sábado, 9 de janeiro de 2016

Processo ensino-aprendizagem no milênio

Uma de minhas inquietudes e grande preocupação atual?  

E o que dizer da mudança no ensino?


Há tempos alterações no processo ensino-aprendizagem demonstravam como os métodos didáticos se encontravam obsoletos para atrair a atenção e despertar a curiosidade dos alunos. Foi-se o tempo que docentes entravam em salas de aula protegidos atrás de seu material previamente elaborado com informações já selecionadas - mesmo que bem planejadas - e estratégias de ensino delineadas passo a passo para melhor assimilação dos alunos. Mas informações estanques, segundo sua visão de homem e de mundo, sem aplicabilidade prática para o momento atual do aluno - eram mais um fator que não mobilizava o engajamento do aprendiz no próprio processo de aprendizagem. Informações que, por vezes, se constituíam maçantes para muitos, que não são atraídos pelas perspectivas históricas que culminaram na sociedade atual, mais voltados para resultados práticos em suas vivências cotidianas. Poucos trazem consigo um querer inato, voltado a um aprender contínuo pela vida afora, curiosos com as lições, que a própria vida lhes traz em vivências, que fogem ao seu controle.

Até hoje me questiono o pouco interesse dos últimos Governos, com o planejamento da Educação voltado à época digital, onde não cabem mais as grades curriculares que compõem o ensino em qualquer nível atualmente, muito menos o pouco caso com os que orientam ativamente a qualidade da informação a ser assimilada e incorporada, visando mais a manutenção do "status quo governista" que a integridade da formação da personalidade dos alunos. Essa não só ocorre a nível cognitivo e comportamental, mas ética e espiritual no sentido de despertar a vontade de aprender e o querer evoluir e se aprimorar como indivíduo, depois de tornar-se pessoa com espaço dentro do coletivo, ou do social, onde estão inseridos.

E caímos na eterna inquietude do "Conheço quem sou; sei que existo... mas o que é que vou fazer com isso? Como me engajar no mercado de trabalho que inclui padrões e exclui os divergentes, mesmo sabendo que deles advém as inovações? Como suportar as pressões e a solidão pela falta de inclusão social se não obedecer a disciplina submissa imposta para a manutenção do "status quo" vigente, da classe social dominante, dos que estão no Poder (segundo a análise marxista ainda com seu peso no sistema capitalista)? Como tolerar passivamente atitudes perversas de roubos do capital intelectual, por parte de autoridades, que se atribuem a autoria de projetos e pesquisas, e acumulam os lucros dos reconhecimentos pessoais?

Acredito que uma das grandes mudanças no milênio é o prenúncio da queda do regime e da mentalidade capitalistas. O capital monetário, o acúmulo do lucro financeiro, a exaustiva vida competitiva e a concorrência desleal cedem cada vez mais seu espaço para o capital humano e os valores pessoais, voltados para o corporativismo, lealdade e fidelidade, baseados na cooperação solidária humanista de vínculos sociais fortalecidos pelo poder da união e pela força do amor social, que têm por metas ideais de igualdade, fraternidade e liberdade.

Palavras abstratas que se perdem ao léu, depois de serem pronunciadas? Será?
Será que é isso o que se observa na prática?
Concordo com Augusto de Franco (vídeo no Youtube: Viver em Rede, Viver da Rede) que o que mudou foi a natureza da sociedade, não só alguns aspectos envolvendo as relações sociais e de produção; o que alterou foi a configuração social, que ultrapassou o paradigma centralizado, deixando para trás, cada vez mais o descentralizado e se volta para o modelo distributivo de interações sociais priorizando as individualidades; o que acelerou a uma velocidade difícil de acompanhar graças às redes sociais, foi o fluxo da interconectividade e interatividade que trouxeram consigo nova visão de tempo e espaço sem limites definidos a partir de agora: vários mundos percebidos ao mesmo tempo, através da globalização; várias interações ocorrendo em tempo real, com a urgência do presente se impondo ao passado em suas recordações e ao futuro em suas expectativas; comunicações não-locais e em tempo presente - será que nos aproximam da Física Quântica?

Como deixar de lado minha hipótese de que Sigmund Freud, em sua genialidade, foi o primeiro a observar as interações subatômicas, as operações do mundo quântico dentro de nós, e as registrou sob os conceitos de energia instintiva e de aparelho psíquico? Como deixar de lado, ante tantas descobertas imagéticas, a leitura biomagnética e o reconhecimento do campo eletromagnético, percebido por Carl Jung em sua teoria da comunicação transpessoal, registro da sincronicidade, mundo vibracional de energias além do ego?

Alunos autodidatas, buscando na Internet os conhecimentos que mais lhe atraírem acuriosidade? Aprendizes atrás das informações que possam ampliar seus campos de atuação? Futuros profissionais disponíveis a se capacitar e a se aprimorar a cada descoberta inovadora, sabendo que reside nessa postura sua abertura de espaço no mercado de trabalho? A transformação do peso monetário para se conseguir boa formação, cai por terra com a comunicação digital globalizada onde mestres distantes se aproximam via internet, onde ensinos à distância entram no mercado competitivo e muitos professores se dispõem a valorizar as escolhas profissionais e sua missão de ensinar: ousam se expor saindo da frieza do lucro salarial (dentro da mais-valia marxista) e isolamento pessoal da relação ensino-aprendizagem dentro sistema capitalista, e caindo na valoração do calor da relação humana impessoal e desinteresseira, e da distante proximidade aconchegante do ensino atrás das telas digitais, dentro de sistemas, "comprovadamente", humanistas.

Sem sombra de dúvida, mudou o caleidoscópio das configurações dos papéis sociais e dos agentes diretos responsáveis por transformações sociais mais efetivas. Palavra de ordem é eficiência, é produzir resultados, mas também é alterar o tripé de sustentabilidade do "saber-fazer-acontecer" para o quarteto básico de uma pirâmide que garanta com segurança sua elevação ao pico da individuação, qual seja, o"querer-saber-fazer-acontecer". A invenção autêntica e criatividade inovadora encontram-se sob a égide desse tipo de engajamento pessoal, comprometimento efetivo com mudanças pessoais, inclusive, onde o "tornar-se pessoa" leva em consideração as "orientações rogerianas" (Carl Rogers),  só que voltadas para si mesmo, de"aceitação incondicional" de quem se é com pontos fortes e fracos, "congruência" ao defender os próprios valores éticos e potenciais inatos, e"empatia" consigo para desenvolver uma atenção compreensiva, escutar-se e respeitar-se. Palavra de ordem é um compromisso honesto e leal consigo mesmo, com seus valores morais e éticos pessoais acima dos valores sociais impostos pela sociedade em que cada um vive.

Aos professores, catedráticos teóricos mas pouco preparados e ineficientes na passagem para o pragmatismo eclético, esse sim, a meu ver, o mobilizador efetivo de questionamentos internos e motivador da coragem para ousar causar mudanças sociais, ou seja, na forma de se colocar perante a sociedade. Cabe a eles, em qualquer nível de docência, conviver nesse milênio, com a angústia de "não saber tudo", com a alegria ao perceber a mão dupla de aprendizagem que implica uma relação engajada entre aluno-professor, e ao constatar que o aprender humano envolve um aprimoramento contínuo pela existência.

O cadeado do baú de repressões, proibições e autopunições superegóicas, culpas autodestruidoras, profecias autorrealizadoras de ir contra o próprio potencial em prol de desejos outros,  se rompeu nesse milênio. A meta é "ensinar e ensinar-se a ser feliz como indivíduo". O objetivo é buscar ser livre, reconhecendo seu poder para escolher entre as várias possibilidades que surgem ao seu redor, e se responsabilizar por suas tomadas de decisões, sabendo que uma das grandezas do bem viver é o conjunto formado pela flexibilidade, pela reversibilidade, liberdade e serenidade para alterar as ações humanas. 

Como não reler "A Arte de Amar" de Erich Fromm?

O "amor" nunca vai poder entrar na categoria de "só isso"... ao enquadrá-lo dentro dos fenômenos que permeiam as relações humanas.

Relação terapêutica - ou uma experiência emocional corretiva - onde se expressa o fenômeno da transferência transpessoal é "amor". Esse conceito abstrato representa o fenômeno energético, amálgama de ligação vincular, observado como motor propulsor ou força para mobilizar a ocorrência de mudanças internas; para que quem ame se volte a buscar atingir seu melhor, contribuindo para que o outro na relação cresça; para procurar se capacitar para o cuidar respeitoso do outro ao bem administrar as diferenças; para se habilitar a gerenciar com afeto, paciência e tolerância, as conexões e interações que unem as pessoas, visando legitimar, na parte que lhe cabe, a harmonia nas convivências humanas.

Não seria o encaixe perfeito para situarmos a relação ensino-aprendizagem desse milênio?
Lúcia Thompson




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