terça-feira, 29 de julho de 2014

O perigo da Internet Interativa

Uma nova ciência que cada vez chama mais a minha atenção é a que se convencionou chamar "Ciência da Informação".

Sobre ela e a "Fenomenologia da Interação" indico o vídeo do Engenheiro Augusto Franco no Canal Youtube:
www.youtube.com/watch?v=rQX3i6SWxe4&feature=youtu.be

Franco começa a nos conscientizar que "redes sociais não são as plataformas Face, Twitter ou Google", mas são "pessoas interagindo", o que existe há muito tempo. Agora caíram os intermediários e não nos demos conta. O que se alterou, foi a nossa percepção sobre as transformações que estavam ocorrendo no social. O que nos amedronta é estarmos "mais vulneráveis à interação fortuita com o outro", à invasão direta pelo acesso de estranhos à nossa privacidade, fato que nós não planejamos.

Considerando a atual "rede de informação distribuída", não há mais como negar que a maior força social está nas "configurações entre as pessoas que interagem nas redes". Afetos por amigos, conhecidos de longo tempo, se estendem aos amigos desses amigos, que passam a ser tratados como amigos também por nós-  como internautas - mesmo sem conhecê-los. Facilmente caímos no risco de estender a privacidade de nossas vidas também a eles, facultando a divulgação de detalhes de nossa intimidade sem que saibamos, ou que tenham passado pelo crivo de nossa permissão explícita.

Para Augusto Franco, a tecnologia potencializou o que já existia e vinha assumindo proporções avassaladoras. Agora, o que existe, com a Internet Interativa, são os "meios de interação em tempo real à distância". Não temos mais o jogo interativo de pingue-pongue do diálogo, que podia até se tornar, em alguns aspectos previsíveis, entre duas pessoas. No mundo participativo, modalidade de convivio social anterior, existiam regras predefinidas a serem seguidas pelos partícipes. Estamos perdendo até a responsabilidade sobre o conectar e deletar. O aumento do "salvar como", "encaminhamento" e futuro "download", não nos deixam mentir. A presença ausente do outro se torna visível e audível em instantes, e em recortes, falsamente eternizados em sequências repetitivas, se assim o quisermos, ou apelarmos de forma doentia.

A grande mudança ocorrida, a ser enfatizada por Franco, é que "na interação tudo é construído conforme a dinâmica vai se desenvolvendo... tudo acontece determinado pelo fluxo interativo da convivência social". Esse caminho vai desviar, segundo acredito, o mundo das interações pessoais, para uma "rede de reações", difícil de ser contida, ante o aumento da incerteza e imprevisibilidade nublando mais ainda a construção de projetos futuros. Fator preocupante é a "consequente rede de impactos" até sobre a viabilidade de planejamentos e estratégias de ação, que possibilitem a sensação aconchegante de zonas de conforto internas. Corremos o perigo de não mais contar com os referenciais históricos do passado ou expectativas esperançosas do futuro. Tudo se plasma no aqui e agora da realidade presente, mesmo que seja holográfica. O que se concretiza é o trilhar circense por uma corda bamba e a necessidade de se equilibrar internamente entre a incerteza que nos cerca há algum tempo e a certeza da dificuldade de sua reversibilidade.

Sendo assim, na interatividade e conectividade atual, não escondem mais que "a periferia, ou minoridade, do sistema é capaz de modificar esse sistema", e respeitando o princípio de que "tudo que interage se aproxima, tende a ser aglomerado"... o social não corresponde mais a pessoas isoladas, mas a "configurações, módulos e conexões entre eles", que passam a ganhar vida própria.

A meu ver o maior perigo dos seres humanos, nesse milênio - que considero de transição para a consolidação pacífica de uma nova sociedade - reside na força do que chamo de  "novo poder" -um Gigante Robô Eletrônico Internetizado, senhor absoluto, sem forma ou rosto delineados, que se encontra agora devastador em toda parte, e que pode disseminar o ópio de ideias de acomodação passiva a crenças e ilusões, além de implantar afetos forjados e necessidades fictícias, nos incautos e ingênuos que desativam sua razão - seja por instantes de não reflexão. Instantes passam a ser tempo bastante, que vai lhes custar a cegueira sobre o que lhes ocorre, ou a dor da impotência por não vislumbrarem meios, forças e coragem para reagir contra esses "chips mentais" agora instalados, com maestria, dentro do mundo interior de muitos.

Vale conferir a análise feita por Franco dos recentes movimentos sociais de enorme aglomerado de pessoas que eclodiram pelas ruas do país, sem um líder direto que as convocassem ou objetivo específico que as mobilizassem.

Um leque de variáveis conduzia essa multidão, que foi surgindo em diversos pontos do país. Uma bola de neve de pessoas, que ia aumentando, aumentando assustadoramente, de forma imprevisível e incontrolável. O elo que as unia não mais caracterizava um padrão de descentralização de informação - que ainda obedece a hierarquias, podendo ter seu rumo redirecionado, sendo refletida sua validade e ponderada possível viabilidade de negociações. Vigorava, agora, uma organização abstrata acéfala de dinâmicas, que se auto-alimentam através das forças de amplas "distribuição de informações", que, em tempo recorde, podem causar o caos social que se observou.

Nesses movimentos sociais acéfalos, até a mídia deixa de ser o "quarto poder". O poder e a violência podem adquirir conotações altamente expressivas, e ninguém pode com justeza ser responsável direto para ser incriminado criminalmente pela comunicação disseminada e convocação das pessoas. Franco aborda algumas características desse mundo de alta rotatividade e potencial interatividade, à disposição em seu vídeo para quem quiser melhor se inteirar, como o fato de que "indivíduos juntos começam a clonar, imitar uns aos outros" e "o ambiente passa a determinar os comportamentos".

Como exercer constante vigilância sobre nós mesmos, a não ser por constantes reciclagens em nossos processos de autoconhecimento, e contínuas atualizações descartando o que nos é obsoleto e disfuncional?

Como nos vacinar nesse mundo onde passou a predominar um pensar coletivo, não mais subjetivo respeitando o individual?

Como escapar ileso da cegueira do cenário, pincelado abaixo, onde às perspectivas analíticas de Franco agreguei algumas considerações pessoais, que me angustiam nesse momento:

* A sociedade é o "palco onde as coisas ocorrem".
* A "dinâmica da sociedade mudou".
* Com ela "muda todo o corpo social".
* A inclusão do indivíduo, nessa sociedade, está atrelada ao possuir um "passaporte online" e ao passar a "pertencer a um sistema de redes" que pensa de modo coletivo.
* Implícito no pensar coletivo dentro do sistema de "conectividade em tempo real" está o poderoso "campo online de forças" que lhe é próprio, que se retroalimenta do próprio "output" - ou resultados obtidos - e assim vai se sustentando como eterno processo existencial vivo.

Como não se perder nesse emaranhado de interações em rede?

Como escapar da "teia das redes" com a honradez e dignidade de uma integridade individual, que prima pela liberdade pessoal, pela serenidade de um convívio pessoal pacífico, pela valorização da riqueza de uma vida afetiva olho no olho, fortificada pelo toque amoroso direto, pelo sintonia dos tons de vozes, pelos significados das palavras e sentidos das ações em simultânea harmonia pela afinidade sinfônica?

Podemos pensar juntos?

Aurora Gite


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