O post foi ontem, o conteúdo se mantém no presente, a repostagem lhe dá o caráter de ser lido no futuro do amanhã, talvez... e caímos de "Hannah Arendt mais uma vez, por que não?" (2014), nos braços das ideias de "E lá vem Hannah Arendt mais uma vez!"(2009) ... e a quem se permitir embarcar na carruagem do tempo e se direcionar retrocedendo no tempo cronológico chega a "Um pouco mais de Arendt em Solidão, Vontade e Liberdade".
Vamos nos embrenhar nessa aventura de seguir as eternas pistas deixadas na "linha atemporal do tempo"? O túnel do tempo nos espera, topam? Então venham comigo!
Vamos lá, segurem minha mão! Empresto meus olhos para que sirvam como lanterna para iluminar o caminho do "pensar"; minha mente para articularem as relações entre os conteúdos lidos; minha razão para refletirem sobre a importância atual dos temas abordados; meu espírito crítico e minha permanente curiosidade para aguçarem a vontade de vocês de quererem "saber mais e participarem da vida pública como cidadãos"; minha otimista e incômoda esperança de poder presenciar a transformação coletiva visando um mundo melhor, com convivência grupal mais pacífica e com "mais amor entre nós, os humanos"!
Aurora Gite
De 17 de maio de 2015 a 17 de março de 2014...a 2009 e a...(?)
Mais uma vez Hannah Arendt, por que não?
Há algum tempo nosso quadro sociopolítico tem atraído minha atenção, e não é sem espanto que acompanho todo o processo de alienação atual.
Pessoas preguiçosas em seu 'pensar por si', tendo por referência e menosprezando o grande desconforto que contamina a si e grande parte dos que estão ao seu redor, se escorando na covardia não ousando mobilizar a coragem necessária para correr o risco de saindo do lugar de vítimas, enfrentarem e interromperem o 'status quo' desgastante.
Mudar padrões de submissão vigentes, e se colocar na posição de agente social efetivo de mudanças eficazes, são como quê, as palavras chaves e o processo central da dinâmica, que custa a emergir e encontrar expressão social, visto o vozerio popular, já gritar por socorro para não sucumbir de vez às zonas de conforto da tutela do "poder totalizador" (semelhantes aos das grandes ditaduras, dos regimes fascistas e nazistas- Arendt os descreve bem, inclusive por tê-los vivenciado):
* o "fenômeno do lulismo", ou da abrangência, a cada dia ganhando mais espaço social, de um "regime totalitário" centralizador dos processos decisórios, controlador do marketing e da difusão de ideias, mais e mais distorcidas, de uma esquerda antes preocupada com o bem coletivo, pois hoje se tornou um movimento partidário que se preocupa mais em unificar diferenças, amordaçar a voz dos discordantes, atropelando a verdadeira política,
* a "robotização humana à mercê das ideologias partidárias", que mais e mais tendem a implodir uma frágil democracia, tentando se equilibrar para fortalecer seu caminhar, visando incluir ampla participação popular nos processos decisórios da nação e resgatar o espaço para que a voz dos cidadãos seja ouvida e respeitada,
* a "convicção, ou crença, de atuarem com dignidade e posturas éticopartidárias", como é o caso de um dos mensaleiros, que prova viver sem grandes ostentações e demonstra, no seu caso, ausência de desvios de dinheiro visando vantagens pessoais, valia a honra de tudo ter sido feito pelo partido político,
* ministro do mais alto escalão do judiciário, por perfeccionismo burocrático, com vaidosa pompa e ilustre verborragia na defesa de leis, esvaziadas da verdadeira justiça por não mais condizerem com a realidade social, surdo ao quase maciço clamor público, vota a favor daqueles que comprovadamente lesaram o social; embora atento à certeza de que medidas como embargos, serviriam para manipulações perversas questionáveis de profissionais que, não se omitiam de manobras afrontosas ao próprio Direito e à Justiça, se bem remunerados,
* por aí pode-se discorrer sobre vários fatores que lesam o quadro social com sua impunidade, favoritismo e nepotismo, opressão escravizante pelos altos impostos cobrados dos cidadãos e pouco retorno de benfeitorias sociais, podem ser relacionados evidenciando os motivos da insatisfação popular com um governo, que peca pela má administração do patrimônio público, pela falta de habilidade nas negociações políticas, pela dificuldade de lidar com divergências ideológicas e articular argumentos ideativos sem se utilizar de barganhas e favores ilícitos, por envolverem a falta de transparência e uso indevido do que é público.
Aí me volto a Hannah Arendt (1906-1975), ante minha inquietação e indagações sobre até quando persistirá nossa desumana degradação social, até quando ainda irá ocorrer essa "alienação e descomprometimento social com mudanças", quando emergirá um verdadeiro líder político, que possa resgatar os valores que mantém uma sociedade unida e íntegra moralmente falando?
As ideias de Arendt ressoam em meus ouvidos:
* "A Política baseia-se na pluralidade dos homens devendo, portanto, organizar e regular o convívio dos diferentes... Ela surge não no homem, como afirma Aristóteles, mas sim entre os homens."
* "O sentido da Política é a liberdade... A liberdade e a espontaneidade dos diferentes homens são pressupostos necessários para o surgimento de um espaço entre eles, onde só é possível a verdadeira Política...A Política tem uma dignidade própria"
* "A Lei produziu o cidadão, agente de mudanças sociais. Arendt destaca, no entanto, a distância entre a intenção e o discurso, que além da capacidade da retórica, envolve a faculdade de persuasão e o poder de convencimento. O discurso é que faz do homem um ser político. O que os homens fazem, pensam ou experienciam só têm sentido (significado) na medida em que podem ser discutidos entre eles."
E eu a me perguntar de onde surgiria o líder pacificador no momento atual, que tenha condições, com a força de seus argumentos, de mobilizar a desalienação popular e agregar a coragem de várias mentes pensantes e autônomas, com cacife para bancar suas individualidades e sua vontade de lutar, tendo por armas a credibilidade de exemplos em seu modo de viver, reforçada por argumentos convincentes e irrefutáveis na pontuação de vantagens, em prol da defesa do Regime Democrático de Direito ?
Aqui associo (coincidência?) as circunstâncias atuais com o movimento da Revolução Francesa e sua eclosão ante o clímax da insatisfação popular... degradação humana, escassez e fome... lançamento de pães, que não mais saciavam a ânsia do povo, que não mais escondiam seu furor ante a falta de reconhecimento a suas necessidades básicas de sobrevivência, que não mais encobriam o desprezo pelo pouco caso e pela opressão humilhante, pela forma como a realeza menosprezava a condição humana, em seus pilares de sustentação: a liberdade, a igualdade e a fraternidade, que vieram a se constituir em lema da Revolução.
E lá vem Hannah Arendt mais uma vez!
"Entre o Passado e o Futuro" , não é um livro fácil de ser lido, mas nos confronta com algumas verdades dentro de perspectivas pouco comuns.
Arendt chama nossa atenção para o erro da "engenharia das relações
humanas" e sua forma ineficiente de lidar com a "administração das
questões humanas". Combate a maneira de "tratar o homem como um ser
inteiramente natural, cujo processo de vida pode ser manipulado da mesma
maneira que todos os outros processos (artificiais).
Aponta o perigo do mundo atômico em seu agir na natureza, onde "não são
mais as ações humanas, mas o mútuo relacionamento que pode mudar e muda
historicamente"; onde "o geral confere sentido e significação ao
particular". Para ela, " processos invisíveis engolfaram todas as coisas
tangíveis e todas as entidades individuais visíveis, degradando-as a
funções de um processo global... levando ao desencanto do mundo ou
alienação do homem". Nesse sentido, "o processo (abstrato) é que torna
por si só significativo o que carregue, adquirindo um monopólio de
universalidade e significação".
Nessa moderna maneira de pensar, "nada é significativo em si e por si
mesmo, nem mesmo a história e a natureza tomadas cada uma como um todo".
E eis o homem atual entregue a um agonizante desamparo e profundo
desespero.
Ao mesmo tempo, nos confronta com a oposição entre a prática e a teoria;
entre a vida sensível e perecível, envolta pelo "erro e ilusão dos
olhos corpóreos", e a verdade permanente, imutável e supra-sensível,
cuja compreensão é guiada pelos "olhos do espírito, ouvidos do coração e
luz interior da razão". Esses opostos "somente tem sentido e
significação em sua oposição" e não por si sós.
A articulação de ideias de Arendt, em sua análise histórica e
perspectiva filosófica e política, me fascina e me enche de esperança em
um futuro melhor para a humanidade.
Assim segue a autora, em suas reflexões: "É como se Platão estivesse
dizendo a Homero que não é a vida das almas incorpóreas, mas sim a vida
dos corpos que tem lugar em um mundo inferior; comparada com o Céu e o
Sol, a Terra é como o Hades; imagens e sombras são os objetos dos
sentidos corpóreos, não o ambiente das almas incorpóreas. O verdadeiro e
real é, não o mundo em que nos movimentamos e vivemos e do qual temos
que partir na morte, mas "as ideias vistas e apreendidas pelos olhos da
mente". É como se o mundo interior do Hades houvesse ascendido à
superfície da Terra."
Continua traçando um "paralelo entre as imagens da Caverna de Platão, em
sua parábola, e o Hades de Homero - os sombrios, irreais e insensíveis
movimentos das almas no Hades - que correspondem à ignorância e
inconsciência dos corpos na Caverna".
Recorda o Mito da Caverna de Platão, onde a cada reviravolta do homem
ocorre a perda de sentido e orientação, onde " os olhos ajustados são
ofuscados pela luz que ilumina as ideias, necessitando reajustar-se; e
os olhos ajustados (posteriormente) à luz do Sol, devem reajustar-se à
obscuridade da Caverna".
Relembra esse mito onde em uma primeira reviravolta os habitantes da
caverna, presos por grilhões que os obrigavam a ver somente a tela à sua
frente, com as sombras e imagens projetadas, quando deles se libertam e
se voltam para o fundo da caverna se deparam com um fogo artificial que
ilumina as coisas dentro da caverna tais como realmente são. A segunda
reviravolta está atrelada à saída de caverna para o céu límpido, onde as
ideias aparecem como as verdadeiras e eternas essências das coisas na
caverna, iluminadas pelo Sol, a ideia das ideias, que possibilita ao
homem ver e às ideias brilhar. A terceira decorre da necessidade de
volver à caverna, de deixar o reino das essências eternas e novamente se
mover no reinos das coisas perecíveis e homens mortais.
Assim para Hannah Arendt, os homens socializados decidiram jamais deixar
a "caverna" dos assuntos humanos quotidianos, se permitindo a atitude
de "espanto face ao que é como é".
Eis porque defendo o espaço para que os "unicórnios" (princípios virtuosos éticos) se aproximem e possam se agrupar fortalecendo nossos campos mentais, iluminando a riqueza ética do mundo psíquico dos seres humanos, propiciando interações harmônicas e respeito às diferenças individuais, metas públicas voltadas ao bem estar coletivo, convivências políticas mais serenas, onde reine o bom senso e a diplomacia nas negociações que envolvam questões sociais conflitantes.
Eis porque entrego a vocês como presente uma ampulheta (vide blogs anteriores), outra forma simbólica de representar o tempo na atitude interna da transcendência humana implícita na caverna, sua saída e posterior entrada buscando propiciar que os demais possam se libertar da condição de escravos e, por livre arbítrio, possam vir a constituir - ao abandonar a sua alienação dentro de um mundo fictício, frágil e superficial por ser tão artificial - uma "sociedade realmente humanizada".
Aurora Gite
Eis porque defendo o espaço para que os "unicórnios" (princípios virtuosos éticos) se aproximem e possam se agrupar fortalecendo nossos campos mentais, iluminando a riqueza ética do mundo psíquico dos seres humanos, propiciando interações harmônicas e respeito às diferenças individuais, metas públicas voltadas ao bem estar coletivo, convivências políticas mais serenas, onde reine o bom senso e a diplomacia nas negociações que envolvam questões sociais conflitantes.
Eis porque entrego a vocês como presente uma ampulheta (vide blogs anteriores), outra forma simbólica de representar o tempo na atitude interna da transcendência humana implícita na caverna, sua saída e posterior entrada buscando propiciar que os demais possam se libertar da condição de escravos e, por livre arbítrio, possam vir a constituir - ao abandonar a sua alienação dentro de um mundo fictício, frágil e superficial por ser tão artificial - uma "sociedade realmente humanizada".
* (2009 ou 2014...recorram à carruagem do tempo e observem como as
ideias de Arendt fazem parte da paisagem que pudemos, e podemos,
contemplar através de suas análises sociopolíticas, que envolvem a
condição humana)
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