terça-feira, 19 de abril de 2016

Algumas alterações, como não, em "Educar para conviver com diferenças"!

A difícil arte de "educar para conviver com diferenças"



Há tempos tenho tentado compreender a dinâmica da agressividade que envolve a sociedade contemporânea, cuja violência cada vez mais se reveste de requintes de crueldade que se afastam do processo civilizatório.

Para os que se interessam indico a leitura do livro de Joel Birman "O Sujeito na Contemporaneidade:espaço, dor e desalento na atualidade" - Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012. No YouTube também estão disponíveis palestras de Birman sobre essa temática, é só procurar por "Caos e trauma no mundo contemporâneo" palestra publicada em 2014, e ""O Mal-Estar do Sujeito na Contemporaneidade".

Birman aborda a "viragem no ser da subjetividade": redistribuição de valências no campo dos saberes e subversão no processo de mudar a subjetividade. Antes "sofrimentos centrados no conflito psíquico", gerados pelas pressões dos imperativos das pulsões e interdições morais, repressões eróticas traumatizantes. Hoje vivemos na era das compulsões, dos "padecimentos evidenciados como dor e desalento, inscrevendo-se nos registros psíquicos do corpo, da ação, das intensidades (sentimentos)".

Para esse pensador, médico e psicanalista,  a Psicanálise perdeu parte do poder social (tradição cultural) e a Psiquiatria passou a ocupar outra posição no espaço social, não mais subalterna a ela. "Pensamento e linguagem tendem a desaparecer como eixos ordenadores do mal-estar na atualidade". Nas queixas circulantes no social e predominantes nos consultórios, o "corpo se transforma em caixa de ressonância" (p. 67). Na exigência de maior performance corpórea, aquém do desejado, somos sempre culpados. Vivemos "sempre em dívida conosco mesmo" em busca de um ideal inatingível (p.56).

Sem dúvida, pensar sobre as ideias de Birman e constatar sua veracidade, levam a introspecção profunda e reflexões acuradas sobre o psiquismo nos dias atuais da imprevisibilidade e pressa, da incerteza e insegurança, da mutabilidade de estilos de vida, alternativas para se adequar a um constante renovar e inovar com a finalidade primordial, no entanto, de manter espaço como sujeito no social globalizado padronizado.

Birman faculta novo pensar sobre a agressividade nos dias atuais, e em seus requintes insanos de crueldade, realçando que na contemporaneidade ocorre "passagem ao ato e suspensão ou ausência do pensamento e da linguagem, da fala". Diferencia o "acting-out" psicótico da "passagem ao ato", decorrente da não contenção do excesso de excitabilidade angustiante, onde o conflito está na escolha entre "implosão por angústias internas ou explosão de reações impulsivas", que levam a transtornos somáticos e a várias reações ansiosas compulsivas. Discorre sobre cada uma delas. Vale a leitura sobre a dinâmica compulsiva!

Birman nos leva a pensar, sob a perspectiva de uma nova compreensão, as várias facetas das compulsões (que chamo ações da "desrazão" e não de operações defensivas de um ego frágil). Aborda a multiplicidade da camaleônica face do mal-estar da contemporaneidade, inclusive a angústia do empreendedor eficaz, em seu buscar compulsivo de resultados, não mais tendo por meta primeira uma autorrealização pessoal. "Mostra como hoje vivemos uma era da pressa, do intempestivo, da surpresa permanente, abolindo as fronteiras entre o interior e o exterior. As figuras do caos e do trauma representam o sujeito contemporâneo, na medida em que este tem sua existência pautada no desalento."

Suas inquietações me levaram a pensar na difícil arte de "educar para conviver com diferenças" e no acúmulo de dúvidas dos pais e professores para ensinar a entrada no mundo digital das redes sociais, onde para eles deve existir um equilíbrio entre o virtual e o real. O contato físico deve fazer parte do crescimento. O sujeito em formação não deve ficar apenas escondido e tentando preencher um perfil virtual desejado, nem sempre adequado à uma realidade prática. O questionamento recai sobre a dificuldade de saber encontrar este equilíbrio. Erroneamente, por amor e buscando preservar sua prole, muitos pais evitam inserir os filhos nas redes sociais... mas podem deixá-los em frente de uma telinha (games, vídeos infantis selecionados...) por horas a fio. Oferecem a seus filhos um mundo fictício, tentando preservá-los da corrosão e violência social. Será isto possível? E eis que a geração "y" já cede lugar à geração "z"... e muitos nem se inteiraram de suas características.

Algum dia os filhos e alunos vão crescer e se inserir dentro da geração deles, com mais dificuldades, mas vão! As redes sociais vieram para ficar. O autodidatismo, visão empreendedora do milênio que demanda inovação e criatividade constante não nos deixam mentir. O que foi descoberto, já está obsoleto!

O papel dos pais e professores é ensinar aos filhos e alunos a fazerem bom uso dos instrumentos de interatividade digital, separar e bancar o que é bom para si dentre tantas alternativas de escolhas que fazem parte do dinamismo renovador incessante do milênio. Como formadores de personalidades e de caráter íntegro, se capacitarem para mostrar como as redes sociais podem se tornar em ferramentas de inclusão do sujeito no mercado de produção inovadora, em qualquer faixa etária. Por exemplo, sites podem ser montados voltados a pesquisas sobre matérias escolares. Redes sociais não servem para estimular reações invasivas e agressivas, e não devem servir, apenas para piadas e baixarias, ou para entretenimento com games. O importante é ter disciplina e determinação?  Então que se ensine a essas gerações a gerenciar e administrar o tempo gasto na frente das telinhas, e conservarem a atenção e o foco sem dispersarem,como alienadas, da realidade que os cerca.

O século 21 tem essa forma de comunicação e não é justo para "proteção" e "por amor", manterem as crianças numa redoma. Geração "y", agora geração "z", amanhã geração "...", vão sempre, sucessivamente, seguir outras culturas. Logo essas crianças vão estar confrontando valores sociais e culturais que os pais querem impor. Agora é questão de tempo! Caiu por terra o referencial vindo de tradições estáticas com sua segura sinalização atemporal.

Contato físico afetuoso e aconchegante auxilia aos filhos a conter suas angústias inatas, aquelas que fazem parte de sua constituição e que são acrescidas pelas que os pais lhes passam, querendo "domá-los" para que se enquadrem ao "status quo social" e se tornem adequados a viver em sociedade. Buscam "subjugá-los" para reforçar sua força paterna e poder pessoal; ou "humilhá-los" sadicamente com deboches, zombarias, desqualificações de suas subjetividades e formas de agir peculiares que fujam ao esperado comportamento familiar padrão, comum a todos.

O importante é que os pais e professores aceitem as diferenças e aprendam a conviver com a riqueza do convívio com as diferenças. Não queiram engaiolar filhos e alunos em padrões obsoletos para o momento atual, e currículos engessados ao passado, distantes de serem aplicados na prática de vida.

Educar para conviver com diferenças pressupõe auxiliar as crianças para que suportem suas frustrações e convivam com suas ansiedades; conheçam seus pontos fracos e fortes e se apoiem nesses para se equilibrar internamente; se coloquem no mundo inovando, criando conforme suas potencialidades, tendo como referencial prazeroso a própria satisfação, advindo do fato de se sentirem auto realizados no que fazem, e não de estarem na frente da corrida competitiva com os outros.

Não se pode mais educar para manter o "status quo vigente", não se pode mais incentivar a competir por poder, a estimular a arrogância e a prepotência que embasam o "se impor humilhando" e submetendo o outro. Concorrentes não são mais adversários. Isso não cabe mais na construção de uma sociedade humanista, fraterna e solidária, inclusiva, que prima por igualdade de direitos e deveres.

Cai por terra no milênio atitudes que se valem, para ensinar, da imposição de precoces responsabilidades que a cognição infantil não tem condições de assimilar a contento; obrigações irracionais manifestadas no "faça porque eu estou mandando", "sei o que é melhor para você", "não pense eu penso por você", "existe um currículo e temos que seguir com essas matérias independente de sua curiosidade abarcar e demandar por novos conhecimentos", "não questione apenas cumpra as tarefas e aprenda o que lhe for mandado, ou será reprovado"... e as séries de mensagens subliminares com o mesmo intuito, opressivo e repressor.

O importante é ensinar as crianças a serem livres e felizes, aceitando serem diferentes e únicas, sabendo pensar por si, discriminar o que bom para si, que nem sempre é o bom que os pais e professores, em seus limites e suas grades curriculares, idealizaram e padronizaram para eles. Não é fácil se educar para bem conviver com o reconhecimento da própria unicidade e se valorizar e respeitar ao lutar por preservar essa integridade interna.

Quando obrigados a reprimir seu potencial e não lhes é ensinado a alinhar o que lhes é inato e único (sua essência) com seu estilo de viver (seu existir), as crianças tornam-se ansiosas e abafam suas curiosidades espontâneas e singulares; mais ainda, padecem de enfado e desinteresse, se caírem em eternas cobranças compulsivas e culpas perfeccionistas buscando se encaixar no lugar que os outros esperam dele, para que não sejam rejeitados se revelarem seu verdadeiro "eu".

Esse é o caminho direto para desenvolverem, muitos pela vida afora, baixa autoestimas e, no extremo oposto tiques nervosos, que indicam não sabendo gerenciar seus impulsos adequadamente. Muitos vão expressar suas dificuldades nas relações afetivas através de rebeldia, não aceitação de ordens de autoridades, baixo desempenho escolar, desatenções e desmotivações, bem aquém de disfunções orgânicas.

Não é fácil se construir uma autoestima favorável, para se tornar um adulto íntegro, com um autorreferencial fortalecido, necessário para bancar sua unicidade e dignidade ética, reflexões além das regras morais, e bem conviver com diferenças nas interações sociais, se os pais e profissionais não direcionarem as crianças para que sejam independentes, pensem por si, descubram alternativas que solucionem problemas, desenvolvam bom senso e autocrítica.

A geração atual vai se pautar por inclusão social, solidariedade, humanismo e por aí vai...  A meu ver, humanismo é um termo mau empregado. Penso que envolve ações empáticas em favor do outro e por amor a um coletivo, que abrange igualmente todos os indivíduos, sem critérios hierárquicos e favoritismos outros, que o fato de existirem nesse momento histórico como ser humano singular, diferenciado, que têm o direito de construir sua própria história, por respeito a si mesmo como cidadão, que quer ocupar seu lugar dentro do coletivo.

Nesse sentido, se afastar das redes sociais é se excluir das novas formas de comunicação digital do milênio, é optar por não pertencer ao grupo humano, robotizado, mas se incluir como sujeito livre e singular no coletivo, e se erguer triunfante em sua dignidade conquistada, e orgulhoso de produzir, empreender, criar e inovar, abrindo espaço próprio em terreno social tão árduo.

Essa é a minha luta... esse é o meu sonho!

Lúcia Thompson


domingo, 10 de abril de 2016

Recado de uma avó ante turbulências!

Nossa, que turbulência ao redor de vocês!

O que posso dizer a você, minha neta, a não ser, foco no "presente", que é o "seu presente da vida", embrulhadinho "só para você"... veja como vivê-lo melhor, lhe dê o colorido que lhe traga mais satisfação ... o "bem-estar é seu, vem da qualidade que imprimir ao seu estilo de viver. Você é que escolhe e decide isso!

A vida é "sua", para "você cuidar", e não esperar que ninguém cuide dela para você!

Na casa de sua mãe está de passagem, ocupando um lugar dentro da família dela. Algum dia vai comandar a sua casa e a sua família: marido e filhos. Com seus quase 21 anos, "eta nóis, tamo quase lá!"

Nada como um dia depois do outro. O tempo é nosso maior aliado, desde que aguentemos o sofrimento de "acolher mentalmente" o que nos aborrece e nos frustra.

Lição que todos vão aprender: "ter o tempo como aliado e confiar que as coisas vão se resolver no encaixe certo, que a vida determinar para nós. Cada um tem o seu aprendizado para evoluir como pessoa, que vem no tempo certo para a vida, que nem sempre é o que queremos.

Vai ter que descobrir qual é o seu aprendizado e ter paciência e tolerância para suportar as vivências de circunstâncias desfavoráveis, como as que a cercam agora.

Muitos aprendem dentro de um caminhar só, por anos, a propiciar o encontro consigo mesmo; a ir se autoconhecendo aos poucos; a enfrentar as próprias forças antagônicas internas; a separar "o joio do trigo" - traduzo melhor: o que verdadeiramente lhes serve, do superficial, que lhes é inútil manter pró-ativo em seu viver, que pode só intoxicar com mágoas e ressentimentos e causar desgaste em nossa energia vital. Mais ainda, vão aprender a fortalecer o equilíbrio e a conviver com a serenidade do seu lado autêntico, que chamam "alma", e a difícil missão de se harmonizar interiormente ao alinhar essa sua singular essência, e os imperativos éticos que lhe são próprios, com a maneira de sua existência em seu dia a dia, que traz consigo regulamentos e padrões morais sobre um bem viver em comunidade. "Não são os papéis sociais que determinam os nossos afetos amorosos!"

O perigo, no entanto, está em tentar manipular imaturamente as relações, que significam algo para o mundo afetivo de cada um. Sendo as pessoas de nosso convívio importantes para nós, não merecem isso! Não merecem nosso descuido amoroso, muito menos nossa desconsideração ao atacar a qualidade do vínculo que nos unia!

É preciso estar atenta! Afetos amorosos também "se desgastam com o tempo", ainda mais sofrendo constantes atritos destruidores da modalidade de interação que chamam de "amor". O amor se constrói, se conquista na convivência íntima e na ultrapassagem de supérfluos detalhes, e a força do sentimento preserva o elo afetivo, no cotidiano desgastante que, por vezes, envolve pessoas queridas.

Portanto, atenção meu amor, para não marcar "a ferro e fogo" a interação com quem ama, pois existem marcas profundas, que tornam-se feridas que não se cicatrizam com o passar do tempo, impedindo o retorno aconchegante de antes, principalmente entre familiares diretos. Muitas vezes não há retornos ante escolhas e decisões tomadas em momentos impulsivos, colocando de escanteio nossa "razão"... outra aliada imprescindível para a vida toda, que vai nos servir de lanterna para tomarmos o caminho, sob nosso prisma racional, correto. Essa certeza, advinda do apoio da razão, é que vai propiciar o alívio interno, ante erros nas escolhas e fracassos nas decisões; vai facultar um levantar interno com mais rapidez e o enfrentar as mudanças em nosso agir com mais coragem.

Mas essa já é uma outra história, que fica para uma outra vez!

Ainda vai ter que se equilibrar para o firme atravessar de cabeça erguida, com dignidade e integridade ética, a ponte que vai levá-la a ocupar seu espaço no mundo, a "tornar-se você dentro de seu existir". Isso vai ocorrer espontaneamente depois que aprender a "respeitar e se orgulhar de quem você realmente é" - que só você vai conhecer e ninguém mais!

Sei que você é capaz, e que está pronta para isso!
Permaneço na torcida.
Sua avó ... sua "única" avó ...  

Lúcia Thompson