quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Psicologia, Física, Direito e Ética sobem no milênio?

DOMINGO, 19 DE OUTUBRO DE 2008

Física, Psicologia, Direito,Ética sobem no século 21

Segunda parte:

Inicio trazendo para reflexão o artigo de Adauto Novaes publicado pelo Jornal Valor Econômico no Suplemento Fim de Semana ( 29, 30 e 31 de agosto de 2008), intitulado "Entre Dois Mundos". O artigo tem por base a análise da condição humana no mundo atual, objeto de discussão, segundo o autor por conceituados pensadores da atualidade, no ciclo de conferências intitulado Mutações- A Condição Humana,realizado em setembro/outubro de 2007 no Rio de Janeiro.

Cito algumas afirmações do autor que corroboram as minhas em textos anteriores. "Um manto de incerteza cobre o presente e o futuro da condição humana - um vazio de compreensão da relação entre o mundo, estabelecido pela ciência, e o mundo da experiência, vivida pelo homem." Sendo assim, "falar da condição humana consiste em tentar entender o estado da relação desses dois mundos". Como essa interação ganhou novas configurações por avanços nas áreas da biotecnologia, tecnociência, hiper computação e neurociência, com grandes consequências antropológicas e metafísicas, a pergunta crucial que Novaes coloca é : Qual será o lugar do homem dentro dessa "nova configuração de mundo estruturada em uma cosmologia relativista e uma microfísica quântica, que delineia uma "matéria dessubstancializada" ...e uma realidade fundamentalmente incerta "?

Existem em nosso imaginário registros do velho mundo e de nossas formas de interação com outros "seres humanos", que enfatizavam nosso lugar como sujeitos, agentes ativos na criação de nossa história de vida. Agora além de não acompanharmos a velocidade das mudanças para elaborarmos as devidas alterações internas, como lidar com as angústias provocadas pelo fato das interações ocorrerem com " novos seres criados em laboratórios, os "cyborgs", os "híbridos biotrônicos", a inteligência artificial equiparada à dos humanos, aos transmundanos"(que se multiplicam)? Como atuar "em um tempo homogêneo e vazio, no qual se passa sempre a mesma coisa - gestos incapazes de criar a experiência de relações dotadas de sentido"( investidas energeticamente de afeto)?

Novaes cita Hannah Arendt, e seu livro "A Crise da Cultura", ao abordar a cisão entre passado e futuro e o "intervalo no tempo que é inteiramente determinado por coisas que não existem ainda. Na história, esses intervalos mostraram, mais uma vez, que podem ocultar o momento da verdade (não apenas o histórico, mas o momento indeterminado, ou o vazio de pensamento), momento da passagem para o mundo de um novo pensamento". Aí questiona o autor: "Como lidar com nossa condição atual feita no vazio do pensamento, em (meio a) uma enorme ausência de paradigmas?"

Acrescento, de minha parte, que Arendt em seu outro livro "A Promessa da Política", mostra sua preocupação com as "implicações da pluralidade humana", com a capacidade do homem se situar, ou se auto-referenciar, ante as várias perspectivas sobre um mesmo evento. Sendo assim, segundo ela, deve ser considerado, na compreensão da condição humana, o agregar aos vários pontos-de-vista internos, ou seja, " à multiplicidade de significados e verdades estritamente relativas", aquelas vivências associativas, que emergem com o "re-experimentar os significados dos acontecimentos passados". Tal fato aumenta a complexidade humana e demanda uma visão e análises mais amplas envolvendo o mundo interno subjetivo e intencional.
Voltando a Novaes, o autor considera que "nesse momento de incerteza se procura resposta às questões: O que é humano? Quem somos? Onde estamos? Para onde vamos? O homem busca o seu lugar na grande cadeia do ser e na ordem do mundo... ou seja, no momento de grandes mutações, quando mundo e ser enfrentam a incerteza e o vazio, o trabalho do pensamento tende a começar a interrogar o homem, sua existência e destino". 

A meu ver, é essa "experiência de sair de si para entrar em si",que indica ter o homem dado um novo passo na evolução da espécie humana. Consegue o resgate de sua potência natural, pela "re-introjeção do poder outorgado às máquinas" para pensar e falar por ele. Sempre, e incluo aqui as omissões, temos o poder e a liberdade de efetuar escolhas, que, se bem decididas, nos levam a uma serenidade interior e harmonia interna, mais sincronizada quanto mais envolta numa auto-liderança ética. 

Abordando os aspectos éticos, recordo Norberto Bobbio que, em seu livro "Elogio da Serenidade", aponta a diferenciação entre a "Ética dos Resultados" e a "Ética dos Princípios, ou das Virtudes". Observando o fenômeno da Virtude, acredito ser importante seguir as sensações internas. Vale uma reflexão sobre esse movimento interior e o bem-estar que acarreta.

Ante a percepção da capacidade humana de bem direcionar e ter auto-controle sobre esse campo bioenergético, e de usar de forma mais eficiente seu QI (inteligência) espiritual em prol da melhor qualidade de vida individual e coletiva , deixo-me embalar pela esperança de que , em meio a tanta destruição, já esteja se delineando uma sociedade de "seres humanos", corajosos e ousados, serenos e humanistas, que se permitam também "ver com os olhos do coração", se distanciando do mundo robotizado que procura fechar seu cerco ao redor de nós.

Aurora Gite

2 COMENTÁRIOS:

Ordisi Raluz disse...
Quando se dá uma tacada de Golf constata-se que os milímetros que separam o sucesso do fracasso, o elogio do palavrão, o bom do ruim e o gozo da dor, estavam na nossa mão apenas uns segundos antes.

Ventos solares e pássaros quânticos aparecem como do nada e definem os fatos reais, mesmo que deles não tenhamos ciência.

Abraço.

Nenhum comentário: