quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Projetos de Vida e Projetos de Morte

Projetos ... ora projetos! Muitos nem ousam se questionar sobre suas atitudes perante a vida, esquecendo suas influências diretas sobre seu processo de viver.

Projetos de vida implicam em mudanças, transformações que envolvem crescimento pessoal e desenvolvimento emocional. Envolvem o risco por ousar trilhar o novo, agir como empreendedor que intui sobre a oportunidade de se alçar ao desconhecido, confiando em sua capacidade de lidar com os obstáculos para alcançar um viver mais pleno.

Viver plenamente equivale a integrar o sentir, pensar, realizar projetos voltados a uma vida mais serena e feliz consigo mesmo. Está atrelado ao "se cuidar" (ser responsável por suas escolhas e consequências destas, e aberto a replanejar estratégias voltadas para um bem viver) ; ao "viver no mundo" (conter angústias e ansiedades, de se sentir rejeitado ou acolhido, ao se expor aos outros e se arriscar à convivência com as circunstâncias que independem da vontade e do controle da razão) e ao "fazer parte do social" ( buscar a inclusão no social, através de abrir espaço na sociedade para tornar-se um "eu" atuante e reconhecido por seus parceiros na sociedade em que vive).

Projetos de vida implicam em repensar valores e estabelecer prioridades; reconhecer o que representa força para si, o que o motiva a agir, a se tornar o empresário e empreendedor da própria vida, galgando postos internos através do seu mérito, engajamento na luta e no esforço para conseguir atingir suas metas e autorrealizar anseios. Nesse caso, fantasias são usadas para prever, planejar, buscar ideais passíveis de serem concretizados; a abstração é confrontada com o teste de realidade e com o leque de possibilidades concretas.

Projetos de vida não deixam de lado a liberdade, a criatividade e a responsabilidade ética da pessoa se assumir e se bancar, de entrar em contato com sua verdade, e se orgulhar de seu caráter defendido com dignidade e orgulho por sua maneira de ser, que não se contaminou ante um social deturpado por normas e regras antiéticas, que excluem os que se recusam a agir dentro desses padrões corrompidos.

A pessoa pensa e elabora estratégia, ultrapassa os problemas, se fortalece com as experiências certas ou erradas. Eleva sua autoestima e conquista seu próprio respeito. Passa a ter consideração sobre quem realmente é, e se sente mal tendo que fazer concessões que afetem seu modo de ser valorizado. Sua participação em seu viver, longe fica da indolência e passividade, pois ao se comunicar com o mundo, se compromete com prudência, se engaja com cautela nas mudanças que avalia como necessárias. Sua cooperação com os demais envolve o dialogar, o compartilhar ideias inovadoras e experiências vividas, o conviver e o respeitar possíveis diferenças entre os envolvidos, o negociar com bom senso e diplomacia.

Projetos de morte implicam em passividade, conformismos, atitudes paralisantes, autocríticas e autorrecriminações por culpas não questionadas, muitas indevidas. Envolve a "inação" por preguiça e a "mesmice" pelo menor esforço. A dependência a esses projetos leva a escravidão do ser, envolto por sonhos e idealizações; entregue a fantasias atreladas à uma fuga do real, à ilusão, ao pensamento mágico, às soluções fáceis. São hierarquizados os paraísos artificiais das drogas, distorções psíquicas, da negação de conflitos nos casos extremos (fanatismo religioso, excesso de trabalho, vícios do jogo, da comida...)

Projetos de morte revelam o aprisionamento interno; o enclausuramento no isolamento pessoal; o se jogar na masmorra da solidão e no vazio depressivo; a irresponsabilidade no autoabandono e falta de controle emocional; a desvalorização pessoal pela vitimização ante a impotência e a insegurança; o  esconder seu autodesapontamento atrás da irritabilidade, que barra o contato com o arrependimento, a autoculpa e autopunição, que encerram seu "suicídio interno".

Nos projetos de morte, a pessoa se nega e se distancia da fantasia sobre a realidade, ante o predomínio de suas idealizações tidas como verdadeiras e assim incorporadas, seus sonhos e ilusões atuam como vendas ao desprazer. Não enfrenta o problema, mas se apega à sensação ilusória de "poder" e "segurança". Não tolera reconhecer a "falta" e entrar em contato com uma frustração e conter a angústia decorrente.

São pessoas incapazes de postergar a satisfação e adiar o prazer. Não conseguem buscar mudanças e preservar a autoestima, pois é sofrimento atroz se afastar do papel de fraco, vítima das circunstâncias, e questionar a alucinação onipotente de ser perfeito, ser poderoso: toda sua negatividade é expressa pela obsessividade e proximidade com a vaidade, o orgulho, a arrogância, a prepotência.

Projetos de morte sempre são delimitados por indecisões (talvez... se... será?) e pelas dúvidas inquietantes sobre os próprios sentimentos, quando envolvem um amor e incertezas não passíveis de controle pessoal. Apego a vínculos destrutivos que se tornam bodes expiatórios de seus estados de insatisfação consigo mesmo, reforçam sua situação parasitária, espelho do narcisismo em que se aprisionaram. São pessoas difíceis de se entregar afetivamente, e se angustiam ante o desamparo psíquico, a vulnerabilidade e a raiva pessoal que contribuem para sua incapacidade de amar e de aceitar conviver com humildade e resignação, sem medo e sem culpa, ante possíveis vivências de perdas, quais sejam as relacionadas com provável objeto de seu amor. Seu pavor se estende a não ser capaz de ser objeto pleno de alguém que possa lhe ter amor; não é mais a lealdade ao outro, mas a fidelidade do amor que é questionada.

Projetos de morte implicam alcance de metas racionais e reacionais e não em mudanças perante a vida, que signifiquem integração do próprio sentir-pensar-agir. Qualquer coerência nesse sentido não é mantida por longo tempo pelos que se dedicam a eles. Pela falta de constância e indecisão, são logo desqualificados e questionados pela pessoa, que não suporta confiar nas próprias capacidades, se admirar por seu potencial inato, ou se curtir aceitando as próprias falhas e imperfeições. Essas pessoas não conseguem se fortalecer internamente para acertar, nem para retirar aprendizagens dos próprios erros: críticas, cobranças e exigências as incomodam assim como elogios, pois não se sentem merecedoras desse reconhecimento social. A insegurança e a dúvida aumentam a agressividade e a raiva contra a opinião dos outros, pois se algemam entre o bem e o mal, na rigidez da perfeição e da imperfeição, na pressão dos opostos, pela incapacidade de integrar seus mundos internos sempre conflitantes.

Valem algumas reflexões sobre Projetos de Vida e Projetos de Morte? Então sinalizo alguns ítens:
Percebem a dificuldade para preservar a integridade pessoal?
Percebem o valor de se manter firme e acolher Projetos de Vida?
Percebem a importância de combater dentro de si Projetos de Morte?

Aurora Gite

P.S.: Justamente hoje, dia 12 de fevereiro, tem início a exibição do filme "Cinquenta Tons"...
Estou curiosa para assistir e ver o recorte do diretor sobre a temática. Vai direcionar os personagens para o lado de projetos de vida ou de projetos de morte?

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