sábado, 27 de setembro de 2014

Republico "Enfim não sós!

Minha pesquisa envolve o "Enfim não sós!" e a satisfação, que me envolve, constatando que muitos estudos e teses tem-se afunilado, desembocando em hipóteses semelhantes às minhas.

Republico reiterando minha satisfação ao ler a dissertação de mestrado "Psicanálise, Saúde e Sociedade" de Denise de Assis, sob o título "Transmissão Psíquica: uma conexão entre a Psicanálise e a Física."

Enfim, "não" sós!

Muitos aspiram e suspiram pela possibilidade de concretizarem seus desejos de "Enfim, sós!".

Eu buscava, incessantemente, poder trocar ideias e compartilhar hipóteses. Agora, acredito que tenha conseguido mais do que isso, que as mesmas não sejam refutadas, mas acolhidas com fortes argumentações, difíceis de serem contestadas a partir das evidências apresentadas, e do novo pensar incluindo a mecânica quântica, que se expande cada vez mais. Essa é a razão de meu contentamento expresso por um "Enfim, não sós!"

Há alguns anos defendo a hipótese de que a energia psíquica faz parte do mundo quântico, sendo Freud o primeiro a registrar seus efeitos. Agora encontro um trabalho que me indica que "não estou tão sozinha" e que minhas conjecturas estão saindo do papel de especulações teóricas. Compartilho a dissertação de mestrado em Psicanálise, Saúde e Sociedade, de Denise de Assis, sob o título "Transmissão psíquica: uma conexão entre a psicanálise e a física".

É fascinante a retrospectiva feita por Assis do momento histórico freudiano, de quando-onde-e como surgiram as ideias de Freud para construir seu "Projeto para uma Psicologia Científica". Computo o papel de Denise de Assis como fundamental na história da Psicanálise, resgatando o início das dúvidas, associações e raciocínio original de Sigmund Freud. Por outro lado, considero assustador como, com o intuito de superproteger a Psicanálise, a maioria de seus seguidores, semelhantes aos fanáticos religiosos, reduziram seu núcleo de atuação à clínica e afastaram a criação do Criador, ao colocarem a figura pública de Freud no pedestal fictício das idealizações pessoais, ou das políticas grupais, visando preservação do poder manipulado patenteado.

Na sua dissertação, Assis nos leva a viajar acompanhando seu painel delineador da evolução histórica do movimento psicanalítico (Freud e as ideias contidas em seu Projeto de uma Psicologia Científica sempre presente em sua obra, neuropsicoses de defesa, pulsões ou forças instintivas), correlacionando com ideias predominantes no momento do surgimento da Teoria Quântica  (Newton, Einstein, Mark Planck, o observador influenciando o observado).

Assis nos convida ainda a conhecer os apontamentos de Freud sobre a Telepatia, citando as influências de Jung e Ferenczi, chegando às ideias freudianas sobre o Ocultismo e suas relações com os sonhos, além de relatar a experiência de Freud por seu contato direto com o Espiritismo. Continuando nas suas interconexões, dedica um espaço para a Física e Telepatia, a Transmissão Psíquica entre Gerações e o Corpo. Dá um fechamento a esse tópico com distinção entre Religião e Espiritualidade, com Transmissão, Psicanálise e Espiritualidade.

Em suas considerações finais localiza a "Psicanálise à Frente de Seu Tempo". Vale conferir como Assis articula todos esses conhecimentos e pareia, cientificamente, os diversos argumentos dos autores citados de ambos os lados: Psicanálise e Física.

Convém não esquecer que o mundo vibracional, que se nos desponta, com suas interconexões relacionais, e sua rede de energia que mantém atuantes os vínculos afetivos (que liga os que são afetados pelo entrelaçamento de partículas - sincronias e afinidades). A concepção atual é de "Universo Holográfico", energeticamente estamos todos unidos.

Aqui estabeleço um parêntese para chamar a atenção para o show em homenagem a mais um ano do falecimento do cantor e compositor Cazuza, onde aparece no centro do palco holograma do cantor em várias movimentações. Como não sentir correr no psíquico o sangue da emoção?

Não há mais espaço, tempo, objeto independentes de nosso psíquico. Categorias conceituais, ou palavras, são fenômenos dentro de nossa cabeça, não estão "lá fora", dependem de nossas escolhas e atribuições de significados ou sentido. O próprio "nada" não é um vazio, mas é um "nada vibrante" permeado de matéria sutil, energia que pode ser abarcada pela sensação interna de luz e calor, espaço-tempo e consciência inferidos pelas sensações intuitivas de aconchego e paz. Não se pode mais negar a realidade de vários estados da mente, e da limitação dos cinco sentidos para abarcar a recepção de tais estímulos e retradução dos impulsos a eles pertinentes. O cérebro recebe sinais, mas não podemos nos recusar a observar a existência de um princípio inteligente que os organiza em hologramas, que chamamos de realidade.

A Teoria Quântica nos remete a um "Universo Paralelo da Realidade" e à necessidade de um novo pensar sobre o que chamamos de "pessoa", de "ego", de "ser", de "eu". Uma partícula só existe em relação a outras partículas subatômicas. Assim também nosso lugar no mundo depende de nossa vida de relação com o que nos cerca.

Coloco ainda a citação de Wolf, colocada por Assis: "Que é a vontade? De que modo, nós humanos, possuímos a capacidade de escolher o que queremos? (Wolf, in Assis, 2011, p.38) .

"Recentes pesquisas (...) relacionam a mecânica quântica com a força de vontade... uma escolha atuando num nível atômico muito pequeno." (idem, p.38)


Passo o site, mas, se não conseguirem entrar direto, chegam através do Google, ou através do Twitter de ThompsonLM :

www.uva.br/mestrado/dissertacoes_psicanalise/transmissao-psiquica-uma-conexão-entre-a-psicanalise-e-a-fisica.pdf


Com o advento da Física Quântica e propagação das revoluções nos paradigmas em várias áreas do conhecimento, com grande influência nas novas intervenções que dizem respeito a saúde do ser humano como um todo (espiritual-bio-psico-social), mais se fortalecia dentro de mim a hipótese de uma ideia ser a partícula ou o elétron do mundo psíquico, e sugestões ou alternativas constituírem as ondas quânticas de probabilidades a espera de serem escolhidas através do olhar de um observador consciente, adquirindo assim a característica de partícula quântica, possibilitando novas imagens psíquicas carregadas de energia. Mais se destacava, para mim,  a necessidade do abandono de teorias reducionistas e a substituição por abordagens ecléticas, particularmente por parte dos profissionais da saúde.

A leitura sobre o humano, após comprovações quânticas envolve a compreensão sobre a intensidade da propagação da energia, sobre o fluxo dos processos ondulatórios, sobre a qualidade das vibrações e das emanações de intenções. A escuta se expande às dinâmicas psíquicas e corporais. Ao abordarem um fenômeno de forma dinâmica, já estão fazendo a leitura do movimento da energia psíquica, buscando uma "compreensão psico-energética".


Agora é ir mais adiante, alargando minha hipótese: "Os processos psíquicos fazem parte da dinâmica quântica, assim como os estados orgásticos e místicos".

Normas e regras estão ligadas a usos e costumes e a uma "moral imposta". Princípios e leis estão ligados a honra e dignidade e a "valores morais autorreferenciados". Acredito que o espaço interno de liberdade e responsabilidade propicie o alcance de novo patamar psíquico, onde o ser humano adquire a "potência de se autorreferendar", dando expressão à sua essência ao abrir espaço e bancar a colocação dessa essência real em sua existência psíquica virtual. 

Continuo respeitando a Teoria das Pulsões e observando a importância dada por Freud à excitação de zonas erógenas e suas consequências nas diversas fases de desenvolvimento psíquico. Agrego, no entanto, que o "orgasmo duplo" advém de uma plena entrega à "auto-excitação, duplicação da energia quântica interior, mobilizada naquele momento específico". Segundo uma paciente o descreveu: " Era como se estivesse numa montanha russa na hora da primeira descida, a cabeça se esvazia de tudo que nos afeta naquele momento. É um relaxamento do pensar. A presença da sensação física predomina. Estava começando a sentir o descontrole prazeroso com a rápida e vertiginosa descida. Foi algo imprevisível, como se engatasse uma outra marcha, 'outra força inesperada e incontrolável' aumentando o impulso e, em muito, a sensação prazerosa. Algo inesquecível! É difícil encontrar palavras para descrever o que ocorreu dentro de mim!"

Observo a mesma via quântica para a energia dos estados alterados de consciência sejam eles através dos prazeres sexuais orgásticos; da plenitude e êxtase das experiências místicas; da surpresa e alegria ante "insights" intuitivos; da sensação de autorrealização e bem-estar presentes nas verdadeiras criações artísticas; da intensa satisfação interna de completude advinda do aconchego, paz e serenidade que cercam o fenômeno amoroso.

Tudo que diz respeito ao ser humano, sai da categoria de hipóteses e inferências por observações soltas, e torna-se argumento significativo e verdadeiro, se puder ser observado e experienciado por outros seres humanos. Agora é aguardar para bradar: "Enfim, não sós!".

Aurora Gite

Gite

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

A dor de enterrar "fantasmas vivos" no mundo psíquico

Quase todos nós já passamos por essa dor!

Depois de cultuarmos velórios saudosistas, lembrarmos e relembrarmos no palco da memória os momentos vividos juntos, abrimos os caixões mentais e nos esmeramos para ter forças para colocarmos as vivas lembranças dos finados fantasmas. Depois de devidamente lacrados, os enterrarmos no terreno do passado das recordações indolores, buscando que permaneçam em nosso mundo psíquico unicamente sob a forma de distantes vivências, que nos ajudaram a ser quem somos, mas que não interfiram mais na qualidade de nosso viver cotidiano.

Só recordações, a partir de agora; distantes recordações que dependam de nosso querer para serem resgatadas, e de nossa vontade para serem enfraquecidas, perdendo sua autonomia como força mental com poder comovedor. Não podendo mais afetar nossa sensibilidade e desviar nossas operações racionais, tornando-nos vulneráveis e fragilizados ante suas intervenções sem nossa consciente permissão e persistente controle.

De onde retirar força interna, para que não atuem em nosso psíquico, como "fantasma vivo", nos assombrando, assustando e amedrontando? Como impedir seu sistema retroalimentador de energia? O que mantém o dinamismo autônomo desses fantasmas que povoam nossas mentes?

As respostas parecem tão simples, mas não são! A cada desencontro na vida, ficamos com o sulco do desafeto e a lembrança de como fomos atingidos amorosamente para que essas marcas profundas tenham ocorrido, muitas a "ferro e fogo", pois nos acompanham a vida toda.

É difícil enfrentar a lacuna dentro de nós, confrontar o vazio interno pela parte de nossa vida que tivemos que enterrar junto com esses fantasmas vivos sob a forma da perda de ilusões, do fracasso das expectativas, da demolição de sonhos por tantos acalentados.

Penso que se pode mudar a perspectiva e considerar sob novo prisma todo término de relacionamento, tendo a percepção de decadência de "vínculos gangrenados" e sua necessidade de serem extirpados para que nossa mente sobreviva, um tumor a ser cirurgicamente retirado também de dentro de nosso sentir. Vale enfatizar a importância de se obrigar a constatar a evidência de que a graduação do sofrimento vai depender da capacidade de cada um se desapegar daquilo que foi e que morreu junto com cada "fantasma psíquico" que abrimos mão. Cada um deles tinha um papel dentro do mundo interno subjetivo de qualquer um de nós. Não há como não conviver com uma falta, um vazio, uma solidão interna pelo não fortalecimento da razão, único tutor interno que nos protege e sustém nossa serenidade nas adversidades, advindas da manutenção de nossa independência e individualidade.

Acredito que "o nascer e o morrer" ocorrem simultaneamente como "o dia e a noite". A cada transformação vivenciada, todo ser humano diz "adeus a uma parte de si", para se integrar ao novo ser que surge, sem estar atento a isso. Não penso que deva se enquadrar na categoria de mórbidos, os que se preocupam com essa sequência de mortes internas, ou com os mistérios que mesclam todos esses processos vivos, físicos ou psíquicos, nos seres humanos. Morrer e bem viver estão tão entrelaçados, que me parece que, quem tem mais "medo da morte", é quem optou por um "mal viver". A meu ver existe uma relação direta entre esses fenômenos psíquicos.

Cada fase de desenvolvimento envolve o abandono de características físicas e psíquicas que caracterizaram as fases anteriores; que, sem dúvida, afloram e nos assombram ainda em meio a momentos de grande angústia. No controle de todos esses fantasmas, para que não contaminem nossa vida mental atual, para que não intoxiquem nossas ideias inovadoras e não envenenem nossos sentimentos, reside o parâmetro referencial para se avaliar a maturidade emocional. Não esquecendo que as fixações, em qualquer forma de controle, seja por convicções ideativas ou pelo uso de padrões comportamentais, travam qualquer desenvolvimento.

Eta "dor" danada a ser suportada, ao se constatar como vivemos só, como somos sós em nossa unicidade, e como convivemos internamente com tantos cadáveres e partes nossas gangrenadas, não só disfuncionais na prática, como intoxicantes e poderosos venenos para nossas áreas mentais saudáveis. Vamos "morrendo" por dentro imersos no medo de nossa solidão interna. Esse medo já indica quão já somos sós. E nos recusamos a ver isso, achando ilusoriamente que não somos capazes de fazer a faxina mental necessária para um bem viver mais pleno. Assassinamos, nesses momentos, nossa razão; e não nos damos conta disso. Já estamos mergulhados na solidão que tanto tememos.

Muitos estão tão distantes de quem gostariam de ser, que não reconhecem mais seu íntimo, sua índole ou seu caráter, a bagagem inata de sua alma, tão soterrados se encontram em meio a tanto "lixo atômico" acumulado dentro de si, contaminando os terrenos de seu mundo psíquico, minando aos poucos a saúde física e psíquica, considerando a integração psicossomática e biopsicoespiritual.

É impactante observar como alguns desses cadáveres já estão irreconhecíveis só ocupando espaço; seus limites não são mais perceptíveis, sua função é mantida atuante pelo receio de muitos ousarem se renovar, mudar e se construir internamente, sempre escorados pela parceria com, sua maior amiga interna, a "razão".

Toda construção dentro da "psique" envolve esforço, determinação, persistência e vislumbre de novos e constantes cenários na vida, renovados por outros sonhos e ideais prazerosos, "que possam ser alcançados", para efetivamente preencherem o buraco sepulcral mantido aberto, não mais pelo cadáver vivo dentro de nós, mas pela falsa ilusão onipotente, que nos impede do contato com fracassos e limitações. Rígidas convicções imperam sobre a grandeza da Razão, e podem nos desviar de quaisquer intenções voltadas ao Bem e outras virtudes internas como a honestidade e a benevolência conosco mesmo. Como muitos não se apercebem que matam o que de mais precioso tem a razão: sua logicidade aplicada a evidências reais?

Ops, para sonhar e proteger nossos ideais, não dependemos somente de nós mesmos, de nossa modéstia e humildade para conviver com desacertos e desencontros afetivos, recolher os cacos dos sonhos e arriscar dar forma ideacional a novas expectativas passíveis de serem concretizadas? E não é por aí que temos que começar a resgatar nossa privacidade impar mais íntima?

O perigo reside em se tentar, desativando a razão "pela onipotência ilusória a ser combatida", persistir em controlar o futuro. A vida se expressa no real do "aqui e agora do presente". Saindo desse espaço e tempo, é imprevisível em seu fluxo constante e pleno de incertezas e inseguranças, não perdoa quem tenta se insurgir contra esse movimento, e mostra na repetição e mesmice de vivências o que nos falta atingir, para nos afastarmos da "punição de Sísifo".

Lembram de Sísifo? Aquela figura mitológica a quem os deuses puniram suas tentativas de burlar os desígnios, com o castigo de ter que levar pesada pedra para o cume de uma montanha e toda vez que estivesse quase atingindo essa meta, não conseguiria manter-se mais com o peso da pedra, obrigando-se a soltá-la, rolando a mesma ribanceira abaixo, retornando ao ponto de partida. Todo o esforço daquela tentativa foi em vão. Tudo teria que ser recomeçado. Tudo seria repetido.

Vale a pergunta interna, inquietação presente em todo ser pensante: "Até quando e qual a lição a ser aprendida das singulares experiências vividas e apreendidas dentro da subjetividade de cada um?". Arrisco uma resposta: "A maior dádiva não estaria na consciência do que lhe é devido e no arrependimento das escolhas efetuadas, tomando como parâmetro seu centro autorreferencial? Sua maior punição não decorreria de seus ideais abandonados, de sua falsa esperteza querendo manipular e controlar seu próprio destino, da opção pelo desprezar sua possibilidade de viver livre, tendo por lanterna a vida boa e, por foco, maior bem-estar interno?

Outros cadáveres ainda exercem uma função na vida mental de cada um e, para libertação de sua ação paralisante, cabe a investigação da necessidade de se fazerem tão presentes em nosso cotidiano. Por que isso ocorre? Esse caminho é difícil, pois o contato com o desconhecido dentro de nós é sempre desconfortável, envolve contratos internos de risco, a coragem para se aventurar a novos ideais e a força para direcionar a vida para novos rumos.

Para se conseguir alcançar a "verdadeira transformação" é preciso efetivamente ter eficiência e eficácia para dominar os medos de se enfrentar, e soltar os cadáveres vivos que circulam pelo mundo mental, imerso na solidão. A partir daí é aprender a conviver com o "ser só" que espera por nosso acolhimento para conhecer a plenitude do auto-aconchego, é melhor lidar com a incerteza e imprevisibilidade, é ousar se arriscar a mudar internamente... Ou optar por permanecer na areia movediça, se permitindo afundar na depressão (condutas sabotadoras auto-agressivas e destrutivas)... Ou ainda escolher adotar atitudes rebeldes e agressivas contra o mundo externo culpabilizado (postura da vítima, em seu "coitadismo", que se vê dependente das circunstâncias, não de si mesmo)

Aqui lembro de meu post "Quer receber um presente meu?" (novembro/2008): próximo passo, a meu ver, de quem se permitiu alcançar internamente a dignidade da liberdade e curtiu assim sentir-se internamente.

Gosto muito da imagem da ampulheta. Poucos no entanto conseguem ultrapassar o doído processo de individuação interna, se tornando um "individuo", inclusive, orgulhoso de sua dignidade de caráter. Esse é o patamar interno que possibilita o contato com outro sistema moral, com a ética das virtudes (parte superior da ampulheta) e com valores espirituais da convivência harmônica de uma energia psíquica mais elevada, que leva à formação do "sujeito" mais solto e livre, mais feliz e orgulhoso de como conseguiu mudar e se autorrespeitar como "ser humano", energia microcósmica integrada à energia macrocósmica do Universo.


quarta-feira, 17 de setembro de 2014

"Uma infidelidade louvável"

Como não nos orgulharmos dessa juventude emergente, que está descobrindo que a rede social Facebook, como tantas outras, serve bem mais do que fonte de "games" estagnantes e , em sua maioria, viciantes; de "fofocas maquiavélicas, desabonadoras muitas vezes, de pessoas expostas, "celebrizadas" e catalogadas por prazer perverso; de piadas insonsas, que não contribuem para humores questionadores e reflexivos, mas para satisfação irônica da maldade sofrida por terceiros - falo das famosas "cacetadas" que, a meu ver, são verdadeiras "escolinhas de desumanização, dentro da categoria de horror do mundo cão", que ensina como rir da desgraça alheia com a maior cara de pau e insensatez egoística; de autofotos, "selves" ridículos em suas autoexposições narcísicas, sem nenhuma autocensura ou avaliação de prováveis repercussões dentro da própria rede e fora dela. Muitos ainda não se deram conta que, qualquer exposição na rede, como cartão de visita ou complemento de currículo,  pode cair nas mãos de possíveis "hunters" (caçadores de talentos), que atirarão no lixo, prováveis candidatos com currículos que pareçam interessantes se encaixando no perfil demandado por empresas, depois desse confronto com a qualidade inadequada de suas aparições sociais.

Parece que estão se consolidando, cada vez mais, grupos de jovens que não precisam da violência para abrir seu espaço, atraindo sobre si a atenção social, buscando o eterno reconhecimento gratificante, contido na necessidade humana universal do "Olhe prá mim, eu estou aqui, eu existo!" . É interessante observar esse fenômeno de como "qualquer ser humano", para "sentir sua existência", precisa da atenção do outro sobre si.  Uma frase sempre me vem à memória, em seu caráter imperativo, que nos obriga sempre a buscar uma inclusão social: "Sei que sou, que existo, mas preciso tornar-me eu através do outro" (Tolstoi?).

Volto ao movimento desses jovens, que estão despertando minha atenção pois associo à construção de uma nova humanização (vide Luc Ferry e seu Novo Humanismo por Amor ao Humano, que vive em cada um de nós). Vale notar, quando inseridos como cidadãos, em suas análises do quadro político atual, que esses jovens não desligam seu senso crítico para desqualificar um candidato a cargo político (que "cuida da coisa pública", ou cuja função deveria ser essa!). Realçam, cada vez mais, suas mudanças de posturas, ao adotarem atitudes responsáveis e mais amadurecidas, ao buscarem se cercar do maior número possível de informações, verificando, dentro do possível, a veracidade das mesmas; ao respeitarem, nessa coleta, a diversidade de fontes e de perspectivas e ao desconsiderarem discriminações e preconceitos em suas análises pessoais dos fatos observados. Mais ainda... é um alento constatar que conseguem reciclar suas opiniões, percebendo erros em suas interpretações dos fatos, não permitindo que as mesmas se petrifiquem, dentro de si mesmo, em crenças e convicções fechadas, radicais e desumanas.

Que tal um exemplo, para clarificar melhor o exposto acima?
Ressalvo que contei com a aquiescência do autor para me servir como "modelo", inclusive, saindo do anonimato, ao responder a alguns comentários.

"Uma infidelidade louvável
Todos devem saber, pelos meus posts anteriores, que eu repugno a máfia que se tornou o PT. No entanto, veja hoje em dia a importância de se escutar o que os candidatos têm a falar independente do partido em que estão inseridos.
Eis que surge, há pouco tempo, um candidato sem quaisquer chances de vencer numa região de preferências declaradas por tradicionalismos e apostas menos arriscadas. No meio da gangue, esse homem se posiciona a favor do povo, com discurso muito parecido com seus pares e não conquista inicialmente o agrado do público.
Percebe então que a conversa aqui é diferente. Após usar-se da visibilidade do partido, apresentou suas propostas de forma clara. Chamou a todos para lerem seu plano de governo e não teve medo de ir contra a máfia que o elegeu para defender a cidade. Levou o município a patamares novos, mudou a cara da cidade e está trazendo novos ares de primeiro mundo para a 3a maior metrópole do mundo.
Enquanto isso, no governo da mesma região faz o que o povo que o elegeu (me incluo nessa) tanto prega (agora me excluindo do grupo): entregou algumas obras, mantendo o mesmo ritmo de investimento e sem grandes mudanças na gestão política.
Acontece que o cenário está mudando, o que demanda alterações na administração pública! Previsões da falta de água e das mudanças climáticas vêm sido ignoradas há anos. As pessoas cada vez mais querem ir para a rua, para aproveitar suas ciclovias e utilizar das novas facilidades do transporte público, e para isso não se sentem mais seguras como antes se sentiam dentro de suas casas.
O estado piorou? Jamais me atreveria a dizer que sim, mas a verdade é que ele tem crescido em níveis lamentáveis perto do que as pessoas podem e desejam crescer.
Não estou fazendo discurso em prol do Padilha, quero já deixar claro. Meu voto não é dele. Só estou pedindo que todo mundo se informe e analise bem todas as opções, em termos de histórico e principalmente de propostas, para ver onde querem que São Paulo chegue. O partido ajuda, mas candidatos fortes e bem posicionados não tenderão tão facilmente às pressões desonestas para defender o que realmente deve ser feito!
Dei minha chance ao ‪#‎FernandoHaddad‬, não me arrependo!
Dessa vez vou apostar no Skaf e com toda pesquisa que fiz e ponderando tudo na balança espero novamente mostrar-me com a melhor aposta!
Joguem direito o jogo da política caros amigos. Não tenham medo de pensar bastante antes de apostar pois, nessa partida, ninguém está te esperando...
Ele teve umas ideias estapafúrdias de implantar em plena São Paulo todas aquelas coisas bonitas que vemos na Europa e achamos um banho de civilidade. Por que a nossa elite acha todas essas iniciativas são tão lindas l&aacu...
M.HUFFPOST.COM
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  • Edison Vigil Lindo o texto, tirando a opção pelo Skaf. Vou manter seu discurso e não vou fazer campanha alguma nem levantar bandeira, mas qualquer pesquisa, mesmo superficial, já pode te informar melhor sobre quem é o Skaf e o que ele fez (ou não). 
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  • Felipe Cyrillo Poxa Edison, sinta-se convidado a levantar o debate com novas informações, minha intenção era essa mesmo! Busco me manter informado mas sempre escapam algumas coisas... Não encontrei nenhum candidato MUITO bom para o governo. Dentre os disponíveis, ele teve a balança mais positiva para mim por enquanto...
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  • Edison Vigil O ensino no SESI sempre foi excelente e gratuito. Foi só o Skaf entrar que ele começou a cobrar mensalidades (após decadas de ensino de graça). A equipe da campanha do Skaf eh formada pelos ex-governadores e prefeitos de sp mais corruptos da história. É aberto o apoio do Skaf aos industriais de sp. Essas sao as poucas informações que tenho e que tiram o Skaf da minha lista de elegíveis.


Aurora Gite

P.S. :Ressalvo que contei com a aquiescência do autor para me servir como "modelo", inclusive saindo do anonimato, ao responder a alguns comentários


domingo, 7 de setembro de 2014

Como trocar ideias sobre candidatos sem nomeá-los?

Quantos de nós, desde pequenos sempre se isolaram de grupinhos em suas conversas fiadas, permeadas pelas banalidades do "cri-cri" cotidiano. Logo se sentiram entediados! Baladas também não eram a sua "praia"! Podiam rir das piadas, mas não se animavam a contá-las. Não sendo exímios dançarinos, não bebendo, não fumando, não sendo consumistas, e ainda tendo seus interesses voltados para temas mais filosóficos e metafísicos, psicológicos e sociológicos, políticos e econômicos...não era difícil, em curto tempo de convívio nesses grupos sociais, se sentirem como "peixes fora d'água".

E eis que a Internet chegou-lhes em boa hora! Não foi sem receio que se aventuraram a entrar como participantes das redes sociais. A maioria demonstrou dificuldade em confiar na credibilidade desses contatos. Muitos, passaram a acreditar, no entanto, que poderia servir de um interessante campo de troca de ideias, crendo em suas capacidades de bem selecionar os interlocutores e de estar atentos ao perigo das manipulações caricaturais e falseamentos de informações até sobre sérios conteúdos.

Transcrevo aqui o diálogo, que me chegou às mãos, travado no "Facebook", entre uma avó - dentre muitas avós em seus 70 anos de vida -  e um neto - dentre muitos netos em seus 23 anos de vida já formado em Administração de Empresas, desde pequeno preocupado com questões mais filosóficas e humanísticas, com o bem-estar coletivo, com ter uma participação mais ativa no quadro social, atento a como administrar a si mesmo em sua empresa pessoal. Passo a nomeá-los por A. e por N., para melhor compreensão do leitor. Retiro, contrariando normas gramaticais, as aspas das falas desses interlocutores.

N. - Escuta, vó, você tem visto os debates para presidência e governo? Tô começando a definir meus votos com base neles, mas queria sua opinião a respeito!

A. - Para tocar nesse assunto, meu neto, tenho que me posicionar para que você possa me entender melhor nesse sentido. Embaso sempre minha decisão visando transformar meu voto em um "voto útil". Então, nessa eleição, já excluo Pastor Everaldo, Levy, Eduardo Jorge, Luciana Genro... Na minha pesquisa sobraram Marina e Aécio. Dilma-Lula, ou PT, não quero mais no poder depois desses 12 anos; esses governos acabaram se tornando sinônimos de corrupção, impunidade, desvios de dinheiro público...Perderam a credibilidade para mim. Não os quero mais no poder.

N. - Pois eh... minha dúvida inicial era entre os dois mesmo!

A. - Então vou me ater entre Aécio e Marina... Como essa proferiu algumas frases importantes durante os debates, e manifestou possível aliança com FHC, considerando suas conquistas econômicas , e Lula, considerando suas conquistas no que se refere a políticas sociais, fecho mais com ela, no momento, nessa integração de partidos em prol de uma causa maior: "o povo brasileiro e o país Brasil"...Fico com ela. Sei que vão tentar desqualificá-la, mas os bons políticos já se aproximam dela, como o senador Pedro Simon (RS) que, desapontado com a "politicagem", havia se afastado do governo e, agora, parece que se candidata ao Senado novamente em seu 83 anos (?)... Gostei quando ela disse que segue as suas convicções, mas está aberta a tudo e a todos os projetos, que signifiquem progresso para o Brasil.

N. - A Marina apresentava um boa proposta de oxigenação da política e união do país... Por outro lado, tive muito contato com a forma do Aécio fazer gestão, pois ele copia o "modelo Falconi", com metas e meritocracia, levando maior eficiência para órgãos e empresas públicas. Ainda assim, tava disposto a dar uma chance para Marina, até segunda ordem. Mas ela se submeteu à pressão do pastor Silas Malafaia. e alterou seu plano de governo tão em cima da hora... (pausa)

A. - Aécio é PSDB, da escola de FHC, sempre citado por Marina.

N. - Ela me mostrou o contrário do posicionamento firme, que ela vinha defendendo. E mais do que isso... também desmentiu o que ela mesmo disse defender: um "estado laico"... Se assim fosse, ela não submeteria seu plano de governo a pressões de instituições religiosas. Me empolguei muito com ela e acabei desapontado demais...só não anulo meu voto para tirar o PT do poder. Mas, no primeiro turno pelo menos, a Marina perdeu meu voto.

A. - Ela tem agora a turma do Eduardo Campos, que faleceu, haja visto a escolha de seu vice. Por trás da Rede de Sustentabilidade está o PSB (Partido Socialista Brasileiro). Vai ser uma mistura interessante, a meu ver... mais do que programas de governo do velho PSDB! Não vi nenhum projeto tão diferente do Aécio. No momento, quero novos ares no governo. Vou arriscar no novo. Dou a ela, por enquanto, meu voto de confiança.
       Governar é administrar diferenças com firmeza necessária para tomar decisões acertadas. E me parece que ela demonstrou bem mais "jogo de cintura" com alianças políticas e no escutar as demandas do povo. Não se consegue governar um país só privilegiando um estado laico, isolando o Estado das reivindicações de instituições, quer sejam religiosas. Vivemos num mundo capitalista. O capital tem que ser privilegiado. Gostei quando Marina colocou, em resposta a questão que lhe foi colocada por Dilma, que vai buscar recursos evitando o desperdício, combatendo a corrupção e o mau emprego do dinheiro público arrecadado, além de fiscalizar o uso desses recursos, penalizando efetivamente os responsáveis por desvios de dinheiro. Gostei quando ela colocou para Dilma a necessidade de reconhecer os erros para aprender com eles; sem isso, vivendo na "Ilha da Fantasia", pintando tudo maravilhoso, que as finanças estão encaixadas... não se consegue nenhum progresso ...fica tudo no "blá-blá-blá"!

N. - Isso o Aécio falou, exatamente com as mesmas palavras, vó!

A.- Marina me pareceu bem com os pés no chão... sem revanches ou vinganças... olhando o passado e retirando exemplos dos recursos humanos eficientes, para aplicar, com o olhar de um empreendedor, no futuro do país.

N. - Inclusive citando que o brasileiro queria viver na propaganda do PT... Mas, quais são os projetos dela, que te agradaram?

A. - A máquina do Aécio, a meu ver, tá emperrada com muito "toma lá/dá cá" partidário. O partido dele mira o combate ao PT e ao bloco com PMDB. Só por esse debate não deu para eu te listar os projetos dela...Além do mais não dou muito crédito a promessas discursivas. Quero fatos. Quero ver sair do papel e, acima de tudo, a conclusão dos projetos planejados e fiscalizados pela equipe de governo escolhida por ela. mas vou "focar nela" até véspera da eleição, e fico com o slogan "por um Brasil melhor". Gostei da resposta dela, quando questionada por Dilma, sobre o pré-sal...

N. - Pois eh... esse eh o problema... ela tá usando todo o tempo dela para divagar demais, e falar pouco dos projetos. Confrontando o plano instável do governo dela com o do Aécio, acabei tbm preferindo as propostas dele... Mas meu interesse maior tava no debate sobre o governo q pretendem ... tô bem na dúvida entre os 2 candidatos.

A. - Meu amor, analisa a resposta dela para Dilma: "Nosso programa de governo não é desprezar a riqueza do pré-sal, mas utilizá-la melhor. É ir além do pré-sal. Vamos continuar a exploras essa fonte de energia. Mas é preciso ir para onde 'a bola' vai estar...energia eólica, solar".Gosto desse uso dos recursos ambientais... também acho que o futuro é por aí. Continua ela: "Falo de acordo com minhas convicções, não me volto a polarizações...Defendo as liberdades individuais e combato toda forma de discriminação... Sou contra o aborto, mas não vou 'satanizar' quem o pratica."

N. - Pois eh, vó... ela se contradisse totalmente a respeito disso, quando tomou outra atitude na segunda feira.

A. - E ela continuou ainda: "É preciso respeitar temas que envolvem muita reflexão, como as questões filosóficas, éticas, morais e espirituais."

N. - Não eh pra tanto q ela despencou 10 pontos percentuais nas pesquisas.

A. - Bem, tô juntando evidências sobre ela e possível futura equipe de governo, nesse momento atual pré-eleitora. Contra evidências não há argumentações, meu neto. Pesquisas podem ser manipuladas para mobilizar o eleitor para um voto útil, para usarem melhor seu voto do que direcioná-lo para perdedores, segundo Luciana Genro, e eu a acompanho nessas considerações.
       Na bagunça que está o Congresso, quero um presidente com pulso forte, que não tenha 'rabo preso' com partido nenhum, nem com grupos de empresários acostumados a perverter políticos, ofertando volumosos patrocínios para suas campanhas. Quero um presidente que consiga enfrentá-los a contendo, impondo limites com firmeza e cobrando fiscalizações rigorosas. Marina me parece ter essa coragem. Parece ser capaz de se bancar e cobrar eficiência, e brevidade nos resultados, de sua equipe. O que me atraiu logo de cara foi sua afirmação de que ficaria só os 4 anos de governo.. É reciclagem mesmo! Ganhou meu voto por esse compromisso. Agora sigo vendo se sua postura continua coerente dentro de um discurso ético consistente, sem ataques pessoais mas confrontando ideias e contestando promessas vãs, palavras soltas ao vento para seduzir os leitores, que depois se perdem quando assumem o governo.

N. - Concordo com sua expectativa, mas a Marina, para mim, perdeu justamente essa imagem. As. vó, vou assistir ao debate da UOL hj, soh vi o da band por enquanto... O horário tem sido péssimo... Pois eh, perdi o do SBT por estar no trabalho. Mas e do governo, vó?  Hahaha vó, você não me falou do governo. Postei no meu face, o q achei do debate dos governadores... ainda não consegui chegar a uma conclusão, mas tô tendencioso ao Skaf.

A.- Não tô fugindo de manifestar minha opinião, não! Para governador e senador, sou direta: 45 e 456. Gosto de transparência, honestidade e integridade ética. Encontro isso, dentro do possível, em Alckimin e Serra.
      Adoro a Internet e o Mundo Pós-Moderno... O tempo ganha outra dimensão... Revemos alguns debates e entrevistas com os candidatos e parece que assistimos ao programa in loco kkk!
      Bjs, meu amor!

N.- Bjs vó... vou te procurando para trocar ideias, mesmo q seja através do face, ok?"

Aurora Gite




sexta-feira, 5 de setembro de 2014

"Genéricos debates políticos em sua mesmice": Para que servem?

Não há como não registrar a desconsideração com o telespectador, por parte dos organizadores dos atuais debates. "Genéricos debates políticos em sua mesmice..."

Muda-se de canal, mas é o mesmo produto midiático genérico, com questões padronizadas e respostas prontas, muitas vezes com jornalistas invadindo a privacidade dos candidatos com a maledicência de suas perguntas. Se esse tipo de intervenção mantém a atenção de parcela dos espectadores que apreciam esse sutil jogo perverso de alguns elementos de nossa imprensa, em nada contribui para elevar o nível do debate, nem para que o eleitor, que os assista, possa conhecer os políticos que ali estão, ou os projetos, que pretendem executar quando eleitos.

Penso no desapontamento e "raiva" do íntegro cidadão, orgulhoso de sua dignidade política, que busca conhecer as ideias dos candidatos, os programas dos partidos em que estão inseridos, os projetos com que pretendem "fazer política". Fazer política é gerenciar a "coisa pública"; é administrar a contento as diferenças visando uma sociedade mais justa e mais harmônica. Como não se irritar ao disponibilizar o tempo com boa vontade e se colocar na frente da telinha televisiva, porém logo perceber a manipulação dos debates voltada mais a garantir boa posição competitiva nos "Ibopes"?

Perplexo, no palco midiático montado para ser mais um espetáculo teatral, se constata que, pouco se consegue coletar de elementos efetivos, para sérias reflexões. Como enquadrar sob outro rótulo, a não ser o de espetaculoso, o pingue-pongue de perguntas e respostas que ocorre, no espaço rigoroso dos parcos minutos cedidos a cada candidato para expor suas intenções quando no governo? Como não reparar a dificuldade dos mesmos de equacionar o conteúdo de sua fala, se sua atenção se volta, imperiosamente, para o esgrima de argumentos na contagem implacável do tempo, controlado até eletronicamente?

Ops, destaco que, nem sempre, o mais justo é o igualitário: posso ensinar a pescar e até dar a vara a quem não tenha interesse pessoal, e mesmo prazer em se dedicar com empenho à arte de pescar, inclusive nela se aprimorando para sobreviver. Muitos candidatos conseguem sintetizar o que querem expressar nesses poucos minutos. Outros, mais ansiosos, precisam de um pouco mais de tempo, ficando no meio de frases interrompidas pelo aviso eletrônico de tempo esgotado. Alguns procuram fixar ideias e passar ao público seus slogans repetidos e imagens mais fáceis de serem recordadas pelos eleitores na hora da votação. Tem aqueles, ainda, que preferem imprimir, jocosamente, sua caricatura em cenários montados dentro de chistes, piadas muitas vezes de mau gosto e inadequadas à situação presente de um debate político.

Vale aqui o lembrete  para que o eleitor possa melhor escolher seu candidato - ou se já tem o escolhido possa melhor avaliar seu desempenho em grupo : observe também a "postura idônea do candidato" se inter-relacionando durante os debates. É importante unir a competência demonstrada pelo candidato com sua  "vestimenta social como cidadão", com seu desempenho ao atuar na função ou no papel dentro do grupo de seus pares. Essa informação vai ser de grande valia para que possa melhor avaliar o acerto ou erro de sua opção sobre seu porta-voz dentro do governo; sobre sua escolha daquele que, depois de eleito, irá melhor representar suas demandas pessoais e seus ideais de bem estar social.

Debates políticos... época de eleição... desejo de mudanças... expectativas de melhorias governamentais... incertezas e dúvidas... dificuldades para escolher o "candidato certo", que atenda mais às suas reivindicações...

Com certeza épocas, como essa, nos tiram de passivas zonas de conforto. Mesmo ante o desagrado com a atuação dos governos atuais permanecemos em zonas de comodidade, que são agora remexidas. Conflitos impensados, mantidos sob controle, mas que nos afetam, eclodem e se impõem ao nosso bom senso para que sejam pensados. Não é fácil conviver mais, passivamente, depois de ter tido o vislumbre de possíveis transformações em nosso cotidiano, e se ver confrontado a ser o autor da própria história social, depois de profundas reflexões sobre oportunidades de mudanças, que se descortinam.

Que tal ter mais armas para descobrir o que atrai sua atenção no discurso e postura dos candidatos, buscando melhor acompanhar suas atuações e otimizar seu foco?
Quer saber como aprender a pensar melhor ao escolher um candidato, e contribuir para ou "por um Brasil melhor"?

Então vamos lá! Comece excluindo o que tem certeza que não quer.

Por exemplo, não quero a mesmice, não quero que meu representante - na presidência de meu país - busque seu referencial em figuras do passado, delas se utilizando para melhor se localizar em pesquisas eleitorais, já tendo demonstrado, quando exerceu cargos no governo, que suas capacitações pessoais sem esse acoplamento, não o mobilizaram a tomar decisões benéficas para o progresso efetivo do Brasil.

Não quero candidatos com projetos "genéricos", muito preocupados teoricamente com falhas em saneamento, educação, saúde, economia, segurança, violência, corrupção... É lindo pontuar toda a gangrena política e social que intoxica essas áreas, mas e daí ... quais as propostas passíveis para mudanças reais?

Não quero, no momento, candidato sem representação política, sem diplomacia para gerir a coisa pública, ou sem "jogo de cintura" para fazer parcerias inteligentes com a iniciativa privada, muito menos sem coragem para correr o risco de ousar enfrentar negociações, que realmente podem transformar e reformar a atual politicagem, que tanto se distancia da verdadeira democracia representativa.

Não quero candidato engessado em partidos com "rabo preso" na velha política de interesses pessoais ou "coronelismos", que tenda a persistir em trocas convenientes do tipo "toma lá/dá cá", que atrelam os candidatos a inevitáveis correntes de retribuição de favores; e os prendam, inclusive, nas algemas morais da gratidão. E o bem estar da sociedade ao redor? E as visíveis necessidades do coletivo, da massa, do povo que o elegeu? E o progresso de meu país, como fica?

Não quero só o reconhecimento dos erros durante os debates, ou em público quando em campanhas nas ruas. Não quero ouvir sobre retratações e possíveis reparações em novos mandatos! Quero o abandono da visão cartesiana e linear de causa sem pensar em suas consequências a médio e longo prazo, sem abranger em seus planejamentos prováveis os efeitos concretos imediatos, que seus atos possam ocasionar. Quero que meu candidato tenha visões alternativas quânticas, ou seja, voltadas à avaliação do leque de possibilidades e projeções das probabilidades de implantação no futuro, como as de um empreendedor eficaz. Quero que meu candidato saiba se bancar em raciocínios quânticos e também consiga bem conviver com as diferenças sociais, sem buscar calar o povo e a imprensa que lhe dá voz.

Não quero cabeças frias pensantes de profissionais especializados em desumanização, com corações petrificados para melhor tomada de decisões unicamente racionais, pertencentes ao mundo do "tem que ser feito assim como a teoria manda para dar certo", ou "precisam ser realizadas dessa forma, sob esse molde estratégico planejado ideacionalmente". E a singularidade do povo? E a unicidade de cada caso? E a subjetividade de cada pessoa? Quero meu país integrado no mundo globalizado, embasado em políticas colaborativas e participativas, únicas e singulares, mais de acordo com as demandas específicas expressas pelo povo brasileiro, e, principalmente, com vistas a uma "nova humanização social".

Não quero que as soluções para os problemas de meu país tenham só referenciais comparativos com grandes potências mundiais. Quero que, meu representante no governo, atente às bandeiras de reivindicação popular. Quero que esteja alerta, e não passe por cima do nacionalismo popular manifestado no apelo patriótico - "Ei, esse país é o meu Brasil!", pois aí está a determinação e garra para o povo enfrentar períodos de "vacas magras" (altos impostos, desemprego... penúria no dia a dia, apertar cintos no cotidiano).

O debate serviu, a meu ver, para se começar a delinear um candidato ideal. O meu foi sendo montado, juntando as peças retiradas desse perfil de valores ideais dentro de mim. Não quero promessas vãs, quero compromissos assumidos, que exigirão envolvimento efetivo do candidato quando no governo, não só constantes e "inconclusivos planejamentos estratégicos registrados, muitos com louvor, no papel". Quero ver resultados concretos e, principalmente, a criação de várias agências reguladoras para acompanhamento contínuo, fiscalizadas de perto por ele, como presidente, e sua equipe de governo, que possam aumentar nossa esperança por um real progresso da nação brasileira.

Quero um candidato com coragem e firmeza para enfrentar o atual caos político brasileiro e para colocar limites, com rigor, ao que está aviltando a democracia; que saiba governar sem se voltar a se furtar a seguir os regulamentos oficiais; sem adotar a postura centralizadora e onipotente dos tiranos; sem misturar os três poderes da República ou desrespeitar a Constituição Brasileira. Ao contrário, quero um candidato, que se permita sempre valorizar - além de respeitar a decência cívica dos membros de cada poder - a integração harmônica do Judiciário, do Legislativo e do Executivo.

Um candidato se destacou nos debates, preenchendo outro requisito importante, listado em meu critério avaliativo. É preciso ter boa dose de amadurecimento emocional para administrar a agressividade natural em todo ser humano, conter impulsividade, controlar frustrações, tolerar contrariedades, evitar vontade de revides imediatos, usar sua paciência e seu bom senso, fortalecer sua razão, filtrar emoções que agreguem valor às interações humanas... Um candidato, ao ser atacado, demonstrou essas habilidades ao se posicionar sem agressão pessoal ou diminuição de seu interlocutor; não fugiu do embate verbal, mas contestou sutilmente a afronta recebida, pontuando seus pontos fortes associados à questão focada.

"Separo minha vida privada da profissional". Gostei da firmeza na continuidade da resposta ao maldoso questionamento de um jornalista: "O que recebi por palestras enquanto não era candidato estão devidamente registradas para a Receita Federal conferir, se precisar deste dado. Mantenho sigilo por respeito ao contrato com a empresa, mas ela é livre para quebrá-lo, se achar conveniente! Esse é o exemplo de se bancar com elegância e impor com firmeza os limites necessários, ante circunstâncias agressivas e invasivas.

Mais um exemplo, que considero pertinente, à visão do empreendedor. Esse mesmo candidato afirmou que se alicerçará com uma boa equipe de governo para ajudá-lo na difícil tarefa de "renovar e reformar a política existente" : "Vamos obter recursos financeiros através do combate ao desperdício, da melhor distribuição do dinheiro público, do fazer escolhas corretas ...Não vamos manter escolhas erradas. Vamos fazer bom uso dos recursos existentes no país, e , também, explorar novas fontes naturais de energia..."

O candidato acima, novamente, soube dar seu recado, sem entrar na provocação do interlocutor. Isso é se bancar em seu centro de autorreferência! Agora acompanho esse candidato até vésperas da eleição, confrontando a coerência de seus discursos, e a consistência ética de sua postura. E me permito ser livre para mudar meu voto útil e consciente, se não constatar mais essa atitude política.

Não vivo no "mundo maravilhoso da Ilha da Fantasia". Nem participo do bloco "Me engana que eu gosto". Muito menos inutilizo meu voto, renegando minha identidade de cidadã brasileira. Aproveito o dito popular: Não "chuto o pau da barraca" com facilidade, não! Tenho que ter muita informação desabonadora quanto à competência pessoal do candidato, e muita afronta a meus valores éticos, para desistir de escolhas, que considero pertinentes com meus ideais de vida e dos governantes que anseio.

Sei o que quero. Tenho claro o perfil de governante que desejo para meu país, nesse momento difícil que atravessa. Agora é sobrepô-lo ao perfil do candidato, que mais se aproxime.

Valeu a dica para os indecisos?

Aurora Gite

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Uma pausa para louvar Vinícius e o Amor

"O Amor por entre o Verde" 
Vinícius de Morais

"Não é sem frequência que, à tarde, chegando à janela, eu vejo um casalzinho de brotos que vem namorar sobre a pequenina ponte de balaustrada branca que há no parque. Ela é uma menina de uns treze anos, o corpo elástico metido num blue jeans e num suéter folgadão, os cabelos puxados para trás num rabinho de cavalo que está sempre a balançar para todos os lados; ele, um garoto de, no máximo, dezesseis, esguio, com pastas de cabelo a lhe tombar sobre a testa e um ar de quem descobriu a fórmula da vida. Uma coisa eu lhes asseguro: eles são lindos, e ficam montados, um em frente ao outro, no corrimão da colunata, os joelhos a se tocarem, os rostos a se buscarem a todo o momento para pequenos segredos, pequenos carinhos, pequenos beijos.

São, na sua extrema juventude, a coisa mais antiga que há no parque, incluindo velhas árvores que por ali espaçam sua sombra; e as momices (trejeitos, caretas) e brincadeiras que se fazem dariam para escrever todo um tratado sobre a arqueologia do amor, pois têm uma tal ancestralidade que nunca se há de saber a quantos milênios remontam.

Eu os observo por um minuto apenas para não perturbar-lhes os jogos de mão e misteriosos brinquedos mímicos com que se entretém, pois suspeito de que sabem de tudo o que se passa à sua volta. Às vezes para descansar de posição, encaixam-se os pescoços e repousam os rostos um sobre o ombro do outro, como dois cavalinhos carinhosos, e eu vejo então os olhos da menina percorrerem vagarosamente as coisas em torno, numa aceitação dos homens, das coisas e da natureza, enquanto os do rapaz mantêm-se fixos, como a perscrutar desígnios. Depois voltam à posição inicial e se olham nos olhos, e ela afasta com a mão os cabelos de sobre a fronte do namorado, para vê-lo melhor, e sente-se que eles se amam e dão suspiros de cortar o coração.

De repente o menino parte para uma brutalidade qualquer, torce-lhe o pulso até ela dizer-lhe o que ele quer ouvir, e ela agarra-o pelos cabelos, e termina tudo, quando não há passantes, num longo e meticuloso beijo.

Que será, pergunto-me em vão, dessas duas crianças que tão cedo começam a praticar os ritos do amor? Prosseguirão se amando, ou de súbito, na sua jovem incontinência, procurarão o contato de outras bocas, de outras mãos, de outros ombros?

Quem sabe se amanhã, quando eu chegar à janela, não verei um rapazinho moreno em lugar do louro, ou uma menina com a cabeleira solta em lugar dessa com os cabelos presos?

E se prosseguirem se amando, pergunto-me novamente em vão, será que um dia casarão e serão felizes? Quando, satisfeita a sua jovem sexualidade, se olharem nos olhos, será que correrão um para o outro e se darão um grande abraço de ternura? Ou será que desviarão o olhar, para pensar cada um consigo mesmo que ele não era exatamente aquilo que ela pensava e ela era menos bonita ou inteligente do que ele a tinha imaginado?

É um tal milagre encontrar, nesse infinito labirinto de desenganos amorosos, o ser verdadeiramente amado... Esqueço o casalzinho no parque para perder-me por um momento na observação triste, mas fria, desse estranho baile de desencontros, em que frequentemente aquela que devia ser daquele, acaba por bailar com outro, porque o esperado nunca chega; e este, no entanto, passou por ela sem que ela o soubesse, suas mãos sem querer se tocaram, eles olharam-se nos olhos por um instante e não se reconheceram. 

E é então que esqueço de tudo e vou olhar nos olhos de minha bem-amada, como se nunca a tivesse visto antes. É ela, Deus do céu, é ela! Como a encontrei, não sei. Como chegou até aqui, não vi. Mas é ela, eu sei que é ela porque há um rastro de luz quando ela passa, e quando ela me abre os braços eu me crucifico neles, banhado em lágrimas de ternura; e sei que mataria friamente quem quer que lhe causasse dano; e gostaria que morrêssemos juntos e fôssemos enterrados de mãos dadas, e nossos olhos indecomponíveis ficassem para sempre abertos mirando muito além das estrelas."

                                                 Para viver um grande amor - Crônicas e Poemas


Agora sou eu que me pergunto, quantos de vocês, que leram essa crônica, se permitiram sentir o tesão dos amantes, cavalgando nas ideias sensuais de Vinícius de Morais; embalando suas próprias sensualidades nas descrições do poeta sobre as movimentações dos corpos; entregando suas almas ao se mostrarem receptivos ao convite ao prazer transmitido pela expressão corporal e facial; soltos e livres à flutuarem na sincronia sexual sinalizada pela ternura dos gestos e olhares?

O que assusta são os encontrões na vida, onde nos deparamos, perplexos e fascinados, com esse fenômeno da sintonia de um encaixe amoroso. O que apavora é o aterrorizante dilema, dúvida atroz entre o encontro de olhares carinhosos e fogosos, ou o cruzar de olhos frios e investigativos! 

O que causa enorme tristeza é a possibilidade de constatação de estar ao lado de um estranho, do olhar não mais reconhecer o amado de antes; de se sentir impotente, sem saber nadar e ser obrigado a mergulhar no oceano das dúvidas e das incertezas sobre novos encontrões. 

O que remete a enorme sofrimento é a probabilidade da ameaça de se perceber, em momentos, dando braçadas contínuas, tímidas e desengonçadas, buscando apreender o ritmo certo, se garantindo por estar portando o colete salva-vidas do "-Será, talvez, que irá acontecer o encontro? E, então, o que é que eu faço?"; e em outros se deixando levar passivamente para o fundo desse oceano, só sendo obrigado, ao ser dragado por forças estranhas ao próprio querer, a observar a petrificação mortal do afundar da própria alma na certeza do "-Nunca mais!".

Aurora Gite