terça-feira, 30 de junho de 2009

Caloroso retorno de um pai a uma filha?

Andréa me encaminhou este e-mail que recebeu recentemente:

"Para quem é pai/mãe e para aqueles que o serão..."
Há um período em que os pais vão ficando
órfãos dos seus filhos.
É que as crianças crescem independentes de nós,
como árvores tagarelas e pássaros estabanados.
Crescem sem pedir licença à vida.
Crescem com uma estridência alegre,
e, às vezes, com alardeada arrogância.
Mas não crescem todos os dias de igual maneira.
Crescem de repente.
Um dia sentam-se perto de você no terraço
e dizem uma frase com tal maturidade
que você sente que não pode mais trocar as fraldas
daquela criatura.
Onde é que andou crescendo aquela danadinha
que você não percebeu?
Cadê a pazinha de brincar na areia,
as festinhas de aniversários com palhaços
e o primeiro uniforme do maternal?
A criança está crescendo num ritual
de obediência orgânica e desobediência civil...
E você está agora ali, na porta da discoteca,
esperando que ela não apenas cresça, mas apareça!
Ali estão muitos pais ao volante,
esperando que eles saiam esfuziantes
sobre patins e cabelos longos, soltos.
Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas,
lá estão nossos filhos com o uniforme de sua geração:
incômodas mochilas de moda nos ombros.
Ali estamos, com os cabelos esbranquiçados.
Esses são os filhos que conseguimos gerar e amar,
apesar dos golpes dos ventos, das colheitas,
das notícias e da ditadura das horas.
E eles crescem meio amestrados,
observando e aprendendo nossos acertos e erros.
Principalmente com os erros, que esperamos
que não repitam.
Há um período que os pais vão ficando
um pouco órfãos dos próprios filhos.
Não mais os pegaremos nas portas das discotecas
e das festas. Passou o tempo do ballet, do inglês,
da natação e do judô. Saíram do banco de trás
e passaram para o volante de suas próprias vidas.
Deveríamos ter ido mais à cama deles ao anoitecer
para ouvir sua alma respirando conversas
e confidências entre os lençóis da infância,
e os adolescentes cobertores daquele quarto
cheio de adesivos, pôsteres, agendas coloridas
e discos ensurdecedores.
Não os levamos suficientemente ao Playcenter,
ao Schopping,
não lhes demos suficientes hambúrgueres e cocas,
não lhes compramos todos os sorvetes e roupas
que gostaríamos de ter comprado.
Eles cresceram sem que esgotássemos neles
todo o nosso afeto.
No princípio subiam a serra ou íam à casa de praia
entre embrulhos, bolachas, engarrafamentos, natais,
páscoas, piscina e amiguinhos.
Sim, havia as brigas dentro do carro,
a disputa pela janela, os pedidos de chicletes
e cantorias sem fim.
Depois chegou o tempo em que viajar com os pais
começou a ser um esforço, um sofrimento,
pois era impossível deixar a turma
e os primeiros namorados.
Os pais ficaram exilados dos filhos.
Tinham a solidão que sempre desejaram,
mas, de repente, morriam de saudades
daquelas "pestes".
chega o momento em que só nos resta ficar de longe
torcendo e rezando muito
(nessa hora, se a gente tinha desaprendido,
re-aprende a rezar)
Para que eles acertem nas escolhas em busca
de felicidade.
E que a conquistem do modo mais completo possível.
O jeito é esperar:
qualquer hora podem nos dar netos.
O neto é a hora do carinho ocioso e estocado,
não exercido nos próprios filhos
e que não pode morrer conosco.
Por isso os avós são tão desmesurados
e distribuem tão incontrolável carinho.
Os netos são a última oportunidade de re-editar
o nosso afeto.
Por isso é necessário fazer alguma coisa a mais,
antes que eles cresçam.
Aprendemos a ser filhos
depois que somos pais...
"Só aprendemos a ser pais
depois que somos avós..."
(Texto de Affonso Romano de Sant'Anna)

*O pai de Andrea já era avô de 8 netos. Através dela está vindo o 9º.

Um comentário:

Andréa disse...

gostei muito de ver no seu blog um dos emails mais emocionantes dentre os milhares que ja recebi até hoje, como você mesmo resaltou espero o nono neto de meu pai e minha mãe, e meu terceiro filho, apos doze anos(idade de minha filha mais nova na data prevista para o nescimento), gostaria de poder buscar com essa nova gravidez ja aos quase 40, uma juventude que não volta mais, uma carencia paterna e materna que varias vezes corroe a minha mente e minha alma, é um menino, ficaria muito feliz que minha mãe pudesse sentir um pouco nele o filho que não teve, ja que Deus a agraciou com 4 mulheres. A pesar de ter lutado contra tudo e contra todos
essa gravidez , dedico a minha mãe com certeza, que se ausenta na maior parte do tempo, talvez ainda buscando a sua existencia, que para mim é muito importante, mas sempre que realmente precisei me esticou as duas mãos, para que se uma escapasse, a outra com certeza seria forte o suficiente para me segurar e não me deixar cair nos meus abismos pessoais. É claro que não desmerecendo meu pai, que tbm me ajudou muito, mas amadureci com minha mãe. Por isso agradeço e espero que esse neto nos una e me faça compreender muito mais suas atitudes maternas. isso é que aprenda mais um pouco do que é ser mãe, ja que posso ter falhado muito com as minhas duas primeiras filhas.

obrigada a você aurora por me dar a oportunidade de me expressar.

Andréa