sexta-feira, 5 de setembro de 2014

"Genéricos debates políticos em sua mesmice": Para que servem?

Não há como não registrar a desconsideração com o telespectador, por parte dos organizadores dos atuais debates. "Genéricos debates políticos em sua mesmice..."

Muda-se de canal, mas é o mesmo produto midiático genérico, com questões padronizadas e respostas prontas, muitas vezes com jornalistas invadindo a privacidade dos candidatos com a maledicência de suas perguntas. Se esse tipo de intervenção mantém a atenção de parcela dos espectadores que apreciam esse sutil jogo perverso de alguns elementos de nossa imprensa, em nada contribui para elevar o nível do debate, nem para que o eleitor, que os assista, possa conhecer os políticos que ali estão, ou os projetos, que pretendem executar quando eleitos.

Penso no desapontamento e "raiva" do íntegro cidadão, orgulhoso de sua dignidade política, que busca conhecer as ideias dos candidatos, os programas dos partidos em que estão inseridos, os projetos com que pretendem "fazer política". Fazer política é gerenciar a "coisa pública"; é administrar a contento as diferenças visando uma sociedade mais justa e mais harmônica. Como não se irritar ao disponibilizar o tempo com boa vontade e se colocar na frente da telinha televisiva, porém logo perceber a manipulação dos debates voltada mais a garantir boa posição competitiva nos "Ibopes"?

Perplexo, no palco midiático montado para ser mais um espetáculo teatral, se constata que, pouco se consegue coletar de elementos efetivos, para sérias reflexões. Como enquadrar sob outro rótulo, a não ser o de espetaculoso, o pingue-pongue de perguntas e respostas que ocorre, no espaço rigoroso dos parcos minutos cedidos a cada candidato para expor suas intenções quando no governo? Como não reparar a dificuldade dos mesmos de equacionar o conteúdo de sua fala, se sua atenção se volta, imperiosamente, para o esgrima de argumentos na contagem implacável do tempo, controlado até eletronicamente?

Ops, destaco que, nem sempre, o mais justo é o igualitário: posso ensinar a pescar e até dar a vara a quem não tenha interesse pessoal, e mesmo prazer em se dedicar com empenho à arte de pescar, inclusive nela se aprimorando para sobreviver. Muitos candidatos conseguem sintetizar o que querem expressar nesses poucos minutos. Outros, mais ansiosos, precisam de um pouco mais de tempo, ficando no meio de frases interrompidas pelo aviso eletrônico de tempo esgotado. Alguns procuram fixar ideias e passar ao público seus slogans repetidos e imagens mais fáceis de serem recordadas pelos eleitores na hora da votação. Tem aqueles, ainda, que preferem imprimir, jocosamente, sua caricatura em cenários montados dentro de chistes, piadas muitas vezes de mau gosto e inadequadas à situação presente de um debate político.

Vale aqui o lembrete  para que o eleitor possa melhor escolher seu candidato - ou se já tem o escolhido possa melhor avaliar seu desempenho em grupo : observe também a "postura idônea do candidato" se inter-relacionando durante os debates. É importante unir a competência demonstrada pelo candidato com sua  "vestimenta social como cidadão", com seu desempenho ao atuar na função ou no papel dentro do grupo de seus pares. Essa informação vai ser de grande valia para que possa melhor avaliar o acerto ou erro de sua opção sobre seu porta-voz dentro do governo; sobre sua escolha daquele que, depois de eleito, irá melhor representar suas demandas pessoais e seus ideais de bem estar social.

Debates políticos... época de eleição... desejo de mudanças... expectativas de melhorias governamentais... incertezas e dúvidas... dificuldades para escolher o "candidato certo", que atenda mais às suas reivindicações...

Com certeza épocas, como essa, nos tiram de passivas zonas de conforto. Mesmo ante o desagrado com a atuação dos governos atuais permanecemos em zonas de comodidade, que são agora remexidas. Conflitos impensados, mantidos sob controle, mas que nos afetam, eclodem e se impõem ao nosso bom senso para que sejam pensados. Não é fácil conviver mais, passivamente, depois de ter tido o vislumbre de possíveis transformações em nosso cotidiano, e se ver confrontado a ser o autor da própria história social, depois de profundas reflexões sobre oportunidades de mudanças, que se descortinam.

Que tal ter mais armas para descobrir o que atrai sua atenção no discurso e postura dos candidatos, buscando melhor acompanhar suas atuações e otimizar seu foco?
Quer saber como aprender a pensar melhor ao escolher um candidato, e contribuir para ou "por um Brasil melhor"?

Então vamos lá! Comece excluindo o que tem certeza que não quer.

Por exemplo, não quero a mesmice, não quero que meu representante - na presidência de meu país - busque seu referencial em figuras do passado, delas se utilizando para melhor se localizar em pesquisas eleitorais, já tendo demonstrado, quando exerceu cargos no governo, que suas capacitações pessoais sem esse acoplamento, não o mobilizaram a tomar decisões benéficas para o progresso efetivo do Brasil.

Não quero candidatos com projetos "genéricos", muito preocupados teoricamente com falhas em saneamento, educação, saúde, economia, segurança, violência, corrupção... É lindo pontuar toda a gangrena política e social que intoxica essas áreas, mas e daí ... quais as propostas passíveis para mudanças reais?

Não quero, no momento, candidato sem representação política, sem diplomacia para gerir a coisa pública, ou sem "jogo de cintura" para fazer parcerias inteligentes com a iniciativa privada, muito menos sem coragem para correr o risco de ousar enfrentar negociações, que realmente podem transformar e reformar a atual politicagem, que tanto se distancia da verdadeira democracia representativa.

Não quero candidato engessado em partidos com "rabo preso" na velha política de interesses pessoais ou "coronelismos", que tenda a persistir em trocas convenientes do tipo "toma lá/dá cá", que atrelam os candidatos a inevitáveis correntes de retribuição de favores; e os prendam, inclusive, nas algemas morais da gratidão. E o bem estar da sociedade ao redor? E as visíveis necessidades do coletivo, da massa, do povo que o elegeu? E o progresso de meu país, como fica?

Não quero só o reconhecimento dos erros durante os debates, ou em público quando em campanhas nas ruas. Não quero ouvir sobre retratações e possíveis reparações em novos mandatos! Quero o abandono da visão cartesiana e linear de causa sem pensar em suas consequências a médio e longo prazo, sem abranger em seus planejamentos prováveis os efeitos concretos imediatos, que seus atos possam ocasionar. Quero que meu candidato tenha visões alternativas quânticas, ou seja, voltadas à avaliação do leque de possibilidades e projeções das probabilidades de implantação no futuro, como as de um empreendedor eficaz. Quero que meu candidato saiba se bancar em raciocínios quânticos e também consiga bem conviver com as diferenças sociais, sem buscar calar o povo e a imprensa que lhe dá voz.

Não quero cabeças frias pensantes de profissionais especializados em desumanização, com corações petrificados para melhor tomada de decisões unicamente racionais, pertencentes ao mundo do "tem que ser feito assim como a teoria manda para dar certo", ou "precisam ser realizadas dessa forma, sob esse molde estratégico planejado ideacionalmente". E a singularidade do povo? E a unicidade de cada caso? E a subjetividade de cada pessoa? Quero meu país integrado no mundo globalizado, embasado em políticas colaborativas e participativas, únicas e singulares, mais de acordo com as demandas específicas expressas pelo povo brasileiro, e, principalmente, com vistas a uma "nova humanização social".

Não quero que as soluções para os problemas de meu país tenham só referenciais comparativos com grandes potências mundiais. Quero que, meu representante no governo, atente às bandeiras de reivindicação popular. Quero que esteja alerta, e não passe por cima do nacionalismo popular manifestado no apelo patriótico - "Ei, esse país é o meu Brasil!", pois aí está a determinação e garra para o povo enfrentar períodos de "vacas magras" (altos impostos, desemprego... penúria no dia a dia, apertar cintos no cotidiano).

O debate serviu, a meu ver, para se começar a delinear um candidato ideal. O meu foi sendo montado, juntando as peças retiradas desse perfil de valores ideais dentro de mim. Não quero promessas vãs, quero compromissos assumidos, que exigirão envolvimento efetivo do candidato quando no governo, não só constantes e "inconclusivos planejamentos estratégicos registrados, muitos com louvor, no papel". Quero ver resultados concretos e, principalmente, a criação de várias agências reguladoras para acompanhamento contínuo, fiscalizadas de perto por ele, como presidente, e sua equipe de governo, que possam aumentar nossa esperança por um real progresso da nação brasileira.

Quero um candidato com coragem e firmeza para enfrentar o atual caos político brasileiro e para colocar limites, com rigor, ao que está aviltando a democracia; que saiba governar sem se voltar a se furtar a seguir os regulamentos oficiais; sem adotar a postura centralizadora e onipotente dos tiranos; sem misturar os três poderes da República ou desrespeitar a Constituição Brasileira. Ao contrário, quero um candidato, que se permita sempre valorizar - além de respeitar a decência cívica dos membros de cada poder - a integração harmônica do Judiciário, do Legislativo e do Executivo.

Um candidato se destacou nos debates, preenchendo outro requisito importante, listado em meu critério avaliativo. É preciso ter boa dose de amadurecimento emocional para administrar a agressividade natural em todo ser humano, conter impulsividade, controlar frustrações, tolerar contrariedades, evitar vontade de revides imediatos, usar sua paciência e seu bom senso, fortalecer sua razão, filtrar emoções que agreguem valor às interações humanas... Um candidato, ao ser atacado, demonstrou essas habilidades ao se posicionar sem agressão pessoal ou diminuição de seu interlocutor; não fugiu do embate verbal, mas contestou sutilmente a afronta recebida, pontuando seus pontos fortes associados à questão focada.

"Separo minha vida privada da profissional". Gostei da firmeza na continuidade da resposta ao maldoso questionamento de um jornalista: "O que recebi por palestras enquanto não era candidato estão devidamente registradas para a Receita Federal conferir, se precisar deste dado. Mantenho sigilo por respeito ao contrato com a empresa, mas ela é livre para quebrá-lo, se achar conveniente! Esse é o exemplo de se bancar com elegância e impor com firmeza os limites necessários, ante circunstâncias agressivas e invasivas.

Mais um exemplo, que considero pertinente, à visão do empreendedor. Esse mesmo candidato afirmou que se alicerçará com uma boa equipe de governo para ajudá-lo na difícil tarefa de "renovar e reformar a política existente" : "Vamos obter recursos financeiros através do combate ao desperdício, da melhor distribuição do dinheiro público, do fazer escolhas corretas ...Não vamos manter escolhas erradas. Vamos fazer bom uso dos recursos existentes no país, e , também, explorar novas fontes naturais de energia..."

O candidato acima, novamente, soube dar seu recado, sem entrar na provocação do interlocutor. Isso é se bancar em seu centro de autorreferência! Agora acompanho esse candidato até vésperas da eleição, confrontando a coerência de seus discursos, e a consistência ética de sua postura. E me permito ser livre para mudar meu voto útil e consciente, se não constatar mais essa atitude política.

Não vivo no "mundo maravilhoso da Ilha da Fantasia". Nem participo do bloco "Me engana que eu gosto". Muito menos inutilizo meu voto, renegando minha identidade de cidadã brasileira. Aproveito o dito popular: Não "chuto o pau da barraca" com facilidade, não! Tenho que ter muita informação desabonadora quanto à competência pessoal do candidato, e muita afronta a meus valores éticos, para desistir de escolhas, que considero pertinentes com meus ideais de vida e dos governantes que anseio.

Sei o que quero. Tenho claro o perfil de governante que desejo para meu país, nesse momento difícil que atravessa. Agora é sobrepô-lo ao perfil do candidato, que mais se aproxime.

Valeu a dica para os indecisos?

Aurora Gite

Nenhum comentário: