sábado, 2 de outubro de 2010

Supervisão em Psicologia em Hospital Geral (1ªparte)

Espero que esse material lhe sirva. Foi parte de um projeto elaborado visando a construção de modelo de supervisão e de processos avaliativos em Psicologia, em um Hospital Geral.

Refletindo sobre a função da supervisão psicológica hospitalar, podemos observar sua dupla tarefa, formativa e informativa.

Propiciar ao supervisionando uma aplicação prática de teorias, que se supõe assimiladas em sua formação acadêmica; abrir espaço física para tal aprendizagem prática, unida à própria integração dentro de equipes multidisciplinares. orientar leituras pertinentes à atuações específicas, possibilitando essa correlação e interação da teoria com a prática. supervisionar as atuações do estagiário, são ações pertinentes ao ato de supervisionar.

Contribuir para que o supervisionando capacite sua observação. desenvolva um tipo de atenção específica. uma escuta adequada ao paciente e à própria equipe. maior agilidade na percepção dos aspectos transferenciais e contra-transferenciais, ou dos aspectos indiscriminados em sua vida de relação profissional; um melhor lidar com as inseguranças e as ansiedades, oriundas, inclusive, do próprio fato de atuar no ambiente hospitalar, onde a doença, a dor, o sofrimento, as deformações e a morte são constantes, também fazem parte desse quadro.

Indepente da linha teórica mais familiar a ambos, supervisor e supervisionado, possível união em torno desse conceito (supervisão) inclue, portanto, aspectos clínicos, voltados sempre ao autoconhecimento e crescimento interno, que envolvem o amadurecimento profissional do aprimorando para conter as enormes angústia e as reações emocionais, que podem eclodir, nesse contexto. Uma coisa é "saber-se" um psicólogo, outra coisa é "tornar-se" um psicólogo hospitalar, finalidade dessa formação educativa e clínica, durante o período de estagiário nesse tipo de instituição.

Um dos maiores obstáculos constatados concentra-se na má formação acadêmica atual dos profissionais particularmente nessa áreal. Tal fato interfere, inclusive, na expectatica e idealização do papel e dos limites de um supervisor. Muitas vezes, esse é colocado, erroneamente, no lugar daquele que detém um saber absoluto, o certo e o errado, devendo manter as rédeas diretivas. Ou então, podemos observar um "outro profissional, embora estagiário", dentro de uma passividade, se impedindo de atuar, de se instrumentalizar e aprimorar seu próprio potencial, na espera de modelos de atuação estáticos, que possam ser copiados.

Parece-nos que um dos trabalhos primordiais que atualmente, nós, supervisores, temos que desempenhar é ensinar ao estagiário como "aprender a aprender", como realmente "incorporar conhecimentos teóricos" e "adaptá-los em sua prática clínica", valorizando-se como profissional que também já é. talvez indo, inclusive, mais além, dentro de um método socrático, "ensiná-lo a pensar".

Ferramentas mudam, conforme o avanço tecnológico, porém necessitam e podem ser bem utilizadas, quaisquer que sejam, por aquele profissional que tiver, além de formação básica consolidada, autoconfiança, senso crítico e discernimento suficientes. Nesse sentido, a postura do supervisor seria fundamental, para que tal ocorresse.

Outro ponto nodal se situa, justamente, em algumas posturas que, de certa forma cerceiam o próprio desenvolvimento do aprimorando, que será livre "desde que" siga às orientações pertinentes à linha teórica do supervisor; ou desenvolva sua identidade, como psicólogo hospitalar, "desde que" se amolde a padrões de atuação rotineiros já estabelecidos. Esbarramos aqui numa grande questão ética, que vai mais além do englobar, em sua conceituação, a responsabilidade de cada profissional por seus atos. Permeia a própria formação do ser humano livre e autônomo, com um sistema de valores próprios e sociais a serem respeitados, só assim lhe possibilitando ser responsável por si, por suas escolhas e atuações supervisionadas, por suas posturas perante seus pacientes, a instituição e demais membros de uma equipe. "Ética" subentende, assim, julgamento valorativo, que permite discriminar e hierarquizar ações intencionais, envolvendo a capacidade crítica e o bom senso, para que tal ocorra.

Refletindo sobre os diversos aspectos, que envolvem uma supervisão, poderíamos até abordar a existência de uma "ética supervisiva", obtendo novo ponto de união independente de divergências teóricas. Ao tentarmos situar o profissional "psicólogo" e delinearmos o perfil de um "psicólogo hospitalar", observamos grande barreira advinda da própria relação Psicologia-Psicanálise e dos profissionais envolvidos por ela. É inegável o papel da Psicanálise, mãe e matriz das demais teorias surgidas. Quer por afinidades, quer por oposição, profissionais da área de Saúde Mental nela se alicerçam. Haja visto seu caráter abrangente, não só a psicólogos, mas a diversos profissionais de outros cursos superiores, desde que tenham passado por uma formação psicanalítica específica, com a inclusão da própria análise pessoal e supervisão clínica. Muitos "psicólogos psicanaliticos" preferem omitir sua primeira formação.

Não podemos desconsiderar a amplitude do campo de atuação do "profissional psicólogo", que se especializou na técnica psicanalítica, com sua escuta apurada, sua atenção flutuante, o aprimoramento de sua capacidade de análise e síntese dos processos psíquicos, ansiedades e defesas, dos aspectos transferenciais e resistenciais, sua criatividade elaborativa, sua adequação interpretativa ao momento ideal; bem como a extensão nosográfica das classificações e sub- classificações freudianas sobre a doença mental. Porém, também não podemos deixar de realçar a importância de outras teorias e técnicas, e a necessidade de conhecê-las, e porque não, dentro de nossa "identidade hospitalar" reconhecer as limitações da técnica psicanalítica e sua não abrangência a algumas patologias mentais. E, sendo assim, ante a emergência da demanda observada, utilizar instrumentações mais adequados ao "paciente", ao "existir de um doente". ao próprio "existir no meio hospitalar"

Paro por aqui. No próximo coloco novas propostas para comunicação em reuniões de equipes interdisciplinares, e para um modelo de supervisão psicológica hospitalar de caráter sempre dinâmico.

Aurora Gite

Nenhum comentário: