domingo, 6 de novembro de 2011

Muito além do nosso eu

"Muito além do nosso eu: a nova neurociência que une cérebros e máquinas e como ela pode mudar vidas" é o título do livro de Miguel Nicolelis (São Paulo: Companhia das Letras, 2011).

Fascinante o estilo de Nicolelis. De forma simples, sensível, objetiva, detalhista do tipo passo a passo, acompanho esse neurocientista, através da leitura de seu livro, entrelaçando os dados de seus 25 anos de pesquisa com minha experiência pessoal e a eles me prendo, surpresa e assustada. Minha intuição grita dentro do meu peito: "É por aí, é por aí... estamos chegando lá!"

Ávida por saber mais sobre as descobertas de ponta no campo da neurociência, inclusive pelas assertivas sobre nosso psiquismo atrelado ao orgânico, continuo ao lado de Nicolelis fazendo parte do grupo que ele delicia, não só pelo turismo histórico na área da neurociência desde sua origens, passando pela descrição de experimentos e relato de seus resultados, como por entremear seu caminhar pessoal, rumo ao sucesso que alcançou.

Percebo que estou a seu lado subindo as escadas da FMUSP com enorme orgulho, portando meu jaleco branco, ostentando meu nome bordado no bolso. Percebo que estou a seu lado no movimento das 'Diretas já!', coração explodindo de patriotismo, fazendo parte de sua "teoria distribucionista". Até me vejo no Palestra Itália, tal como ele, torcendo pelo Palmeiras e divulgando esse time do coração. Também o acompanho em sua sensibilidade, ante a analogia de sua busca da 'sinfonia neuronal' empregando a mesma escuta apurada utilizada para a apreensão da beleza de uma música orquestrada.

Continuo a ler Nicolelis, que está tão perto de decifrar os mecanismos de fenômenos como memória, consciência humana. nosso senso de eu e percepção de mundo. "Nossa nova visão sobre o cérebro vai muito além da transmissão entre neurônios, vai ao encontro do 'ponto de vista próprio' do cérebro". (p. 51) Podem acreditar? Devem acreditar!

"Como minha pesquisa nos últimos 25 anos tem demonstrado, palavras por si só não fazem justiça à labuta da mente humana, que invariavelmente tende a ser de uma natureza muito mais probabilística do que qualquer uma das linguagens escritas e faladas usadas por neurocientistas para descrever a forma como nossos pensamentos emanam de um emaranhado de fibras nervosas." (p.131)

E eu, extasiada, juntando dados e dentre eles um se sobressaindo e pulsando contínuamente: atividades elétricas geram campo eletromagnético... atividades elétricas geram campo eletromagnético...Sendo assim, tendo nosso cérebro capacidade de autogerar eletricidade, daí advém um campo magnético ao seu redor. Como coloquei meus interesses em blogs anteriores, só destaco que estou chegando perto de minha hipótese, de que daí provém nosso psiquismo, de que o mundo psíquico que Freud observou faz parte do caleidoscópio de energia psíquica produzido pelo eletromagnetismo humano.

Após nos contemplar com algumas evidências científicas envolvendo a interação entre 'membros fantasmas' e a sensação real de dor, proveniente desses membros inexistentes; e de nos facultar conhecer atuais estudos experimentais, buscando o entendimento dos mecanismos fisiológicos que envolvem as sensações extracorpóreas, Nicolelis assim se posiciona: "A ilusão da mão de borracha e as abordagens laboratoriais capazes de induzir uma experiência extracorpórea indicam que o cérebro esculpe ativamente nosso senso de eu e o embala como um corpo físico." (p.126)

"Em cada um de nós esse órgão está trabalhando continuamente, numa rotina frenética de assimilação de tudo aquilo que nos rodeia, com o intuito de modelar nossa autoimagem corpórea com base num incessante fluxo de informação. Assim, ele não só exibe a capacidade de ser o mais sofisticado construtor de ferramentas parido pelo processo de evolução natural, como também expressa o mais voraz dos apetites por incorporar os objetos que são o fruto de nosso inconfundível e incomparável desejo de criar." (p.127)

Prossegue Nicolelis: "Levando essas idéias ao limite, os achados dão crédito à noção de que, à medida que aprendemos a utilizar uma interface cérebro-máquina - ( membros robóticos movidos com a força do pensamento, inclusive à distâncias inimagináveis até agora; dispositivos intracranianos eliminando os efeitos de doenças como já ocorre com o Mal de Parkinson, vestes especiais tornando possível aos paraplégicos voltar a caminhar...) - na qual o cérebro interage diretamente com ferramentas artificiais localizadas perto ou a distância do corpo biológico, o sistema nervoso central incorpora esses artefatos como parte de nós. Para algumas pessoas, a potencial fusão futura entre cérebros e máquinas pode soar aterrorizante, e mesmo servir como prenúncio do fim da humanidade como a conhecemos. Eu não poderia mais discordar dessa avaliação." (p.128)

Aconselho aqui a levantarem os dados biográficos de Miguel Nicolelis, abarcarem sua honestidade pessoal e credibilidade científica, para o situarem em nossa contemporaneidade. Querem mais? Ele ainda aventa a proximidade de uma nova versão da Internet - a 'brainet' - sem a necessidade de digitar ou pronunciar uma única palavra. Podem imaginar isso tão perto?

As informações chegam como um 'tsunami' em cima dos paradigmas científicos sobre o ser humano. Quanta destruição de idéias hipotéticas, teorias construídas, doutrinas e dogmas científicos enraizados! Quanta inovação arquitetônica para erguer o novo mundo da ciência que vem por aí!

Os conhecimentos atropelam a mente dos pesquisadores e ocasionam estragos em "saberes", como efeitos de um 'tornado' no ambiente físico.

Descobertas da neurociência passam a ter o mesmo efeito de um 'furacão' nas construções teóricas: tudo revirado! É se agarrar às novas evidências científicas e "crer para ver" já vendo.

De minha parte, estou tentando "respirar realidade" para encontrar fôlego, e sobreviver mentalmente, em meio a tudo que vem por aí, até ter maior compreensão sobre a extensão desses avanços tecnológicos e das novas perspectivas, e suas implicações sobre o ser humano e a humanidade contemporânea. Mas que 'tá um sufoco' está!

Valeu muito Nicolelis, que sua fé e coragem sirvam de exemplo, assim como sua humildade, paciência e determinação nesses 25 anos de pesquisa.

Tão perto agora de observar e explicar o intuir do encontro do "além eu" com a "metafísica do ser" (sem misticismos ou ocultismos com caráter de mistérios e manipulações outras) que até assusta, pois nos remete ao desconhecido e a novas apreensões sobre o mundo, esforço para novas transvalorações e abertura para nova perspectiva sobre "quem somos nós".

É a visão de um admirável mundo novo, onde não seremos tão robôs como tudo indicava. Agora é com vocês se interessarem, se mobilizarem a se conhecer e investigar o que falam a seu respeito por aí!

Nenhum comentário: