segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Mais sobre sexo virtual?

Indico o video sobre Sexo Virtual , palestrista : Contardo Calligaris
(disponível no YouTube ou Cpflcultura  vídeo14/09/12) .

"Contardo Calligaris",
psicanalista,
nos conduz a uma série de reflexões
sobre as mudanças nas interações sexuais decorrente da entrada da Internet:
em nossa sociedade contemporânea,
em nosso grupo famíliar,
na relação de um casal,
em nossa individualidade.

Achei muito interessante sua perspectiva para análise sobre possíveis mudanças nas interações pessoais afetivas e sexuais, a partir de agora.

Vale conferir!
Qualquer dificuldade, cheguem até ele pelo www.google.com ou www.cpflcultura.com.br/2012/09/14

Aurora Gite

domingo, 16 de setembro de 2012

Cinquenta tons de cinza ou Aprendizagem da "arte da entrega"

Confesso minha enorme surpresa ante o movimento social ao redor de E.L.James e sua Trilogia de livros   (Cinquenta tons de cinza, Cinquenta tons mais escuros, Cinquenta tons de liberdade).

Acredito que esteja estabelecendo um marco nas relações atuais, tão desvirtuadas por tantas pessoas mascararem que, para sentir o amor, temos que desenvolver as habilidades da "arte de amar"; tanto quanto, para sentir o prazer, temos que conquistar a aprendizagem da "arte da entrega".

Os casais continuam a conservar o silêncio entre si a respeito dessas conquistas. Têm preferido se desinteressar, ante se esforçar e investir no "casal", e continuar ruminando suas decepções (mágoas/raiva contra o parceiro) e crises depressivas (raivas contra si mesmo/ impotência). Não há "sintonia química" que resista ao convívio de um cotidiano, onde ocorra a camuflada esgrima entre a liberdade individual e a comunhão de almas.

Outro grande obstáculo está atrelado à perda, por parte de muitas pessoas, do contato com o próprio corpo. É fácil constatar o fato de terem distanciado de si a escuta das próprias sensações, "enclausurando seu livre sentir" às jaulas de uma moral preconceituosa restritiva e de um impiedoso raciocínio lógico controlador e castrador.

É interessante observar as reações contraditórias que eclodiram, ante a publicação dessa trilogia, em uma sociedade contemporânea como a nossa, que brande a bandeira da liberdade individual, do respeito às diferenças, do rompimento com valores morais obsoletos e massificadores, do alcance do amor, plenitude e serenidade de espírito... e por aí vai.

De repente, muitas máscaras caíram, obrigando que essas pessoas revejam suas estruturas básicas, se questionem sobre o tipo de relações que almejam para si dentro das interações sociais que idealizaram; ou que desejam  e se vejam em condições de conquistar dentro de suas realidades atuais. É o homem se deparando consigo mesmo, com suas escolhas, que não mais condizem com sua evolução como ser humano, que busca ser livre e feliz, dentro de convivências pacíficas e respeitosas.

Penso que a autora, sem premeditar tal efeito social, atingiu a tecla de fantasias imagísticas, obrigando uma contemplação no espelho do real das interações, ditas amorosas, em suas muitas distorções. Essa, a meu ver, é uma das causas da desumanização que se alastrou no mundo contemporâneo, que acolhe, e até certo ponto incentiva, relações tediosas e estilos de convivência a dois robotizados, referenciados por valores sociais padronizados, mais manipuláveis sem grandes questionamentos.

E.L.James já declarou estar surpresa com o fenômeno de revolução social  decorrente de sua obra, e com o sucesso literário mundial que se tornou em tão curto tempo. Acredito que muitos autores ao se tornarem figuras públicas não fazem ideia do furacão que os envolvem, e da dificuldade de continuarem donos de seu espaço físico e preservarem sua privacidade pessoal.

A necessidade do reequilíbrio interno, ante o ofuscar midiático, ocorre principalmente entre os que, vaidosos, se encantam com o fato de serem notados e reconhecidos, esquecendo que a saída da postura narcisista que os envolve, está atrelada a formação do tripé: ser notado, ser reconhecido e "ser acolhido". A busca do acolhimento pressupõe a preocupação pela forma de ser recebido pelo outro, como fonte de prazer também. É a inclusão do outro na relação. Consiste na abertura para um "cuidar do outro além de si mesmo",  posição indispensável para "sentir amor".

Comecei a ler o primeiro livro de James, "Cinquenta Tons de Cinza". sem aceitar me enquadrar no leitor que a mídia maldosa buscava agregar. Queria acompanhar a "dança das ideias" da autora. Sua postura audaciosa e corajosa já tinham me atraído a ler o ousado conteúdo de sua trama.

A imagem da capa do livro, a qualidade de sua textura, a delicadeza da graduação da cor me cativaram. Gostei do estilo da autora, detalhista, me permitindo acompanhar minhas reações (corporais e psíquicas) ante o passo a passo em que colocava suas ideias. Suas frases curtas se tornaram um convite a "quero mais". Por diversas vezes, minhas mãos se movimentaram para sentir a textura da capa do livro enquanto lia seu conteúdo, imaginando a graduação da energia do tesão que provocava. Curti isso! James estava prendendo minha atenção. Em comunhão com suas ideias, eu vasculhava minhas sensações. Gosto do que a leitura me fazia sentir. Uau!

Foi chamando minha atenção a luta dos protagonistas pela construção da dimensão da cumplicidade, mediante os acordos consensuais, recíprocos no realizar suas fantasias, e na busca constante e gradativa de um querer agradar ao outro. Esta perspectiva foi me cativando. O pano de fundo para mim foi se destacando brilhando ante a percepção da eclosão do amor, visível pela postura questionante de ambos "se seriam dignos um do outro", da admiração mútua que contaminava a interação, da sintonia no sentir e fantasiar. Sem esses pilares surgem pseudos amores, monótonas e tediosas relações afetivas de sobreviventes em seu viver a dois.

Não é fácil o encontro para o "amor". A autora relata os passos para a difícil construção da convivência amorosa.  Quero crer que o feedback positivo, ante a grande vendagem de seus livros, deveria ser motivo de grande reflexão sob esse prisma, mais do que sobre o foco em uma pornografia sem maldade, que se torna possível a todos a partir de agora. Atentem ao compromisso mútuo, acordo "consensual" estabelecido com plena consciência entre eles, visando a busca dos limites de seus prazeres através do "aberto jogo de controle e de entrega ao outro", voltados ao prazer corporal do outro e à obtenção da própria satisfação.

A "pornografia sem maldade", como passou a ser chamada, a meu ver, aparece nesse momento como contraponto ao sexo virtual, fenômeno que destaca a importância de nossas fantasias, para o alcance do prazer sexual através do contato com o próprio corpo, ou seja, através do auto-toque. Sendo assim, quanto mais apurado o conhecimento - a autopercepção corporal - sobre as áreas que levam a maior gratificação sensorial, mais gratificante será a expectativa e o envolvimento de nossa imaginação em cima de possíveis variações prazerosas.  

Atualmente, existem até sites, tipo chats de bate papo, em que cada participante escolhe um avatar para representá-lo (?) em relações sexuais, evitando exposição por demais concretas através de câmeras. No mundo dos anônimos internatizados, nada precisa necessariamente ser internalizado. O encontro sexual ocorre através da projeção de nossas sensações nessas  figuras robotizadas, possível via para futuras distorções viciantes, até entregas futuras patológicas. Convém sempre estarmos conscientes de que nosso psiquismo é intrigante em seu labirinto de ações, que fogem ao nosso domínio, quando menos esperamos que tal ocorra.

Acredito, pelo que pude apreender e analisar até agora, que a autora esteja abrindo uma comunicação mais humana entre as pessoas. Interpreto a mensagem das entrelinhas como : ' Para sentir o amor em sua serenidade madura é preciso que desenvolvamos as habilidades da "arte de amar" ; para sentir o prazer, da proximidade e do contato com outro ser humano, em sua plenitude, é necessário que conquistemos a aprendizagem da "arte da entrega".'

Para tal, torna-se mister o enfrentamento de vários medos já delineados, para poder suportar a "fantasia de vulnerabilidade psíquica" por sentir a própria individualidade sendo perdida ante a grande dependência ao outro, que o fenômeno amoroso e a entrega ao amado trazem consigo. Penso ser por aí o tônus do segundo volume da trilogia.

Agora é ler e conferir! Acabei de ler "Cinquenta Tons de Cinza" e já me encaminho para a leitura de "Cinquenta Tons Mais Escuros", com tesão ( por que não? )  e curiosidade ( por que não? ) .
Como pontuei anteriormente. acompanho a autora na "dança de suas ideias" e meu corpo segue  sua "linguagem do tesão" ou da "deusa interior", como a mesma o denomina.

Ops... E.L.James até permite que a protagonista estabeleça breves diálogos com essa "deusa", após maior conhecimento e receptividade auto-perceptiva em relação a sua excitação. O tesão possui suas graduações ao se manifestar e sua proximidade, que pode ser detectada pelas alterações nas sensações corporais é fonte de desequilíbrio e ansiedade. No entanto, pode se tornar cada vez mais aconchegante e prazeroso, pela familiaridade com suas formas de expressão. Nesse sentido, é necessário grande amadurecimento emocional baseado na "confiabilidade em si e no parceiro", e na "fidelidade amorosa à relação casal", para  que o tipo de entrega, que vai se estabelecendo no decorrer da trama, ocorra.

Bem, lá vamos nós para os "tons mais escuros"! Acredito que abordem esses medos e obstáculos, pontuando algumas saídas para o casal e para a manutenção menos angustiante do "amor" entre eles. O acolher  a liberdade dos "modos de ser individuais" na relação livre de um "existir cotidiano a dois", a meu ver, deverá ser a temática delineada no terceiro volume "cinquenta tons de liberdade".

 Não é que já estou até direcionando o romance? É hora de me voltar para minha deusa interior e dizer "gentilmente" que se contenha... e continue a "acolher a excitação da espera de futuro reencontro" com as ideias de E.L.James.

Aurora Gite
De volta, após longa ausência...