quarta-feira, 14 de abril de 2010

Reforço de: O mundo atual justifica o pessimismo?

Muitos justificam seu pessimismo ante o mundo atual, realçando aspectos de nossa sociedade como: a violência e a falta de amor, a corrupção e devida impunidade, a descrença no ser humano robotizado... (A primeira postagem com esse título data de 09.12.09).

Interrompo parte dos discursos negativos e desesperançados, e recorto contextos dessa paisagem para refletir sobre alguns aspectos, como sobre o reconhecimento da lavagem cerebral das pessoas que se permitem viver a vida sob a perspectiva da rede televisiva, imóveis em seus sofás, sentindo emoções -reais para si -ante cruéis noticiários de catástrofes e perversões, várias no leque de assassinatos e estupros, descritos detalhadamente e perversamente.

A meta visada é acima de tudo é manter acesa as curiosidades mórbidas e prender a atenção daqueles responsáveis pelo ibope da emissora. Em segundo plano está a preocupação com o bem estar do telespectador. É uma pena que, cada vez mais, aumente a parcela de pessoas que se sente atraída pela espetacularização acima da veracidade dos fatos.

Por que muitos aí permanecem sem emitir nenhuma reação humana de crítica e bom senso, se contaminam e se intoxicam com a morbidez dos noticiários?

Aí vem a queixa: "Este programa está me fazendo mal!" ; "Estava me sentindo bem, agora me sinto aflita e preocupada." ; " Como viver nessa sociedade?" e por aí vão os lamentos.

Mesmo percebendo suas alterações metabólicas, as pessoas não ousam ações mais contundentes como interromper no momento o contato, desligando a televisão. Mais grave ainda, permanecem na inércia, como que hipnotizadas mesmo tendo a percepção de que lhes é passada uma visão imperfeita do quadro social. A bola de neve da sociedade virtual em que vivemos é inflada pelos julgamentos distorcidos decorrentes de interpretações discrepantes do contexto focado.

O grande perigo é que além da inércia mental, responsável pela formação de robôs humanos, e do envenenamento psíquico, por muitos quadros depressivos, os programas televisivos passam a dar sentido as suas vidas.

Mas por que preencher assim o vazio de suas existências e entorpecer sua alma?

Será que a resposta não está no "para que ela não reclame de sua exclusão do viver dessas pessoas"? É dela que vem nossa alegria de viver, nosso amor pela vida e pelas pessoas, nossa esperança. É dela que vem nossa sensação de liberdade e de felicidade. Atualmente as pessoas preferem amordaçá-la e tampar seus ouvidos a seus apelos. Evitam ouvir esse seu lado do "querer" inato e autêntico.

Então como sua alma reclama?

Já sentiu sensações de desconfortos e angústias mais profundas, que surgem do "nada"? Já se viu tomado por quadros sintomáticos de doenças físicas ou psíquicas, sem causas tão aparentes?

Observe o que se passa dentro de você. Sei que não é fácil adotar uma postura introspectiva e ainda se permitir uma autorreflexão sobre o que lhe ocorre; sobre como pode mudar para viver melhor e efetuar as alterações necessárias para isso.

Grande parte da mídia busca maior envolvimento popular através de enfoques apelativos, refletindo uma realidade que parece não ceder lugar para o otimismo e a esperança de um mundo melhor. Essa reclamação é constante nos consultórios e mesmo em conversas do cotidiano das pessoas. Mas por que as pessoas se permitem ser envolvidas, ou melhor, se envolver e fazer parte como atores do espetáculo social? Por que não atuam como agentes sociais de mudança contribuindo para alterar esse quadro desgastante ao ser humano?

Como profissional, eu a ouço mais como um grito de socorro e a observo como uma constatação do desamparo interno do homem, sua fragilidade e insegurança sobre sua capacidade de se bancar em suas mudanças.

Como toda moeda, grande impotência manifesta também traz grande potência encoberta. Eu preferi reconhecer o lado cara, necessários aos papéis que desempenhamos no palco da vida, mas me aproximar da coroa, e nesse lado humano reconhecer minha hierarquia como indivíduo.

Aí é avaliar os custos e os benefícios. A economia da matéria psiquica não difere tanto da matéria visível (vide minha primeira postagem de 2008 "Otimização dos recursos humanos").

Muitas vezes sou considerada idealista ao refutar duramente assertivas que endoçam o desamparo humano e a posição de vítima ante uma sociedade tão inimiga do homem. Será?

Como não, se o aprisiona nas algemas da impotência pela falta de uma defesa social e pessoal eficazes, e meios mais ativos de preservação de seus direitos como cidadãos?

Reconheço que a Justiça ainda está vendada pelos instrumentos burocráticos, que aumentam as distorções da realidade.

Observo que a lentidão de soluções legais, é reforçada pelo desrespeito e descrédito na justiça dos homens, atualmente sem forças para desatar suas mãos de leis e códigos obsoletos e novamente segurar a balança do equilíbrio.

Constato a dificuldade no empenho da manutenção de atuações transparentes, justas e equânimes, em busca da verdade e preservação de uma sociedade humanística.

Reconheço que ainda se privilegia o cuidado de uma máquina social que, há muito tempo, solapou de suas engrenagens a figura humana.

Porém, também reconheço que o mundo é feito por todos nós "seres humanos e pensantes". Mais ainda, que acima do pensar está o sentir humano, ambos atrelados a uma inteligência e a uma consciência, com seus respectivos níveis de entendimento e compreensão.

E não me canso de repetir que cabe a cada um de nós estar em constante vigilância sobre nosso mundo interno, controlar nosso agir, comandar nossas atitudes e pensamentos, tolerar nossos afetos, respeitar nossas emoções e aprender a conviver pacificamente com elas.

Cada vez que desativamos esse controle, deixando-nos envolver pela realidade que nos é imposta, nossa visão é turvada e nossa percepção é distorcida, passamos a lidar com a qualidade negativa de energia que permitimos que nos envolva, e reagimos de acordo com ela.

No entanto, ao entrar em sintonia, buscando equilíbrio e paz interior, passo a considerar com maior atenção meu papel na sociedade, minha liberdade de escolha sobre como atuar dentro dela, minha responsabilidade espalhando amor, união, credibilidade, ou incremetando a discórdia, a rivalidade, a competição... ou cruzando os braços e passivamente contribuir para a manutenção do caos mundial, que já se alastra tão aceleradamente sem barreiras contensivas representativas até o momento.

O ser humano tem o potencial de força, que mobiliza o seu querer, e a autonomia criativa para interromper e superar o processo de desumanização que o cerca.

É alcançar sua liberdade interna e partir ao encontro de se dar um presente feliz. Vale o duplo sentido!

Aurora Gite
14.04.2010
10:55

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