novos valores sociais, da luta por um agregar mais harmônico e feliz das interações humanas e por uma melhor integração entre sociedades e culturas tão diversas?

Sob esta perspectiva não estamos, como seres humanos, tão impotentes assim, não parece? Eu sinto grande orgulho de fazer parte da raça humana. E você?

Conseguiu descobrir no "continuum de tempo" que forma a "eternidade do momento", o "quantum de energia" que preenche de "sentido seu viver"?

Descobriu que amor, dedicação, persistência são os elementos da paciência ou "ciência da paz", que permitem a aceitação da vida como é, e atuam como energizadores do esforço em prol de uma convivência pacífica com seu viver?

A conquista do autorespeito por sua maneira de interpretar sua vida, de procurar dar sentido a ela, de vivenciá-la com qualidade, aprendendo com os erros e se permitindo mudar de rumo, é que vai propiciar integrar sua existência à sua essência, atingindo a sensação de completude ou plenitude, sinal de que sua missão como ser humano, feliz no agora do presente, vai sendo cumprida com êxito.

Aurora Gite

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Comentário enviado para Marcelo Gleiser em 02.04.2010

Recém-lançado:
"Criação Imperfeita: Cosmo, Vida e o Código Oculto da Natureza", Marcelo Gleiser. Rio de Janeiro: Record,2010.


Comentário enviado :


" Li seu último livro. Parabéns Gleiser!
Comprovo na prática tudo o que registrou numa abordagem científica.
Agora é atingir o outro patamar da dimensão mental.
E, para isso, há necessidade de mudança de foco mesmo.

Você me possibilitou instrumentos para melhor entender e descrever o fenômeno ocorrido comigo em 1979. Essa experiência foi guardada por mim, buscando resguardar sua seriedade e seu valor científico. Só agora poderá ser compreendida sob essa perspectiva, pois você ousou lançar os pilares que possibilitam a observação de "evidências", dentro da realidade da interação quântica e missão cósmica.

No alcance de outro estado mental, a sensação foi de uma "mola" me puxando para outra dimensão energética mental, mas dentro do "Humano" em cada um de nós. O difícil é a conquista e manutenção dessa "condição humana", agora bem compreensível para você, pelas suas considerações nos capítulos finais desse seu livro.

Em nenhum momento perdi a consciência de meu físico e de meu aqui e agora, ou seja, dessa dimensão temporo-espacial, mas a vivência foi de outra qualidade energética, indescritível pelos conceitos que conhecemos. Não encontro palavras para nomear a experiência.

Minha mente é que se expandiu para um campo plano com muita luz, calor aconchegante e serenidade, um pensar sem conceitos, uma sensação de completude infinita. Tudo ocorreu sem minha intervenção direta.

Como você coloca em seu livro, realmente é como se a força magnética de um imã atuasse na manutenção da eternidade desse momento. Minha memória o conserva vivo, independente dos anos que se passaram, com a mesma emoção, perplexidade ante a grandiosidade e a sensação harmônica de aconchego, paz e felicidade. A percepção de "estar vivo" adquire outra grandeza, bem como o comprometimento e a cumplicidade afetuosa com o coletivo.

Essa força foi rompida ante a lembrança da necessidade de retornar para cuidar de minhas quatro filhas, então pequenas. Dessa preocupação surgiu o medo e daí a interrupção suave do elo.

O desligamento dessa dimensão energética ocorreu de forma nada brusca. Simplesmente cessou a imantação magnética.

Existe algo mais que vocês físicos estão chegando perto de conseguir documentar.

O caminho é por aí... Você está certo!

Obrigada pela coragem de se expor e clamar por novos paradigmas considerando perspectivas, até então desconhecidas, e que desmontam modelos adotados pela ciência até agora. É o início de uma árdua luta...

Abraço

P.S. : Gostaria de um retorno via e-mail sobre o recebimento deste comentário. "