sexta-feira, 22 de março de 2013

Atenção, existem dinâmicas e "dinâmicas"!

A dinâmica de grupo é um recurso muito usado pelos profissionais de RH. O bom proveito dessa técnica de mobilização de pessoas dentro de um grupo reside no se poder observar suas ações e reações, e vários outros aspectos. Erro de quem menospreza sua importância ou a utiliza visando um campo menor de observação. Pode ser um aliado poderoso desde que envolva uma racionalização ponderada e um planejamento consciente em sua  escolha e sua aplicação. É indispensável o traçado do design do cargo e levantamento do perfil de um candidato que mais se adeque a ele, ou que possa vir a se constituir em um candidato potencial, portanto, que apresente aspectos pessoais passíveis de serem aperfeiçoados, por programas específicos de treinamentos, para que seja possível se obter um enquadre mais funcional.

É o bom conhecimento prévio de informações sobre a demanda da empresa, até de sua missão social e diretrizes políticas, e a análise responsável sobre detalhes dos currículos dos candidatos e levantamento das funções específicas que a descrição do cargo propicia, que vão possibilitar ao profissional de RH, "saber o que ver dentro da fantasia criada pela dinâmica" e "avaliar a sobreposição funcional dentro daquilo que organização e candidatos almejam preencher".

Por exemplo, na escolha da história abaixo, se pode ter por foco observar a habilidade de convencimento ou poder de sugestão dos candidatos, uma das capacidades indispensáveis a um bom líder, ou a alguém que vá exercer um cargo de comando ou chefia. Posturas espontâneas podem ser detectadas durante qualquer dinâmica. À medida em que vão se desenvolvendo as interações entre os elementos do grupo, várias atitudes podem revelar muitas respostas positivas, mas um cabedal de reações imaturas, dificuldade de conter e canalizar emoções como raiva ao passar por contrariedades, atitudes competitivas mais destrutivas do que construtivas, ironias sobre argumentos expostos por outros participantes e desqualificações invejosas. Podem ser observadas, ainda, ações mais voltadas a se fechar, se isolar e excluir, em vez de buscar inclusão e integração, abertura de espaço no grupo, com  uso de recursos como bom humor e consistência nos argumentos.

Considero importante analisar a escolha da dinâmica de forma condizente com o momento atual de reestruturação de uma sociedade, para se adaptar às transformações exigidas pelas três grandes revoluções do milênio que abrangeram a biotecnologia (projeto genoma humano e ciência da clonagem), a inteligência (máquinas inteligentes,computadores, inteligência artificial substituindo a inteligência humana em muitas áreas funcionais) e a quântica (alterando a visão de homem e de mundo com a constatação dos efeitos da energia subatômica).

A busca deve se concentrar em perfis empreendedores com diferenciais para acompanhar a velocidade das mudanças e da urgência, muitas vezes, de tomadas de decisões firmes e imediatas, responsabilidades a serem assumidas e mantidas, independente dos resultados. Não se pode desconsiderar a imprevisibilidade de era de incertezas, que marca o início do século 21.

Destaco sempre, para uma gestão participativa, transparente e pró-ativa, a flexibilidade e segurança pessoal, para alteração de metas e estratégias necessárias visando manter ampliado "continuamente" o espaço da empresa no mercado e, mais ainda, como referência em sua especificidade. Todo diferencial, deve ser renovado constantemente e nunca ganhar o "status de obsoleto". Possuir um diferencial indica que deve servir de parâmetro a outras organizações, que ofereçam o mesmo tipo de serviço, ou que a tenham como modelo de gestão adequada de problemas.

Projetos aprovados e em fase de implantação já são indicadores, a meu ver, para que novas equipes se voltem para pesquisas e elaboração de novos projetos, visando sempre diferenciais e excelência de qualidades.Otimização do tempo, por que não? Quem se envolve com esse processo sequencial percebe como esse comprometimento responsável se torna fascinante!

Inúmeras questões surgem para reflexões como: "Será que um candidato com perfil conservador, relutante a correr riscos, com medo de se expor, não se sentindo capaz de se aventurar a facultar projetos inovadores, centralizador dos merecimentos de uma equipe dentro de uma postura autoritária e hierárquica, sem disponibilidades a mudanças... tem espaço garantido em um processo seletivo atual, independente de apresentar habilidades intelectuais para desempenhar a função?"

Observo muito, dentro das dinâmicas, como o candidato articula seus pensamentos e usa sua razão, buscando soluções mais inovadoras e criativas, e como controla e administra suas emoções dentro das pressões impostas pela interação grupal e pela situação ansiógena mobilizada pelo própria exposição no processo seletivo, que também pode ativar outros desconfortos, se houver histórico pessoal de baixa autoestima e rejeições a figuras de autoridade ou outras, que travem o candidato em situação de concorrência mais acirrada.

Muitas mudanças de foco de observação podem surgir de forma imprevista durante as dinâmicas de grupo. Como em situação clínica, o grupo também pode tornar-se o sujeito a ser observado em seu dinamismo próprio ao acolher os comportamentos padronizados e ao mesmo tempo singulares de seus elementos.

Uma dinâmica grupal, ganha vida por si, pois o conteúdo da história equivale a um simples gatilho para movimentar energias psíquicas dos mundos lógico e emocional dos candidatos. Esse dinamismo, induzido durante o processo seletivo, pode facultar observar vários aspectos pessoais importantes como:
* a utilização de argumentos preconceituosos voltados ao certo e errado,
* a monopolização do grupo e imposição de opinião,
* a dificuldade de aceitar limites só buscando expor as próprias ideias sem se permitir ouvir os demais elementos do grupo,
* as interrupções, invasivas e abruptas, nas colocações de outros, tentando abrir espaço, para ter seus desejos atendidos de imediato
* as dificuldades para usar a razão e buscar trocas empáticas, visando soluções efetivas sob pressão em curto espaço de tempo,
* a inabilidade para conter ansiedades, separando a situação fictícia de uma realidade emergente,  rebatendo pacificamente os argumentos,
* o uso de posturas defensivas (mais primitivas/imaturas), demonstrando canalizações inadequadas da raiva ante contrariedade,
* a expressão incontrolável e espontânea de reações agressivas, impulsivas e impensadas,
* a manifestação de atitudes outras que dificultem a preservação da unidade das equipes e a convivência harmônica grupal em situação efetiva que envolve as difíceis relações de trabalho.

Por conta de vocês, fica o aumento desses ítens a serem observados em dinâmicas. Meu intuito foi colocar como operacionalizar seu próprio patrimônio psíquico para atuar de forma efetiva, eficaz e eficiente como profissional de RH  utilizando dinâmicas dentro de um processo de seleção de candidatos.

Abaixo os dados principais para a montagem da história, a serem passados ao grupo de candidatos. A forma de contá-la não padronizo, realço a preservação do "know-how" do profissional de RH, único em seu desempenho, por mais que o desenrolar de dinâmicas possam ser padronizadas.

*Por catástrofe natural, uma ilha está prestes a explodir. Finalizados os resgates de pessoas, sobraram  10 retardatários, que se aglomeram ao redor do único barco que restou. Ao grupo cabe a seleção de quais deverão entrar no barco para serem salvos, sabendo que :
a)- em 3 minutos ocorrerá a explosão
b)- que esse é o único transporte para que, por ventura, possam recomeçar vida em outro local
c)- no barco só cabem 5 pessoas
d)- que, "obrigatoriamente", terá que se incluir entre as 5

Relação dos que buscam salvação:
1)- um cientista, de 45 anos, que só entrará no barco se a sua esposa, que passou por três internações no hospício, for junto
2)- um padre de 72 anos
3)- uma menina de 4 anos, portadora de Síndrome de Dow
4)- uma mulher de 52 anos
5)- um homossexual de 24 anos
6)- um adolescente de 16 anos, criado nas ruas e viciado, que alicia os outros pela força
7)- um menino de 6 anos, surdo de nascença
8)- uma prostituta de 28 anos
9)- um cientista de 60 anos, que diz não ter provas de que Deus existe
10)- uma jovem de 26 anos, que só se veste de preto e fez votos de castidade.

É impressionante a mobilização do uso da razão, "ou não", e a busca de gerenciar, "ou não", as reações emocionais emergentes na fictícia situação grupal induzida.

Só como adendo, outra dinâmica para pequenos grupos e de simples aplicação, que oferece muitos dados sobre a integração de um candidato em uma equipe, se o profissional souber dirigir as repercussões das reflexões finais para trabalhar o espírito de equipe:
* Participante se posicionam em círculo fechado
* A cada participante é dado uma folha em branco e uma lápis preto
* Em local central de fácil acesso, inclusive possibilitando rotatividade do material, vários lápis de cor à disposição dos candidatos
* A orientação é que os candidatos iniciem um pequeno desenho, ou mesmo um traço, e passem a folha ao quem estiver a sua direita, que seguirá a mesma orientação ... e assim, sucessivamente, até que a folha volte às mãos do candidato de origem.

Essa dinâmica envolve um segundo momento de indagações como:
* Quem gostou do desenho que fez?
* Quem se reconhece no desenho final (da equipe)?
* Quantos desenhos ficaram com partes isoladas sem visão de conjunto?
* Em quantos desenhos pode-se observar a construção de um todo integrado, um traço agregando algo ao traço do outro?

Podem ser observadas também outras atitudes pessoais, se estiverem dentro do interesse do profissional de RH como: a qualidade da postura competitiva expressa na facilitação da rotatividade dos lápis de cor, no desapego em soltar a cor possibilitando que outro candidato a use, na presteza em fazer o pequeno traço ou desenho que lhe cabe, na expressão de estranheza ou curiosidade se descobrir dentro do desenho finalizado, da ocupação da folha pelo grupo, da posição na folha do desenho inicial (centro, quadratura acima ou inferior, à direita ou à esquerda...) , uso de cores predominantes... e por se vai, sem inferências baseadas em "achômetros", mas sempre buscando questionar, com sutileza, em meio às reflexões finais do grupo, possíveis dúvidas representativas para o cargo em questão.

A partir do momento que "se sabe o que se quer ver" a partir de uma dinâmica, é "criar" situações, cuja temática podem eclodir até das interações cotidianas. No entanto, é preciso se ter sempre em mente que o processo seletivo envolve um ser humano, na singularidade de sua subjetividade, que quanto mais amadurecido emocionalmente estiver no encontro consigo mesmo, se aceitando e tendo "aprendido a se curtir em sua evolução como pessoa", mais tende a tornar expressivo seu "ser livre e feliz" em sua integração positiva e equilibrada com o social do qual faz parte.

Aurora Gite

Nenhum comentário: