sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Painel didático I

É interessante investigarmos os traços predominantes que influenciam nossa maneira de pensar e agir, segundo as perspectivas de estudiosos da dinâmica de nosso funcionamento mental.

A busca de uma compreensão psicodinâmica, na clínica, envolve hoje em dia, a meu ver, a amplitude de algumas premissas básicas, como a observação da:

1- existência de forças pulsionais inconscientes, angústias e mecanismos de defesa

2- conflitos internos decorrentes da ação de forças psíquicas antagônicas

3- de um estado dinâmico estável que remete à homeostase e equilíbrio psíquico

4- investigação dos fenômenos da transferência e contra-transferência

5- inter-relação dos processos contraditórios entre a experiência intrapsíquica do indivíduo e seu ambiente externo culminando na oscilação do estado dinâmico

6- considerar o representante psíquico (representante do somático no psíquico), o representante ideativo (em seu papel de representar a pulsão), o representante pulsional (os processos em que a pulsão - impulso (quântico?) que brota de dentro de nós, de forma não reativa -  encontra sua expressão psíquica)

7- examinar como se dá a patologia para selecionar o modo de ação das psicoterapias, avaliando, segundo Ryad Simon, qual a categoria que pode ser mais eficiente, para restaurar a homeostase e "possibilitar novo arranjo intrapsíquico que se expressa por maturação da personalidade, expansão da produtividade e criatividade, maior capacidade de desfrutar a vida e estabelecer relações mais significativas". 

8- Ryad cita a importância da boa escolha seletiva entre as categorias, buscando a mais indicada ao perfil do paciente e seu quadro clínico: suportivas (apoio e orientações), reeducativas ou de reajustamentos (aconselhamento), reconstrutivas (reestruturações ou alterações de estruturas psíquicas como id,ego,superego e respectivas fantasias e ideações e representações afetivas).

9- rápidas alterações no mundo atual demandam adequações psíquicas voltadas ao aqui e agora do presente e, acima de tudo, que as pessoas se impliquem em suas mudanças em prol de seu bem viver; sendo assim a brevidade das ações psicoterapêuticas se faz mister.

10- da importância de perspectivas mais ecléticas, não mais visões reducionistas, na escolha das vias de intervenções e seleção das técnicas empregadas.

Clareando conceitos é a chave para que possamos partir de uma leitura sob o mesmo referencial, saindo da Torre de Babel do Psicologismo, que há tempos, a meu ver, tomou conta da Psicologia.

Penso no "ser humano" e logo me vem ao pensamento "energia". Uma leitura focando os sistemas energéticos que mobilizam o ser humano, me possibilita um melhor entendimento das diversas perspectivas reducionistas, me possibilitando construir painéis das teorias desenvolvidas por pensadores que se dedicaram ao estudo aprofundado do mundo psíquico, onde ocorrem operações entre as partes, interações, conflitos..., além de buscar entender as motivações das respostas ou reações comportamentais, ou seja, de como o homem se posiciona em seu estar e existir no mundo em que vive. 

Acredito que o agregar e compartilhar conhecimentos é o foco nesse milênio. Sua perspectiva holística e holográfica, é voltada à rede de conexões. Isso requer de qualquer estudioso, ou pesquisador, a agilidade para mudar rapidamente de perspectiva, agregando sua perspicácia para poder "ver o homem em situação dentro do novo prisma, e humildade, para englobar - aceitando, com respeito, a inclusão de visões diferentes - vários focos, na construção do caleidoscópio sobre o ser humano em sua unicidade.

Sob esse prisma não cabem mais exclusões por dissecações teóricas reducionistas que se fixam na compreensão de partes do homem, e não buscam a integração e o design do todo que o constitui como ser humano procurando a inserção de sua singularidade subjetiva no social circunstancial, que o cerca. Por exemplo, Freud se coloca sob uma perspectiva que lhe possibilita observar "fases" de desenvolvimento e organizações de estruturas afetivas. Essas fases se constituem em etapas, ou estágios, de desenvolvimento da energia psíquica (libido). Ele percebe que determinadas regiões do corpo serão mais erotizadas libidinalmente falando, o que acarreta respectivas repercussões mentais. Para Klein, em suas observações clínicas, o que chamou sua atenção foi a existência de estilos diferentes de funcionamento mental, que nomeou "posição". Distingue nessas configurações mentais tipos diferentes de angústia, de vínculos ou relações de objeto e de mecanismos de defesa, que permitem delinear a modalidade de organização predominante no momento de vida de seus pacientes. Se me disponho a acompanhar Freud em suas especulações, sob o prisma em que se colocou para observar os fenômenos, consigo comprovar a veracidade de suas descobertas. O mesmo ocorre se me desloco e me ponho a seguir as descrições kleinianas, acompanhando o foco que despertou seu interesse. Posso validar suas conclusões quando facultam leituras mais compreensivas sobre o funcionamento mental de pacientes e possibilitam selecionar intervenções psicoterapêuticas mais eficientes.

