quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Como a alma humana continua a reclamar?

Cada um tem condições de fazer recortes sobre as circunstâncias que o cercam, lembrando sempre que lhe cabe arcar com a responsabilidade sobre as consequências de possíveis leituras interpretativas sobre os mesmos e que isso implica reaprender a ouvir as queixas de sua alma, ante a percepção do desequilíbrio e desalinhamento de suas energias internas eletroquímicas e "magnetosubatômicas" (ou "vibracionalquântica").

O mesmo cabe à representação de cada data estipulada socialmente, que ganha peso para uma pessoa, conforme a amplitude de significados, que ela possa lhe atribuir. Por exemplo, a meu ver,  uma data a ter comemoração digna, e que deveria ser mais significativa e duradoura, como elo integrador de um casal que se ama, seria o namoro. Relegada ante a correria,ou possível monotonia, da vida cotidiana e menosprezo do cultivo constante da vida a dois, poucos a ela se dedicam e a consideram como "afrodisíaco", a incrementar positivamente a relação do casal.

Outra seria a data comemorativa dos aniversários, como representante da passagem de mais um ano de vida e a possibilidade de poder avaliar a página virada na história de vida pessoal; ao mesmo tempo que faculta ao aniversariante se defrontar com a página em branco, que corresponde à do próximo ano de vida ainda a ser trilhado, página vazia a ser escrita pelo aniversariante... e só por ele. Vale, no entanto, sempre a torcida para que suas escolhas - e são só dele - lhe tragam felicidade. Nesse sentido, cumprimentos deveriam agregar também a "torcida para que escolhas possam trazer alegria para a alma do aniversariante, sem a qual mais um 'níver' não é nada", não passa a ter significado relevante para quem o comemora!

Ao pensar na aquisição de sabedoria do viver em meio à "crise de conflitos vários nos dias atuais", não há como não relembrar dos gregos, em suas reflexões sobre a conquista interior de uma boa vida, em especial Platão. Destaco o Mito da Caverna e justifico a seguir. É visível, no mundo atual, a carência de verdadeiros filósofos e políticos. É evidente para ocultar tal fato, a destruição dos patrimônios culturais, o assassinato de parte da História, a prisão de cidadãos acorrentados por leis obsoletas e protegidos por uma Justiça cega e parcial, opressiva e desumana.

Muitos não ousam se enquadrar na categoria de "filósofos", embora aí se enquadrem pelo "Amor à Verdade" e "Sabedoria no Viver sob as leis da Ética". Ser filósofo se é por natureza, como se é músico ou poeta. "A filosofia é música, que se faz com a alma, na dimensão insonora do invisível", é uma frase que muito me marcou, cuja autoria desconheço. Minhas reflexões, articulando com o pessimismo que cerca nossa visão de mundo e de homem, no momento atual pleno de catástrofes naturais e violência contra a humanidade, me encaminham a aproximar o filósofo do político, do verdadeiro político, responsável pelo bem estar da polis, por bem administrar os interesses do coletivo.

O "ente político" é conquista do conteúdo cultural humano, "fruto da consciência madura"; não nasce político e sim "se faz"; não é espontâneo, é "factível". Ser realmente político é se preocupar com o bem coletivo, e decorre do alcance de processos de autoconhecimento, formação moral e liberdade.

Sendo assim, o filósofo é aquele que consegue se soltar das correntes que o mantinham preso dentro caverna imaginada por Platão. Aquele que liberto, ousasse sair (da letargia e massificação), caminhasse em direção ao feixe de luz ( tomasse consciência da Verdade de sua existência), e com audácia descobrisse que o que observava e julgava como Real dentro da caverna, nada mais era que Ilusão de sombras e sons projetados ( como ocorre no cinema dos dias atuais).

Filósofo é aquele que, com coragem, suportasse a angústia do encontro com a Verdade pelo confronto com o mundo exterior que o desconcertaria, cegaria pela amplitude das luzes, que poderia enlouquecê-lo. A esse dois caminhos restaria, voltar à escravidão e se acomodar novamente às sombras e aos ecos, acalentando a dor angustiante de suas reflexões; ou, por "amor a seus semelhantes", procuraria adaptar seus olhos à luz pura e seus ouvidos aos sons e vozes reais, retornaria à caverna e buscaria explicar aos demais a ilusão em que viviam, procurando que "acordassem para a realidade que existia à sua volta". Para Platão, esse é aquele que, além de filósofo, resolveu ser político pelo bem de seus semelhantes, na luta por uma sociedade de seres, que pudessem libertar suas almas do cativeiro interior, e mais felizes e livres pudessem realizar suas próprias escolhas, alinhando-as à conquista da alegria espontânea de suas almas.

A História nos evidencia, no momento atual, as regressões na evolução humana, chegando as vias de involução do ser racional que a caracteriza. A História, que políticos buscam assassinar com suas distorções dos fatos reais e suas montagens fictícias, nos faz refletir se o mundo atual justifica o pessimismo. E não é que parece que o tempo parou, ao reler postagens de 2010, de 2009... Novas tecnologias, máquinas do tempo, proximidade de teletransportes, robôs humanóides substituindo verdadeiras funções e emoções do homem neste século 21... para quê? Primeiro torna-se emergente usar com sabedoria nossa capacidade de imaginar, para depois criar e inovar...


Reforço de: O mundo atual justifica o pessimismo?

Muitos justificam seu pessimismo ante o mundo atual, realçando aspectos de nossa sociedade como: a violência e a falta de amor, a corrupção e devida impunidade, a descrença no ser humano robotizado... (A primeira postagem com esse título data de 09.12.09).

Interrompo parte dos discursos negativos e desesperançados, e recorto contextos dessa paisagem para refletir sobre alguns aspectos, como sobre o reconhecimento da lavagem cerebral das pessoas que se permitem viver a vida sob a perspectiva da rede televisiva, imóveis em seus sofás, sentindo emoções -reais para si -ante cruéis noticiários de catástrofes e perversões, várias no leque de assassinatos e estupros, descritos detalhadamente e perversamente.

A meta visada é, acima de tudo,  manter acesa as curiosidades mórbidas e prender a atenção daqueles responsáveis pelo ibope da emissora. Em segundo plano está a preocupação com o bem estar do telespectador. É uma pena que, cada vez mais, aumente a parcela de pessoas que se sente atraída pela espetacularização acima da veracidade dos fatos.

Por que muitos aí permanecem sem emitir nenhuma reação humana de crítica e bom senso, se contaminam e se intoxicam com a morbidez dos noticiários?

Aí vem a queixa: "Este programa está me fazendo mal!" ; "Estava me sentindo bem, agora me sinto aflita e preocupada." ; " Como viver nessa sociedade?" e por aí vão os lamentos.

Mesmo percebendo suas alterações metabólicas, as pessoas não ousam ações mais contundentes como interromper no momento o contato, desligando a televisão. Mais grave ainda, permanecem na inércia, como que hipnotizadas mesmo tendo a percepção de que lhes é passada uma visão imperfeita do quadro social. A bola de neve da sociedade virtual em que vivemos é inflada pelos julgamentos distorcidos decorrentes de interpretações discrepantes do contexto focado.

O grande perigo é que além da inércia mental, responsável pela formação de robôs humanos, e do envenenamento psíquico, por muitos quadros depressivos, os programas televisivos passam a dar sentido as suas vidas.

Mas por que preencher assim o vazio de suas existências e entorpecer sua alma?

Será que a resposta não está no "para que ela não reclame de sua exclusão no viver dessas pessoas"? É da alma que vem nossa alegria de viver, nosso amor pela vida e pelas pessoas, nossa esperança. É dela que vem nossa sensação de liberdade e de felicidade. Atualmente as pessoas preferem amordaçá-la e tampar seus ouvidos a seus apelos. E quantos não evitam ouvir esse lado do seu "querer" inato e autêntico!

Então, como sua alma reclama?

Já sentiu sensações de desconfortos e angústias mais profundas, que surgem do "nada"? Já se viu tomado por quadros sintomáticos de doenças físicas ou psíquicas, sem causas tão aparentes?

Observe o que se passa dentro de você. Sei que não é fácil adotar uma postura introspectiva e ainda se permitir uma autorreflexão sobre o que lhe ocorre; sobre como pode mudar para viver melhor e efetuar as alterações necessárias para isso.

Grande parte da mídia busca maior envolvimento popular através de enfoques apelativos, refletindo uma realidade que parece não ceder lugar para o otimismo e a esperança de um mundo melhor. Essa reclamação é constante nos consultórios e mesmo em conversas do cotidiano das pessoas. Mas por que as pessoas se permitem ser envolvidas, ou melhor, se envolver e fazer parte como atores do espetáculo social? Por que não atuam como agentes sociais de mudança contribuindo para alterar esse quadro desgastante ao ser humano?

Como profissional, eu a ouço mais como um grito de socorro e a observo como uma constatação do desamparo interno do homem, sua fragilidade e insegurança sobre sua capacidade de se bancar em suas mudanças.

Como toda moeda, grande impotência manifesta também traz grande potência encoberta. Eu preferi reconhecer o lado cara, necessários aos papéis que desempenhamos no palco da vida, mas me aproximar da coroa, e nesse lado humano reconhecer minha hierarquia como indivíduo.

Aí é avaliar os custos e os benefícios. A economia da matéria psiquica não difere tanto da matéria visível (vide minha primeira postagem de 2008 "Otimização dos recursos humanos").

Muitas vezes sou considerada idealista ao refutar duramente assertivas que endoçam o desamparo humano e a posição de vítima ante uma sociedade tão inimiga do homem. Será?

Como não, se o aprisiona nas algemas da impotência pela falta de uma defesa social e pessoal eficazes, e meios mais ativos de preservação de seus direitos como cidadãos?

Reconheço que a Justiça ainda está vendada pelos instrumentos burocráticos, que aumentam as distorções da realidade.

Observo que a lentidão de soluções legais, é reforçada pelo desrespeito e descrédito na justiça dos homens, atualmente sem forças para desatar suas mãos de leis e códigos obsoletos e novamente segurar a balança do equilíbrio.

Constato a dificuldade no empenho da manutenção de atuações transparentes, justas e equânimes, em busca da verdade e preservação de uma sociedade humanística.

Reconheço que ainda se privilegia o cuidado de uma máquina social que, há muito tempo, solapou de suas engrenagens a figura humana.

Porém, também reconheço que o mundo é feito por todos nós "seres humanos e pensantes". Mais ainda, que acima do pensar está o sentir humano, ambos atrelados a uma inteligência e a uma consciência, com seus respectivos níveis de entendimento e compreensão.

E não me canso de repetir que cabe a cada um de nós estar em constante vigilância sobre nosso mundo interno, controlar nosso agir, comandar nossas atitudes e pensamentos, tolerar nossos afetos, respeitar nossas emoções e aprender a conviver pacificamente com elas.

Cada vez que desativamos esse controle, deixando-nos envolver pela realidade que nos é imposta, nossa visão é turvada e nossa percepção é distorcida, passamos a lidar com a qualidade negativa de energia que permitimos que nos envolva, e reagimos de acordo com ela.

No entanto, ao entrar em sintonia, buscando equilíbrio e paz interior, passo a considerar com maior atenção meu papel na sociedade, minha liberdade de escolha sobre como atuar dentro dela, minha responsabilidade espalhando amor, união, credibilidade, ou incrementando a discórdia, a rivalidade, a competição... ou cruzando os braços e passivamente contribuir para a manutenção do caos mundial, que já se alastra tão aceleradamente sem barreiras contensivas representativas até o momento.

O ser humano tem o potencial de força, que mobiliza o seu querer, e a autonomia criativa para interromper e superar o processo de desumanização que o cerca.

É alcançar sua liberdade interna e partir ao encontro de se dar um presente feliz. Vale o duplo sentido!

Aurora Gite
14.04.2010
10:55




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