domingo, 12 de fevereiro de 2012

Nova perspectiva: novo prisma sobre a humanidade

Duas inquietações me mobilizaram a mudar de perspectiva, ampliando assim o prisma de minha observação do mundo e das relações humanas... e das formas de psicoterapias o que é pauta de futuro blog a elas mais direcionado.

A primeira inquietação envolve a enorme abertura dada pelos representantes oficiais da Psicanálise à entrada de vários profissionais, muitos dos quais com vasto campo teórico e mínimo campo prático no que diz respeito a sua própria formação pessoal como psicanalista, colocando em perigo a complexa relação analista-analisando com seu intrincado mundo transferencial representando um viés interpretativo, um caminho sem volta na realidade concreta do paciente em análise.


No contato com defensores da Psicanálise me advinha a mesma sensação: como estavam tão acima, seu foco recaia na fortaleza teórica freudiana, e não demonstravam preocupação com qualquer infiltração que pudesse abalar suas bases, nem com o fato de que os indivíduos estavam mais e mais infelizes, e que as sociedades mais estavam totalitárias e opressoras. Nesse sentido, o quadro vivencial do ser humano pouco mudou. E isso é fato!

A segunda foi despertada pela inovação terapêutica advinda da Filosofia Clínica. Entendo filosofia como amor à sabedoria, amor à verdade. Para mim o próprio viver psíquico deveria inspirar e expirar o ar renovador e unificador desse amor. A humanidade em si  deveria ser fortalecida em sua "integração pela convivência amorosa".


É importante ter sempre em mente que o amor implica um cuidar prazeroso. Isso leva a um convívio agradável e sereno, tipo de relação baseada em paz, união, construção mas atualmente cultivada por tão poucos! A maioria se vê assolada por seus conflitos psíquicos.  Deixando de estabelecer uma relação amorosa harmônica consigo mesmo, como expandir sua capacidade de amar?


No que residiria, então, uma clínica filosófica?
Como haver uma investigação filosófica, ligando a existência humana à sua essência, sem esbarrar intrusivamente na clínica psicológica, entrando em choque frontal com a base ética dos limites humanos, não só formais mas virtuosos, a serem respeitados?
Como imaginar o uso da Filosofia abalando o pilar transparente da Justiça, como "bem maior" em suas regras de convivência adequada?
Como vislumbrar a não observância, por parte dos que se dizem filósofos, dos direitos legais sociais a serem preservados, ou refutados, com base nas leis criadas pelos homens visando esse alcance?

De repente mudei de posição e, com essa atitude, me deparei com outro ponto de vista. O foco no social e nas sociedades, recaiu direto sobre o humano e a humanidade, que estiveram por anos encobertos.

Aí foi esticar a mão e retirar da prateleira os livros, não... as idéias de Jiddu Krishnamurti (1895 - 1986), também não...  muito menos as palavras e os pensamentos, ou conhecimentos e condicionamentos, tão questionados por ele - por estarem atrelados ao que considerava o maior inimigo do humano, ou seja, o tempo psicológico.


Aí foi esticar a mão e retirar da prateleira o "humanismo de Krishnamurti" . Seu foco teórico estava no homem em seu existir cotidiano e na prática errônea da "ação humana não consciente" . Sua investigação recaia sobre a dificuldade do ser humano "irracional em suas atitudes", recusar se reconhecer dentro de sua irracionalidade, sempre se escondendo sob o manto do racional para não precisar agir em seu existir no agora.

Eis o que buscava nessa palestra proferida por Krishnamurti em 1980 (Ojaí, Califórnia). Mudem a moldura de 1980 para 2012 e verifiquem como ainda lhe cabe:

"Gostaria de fazer uma pergunta que poderá nos conduzir a algo: o que é preciso para o homem transformar-se profunda, fundamental e radicalmente? Ele tem passado por crise após crise, tem sofrido inúmeros choques, tem atravessado todos os tipos de infortúnios, de guerras, de sofrimentos pessoais, e assim por diante. Tem tido um pouco de afeição, um pouco de alegria, mas tudo isso não parece mudá-lo. O que fará com que um ser humano abandone o caminho que está seguindo, e siga em direção completamente diferente? Esse é um dos nossos maiores problemas, você não acha? Por quê? Se estivermos preocupados, como deveríamos estar com a humanidade, com todas as coisas que estão acontecendo, qual será a ação correta para levar o homem a mudar de direção? Essa pergunta é válida? Tem algum significado? (...) o que está segurando as pessoas... o que está mantendo as pessoas no seu rumo atual...parecem mudar, mas o centro egotista permanece o mesmo...o que dificulta a manutenção de afastamento de atitudes irracionais, padrões destrutivos e autocentrados...o que leva a mente a enganar a si própria? (...) Os analistas tentaram, as pessoas religiosas tentaram, todo mundo tentou tornar os seres humanos inteligentes - mas eles não tiveram sucesso (...) há muitas explicações bastante racionais, e no final caímos de volta nisso (...) Você poderá me apresentar mil explicações, e todas provavelmente um pouco irracionais, mas eu direi: você o fez (rompeu o padrão) ?"

Recolho agora material das obras de Krishnamurti com seu foco no "agir no agora da humanidade" e cruzo com o que me fornece André Martins, filósofo e psicanalista em seus livros "Pulsão de Morte?" (novas idéias e propostas teóricas inovadoras para uma clínica psicanalítica, que visa à potência do agir do analisando) e "O mais potente dos afetos: Spinoza&Nietzsche" (o "conhecimento" como o mais potente dos afetos, ou seja, aquilo que me afeta, me causa afeição, vínculo afetivo).

E me aventuro agora a ler "O Livro Negro da Psicanálise: viver e pensar melhor sem Freud", em suas 644 páginas, org. por Catherine Meyer. Na contracapa podemos ler: "Há uma vida depois de Freud: podemos, em terapia, trabalhar um inconsciente não freudiano (...) Este livro é, antes de tudo, um ato de confiança na liberdade de cada um. Cabe ao leitor saber resistir aos argumentos de autoridade daqueles que "sabem", daqueles que decidem ex abrupto. Cabe a ele comparar os diferentes pontos de vista."

Como começar em meio a tudo isso?
É simples! Comece por acompanhar, dentro de você, a movimentação de sua energia interna ante a mudança dos termos "sociedade" por "humanidade". Só observe e constate o que ocorre quando o "homem social" cede espaço para o "ser humano".

Aurora Gite


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