segunda-feira, 12 de abril de 2010

Tornar-se em vida um "educador-modelo anônimo"

Ao refletir sobre o tema "Não exija a educação do companheiro, demonstre a sua", veio-me à lembrança um ensinamento oriental, onde um velho chinês, todo dia, depositava um objeto de sucata, que descobria ao redor de seu trajeto durante um longo percurso, e carregava consigo em suas andanças pra depositar sempre no mesmo local de uma praça. Em seu semblante e postura humilde, transparecia a grande alegria de dever cumprido.

Algumas pessoas passaram a observá-lo, começaram a se aproximar para ouvi-lo contar sobre o significado daquele objeto naquele dia, e se mantinham por perto, por longo tempo em silêncio, embevecidos pela enorme sabedoria que o velho chinês aplicava a seu cotidiano, tão simples e de grande riqueza espiritual.

O tempo foi passando, o monte foi crescendo, tornando-se um monumento, que passou a conter a história de sua vida. Sua construção foi baseada em amor, dedicação e persistência, servindo de ensinamento para muitos.

Após sua morte física, o monumento foi preservado, sua lembrança eternizada por seus feitos, seu exemplo perdurando como fonte de aprendizagem para muitos, conservou viva sua alma, sua energia vital continuou a gerar forças na memória de muitos.

Na continuidade de guerras por atritos religiosos, políticos, econômicos... no perigo da expansão nuclear em mãos de mentes perversas... na acelerada destruição do planeta Terra ante o efeito estufa e tudo o que está acarretando com a contribuição de muitos habitantes... no sentimento de insegurança e impotência que se alastra entre os cidadãos comuns, que se consideram de mãos amarradas para combater tão grande ameaça... ponho-me a refletir.

O verdadeiro brilha por si, não necessita de endeusamentos fictícios ou idealizações radicais; não precisa de dogmas e rituais quaisquer que sejam; não necessita de comparações com outras correntes filosóficas, que carregam verdades de outra ordem; e muito menos é destruído por violentas contenções físicas, pois seu poder se alastra pela radiação da força que emitem.

Em sua expansão, seguidores teóricos ou de lideranças, em vários setores, não precisam banalizar, ou ironizar, outras disciplinas ou grupos, que têm como objeto de estudo o homem em seu aspecto "biopsicossocial e espiritual".

Não precisam fomentar a discórdia denegrindo áreas que se capacitaram a auxiliar o homem a melhor administrar e direcionar suas energias psíquicas descompensadas e expressar suas potencialidades com criatividade e espontaneidade.

Não necessitam desqualificar, ainda mais sem conhecer, os instrumentos que ajudam o ser a integrar mais harmonicamente suas dimensões humanas. Isso envolve o equilíbrio consciente e racional entre seu agir, pensar, sentir, intuir e transcender.

Na aquisição de ferramentas para se tornar "sujeito de sua história", fazem parte:

  • se capacitar para se tornar um administrador de imprevistos, inerentes ao processo de se envolver com o próprio viver;
  • se fortalecer para se tornar um líder comprometido e responsável pela autogestão de suas energias internas, perfil que lhe possibilita transpor as lutas habituais;
  • atingir o patamar de um ser humano heróico, em superação a cada minuto (lembram de Niietzsche?);
  • tornar-se, em vida, um humilde "educador-modelo anônimo", para muitos seguidores, desconhecidos aprendizes.

Sob esse perfil estão os verdadeiros líderes da humanidade, que, acredito, honrarão o novo milênio.

Você consegue observar o maior alcance de movimentos questionadores do papel e função do homem, da busca de inovações éticas e de novos valores sociais, da luta por um agregar mais harmônico e feliz das interações humanas e por uma melhor integração entre sociedades e culturas tão diversas?

Sob esta perspectiva não estamos, como seres humanos, tão impotentes assim, não parece? Eu sinto grande orgulho de fazer parte da raça humana. E você?

Conseguiu descobrir no "continuum de tempo" que forma a "eternidade do momento", o "quantum de energia" que preenche de "sentido seu viver"?

Descobriu que amor, dedicação, persistência são os elementos da paciência ou "ciência da paz", que permitem a aceitação da vida como é, e atuam como energizadores do esforço em prol de uma convivência pacífica com seu viver?

A conquista do autorespeito por sua maneira de interpretar sua vida, de procurar dar sentido a ela, de vivenciá-la com qualidade, aprendendo com os erros e se permitindo mudar de rumo, é que vai propiciar integrar sua existência à sua essência, atingindo a sensação de completude ou plenitude, sinal de que sua missão como ser humano, feliz no agora do presente, vai sendo cumprida com êxito.

Aurora Gite

Nenhum comentário: