quinta-feira, 11 de junho de 2009

Biografias e mais biografias

Não conhecia a Editora Martin Claret e ao saber de sua missão tive vontade dela me aproximar : "Nossa missão é oferecer aos leitores brasileiros uma alternativa de leitura - altamente qualificada e de fácil acesso." Ao fazê-lo descobri a coleção "A obra-prima de cada autor" e me atraiu a sua descrição, humilde ao revelar um grande ideal: "Em formato de bolso, com periodicidade semanal, com alta qualidade gráfica, e a preços acessíveis, esta série de livros vem preencher uma lacuna editorial..." Continua o editor " Pelas nossas pesquisas de campo constatamos que, apesar de crises e turbulências econômicas, o brasileiro atualmente está lendo mais." Termina com o que computo como slogan: "Revolucione-se culturalmente: leia mais para ser mais." Aí me cativou por completo.

Eis-me, como faço habitualmente, consultando os balcões de grandes livrarias, no caso a "Cultura" e me deparo com um livro da Coleção acima citada, "composto e impresso na primavera de 2007" . Gosto de saber quando os livros foram escritos. Vejo na capa uma imagem conhecida e em sua testa impressa a fórmula "E=mc2". Traduzo para alguns: "A energia é igual à massa multiplicada pelo quadrado da velocidade da luz." E agora, já sabem a quem me refiro?

No Prefácio do Editor consta: "Este é um dos livros mais lidos do filósofo e educador Huberto Rohden...A abordagem do livro é filosófica e não apenas científica. Rodhen se preocupou mais em apresentar uma biografia de idéias e em analisar os processos criativos do grande gênio do século XX... principalmente mostrando o paralelismo que existe entre a "visão de mundo" einsteniana e a "Filosofia Univérsica", cujos fundamentos foram construídos quando Rohden estava em Princeton, com Einstein." Vale a pena investigar as outras obras desse autor.

"Einstein: o Enigma do Universo" (1975) me trouxe muito mais do que esperava. Lá me vi caminhando com Rodhen através de um bosque, em Princeton, em companhia de um "homem solitário e taciturno, cabeleira desgrenhada, barba por fazer, sapatos sem meias, todo envolto em um vasto manto cinzento, com olhar longínquo de esfinge em pleno deserto, mas cuja mente habitava nas mais remotas plagas do cosmo, ou no centro invisível dos átomos". Segundo Rohden, Einstein, exímio matemático, era um homem místico-cósmico e ético-humano, embora sendo considerado ateu por teológos dogmáticos. Era um homem religioso, sem professar nenhuma religião, sem se prender a nenhum dogma. Sua mente se harmonizou com a "suprema Realidade do Cosmo, com o invisível UNO que permeia todos os VERSOS visíveis do UNIVERSO."

Você se lembra de meu post intitulado "Quer receber um presente meu"? Seu conteúdo é baseado em vivência pessoal e no acompanhamento do trilhar de muitos pacientes. Compare com essas afirmações de Einstein : " O mundo dos fatos não conduz a nenhum caminho para o mundo dos valores, porque os valores vêm de outra região"... "O valor é uma captação cósmica, é a própria Realidade captada ou conscientizada pelo homem. Esta captação cósmica é uma intuição, inspiração, revelação. O homem não fabrica os valores, mas recebe-os por captação intuitiva - suposto, naturalmente que tenha os canais abertos para a invasão dos valores cósmicos"... Processo da verdadeira mística. "Tenho que subir laboriosamente do VERSO ao UNO, até que o UNO venha ao meu encontro. E depois dominar gloriosamente o Verso pelo poder do Uno."

Rohden aborda que "nos últimos decênios a ciência ultrapassou o campo da simples Física e entrou nas regiões da Metafísica". O ego-intelectual só conhece o primeiro ( base inferior da minha ampulheta), mas o eu-cósmico ( base superior da ampulheta) sabe também do segundo.

Einstein em muitos trechos se reporta a experiência do Deus Cósmico. "Não creio em um Deus que se preocupe com as nossas necessidades pessoais... Sinto a presença de um Poder Supremo, considerado a alma do Universo por Spinoza, deixado no anonimato por Buda, chamado de Pai por Jesus, denominado de Tao ou Realidade por Tao-Tsé, e por mim de Lei, de Natureza, Deus é Voz da Natureza." Para ele, é a consciência da paternidade única de Deus que produz a Ética da Fraternidade Universal dos homens, a consciência, o espírito de solidariedade universal. Assim a ciência trata apenas dos fatos ( finitos) e cabe a religião (re-ligar) tratar dos valores (infinitos). "A moralidade é fabricação humana- a Ética é uma invasão cósmica da mística... Somente uma plenitude mística transbordante em ética pode prometer melhores dias à humanidade."

Suas certezas não dependiam de provas, porque eram obtidas via intuição de um Universo que para ela consistia em "um sistema lógico de absoluta precisão". Afirma que a intensa concentração mental, a plenitude do silêncio mental, a diuturna focalização no Uno do Universo, isto é, na Causa ou Fonte, pode revelar todo o mundo do Verso, dos Efeitos ou Canais. Segundo ele, a Intuição Cósmica, o puro raciocínio, vai do Uno ao Verso. É priori-dedutivo e não posteriori-indutivo. É conhecida sua frase: " Eu penso 99 vezes, e nada descubro; deixo de pensar e mergulho no silêncio - e eis que a verdade me é revelada."

Segundo Rodhen, Einstein "recorria frequentemente à música - piano e violino -talvez para lançar uma ponte sobre o abismo entre a concentração mental e a intuição cósmica. Matemática, Metafísica e Mística são, no fundo, a mesma coisa e parece que estes 3 MMM necessitam do quarto M da Música, não da música moderna, dispersiva, mas de certas músicas profundamente concentrativas. Einstein preferia Bach, Mozart, Beethoven. São muito interessantes as considerações do autor sobre a deficiência auditiva e a capacidade de ouvir uma música internamente.

Voltando a Einstein eis o exemplo de alguns questionamentos que o intrigaram inicialmente:
"Como trabalha um poeta?"
"Como lhe vem a idéia de um poema?"
"Como é desenvolvida esta idéia?"
Depois passa a associar com os processos criativos, com os fenômenos que ocorrem dentro
de um cientista:
"A mesma coisa se dá com o cientista. O mecanismo do descobrimento não é lógico e intelectual. É uma Iluminação Súbita, quase um êxtase. Em seguida, é certo, a inteligência analisa e a experimentação confirma a Intuição... Além disso, há uma conexão com a Imaginação... É uma visão de dentro ( essência) e não uma invasão de fora (existência) . É entrada em uma dimensão diferente".

Para reflexão sob essas "novas/velhas" perspectivas, realço os trechos relacionados abaixo:

Max Planck (alemão) , Niels Bohr (dinamarquês) e outros da equipe atômica, equipararam a relatividade do Cosmo à do próprio átomo. Segundo Rodhen, para eles, o átomo não é uma partícula definida, mas é uma função indefinida do Cosmo; não é uma partícula material, mas é um processo funcional do Universo. O determinismo, de acordo com eles, é válido para a matéria, mas não para o não-material.

E mais: "Nenhum átomo, nenhuma célula tem ordem extrínseca de se portar assim ou assim; cada um deles é uma entidade autônoma, uma autarquia ou autocracia, cujo governo reside dentro dessa própria entidade."

"A ciência atômica avançou rumo à matemática, metafísica e mística; ultrapassou o Verso e se aproxima do Uno do Universo."

Rohden, Huberto. "Einstein, O Enigma do Universo". Coleção a Obra-Prima de Cada Autor.
São Paulo - SP . Editora Martin Claret, 2007 .

Vale a pena ser lido!
Aurora Gite

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