quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Como não compartilhar?

Quando envolve perspectivas psicoterápicas, diferentes e inovadoras, é difícil que não procure acompanhar os terapeutas que a descobriram, e buscar a aplicação prática da teoria e da técnica dentro de um processo de autoanálise.

Estando aberta a toda abordagem psicoterápica, já no primeiro ano de faculdade me permiti ir respeitosamente a uma A.A.A., com sede perto de minha casa. Fiquei impressionada com a acolhida humana do grupo, breves cumprimentos cordiais, sem nenhuma indagação inapropriada ou curiosidade invasiva sobre minha pessoa, ou o motivo de ali me encontrar. O eco das palavras significativas da Oração de São Francisco reportam à busca uma quietude interna serena, a uma paz que contém a compulsão ansiosa, a uma coragem de conseguir vencer sendo vitorioso um dia de cada vez. Mais uma vez comprovava o que Lemgruber chamou de "experiência emocional corretiva", advinda da disponibilidade empática e da afabilidade para contatos entre seres humanos sem nenhuma pressão, cobrança ou exigência de ter que atingir modelos ideais de conduta.

Acaso? Não, prefiro coincidência!
 Comecei meu primeiro ano de faculdade, priorizando uma análise pessoal dentro da abordagem psicanalítica, sonho de todo estudante, visto a fantasia de "status" proporcionada a quem se dedicasse a se acomodar no famoso "divã" por várias sessões na semana. Isso ocorreu por vários anos, não sem frustrações.

Displicência, desconsideração de uma terapeuta? Em sessão, 14:00 horas de uma sexta-feira, deitada no divã, ideias soltas sendo colocadas à psicanalista há mais de ano, meus pensamentos jorrando e se encadeando em plena associação livre, ouço um barulho atrás de minha cabeça, vindo da poltrona onde ela sempre se sentava. Viro a cabeça e a vejo listando cheques e preenchendo o formulário de depósito bancário. Ambas fomos pegas de surpresa, e na hora, lembro bem o que menos queria ouvir eram tentativas de justificação de tal fato: proximidade do final de expediente bancário no último dia da semana. Pela minha cabeça só me vinha um lacônico: "E eu...?"

Postura antiética, busca de vantagem indevida? Anos depois, outra psicanalista... outra ocorrência desagradável. Meu parceiro sentimental na época era um psiquiatra. Ela o conheceu por meu intermédio. Casualmente vim a saber que ela ligara para ele para sua intervenção no atendimento de um de seus pacientes. Nenhum dos dois me colocara o fato, que deveria ter sido um acontecimento interdisclinar natural. Lá fiquei eu, novamente me sentindo a excluída na relação dual que se estabelecera, tendo que conviver com todas as ansiedades fóbicas e paranóicas da infância, vivendo transferencialmente o fenômeno da rejeição e medo da perda, impotente sofrendo pelo medo da perda do amor e do próprio objeto gratificador, fantasias que naquele momento se concretizavam.

É incrível, como em nossas vidas ocorrem uma sequência de fatos, que vão nos indicando o caminho a seguir, cuja leitura compreensiva só acontece no tempo certo e, na maioria das vezes, muito depois que ocorreram em nossas vidas.

Com certeza, posso afirmar que meu questionamento sobre a Psicanálise foi quando, durante anos buscando autoconhecimento, com meu mundo externo de relações afetivas ía sendo desmontado com velocidade atroz, indaguei no que considerei como final de análise: "E agora que remexi meu mundo interno, descobri o poder das pulsões e conheci parte das forças dinâmicas de meu inconsciente... o que faço com isso?" Um parêntese: não tinha mais condições financeiras para arcar com o oneroso, então, acompanhamento. Com espanto ouvi como resposta: "Agora é conviver com o prazer de se autoconhecer... com o processo contínuo de autoconhecimento que a Psicanálise proporciona." O peso de um conceito abstrato caiu sobre mim. Ops, não era meu lugar como terapeuta!

Bem longo foi o caminho até chegar à postura delineada na postagem anterior... e verificar a adequação para o milênio da proposta, que também computo como inovadora, de trabalho psicoterápico do Prof. Dr. Ryad Simon (interessante passar os olhos por seu currículo). Acompanhem como ele agrega tanto a compreensão adaptativa, respeitando os momentos de crises cotidianas dos pacientes, quanto a compreensão psicodinâmica sobre o funcionamento mental a nível inconsciente que são revividas no presente e influenciam na maneira de se relacionar desses pacientes.

Procuro que ele mesmo faça a apresentação de seu livro, onde aborda suas inovações no livro "Psicoterapia Breve Operacionalizada: Teoria e Técnica", Através da resenha de capítulos do mesmo, disponíveis para leitura pública, nos confronta com a amplitude da aplicação prática (descrição dos casos clínicos e devidas intervenções) e com a pertinência da adequação dessa abordagem psicoterapêutica para a demanda do milênio.

Sendo assim, compartilho o site, conseguido via Google e, se perceberem movimento interno semelhante ao que me proporcionou em meu processo de mudar de forma mais breve e eficiente, divulguem!

http://www.books.google.com.br/books?id=Zd0ivjImUp8C&pg=PA189&hl=pt-BR&source=gbs_toc_r&cad=3#v=onepage&q&f=false

Compartilho!
Se a entrada direta no site não ocorrer, entrem em meu twitter.
Clicando no tweet específico, chega direto à resenha acima citada.
Já testei!
www.twitter.com/thompsonlm

Aurora Gite

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Painel didático I

É interessante investigarmos os traços predominantes que influenciam nossa maneira de pensar e agir, segundo as perspectivas de estudiosos da dinâmica de nosso funcionamento mental.

A busca de uma compreensão psicodinâmica, na clínica, envolve hoje em dia, a meu ver, a amplitude de algumas premissas básicas, como a observação da:

1- existência de forças pulsionais inconscientes, angústias e mecanismos de defesa

2- conflitos internos decorrentes da ação de forças psíquicas antagônicas

3- de um estado dinâmico estável que remete à homeostase e equilíbrio psíquico

4- investigação dos fenômenos da transferência e contra-transferência

5- inter-relação dos processos contraditórios entre a experiência intrapsíquica do indivíduo e seu ambiente externo culminando na oscilação do estado dinâmico

6- considerar o representante psíquico (representante do somático no psíquico), o representante ideativo (em seu papel de representar a pulsão), o representante pulsional (os processos em que a pulsão - impulso (quântico?) que brota de dentro de nós, de forma não reativa -  encontra sua expressão psíquica)

7- examinar como se dá a patologia para selecionar o modo de ação das psicoterapias, avaliando, segundo Ryad Simon, qual a categoria que pode ser mais eficiente, para restaurar a homeostase e "possibilitar novo arranjo intrapsíquico que se expressa por maturação da personalidade, expansão da produtividade e criatividade, maior capacidade de desfrutar a vida e estabelecer relações mais significativas". 

8- Ryad cita a importância da boa escolha seletiva entre as categorias, buscando a mais indicada ao perfil do paciente e seu quadro clínico: suportivas (apoio e orientações), reeducativas ou de reajustamentos (aconselhamento), reconstrutivas (reestruturações ou alterações de estruturas psíquicas como id,ego,superego e respectivas fantasias e ideações e representações afetivas).

9- rápidas alterações no mundo atual demandam adequações psíquicas voltadas ao aqui e agora do presente e, acima de tudo, que as pessoas se impliquem em suas mudanças em prol de seu bem viver; sendo assim a brevidade das ações psicoterapêuticas se faz mister.

10- da importância de perspectivas mais ecléticas, não mais visões reducionistas, na escolha das vias de intervenções e seleção das técnicas empregadas.

Clareando conceitos é a chave para que possamos partir de uma leitura sob o mesmo referencial, saindo da Torre de Babel do Psicologismo, que há tempos, a meu ver, tomou conta da Psicologia.

Penso no "ser humano" e logo me vem ao pensamento "energia". Uma leitura focando os sistemas energéticos que mobilizam o ser humano, me possibilita um melhor entendimento das diversas perspectivas reducionistas, me possibilitando construir painéis das teorias desenvolvidas por pensadores que se dedicaram ao estudo aprofundado do mundo psíquico, onde ocorrem operações entre as partes, interações, conflitos..., além de buscar entender as motivações das respostas ou reações comportamentais, ou seja, de como o homem se posiciona em seu estar e existir no mundo em que vive. 

Acredito que o agregar e compartilhar conhecimentos é o foco nesse milênio. Sua perspectiva holística e holográfica, é voltada à rede de conexões. Isso requer de qualquer estudioso, ou pesquisador, a agilidade para mudar rapidamente de perspectiva, agregando sua perspicácia para poder "ver o homem em situação dentro do novo prisma, e humildade, para englobar - aceitando, com respeito, a inclusão de visões diferentes - vários focos, na construção do caleidoscópio sobre o ser humano em sua unicidade.

Sob esse prisma não cabem mais exclusões por dissecações teóricas reducionistas que se fixam na compreensão de partes do homem, e não buscam a integração e o design do todo que o constitui como ser humano procurando a inserção de sua singularidade subjetiva no social circunstancial, que o cerca. Por exemplo, Freud se coloca sob uma perspectiva que lhe possibilita observar "fases" de desenvolvimento e organizações de estruturas afetivas. Essas fases se constituem em etapas, ou estágios, de desenvolvimento da energia psíquica (libido). Ele percebe que determinadas regiões do corpo serão mais erotizadas libidinalmente falando, o que acarreta respectivas repercussões mentais. Para Klein, em suas observações clínicas, o que chamou sua atenção foi a existência de estilos diferentes de funcionamento mental, que nomeou "posição". Distingue nessas configurações mentais tipos diferentes de angústia, de vínculos ou relações de objeto e de mecanismos de defesa, que permitem delinear a modalidade de organização predominante no momento de vida de seus pacientes. Se me disponho a acompanhar Freud em suas especulações, sob o prisma em que se colocou para observar os fenômenos, consigo comprovar a veracidade de suas descobertas. O mesmo ocorre se me desloco e me ponho a seguir as descrições kleinianas, acompanhando o foco que despertou seu interesse. Posso validar suas conclusões quando facultam leituras mais compreensivas sobre o funcionamento mental de pacientes e possibilitam selecionar intervenções psicoterapêuticas mais eficientes.

Retornando aos conceitos: conceito confuso, que embaralha qualquer tentativa de operação lógica racional envolve o termo psique. "Psique" - termo de origem grega, indica o "sopro" que torna vivo um corpo, que o anima. Platão traduziu-o por "alma". No século XIX, com o advento da Psicologia Científica, passou-se a usar mais o termo "psique" do que "alma", por suas implicações transcendentes.

"A psique, essencialmente simbólica, reúne todos os aspectos de personalidade, os sentimentos, pensamentos e comportamentos, tanto conscientes como inconscientes: sua função consiste em harmonizar e regular internamente o indivíduo, orientando-o para o convívio social, além do que ela têm uma função ideológica ou seja, ela sempre possui um objetivo e direciona o indivíduo para a realização de um propósito relacionado à essência de cada um."(http://www.psicologiasandplay.com.br/psicologia-analítica)

Outro conceito é "Mente" e seu dinamismo.
Parece-me claro sua diferenciação do "cérebro" e suas funções corporais anatômicas.
Na mente se observam energias psíquicas interagindo e forças psíquicas atuando, vindo a gerar um movimento mentalA mente é dinâmica, nela ocorrendo operações entre as partes estruturais, interações de forças, conflitos ante impasses em vários dos sistemas mentais, que a constituem.

Existem grupos de funções, que se distinguem e que foram bem delineadas por Sigmund Freud em sua Teoria Estrutural sobre o aparelho psíquico. Vale o lembrete de que ao passar a falar de localização basicamente psíquica, não anatômica, Freud constrói um "modelo teórico ou ideal" (teoremas matemáticos são construções abstratas ideais),. O modelo que nomeou de aparelho psíquico, não existe anatomicamente, mas no "campo psicológico onde circulam e operam energias psíquicas". Aparelho psíquico é o modelo de como funciona o psiquismo, observado por Freud em seu conjunto de funções, entidades funcionais independentes e diferenciadas.

Freud pode distinguir representações psíquicas dos impulsos, que nomeou "id"; funções ligadas às relações psíquicas do indivíduo com o ambiente externo e interno, conjunto que denominou "ego", que surge como executor dos impulsos (id) numa relação de cooperação; e outras funções voltadas em parte a aspirações e ideais e a preceitos morais, decorrentes da identificação internalizada com a função paterna de colocação de limites, proibições e interdições, que chamou de "superego", o perigo é que tanto pode ser protetor, quanto castrador implacável ao se voltar a cobranças e exigências por ideais inatingíveis de perfeição.

Aqui já foram colocados alguns dados para iniciar a construção de um painel horizontal. Particularmente prefiro os painéis horizontais aos verticais, pois me facultam uma visão panorâmica. Das angústias - motor propulsor do aparelho psíquico - localizando os vários tipos de angústia (livre, fóbica, obsessiva, histérica) e ansiedades desde simples sinais de alarme... minha intenção é parear, inicialmente, as ideias das fases freudianas de desenvolvimento e seus quadros patológicos específicos; dos três tempos da primeira clínica lacaniana e sua radical mudança na segunda clínica, Clínica do Real; das posições ou estilos de funcionamento mental kleinianos; e, por aí, se pode estender um painel, colocando lado a lado pensadores em sua construção das respectivas teorias baseadas em evidências retiradas da realidade observada, não de inferências subjetivas sobre um fenômeno. Se descrevem verdades, essas podem ser comprovadas, independendo de escolas psicológicas, bastando seguir os passos indicados por cada teórico.

Procurem, por si, se antecipar e levantar esses painéis, verificando a amplitude dos diagnósticos psicodinâmicos que podem abarcar.

Aurora Gite

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Fichamento que ganhou colorido especial para minha pesquisa

Remexendo papéis me deparo com um "Fichamento das leituras, durante o grupo de estudos anuais sobre psicodinâmica de base psicanalítica, realizadas até 14/05/1991". E logo me vem a cobrança: "Nossa! Por que guardei isso por tanto tempo?". Passo a folhear o manuscrito e, em seu final, obtenho a resposta à minha inquietação ao observar que contém algumas frases também manuscritas pela supervisora (orientadora) do grupo, Eunice. Isso deu um colorido especial pessoal ao meu fichamento e me fez mantê-lo por todos esses anos:

"Fichamento muito bom; sério, com apreensão da complexidade do texto.
Há elaboração secundária numa apreensão pessoal dos diversos textos.
Na prática, penso que poderia haver espaço para mais dúvidas."
Eunice - psicanalista supervisora

Até o momento dessa postagem, não havia me recordado da imagem de Eunice, por mais que me esforçasse em situá-la nos eventos que levaram a esse fichamento. Para ser sincera, pouco lembro desse grupo de estudos. Teria que recorrer a várias associações de ideias e imagens para resgatar o laço afetivo, que daria colorido às circunstâncias de então, fazendo as lembranças emergirem com mais presteza da memória.

Sei que fiquei muito curiosa com o que escrevi sobre os escritos de Freud, e como era minha escrita compreensiva em 1991, e após lê-las resolvi transcrevê-las com o objetivo de arquivá-las digitalmente.

As citadas leituras compreendiam as Conferências V, VI, VII, VIII, IX, X, XI referentes ao volume XV (Obras Completas de Freud, Editora Imago): "Conferências Introdutórias sobre Psicanálise (1916): Parte II: Sonhos", assim como o capítulo VII do volume V da "Interpretação dos Sonhos, Parte II (1900) envolvendo "A Psicopatologia dos Processos Oníricos Latentes".

Sinopse:
*Objeto de estudo: a vida mental e as operações intrapsíquicas
*Sonhos, parapraxias (atos falhos cotidianos), sintomas: têm um sentido: são manifestações de intenções perturbadoras do Inconsciente em nossa atividade consciente.
*Sonho: estado de suspensão do interesse pelo mundo exterior, é via de acesso à compreensão do próprio Inconsciente, servindo de guia e grande aliado na escolha de formas mais harmônicas de se viver bem consigo mesmo.
*É o próprio sonhador, ou seja, a pessoa que sonha, a "única" capaz de nos dar seu significado.

"Em sua busca e constante investigação sobre o modo de funcionamento mental dos seres humanos, baseada em experiências clínicas e observações subjetivas internas, Freud nos remonta, nessas leituras, a um aprofundamento do que ocorre mentalmente durante os sonhos, nos encaminhando a acompanhar o paralelo feito por ele com o que aconteceria a nível dos sintomas que se sucedem na vida desperta; bem como nos enfatiza a importância da compreensão dos processos envolvidos, ao se priorizar a busca dos meios para ajudar um paciente a se autoconhecer, reconhecendo o que rege sua conduta e comportamento (respostas reacionais), dentro do possível.

Para ele, por trás de todo sonho existem pensamentos e desejos inconscientes ativos, sendo o sonho caracterizado, então, como reação a um estímulo que perturba o sono. Sua compreensão poderia possibilitar o acesso ao próprio inconsciente e à maneira como cada indivíduo atua dinamicamente, e facultar a observação de como se processa a mobilização do conjunto de operações intrapsíquicas, que determinam seu modo de ser e estar.

Freud coloca que, no sonho - atividade mental durante o sono - a energia que, ao sonhar, dinamiza o funcionamento do aparelho psíquico percorreria um caminho regressivo, diferenciando-se qualitativamente da característica mental da vigília que ocorre dentro de um contexto progressivo. O 1º expressando os desejos inconscientes, possibilita que esses venham à tona, em sua maioria, pela elaboração onírica e sua driblagem a uma censura interna do indivíduo. O 2º, em seu funcionamento, é permeado de sintomas, parapraxias (atos falhos cotidianos), chistes (piadas) - também originados por manifestações inconscientes - que por aí encontraram seu meio de expressão.

Comprova que o sonho representa um caminho regressivo ao estado uterino, reconhecendo daí provir o maior desejo do ser humano de plenitude e integração; reforça sempre dentro de um trabalho dedutivo... - (ops...foco na anotação de Eunice no espaço lateral da folha: "Qual a definição do conceito, ou existem trabalhos dedutivos?)... retomo que Freud comprova sua afirmação sobre o determinismo da vida psíquica de todo indivíduo. Nesse sentido, a compreensão do elo associativo possibilitaria a compreensão do próprio objetivo oculto, ponto de partida de toda dinâmica mental. Para ele, "um indivíduo que sonha, sabe que sonha, apenas não sabe que sabe, por isso pensa que não sabe", hipótese comprovada na experiência hipnótica. Partindo dessa premissa do que ocorre com esses fenômenos psíquicos, Freud procura a verificação do que acontece nos sintomas, ambos substitutos deformados de um material original.

O trabalho da análise, seria justamente essa compreensão das associações e interpretações, onde o terapeuta procura, novamente retraduzir, ao captar a linguagem latente das manifestações expressas, tentando que o sujeito vença as resistências, que impedem que uma expressão surja via direta, em virtude da "enorme dor mental", que poderia ocasionar pela "imensa quantidade de fantasias que contaminam sua expressão". Reações a elas exercem um poder tão forte, uma força tão repressora, que só é permitida sua manifestação como resultado de uma conciliação, ou formação de compromisso, entre duas intenções concorrentes, sendo a segunda caracterizada pelo desejo de satisfação do estímulo psíquico. Com isso, Freud reafirma que, na vida mental, existem intenções inconscientes atuando lado a lado e de formas opostas às intenções conscientes.

Nesse sentido, o sonho é uma forma de descarregar o estímulo somático (desejo de dormir) e o psíquico (de obter satisfação pela realização de um desejo oculto), servindo às duas instâncias psíquicas. Como o indivíduo não realiza o que sonha, vem a constituir-se numa vivência ou experiência alucinatória, comprovação do contexto regressivo observado por Freud.

Procura, Freud, percorrendo todo esse projeto, manter a ideia de um aparelho psíquico e reconhecer que o "simbolismo"  que cerca essas expressões simbólicas, pertence à vida mental inconsciente. Ele reconhece a existência de uma atividade psíquica que parte de estímulos, intrinsecamente "ligados à falta de algo" e, portanto, ao desejo de obter algo para supri-la, que tanto podem ser internos quanto externos.

Assim se direcionaria a descarga da tensão interior e se obteria o prazer daí decorrente. Aborda a existência de um polo sensorial de um lado, e de um polo motor de outro. A tendência normal seria que um estímulo-sensação fosse descarregado de forma imediata. Nesse sentido, não haveria sobrevida para o indivíduo a nível psíquico e social, havendo portanto a necessidade de que algo se interponha a esse processo semelhante a um arco reflexo (estímulo-resposta). A interposição decorre da existência de sistemas, caracterizados por funções coordenadas, com organizações específicas. Sendo assim haveria um sistema receptor do estímulo, transformando a excitação passageira em traços permanentes, mnêmicos, que no seu total viria a constituir a memória.

Os traços mnêmicos são elementos que se referem ao inconsciente. A tendência de seus elementos é tornarem-se conscientes, porém pela natureza dos desejos, que envolve impulsos inaceitáveis que ferem contextos internos ético-morais, surgem barreiras que impedem a descarga, tais como a repressão a nível inconsciente e a censura, já entre o que constitui o sistema pré-consciente e o polo motor, que constitui o sistema consciente.

Freud localiza a base das associações residindo nos sistemas mnemônicos. Alguma coisa, ou evento, adquiriria uma significação psíquica pela associação de ocorrências com o que denomina de "matéria-prima" da memória, correspondente ao 1º traço significativo da experiência de satisfação. O sonho é considerado substituto do impulso instintivo infantil carregado de desejo e modificado, que é transferido para as experiências recentes. Por essa experiência alucinatória ocorre o "refundir do conteúdo ideacional com imagens sensoriais". O fenômeno da regressão atua e os pensamentos são transformados em imagens. É considerado produto da resistência, que se opõe ao avanço do pensamento na consciência por via normal. Nesse caso, um pensamento é reprimido tanto pelo efeito da censura, que o empurra em direção ao inconsciente, quanto pelo próprio inconsciente que o puxa. A regressão ao polo mais primitivo ocasiona que as imagens voltem para trás e o funcionamento noturno seja mais primitivo que o que ocorre no estado de vigília. Esses fatores explicam processos, como a "condensação" e o "deslocamento", que ocorrem na elaboração onírica, e a "falta de sequência lógica", que dão, a alguns sonhos, o caráter de absurdo.

Se na experiência alucinatória do sonho, o estímulo é atraído pelos traços mnêmicos do próprio inconsciente, e do próprio movimento regressivo que se tem à noite, na alucinação dos neuróticos, pensamentos são barrados pela censura tendendo a ocasionar um pensar, mesmo em vigília, segundo um polo regressivo. O pensamento também é um substituto de um desejo alucinatório.

Para Freud, necessidades internas constituiriam forças provocadoras, que ocasionariam modificações ou movimentações internas, perdurando o nível de tensão até que a experiência de satisfação pusesse fim ao estímulo. O desejo seria a realização do reaparecimento da percepção, ou seja, o desencadeador do impulso psíquico, que coloca o aparelho mental em ação. Sendo assim, do estado primitivo advém um desejo considerado alucinatório, pois o que se busca é uma experiência de satisfação já vivida e só conseguida a nível de alucinação por uma identidade perceptiva, pela associação com o traço de memória correspondente. Ante o contato com o mundo externo ocorrerá uma inibição da regressão e o consequente desvio da excitação. Esse funcionamento caracteriza o 2º sistema, que se encontra no controle do movimento voluntário, onde ante a censura e o recalque da alucinação, o indivíduo tenderá a buscar, no mundo externo, algo que satisfaça sua necessidade sem ser de forma alucinatória. O pensamento surge, nesse caso, como forma de ação ligada ao prever, a um postergar a descarga da energia.

Sintetizando o funcionamento do aparelho psíquico: uma sensação ou impressão sensorial marca o sistema perceptivo e, a partir daí, as excitações, que correspondem à energia psíquica, vão passando por uma série de interações em contato com a realidade, deixando vários registros permanentes, como um elo decorrente das relações de similaridade, que correspondem ao próprio inconsciente, visto a censura, recalque ou repressão atuarem no sentido de impedirem sua recordação. A pré-consciência (onde com esforço e atenção lembranças poderiam ocorrer) e a consciência estariam no extremo do polo motor.

Partindo da compreensão do funcionamento e constituição do aparelho psíquico, Freud reconhece a existência de dois processos, que denomina primário (mais ligado à identidade da percepção e descarga imediata) e secundário (mais ligado à identidade do pensamento, onde a descarga postergada, ante o desenvolvimento da capacidade de melhor tolerar a frustração e a ansiedade, possibilita contato voltado à realidade de forma mais harmônica e real."

Agora anexo como mais um dado para articular com as hipóteses de minha pesquisa, a saber:
* Freud foi o primeiro a constatar e registrar a dinâmica psíquica quântica
* Freud foi o primeiro a observar e manipular, sem condições na época de assim nomear, a energia quântica que mobiliza nossa vida mental.

Nesse momento, me volto para Jung em seu grande interesse e trabalho incessante voltado aos estudos sobre atividade mental simbólica no sonhar. Penso que com suas observações sobre o que chamou de "Processo de Individuação" e "Integração Eu-Self", descreveu o encontro com o "Inconsciente Quântico".

Então, as palavras de ordem e disciplina, para um pesquisador, são: "Mãos à obra, com garra e determinação!"


Aurora Gite


sábado, 14 de fevereiro de 2015

Enfim, início do filme em 12 de fevereiro de 2015!

Importante, para mim, republicar ante a distribuição do filme, exibido desde 12 de fevereiro nos cinemas:

QUARTA-FEIRA, 19 DE DEZEMBRO DE 2012

Cinquenta Tons de Liberdade

Encerro a leitura da trilogia "Cinquenta Tons" de E.L.James e me ponho a digerir sobre o que ficou dentro de mim.

Começo por três pontos, a meu ver, básicos:

Primeiro, dou ênfase à qualidade da publicação da editora Intrínseca e à escolha das capas, não só pelas imagens, mas pela textura das mesmas.

Segundo, realço o estilo de escrever de James com sua objetividade, frases curtas, indo direto ao que quer transmitir, sem a necessidade que o leitor tenha muitas elucubrações e interrogações do tipo "o que será que o autor quis dizer com isso?". Acredito que, além do conteúdo instigante, essa forma sucinta e direta, tenha atraído tantos leitores "internautas do mundo atual", que se dispuseram a comprar seus livros e a seguir avidamente suas idéias, bem articuladas dentro do que a autora se propôs.

Terceiro, leitores em busca de pornografia, podem ter se deparado com muitas lições de como atuar sexualmente, ante descrições tão detalhadas e ricas sobre a relação sexual entre duas pessoas "afins uma da outra", que se perceberam com uma química semelhante, com seus corpos respondendo a estimulações específicas de forma idêntica - sintonia que aumentou a atração entre eles - e com suas mentes se permitindo  se embalarem no aumento de prazer, pela excitação advinda da atuação da faculdade de imaginar, fervilhante de inovações consensuais impeditivas a que o tédio da mesmice contamine o tesão que  apimenta a relação; digo melhor, que poderia apimentar o tesão de qualquer relação humana nesse sentido.

Agora chego ao que me causou grande surpresa: Quanta coisa sobre o "amor" , para os que se dispuserem a ver +além das meras aparências!

"Data venia", com pedido de desculpa e permissão aos que tenham opinião contrária, chamou minha atenção, logo no início da leitura da trilogia, a autora usar a expressão "fazer amor" em vez de fazer sexo. No sexual temos o êxtase do prazer orgástico, explosão de energias através da entrega a uma união de corpos que se abre ao estímulo de áreas eróticas e à excitação pela fricção das mesmas. No "fazer amor" temos a entrega ao prazer de duas almas afins, o "sentir", em breves momentos, o clímax (apogeu) de energias em campo que irradia paz, aconchego, amor.

Refletindo sobre a repercussão e o estouro nas vendas da trilogia "Cinquenta Tons", mais me convenço sobre a pobreza da fantasia no erotismo atual. Ao ler não se sobressaiu o encontro sadomasoquista e a relação de prazer ante dores físicas e/ou psíquicas, mas o consenso e a curtição de um casal no encontro de jogos eróticos, que liberam a sintonia da excitação de suas libidos. Inclusive, quem se dispôs a ler e confrontar a obra com tantas críticas cruéis, deve ter notado que entre o casal existia um código: o uso da palavra "vermelho", indicava o 'Pare!', simbolizando, naquele momento, a interrupção de como chamavam de seu "desafio de limites". Meu foco recaiu na preocupação de um com o bem-estar do outro, na enorme vontade de agradar e preservar, no afetuoso e raro cuidar das respectivas integridades psíquicas.

Notem como a autora articulou suas idéias, sempre mobilizando o interesse para o "quero saber mais" e a curiosidade no "e agora, o que vem?" , dentro de situações banais que poderiam ocorrer com qualquer um, e sob uma abordagem bem passo a passo da relação sequencial das cenas, que levam a seguir seu pensamento e o desenrolar das ações dos protagonistas.

Analisem o "subjugar": não implica em causar sofrimento, mas aumentar o prazer da entrega, após o jogo da resistência e controle das reações imediatistas, impulsivas. Verifiquem a "função da submissão" onde o aumento do tesão vem do tentar se esquivar, sem impedir a ação restritiva do outro, mas encorajando-a. É incrível como os casais menosprezam suas capacidades de imaginar e fantasiar, apimentando a vida sexual, e  se permitem cair no marasmo tedioso da mesmice.

A expressiva vendagem dos livros ("pornografias para mamães?", subtítulo que receberam) e o interesse de tantos jovens, podem sugerir a possibilidade de maior união da "sensualidade" à "sexualidade", ou seja, que a mera satisfação dos instintos sexuais se acopla à grandeza das descobertas dos prazeres sensuais, pela entrega gradual aos estímulos sensoriais: aumento da percepção sobre as sensações físicas. O que me parece um bom sinal para impedir a alienação do mundo da ilusão,  com suas criações em que impera a falácia fantasiosa sobre as sensações reais.

Termino a leitura e me recordo que a autora se permitiu "criar", concretizar suas idéias, sob o som da música clássica, fato que também atraiu minha atenção. Minhas pesquisas sobre os dinamismos energéticos de nossa energia psíquica, os associando a processos bio-quânticos (bio-eletromagnéticos) estavam sendo direcionadas para os efeitos internos da acústica dos sons: de um som lírico e suave (mais atrativo à nossa alma) e sua diferenciação com um rock da pesada ( mais estimulante a movimentos corporais). Começo a ler de Otto Maria Carpeaux, "O Livro de Ouro da História da Música", onde o autor "traça a história da música erudita através de sete séculos.

Ao fechar "Cinquenta Tons de Liberdade" e me por a pensar sobre o trajeto dos personagens, vejo delineado o caminho por onde a autora impulsiona seus personagens a percorrer, que pode ser experienciado por duas pessoas viventes quaisquer. No possibilitar essa identificação também reside parte do sucesso da obra.

Mentalmente faço um retrospecto das articulações das idéias de James, que me levaram a refletir sobre:

* "a arte de amar", ou o respeito pelo cuidar das diferenças individuais e o encontro do prazer no ser diferente do outro e crescer nessa relação, preservando as individualidades;

* "a arte de fantasiar em consenso" como fator enriquecedor da relação;

* "a arte de criar expectativas", ou saber aguçar o prazer da espera de algo imprevisível e fora de controle;

* "a arte da entrega", ou o de se capacitar para o relaxar necessário a que a mesma ocorra com prazer;

* "a arte de confiar", de confiar no próprio taco para manter a relação e na capacidade do outro para lidar com adversidades circunstanciais do cotidiano, ambos preservando a relação para que não se contamine.

Essas reflexões me levam a recordar como algumas pessoas - como os personagens de James - ao se encontrarem circunstancialmente têm algum tipo de conexão energética ativada. É um reconhecimento inexplicável : "Não me pergunte o porquê, mas sinto nele a dignidade do diamante; se algum dia o souber 'solitário' e 'só'. vou estar por perto"; contrapondo a um " Ou ela é muito boa, ou muito..." já permitindo antever suas ansiedades antecipatórias, seus "cinquenta tons" a serem acolhidos.

Aqui já tirei da prateleira os "Diálogos de Platão" : "Banquete" ( com todo seu louvor ao amor) e "Fedro" (que prolonga o Banquete e vai +além) . Li o "Banquete" em 1976. Só de folhear percebo sua importância pessoal, por me permitir observar meu caminhar em relação ao fenômeno amoroso. Mas, de repente, em Fedro, do "mito do carro alado, no qual o cocheiro é a razão e os corcéis, a vontade e a concupiscência", me surge a percepção de que ansiedades antecipatórias em suas roupagens de medos do porvir, não só serão afastadas pela oposição ao que é no presente e pelo reforço ao confiar na própria capacidade de atuar sobre circunstâncias "conforme forem se concretizando no real", mas quando se alçar a categoria do cocheiro: da "razão" para a da "sabedoria".

Os mitos dispersos pela obra de Platão me fascinam. Talvez ouse estabelecer um código secreto, para quando se possa, ou se queira, acolher a privacidade de uma relação a dois, e falar "me too" (eu também).

Aurora Gite

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Projetos de Vida e Projetos de Morte

Projetos ... ora projetos! Muitos nem ousam se questionar sobre suas atitudes perante a vida, esquecendo suas influências diretas sobre seu processo de viver.

Projetos de vida implicam em mudanças, transformações que envolvem crescimento pessoal e desenvolvimento emocional. Envolvem o risco por ousar trilhar o novo, agir como empreendedor que intui sobre a oportunidade de se alçar ao desconhecido, confiando em sua capacidade de lidar com os obstáculos para alcançar um viver mais pleno.

Viver plenamente equivale a integrar o sentir, pensar, realizar projetos voltados a uma vida mais serena e feliz consigo mesmo. Está atrelado ao "se cuidar" (ser responsável por suas escolhas e consequências destas, e aberto a replanejar estratégias voltadas para um bem viver) ; ao "viver no mundo" (conter angústias e ansiedades, de se sentir rejeitado ou acolhido, ao se expor aos outros e se arriscar à convivência com as circunstâncias que independem da vontade e do controle da razão) e ao "fazer parte do social" ( buscar a inclusão no social, através de abrir espaço na sociedade para tornar-se um "eu" atuante e reconhecido por seus parceiros na sociedade em que vive).

Projetos de vida implicam em repensar valores e estabelecer prioridades; reconhecer o que representa força para si, o que o motiva a agir, a se tornar o empresário e empreendedor da própria vida, galgando postos internos através do seu mérito, engajamento na luta e no esforço para conseguir atingir suas metas e autorrealizar anseios. Nesse caso, fantasias são usadas para prever, planejar, buscar ideais passíveis de serem concretizados; a abstração é confrontada com o teste de realidade e com o leque de possibilidades concretas.

Projetos de vida não deixam de lado a liberdade, a criatividade e a responsabilidade ética da pessoa se assumir e se bancar, de entrar em contato com sua verdade, e se orgulhar de seu caráter defendido com dignidade e orgulho por sua maneira de ser, que não se contaminou ante um social deturpado por normas e regras antiéticas, que excluem os que se recusam a agir dentro desses padrões corrompidos.

A pessoa pensa e elabora estratégia, ultrapassa os problemas, se fortalece com as experiências certas ou erradas. Eleva sua autoestima e conquista seu próprio respeito. Passa a ter consideração sobre quem realmente é, e se sente mal tendo que fazer concessões que afetem seu modo de ser valorizado. Sua participação em seu viver, longe fica da indolência e passividade, pois ao se comunicar com o mundo, se compromete com prudência, se engaja com cautela nas mudanças que avalia como necessárias. Sua cooperação com os demais envolve o dialogar, o compartilhar ideias inovadoras e experiências vividas, o conviver e o respeitar possíveis diferenças entre os envolvidos, o negociar com bom senso e diplomacia.

Projetos de morte implicam em passividade, conformismos, atitudes paralisantes, autocríticas e autorrecriminações por culpas não questionadas, muitas indevidas. Envolve a "inação" por preguiça e a "mesmice" pelo menor esforço. A dependência a esses projetos leva a escravidão do ser, envolto por sonhos e idealizações; entregue a fantasias atreladas à uma fuga do real, à ilusão, ao pensamento mágico, às soluções fáceis. São hierarquizados os paraísos artificiais das drogas, distorções psíquicas, da negação de conflitos nos casos extremos (fanatismo religioso, excesso de trabalho, vícios do jogo, da comida...)

Projetos de morte revelam o aprisionamento interno; o enclausuramento no isolamento pessoal; o se jogar na masmorra da solidão e no vazio depressivo; a irresponsabilidade no autoabandono e falta de controle emocional; a desvalorização pessoal pela vitimização ante a impotência e a insegurança; o  esconder seu autodesapontamento atrás da irritabilidade, que barra o contato com o arrependimento, a autoculpa e autopunição, que encerram seu "suicídio interno".

Nos projetos de morte, a pessoa se nega e se distancia da fantasia sobre a realidade, ante o predomínio de suas idealizações tidas como verdadeiras e assim incorporadas, seus sonhos e ilusões atuam como vendas ao desprazer. Não enfrenta o problema, mas se apega à sensação ilusória de "poder" e "segurança". Não tolera reconhecer a "falta" e entrar em contato com uma frustração e conter a angústia decorrente.

São pessoas incapazes de postergar a satisfação e adiar o prazer. Não conseguem buscar mudanças e preservar a autoestima, pois é sofrimento atroz se afastar do papel de fraco, vítima das circunstâncias, e questionar a alucinação onipotente de ser perfeito, ser poderoso: toda sua negatividade é expressa pela obsessividade e proximidade com a vaidade, o orgulho, a arrogância, a prepotência.

Projetos de morte sempre são delimitados por indecisões (talvez... se... será?) e pelas dúvidas inquietantes sobre os próprios sentimentos, quando envolvem um amor e incertezas não passíveis de controle pessoal. Apego a vínculos destrutivos que se tornam bodes expiatórios de seus estados de insatisfação consigo mesmo, reforçam sua situação parasitária, espelho do narcisismo em que se aprisionaram. São pessoas difíceis de se entregar afetivamente, e se angustiam ante o desamparo psíquico, a vulnerabilidade e a raiva pessoal que contribuem para sua incapacidade de amar e de aceitar conviver com humildade e resignação, sem medo e sem culpa, ante possíveis vivências de perdas, quais sejam as relacionadas com provável objeto de seu amor. Seu pavor se estende a não ser capaz de ser objeto pleno de alguém que possa lhe ter amor; não é mais a lealdade ao outro, mas a fidelidade do amor que é questionada.

Projetos de morte implicam alcance de metas racionais e reacionais e não em mudanças perante a vida, que signifiquem integração do próprio sentir-pensar-agir. Qualquer coerência nesse sentido não é mantida por longo tempo pelos que se dedicam a eles. Pela falta de constância e indecisão, são logo desqualificados e questionados pela pessoa, que não suporta confiar nas próprias capacidades, se admirar por seu potencial inato, ou se curtir aceitando as próprias falhas e imperfeições. Essas pessoas não conseguem se fortalecer internamente para acertar, nem para retirar aprendizagens dos próprios erros: críticas, cobranças e exigências as incomodam assim como elogios, pois não se sentem merecedoras desse reconhecimento social. A insegurança e a dúvida aumentam a agressividade e a raiva contra a opinião dos outros, pois se algemam entre o bem e o mal, na rigidez da perfeição e da imperfeição, na pressão dos opostos, pela incapacidade de integrar seus mundos internos sempre conflitantes.

Valem algumas reflexões sobre Projetos de Vida e Projetos de Morte? Então sinalizo alguns ítens:
Percebem a dificuldade para preservar a integridade pessoal?
Percebem o valor de se manter firme e acolher Projetos de Vida?
Percebem a importância de combater dentro de si Projetos de Morte?

Aurora Gite

P.S.: Justamente hoje, dia 12 de fevereiro, tem início a exibição do filme "Cinquenta Tons"...
Estou curiosa para assistir e ver o recorte do diretor sobre a temática. Vai direcionar os personagens para o lado de projetos de vida ou de projetos de morte?