Retornando aos conceitos: conceito confuso, que embaralha qualquer tentativa de operação lógica racional envolve o termo psique. "Psique" - termo de origem grega, indica o "sopro" que torna vivo um corpo, que o anima. Platão traduziu-o por "alma". No século XIX, com o advento da Psicologia Científica, passou-se a usar mais o termo "psique" do que "alma", por suas implicações transcendentes.

"A psique, essencialmente simbólica, reúne todos os aspectos de personalidade, os sentimentos, pensamentos e comportamentos, tanto conscientes como inconscientes: sua função consiste em harmonizar e regular internamente o indivíduo, orientando-o para o convívio social, além do que ela têm uma função ideológica ou seja, ela sempre possui um objetivo e direciona o indivíduo para a realização de um propósito relacionado à essência de cada um."(http://www.psicologiasandplay.com.br/psicologia-analítica)

Outro conceito é "Mente" e seu dinamismo.
Parece-me claro sua diferenciação do "cérebro" e suas funções corporais anatômicas.
Na mente se observam energias psíquicas interagindo e forças psíquicas atuando, vindo a gerar um movimento mentalA mente é dinâmica, nela ocorrendo operações entre as partes estruturais, interações de forças, conflitos ante impasses em vários dos sistemas mentais, que a constituem.

Existem grupos de funções, que se distinguem e que foram bem delineadas por Sigmund Freud em sua Teoria Estrutural sobre o aparelho psíquico. Vale o lembrete de que ao passar a falar de localização basicamente psíquica, não anatômica, Freud constrói um "modelo teórico ou ideal" (teoremas matemáticos são construções abstratas ideais),. O modelo que nomeou de aparelho psíquico, não existe anatomicamente, mas no "campo psicológico onde circulam e operam energias psíquicas". Aparelho psíquico é o modelo de como funciona o psiquismo, observado por Freud em seu conjunto de funções, entidades funcionais independentes e diferenciadas.

Freud pode distinguir representações psíquicas dos impulsos, que nomeou "id"; funções ligadas às relações psíquicas do indivíduo com o ambiente externo e interno, conjunto que denominou "ego", que surge como executor dos impulsos (id) numa relação de cooperação; e outras funções voltadas em parte a aspirações e ideais e a preceitos morais, decorrentes da identificação internalizada com a função paterna de colocação de limites, proibições e interdições, que chamou de "superego", o perigo é que tanto pode ser protetor, quanto castrador implacável ao se voltar a cobranças e exigências por ideais inatingíveis de perfeição.

Aqui já foram colocados alguns dados para iniciar a construção de um painel horizontal. Particularmente prefiro os painéis horizontais aos verticais, pois me facultam uma visão panorâmica. Das angústias - motor propulsor do aparelho psíquico - localizando os vários tipos de angústia (livre, fóbica, obsessiva, histérica) e ansiedades desde simples sinais de alarme... minha intenção é parear, inicialmente, as ideias das fases freudianas de desenvolvimento e seus quadros patológicos específicos; dos três tempos da primeira clínica lacaniana e sua radical mudança na segunda clínica, Clínica do Real; das posições ou estilos de funcionamento mental kleinianos; e, por aí, se pode estender um painel, colocando lado a lado pensadores em sua construção das respectivas teorias baseadas em evidências retiradas da realidade observada, não de inferências subjetivas sobre um fenômeno. Se descrevem verdades, essas podem ser comprovadas, independendo de escolas psicológicas, bastando seguir os passos indicados por cada teórico.

Procurem, por si, se antecipar e levantar esses painéis, verificando a amplitude dos diagnósticos psicodinâmicos que podem abarcar.

Aurora Gite

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